Friday, March 23, 2012

No meu reino não há choro nem lágrimas



A Fábula do Ratinho
ou
No meu reino não há choro nem lágrimas
Dicionário Houaiss:
Fábula: substantivo feminino
1 Rubrica: literatura.
curta narrativa, em prosa ou verso,
com personagens animais que agem como seres humanos,
e que ilustra um preceito moral


  
Era uma vez um homem muito distinto e inteligente que adotou um ratinho. Todos acham que os ratos são nojentos e feios, além de perigosos para a saúde, mas esse era diferente.  Muito simpático, atraente e divertido. Além disso, ele sabia cantar, escrever e dançar. Era também ator e sabia fazer filmes. O homem sabia que o ratinho poderia ficar famoso e por isso resolveu ir para um lugar cheio de sol e lagos e comprou um terreno bem grande para ele. Ele sabia que muita gente viria visitar o animalzinho e por isso não hesitou em investir um bom dinheiro em seu futuro. Além disso, achou que talvez seu protegido pudesse se sentir sozinho e por isso convidou outros para morar no novo local: patos, ursos, esquilos e animais em geral. Todos tinham muita habilidade, eram engraçados e vestiam roupas como a gente. Num instante o local ficou famoso.  Parecia um reino. Tanto assim que ele decidiu chamar também algumas princesas para fazer parte da família. Agora sim, ele poderia chamar sua propriedade de “reino”.
E aconteceu exatamente como o inteligente homem havia pensado. Muitos e muitos vieram visitar o ratinho e os outros animaizinhos. Claro, as princesas também ficaram famosas e todos gostavam delas. Tanta gente vinha ali que ele teve de contratar muitos funcionários para ajudar. Não pagava muito mas as pessoas mesmo assim não se preocupavam e gostavam de trabalhar pois os animaizinhos eram realmente simpáticos e havia muita alegria para todo lado. E o reino cresceu e cresceu e foi ficando cada vez mais bonito.
Conforme o reino foi crescendo, ele também foi se enchendo de mistério. No bom sentido, no entanto. Mistérios cheios de fantasia, aventura e sonhos. Todos gostavam disso. Claro que com todo esse movimento muita gente resolveu também vir morar perto do reino. Desta forma,a região ao redor da propriedade também cresceu e ficou bem populosa. Daí então que algo triste aconteceu. Começaram a aparecer uns tipos esquisitos e coisas também esquisitas começaram a acontecer. Uma vez prenderam um rapaz que não havia cometido nenhum crime só porque sua pele era diferente da pele dos outros. Eles sabiam que ele não tinha feito nada de errado mas mesmo assim deixaram o pobre coitado preso muitos e muitos anos. E isso aconteceu mais de uma vez.  Eu sei que é difícil de acreditar, mas aconteceu. Existem outras coisas horríveis que nem vou contar porque fico com vergonha. É isso mesmo, dá vergonha saber do que um ser humano é capaz, principalmente se levarmos em conta que ali perto há uns animaizinhos que são tão corretos.  Se começarmos  a falar em dinheiro então, você nem vai acreditar o que as pessoas podem  fazer.  Mas voltando às pessoas que têm a pele um pouco diferente, tenho algo horrível - mais um caso - para contar. Outro dia um fulano perseguiu e matou um rapazinho – de pele diferente – porque achou que ele estava agindo de maneira suspeita. Na verdade ele estava: estava fugindo do seu assassino que o estava perseguindo. E não sei não, acho que vai conseguir se safar porque fizeram há pouco tempo uma lei que diz que uma pessoa pode matar a outra em legítima defesa. Quer dizer, é só declarar que foi legítima defesa, não precisa provar. Cada lei...Claro, não era defesa e muito menos legítima. Todo mundo sabe que ele matou o pobre jovem por causa da diferença de cor. Ironicamente, ele na certa não vai para a cadeia enquanto outros – ainda por causa da pele – ficam na cadeia muitos anos sem terem feito nada de errado. Parece inacreditável mas é verdade.
Tudo isso  continua acontecendo pertinho do maravilhoso reino cheio de fantasia e sonhos. Lá dentro eles não sabem nada disso. Nem podem. As princesas não podem chorar. Nem podem chorar as meninas e os meninos que lá estão. Podem, no máximo, chorar de alegria.  Os pais e os funcionários também não podem chorar pois, do contrário, as crianças e os animaizinhos vão ficar assustados e achar que há algo de errado. E, convenhamos, choro  e tristeza não ficam bem num lugar assim. Mas do lado de fora, os amigos e os pais do rapazinho que morreu estão chorando muito. Muito. Como chorou também, muito, a mãe de outro rapaz que ficou preso décadas por um crime que não cometeu. É assim. Existem lugares onde não se pode chorar e outros lugares onde chorar é  a única coisa que que se pode fazer.


Leituras:


UOL: Homicídio impune de jovem negro deixa americanos indignados
UOL: Inocente é solto e receberá...(James Bain: 35 anos de solidão...)
Histórias que não deveriam acontecer

Tuesday, March 20, 2012

A Bailarina

Autor: Flávio Cruz

Ela era uma bailarina. Eu nunca tinha visto uma bailarina de verdade. Pertencia a um grupo de dança de Orlando. Para mim bailarina tem de ser delicada, suave, leve, quase transparente. Isso é o que ela era. E muito mais. Ela falava como bailarina, respondia como bailarina, andava como bailarina. Desconheço seus pensamentos mas sei que pensava como bailarina. Era peruana. Suave no corpo, suave no rosto e, tenho certeza, suave por dentro, lá no fundo da alma. Ainda nova, 23 anos, havia se casado com um cubano. Claro, o cubano também dançava, era professor. Um dia a bailarina machucou seu tornozelo num ensaio. Foi uma tristeza. Não pela dor, isso ela aguentava.  Era por não poder dançar. Talvez por pouco tempo, ainda não sabia. Fez um raio X.
 O especialista confirmou que iria ser um pouco mais longo do que ela esperava. 
Teve até de fazer uma pequena cirurgia. A tristeza cresceu dentro de seu peito. Ela, que já comia pouco, agora quase parou de comer. Você nem pode imaginar o que a tristeza pode fazer para uma pessoa. Nem as palavras do marido, consternado, nem o consolo das colegas, nada a animava. Daí então veio o pior. O médico disse que havia a possibilidade de ela não poder mais dançar e perguntou para ela se ela gostava de ensinar. Pois isso, ele achava que talvez ela pudesse fazer. Eu sei que há coisas mais tristes no mundo como a morte, a fome, a miséria e outras coisas mais. Foi então que aprendi que não mais dançar, para uma bailarina como a peruana, era ainda mais triste que tudo isso. Parece quase uma injustiça falar isso, mas era verdade.
Perdi o contacto com a bailarina. Quer dizer, poderia achá-la, conversar, ver como ela está. Mas da última vez que a vi, ainda havia a possibilidade de o médico estar enganado, havia a chance de ela voltar a bailar, ainda que demorasse.  Se voltasse a vê-la, havia a possibilidade de eu saber que nunca mais isso fosse acontecer. Já havia tantas tristezas na vida que achei melhor ficar sem saber. A esperança é uma coisa muito preciosa. A informação pode matá-la. Resolvi não arriscar e não ficar sabendo.  Volta e meia me lembro dela e a imagino dançando...Assim é melhor. Existe tanta coisa no mundo que seria melhor não ficar sabendo...Baila, bailarina, baila... Em meus sonhos, em seus sonhos, nos palcos da vida. Baila!


Ciranda da Bailarina: Adriana Calcanhotto







Novo lançamento no Clube dos Autores: Essa vida da gente


Sunday, March 11, 2012

O Problema das Revoluções

O Problema das Revoluções
Há um problema intrínseco às revoluções. Todas começam maravilhosas, viçosas, puras e depois...tudo vai água abaixo. Vejam se estou errado. A revolução comunista. Poderiam existir ideais mais bonitos? Igualdade para todos, justiça, o poder para o povo e tudo  mais. Os russos derrubaram os czares, acabaram com a desiguldade, tudo para o bem comum. Muitos teóricos escreveram sobre a beleza do regime. Depois, todos sabem o que aconteceu. Como foi escrito no livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, “Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.” E assim foi...Poder absoluto, uma elite antiga na verdade foi substituída por outra, de outro tipo. Ao longo das décadas, a liberdade foi suprimida, a verdade escondida e aconteceram outras coisas horríveis que todos conhecem. Nem precisou muita guerra, a Revolução caiu sozinha, caiu de podre. Vindo agora para nossa casa, também tivemos nossa revolução, não tão grande como a comunista e também não para o mesmo lado. A nossa foi de direita. Com medo do horrível comunismo, aceitamos o golpe de 64, acabamos com o governo estabelecido. Parecia bonito.  Progresso – veio bastante dinheiro dos EUA na época – liberdade de religião, e principalmente livramo-nos para sempre do terrível socialismo que ameaçava nossa liberdade e as nossas criancinhas. O Brasil foi com tudo para frente e até hoje podemos observar, na nossa infra-estrutura, a solidez da época. Algumas pessoas, no entanto, em nome da mesma liberdade, foram presas, torturadas e mortas. É verdade, todo mundo sabe. Com poder total nas mãos, sem imprensa para controlar, já se pode imaginar o que aconteceu. Descambamos de todo para uma ultra-direita. 


Chegamos então a um ponto em que até quem era a favor da revolução, achou que era hora de pararmos e voltarmos a eleger nossos presidentes, nossos representantes, falarmos tudo que precisa ser falado na imprensa. Na verdade, essa foi a nossa revolução de esquerda, voltamos com a liberdade total, falamos o que quisemos, há lei e tudo mais. Mas então, o que aconteceu com essa nova revolução? Muito poder, novamente muita corrupção, muito desmando.  Essa Revolução também não deu certo, todo mundo reclamando nos jornais e ultimamente, na internet. Examinem todas as Revoluções que aconteceram no século passado e agora, no atual. Elas começam, viçosas, puras, cheias de vida. Com o tempo, vão se tornando feias, corruptas, violentas. Há pouco tempo tivemos e ainda estamos tendo as revoluções nos países árabes: "Arab Spring". Pode ter certeza, o ciclo vai ser o mesmo. Às vezes demora mais, às vezes demora menos. Como disse, há um problema bem lá dentro das Revoluções...Pensando bem, o problema talvez esteja dentro de nós, que as fazemos...


A queda da União Soviética
A Ditadura Militar
Corrupção no Brasil

Tuesday, March 6, 2012

Considerações metafísicas...

Autor: Flávio Cruz
Considerações metafísicas sobre a maior grilagem da história do Brasil


“É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividada”
(Morte e Vida Severina: João Cabral de Melo Neto)

Há alguns dias atrás li um artigo de Lúcio Flávio Pinto no seu blog. Estava contando como  Cecílio do Rego Almeida tentou grilar uma vasta área no Brasil e finalmente teve seus objetivos frustrados na justiça. Conta também como foi perseguido e até condenado a pagar indenização para o grileiro por causa de suas denúncias. Li duas vezes para acreditar: a área que o fulano estava querendo “arrematar” era suficiente, em tamanho, para formar o 21º. maior Estado do Brasil. Isso significa que é também uma área maior do que alguns países do mundo.
Bom, não tenho o mesmo conhecimento da lei  e dos fatos que o Lúcio Flávio Pinto tem a respeito do assunto e só posso admirar a luta que empreendeu. No entanto, fiquei com vontade de fazer algumas considerações “teológicas” e até “metafísicas” sobre o assunto. Como diz o artigo, o grileiro morreu em março de 2008 aos 78 anos. No entanto,  a tentativa de se levar a cabo a constituição da “Ceciliolância” continuou, como vimos, até recentemente. Quer dizer, quando Cecílio chegou perante o Criador em 2008, para prestar contas, o caso ainda estava “quente”. Fico imaginando Deus, em sua infinita paciência recebendo o grileiro e perguntando: “Cecílio, por que você queria toda aquela terra?” Claro, o Ser Supremo, na sua infinita esperança, estava supondo que talvez ele quisesse todo aquele espaço para construir orfanatos, hospitais, promover a caridade. Que mais poderia ser? Por que um homem já tão rico iria precisar de toda aquela propriedade num país onde ainda há miséria e pobreza? Contra este argumento existe o fato de que a região é riquíssima e como disse o Lúcio Flávio, está cheia de rios, minérios e outros recursos naturais. Isso certamente levanta suspeitas. Mas a gente sempre deve pensar o melhor e talvez a divina paciência tenha achado que talvez o Cecílio precisasse de toda essa riqueza para poder fazer as construções. Afinal de que adianta a terra se você não tem os recursos para construir, desenvolver? Estou falando tudo isso porque, embora Deus tudo saiba, mesmo ele, não podia acreditar que uma pessoa fosse tão gananciosa que quisesse uma área tão grande que inclusive incluia áreas indígenas. Área indígena, isso é complicado, não sei como ele iria explicar. 
Aí sim, o grileiro teria problemas...Mas para Deus tudo é possível de se entender, talvez o Cecílio quisesse a terra dos indígenas para devolvê-las a eles, protegê-los contra outros grileiros. Você sabe como é, sempre estão tentando avançar nas coisas dos índios. O Senhor deve ter pensado também, este meu filho já tem 78 anos, é impossível que esteja querendo tudo aquilo por dinheiro, por poder. Afinal de contas ele havia programado o ser humano para adquirir sabedoria na sua velhice. Será que este fator  havia falhado no nosso grileiro? Há tanta gente malvada, pensou Deus, que talvez não fosse o Cecílio, talvez outras pessoas estivessem usando seu nome para se apoderar das terras. É verdade que isso é pouco provável pois ele era um homem esperto e inteligente. Bom, o nosso Criador tentou entender e tentou obter uma resposta razoável do recém chegado ao reino do além. Em sua infinita sabedoria Ele sabia que não podia acreditar apenas em notícias de jornal, afinal o que estavam falando do Cecílio era coisa que “até Deus duvida...” E Deus duvidou e por isso estava dando uma chance ao mesmo. Mas sabe de uma coisa, o Cecílio não tinha o que falar. Na verdade nem provar que as terras eram suas ele podia. Como apresentar aqueles documentos fajutos todos diante do Criador? Afinal ele criou tudo, imaginem, até nosso DNA, como uma pilha de documentos frios iria “colar”? E mesmo que “colasse”, como justificar a ganância? Não sei não, mas estou preocupado com o que aconteceu com o Cecílio. Nunca me esqueço do que o Filho de Deus falou na Bíblia. Sabe, aquela história de “rico entrar no céu”? Ele mesmo que falou que era mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha. Estou mesmo preocupado com o destino do homem. Quem sabe ele devesse ter escolhido uma religião com reencarnação. Assim ele poderia voltar, “expurgar” todo desejo de riqueza, viver uma vida simples, ajudar os outros e, principalmente, ter só um pedacinho de terra, o suficiente para ser feliz. Preciso parar mas as ideias continuam chegando...Fico pensando, “um camelo passar pelo buraco de agulha”...? Como seria uma área de 4,7 milhões de hectares no vale do rio Xingu passar pelo buraco da agulha? Meu Deus, não quero nem pensar...





Friday, March 2, 2012

Quem precisa de filmes de terror?

Quem precisa de filmes de terror?

Eu não sei se você gosta de filmes de terror, mas acabei de ter um terrível pesadelo e talvez alguém possa transformá-lo em uma obra de Hollywood e colocá-lo nas telas...Bem a história é horrível, nem sei se dá para acreditar. Dois amigos, logo depois de se formarem no segundo grau, na Califórnia, cometem o primeiro assassinato. E assim foi, continuaram matando nos próximos 15 anos. Um deles até contava vantagem nos bares. Como eles eram bons em “fazerem as pessoas desaparecerem”. Mais de vinte assassinatos na região rural de Central Valley, uma onda de pavor. Na maioria dos casos os corpos nem foram encontrados. Finalmente em 1999 eles foram condenados e presos. Como todos “serial killers” tinham um apelido:  "Speed Freak Killers". Um deles conseguiu anular seu julgamento e saiu da prisão. Um advogado conseguiu provar que a confissão foi obtida de maneira irregular. Mas no meu pesadelo, eu sei que ele é assassino. Vai matar de novo? Suspense...
Dá ou não dá um filme macabro?  Sinto muito, vai ter de ser documentário. Não foi um pesadelo, aconteceu de verdade. Para dizer a verdade, ainda está acontecendo. Wesley Shermantine, um dos dois assassinos, recentemente começou a revelar os locais onde estavam os corpos. Arrependimento? Não, nada disso. Havia uma recompensa de  $ 33 mil dólares. Vai poder comprar um aparelho particular de televisão para sua cela e alguns doces, depois de todas as deduções, como custos da justiça e outros. O outro assassino (Loren Herzog), que estava solto, finalmente fez algo “digno”. Quando ficou sabendo que seu “colega” de profissão estava começando a revelar os locais das ossadas, enforcou-se. A história hedionda continua acontecendo, estão desenterrando centenas de ossos em diversos lugares.
Afinal de contas, quem precisa de filmes de terror? É só ler os jornais...





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Estranhas Histórias
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