Sunday, June 7, 2020

Mãe, mulher





Mãe, mulher

A mãe estendia a toalha
A mãe botava os pratos na mesa
A mãe distribuía os talheres
A mãe olhava a gente comer
A mãe perguntava se estava bom
A mãe via a gente sair
A mãe mandava tomar cuidado
A mãe via a gente voltar
A mãe perguntava da gente
A mãe cismava com nosso cismar
A mãe não queria a gente doente
A mãe não queria nosso sofrer
A mãe era pura poesia
A mãe era santa, era anjo
A mãe era uma mulher....

Friday, June 5, 2020

Meus alunos da oitava série





Meus alunos da oitava série

Faz tanto tempo, acho que nem é oitava mais. Mesmo essa oitava um dia tinha sido a quarta série do Ginasial. Alguém deve estar se perguntando, por que os alunos da oitava e não da sétima, da sexta...? Bem, na verdade, os alunos são os mesmos e eles passaram por todas antes de chegar à oitava e é deles que quero falar.
Mas vamos ao que interessa. A oitava era uma série muito especial para um professor de Português. Era nela que aprendíamos (professor sempre aprende junto...) Linguagem Figurada. Uma delícia. Nem sei se ainda isso é assunto nas aulas de Português. Tomara que seja! Navegar pelas sutilezas da língua, suas várias camadas de significado, sentir todo seu potencial.
E como aqueles queridos alunos eram bons! Quase todos tinham uma habilidade enorme em identificar metáforas, hipérboles, metonímias, ironias... Eu me lembro até agora de suas carinhas de prazer ao dizer o nome certo da figura: “É metáfora, professor!”
Embora tudo isso seja bonito, ainda não é aí que quero chegar. Para identificar o sentido conotativo de uma palavra ou de uma frase, você precisa saber antes o significado inicial. Ou seja, você precisa saber interpretar um texto. E não é o que mais falta hoje?
Por isso tenho um orgulho enorme de todos os meus alunos dessa época. E, embora, talvez eles não se lembrem mais daqueles nomes esquisitos das figuras, com certeza sabem entender o que leem, tanto no sentido denotativo como no conotativo. E eu tenho certeza de que, pelo pouco que vejo deles por aí, que eles fazem uma diferença enorme nessa época absurda que estamos vivendo.
Só estou escrevendo essa crônica para que, se um deles estiver lendo, saiba que a sua presença é notada por mim e, certamente, por muitos outros. E, saibam que vocês, como todas as outras pessoas de boa vontade no mundo, é que estão “segurando a barra” (aí está uma figura de linguagem...) nesse caos do novo milênio. Parabéns, eu admiro vocês e de todos tenho muito orgulho!