Wednesday, April 29, 2020

Verdade Crua




Verdade Crua

Há pessoas nas casas,
e há pessoas sem casas.
Há pessoas nas ruas,
e há também almas nuas...  
Há máscaras que protegem,
e há as máscaras que caem.
Há dores compartilhadas,
e há dores solitárias. 
Há tristezas incontidas,
e há mortes indevidas...
Depois de tanto tormento,
sob solene testemunho
de uma chorosa lua,  
gravada na branca lápide,
estará a verdade crua....

Monday, April 20, 2020

A Mutação: VICUS37


A Mutação: VICUS37

Cynthia estava pensando no irmão, que não tinha respondido a nenhuma de suas últimas 12 chamadas, quando recebeu um alerta no seu comunicador de pulso. Deveria estar pronta em 48 minutos para ser recolhida pela equipe de saúde. Seria protegida por uma veste especial e removida para a estação ferroviária onde a colocariam num trem blindado.
O noticiário dos últimos dias tinha ficado cada vez mais assustador. O vírus VICUS37 tinha características aterrorizantes. A facilidade com que se propagava nunca tinha sido registrada na história da Medicina. O índice de mortalidade, apesar de todo o avanço da tecnologia médica, era inédito. Embora estivesse claro que não era uma arma biológica, era como se o VICUS37 tivesse engendrado um plano diabólico para derrotar a civilização do ano 2037. Provavelmente uma mutação sinistra do famoso COVID 19 de 17 anos atrás.
Naquele dia, logo de manhã, Cynthia sentiu algo diferente na comunicação oficial. O foco do Departamento de Saúde tinha mudado. Não estavam mais transferindo pessoas contaminadas para os grandes centros de recuperação. Agora as equipes de resgate estavam levando as pessoas imunes e sãs para locais onde elas ficassem isoladas e pudessem ser preservadas. Ou seja, e isto era tenebroso, estavam desistindo de salvar as pessoas contaminadas, pois o índice de recuperação era muito baixo. Estavam tentando salvar quem ainda tinha alguma chance. O que estava acontecendo em nações mais pobres nem aparecia mais no noticiário. Era apocalíptico. Tudo isso passava como um filme de terror na cabeça de Cynthia, quando ela escutou o ruído da equipe de resgate que chegava. Tiraram a pequena valise que tinha na sua mão e a puseram de volta no sofá. Não era possível levar nada, disseram através da máscara especial que usavam. A seguir, revestiram-na primeiro com um tecido especial e depois fizeram com que ela entrasse num uniforme amarelo escuro. Como se ela fosse uma astronauta, colocaram um estranho capacete em sua cabeça. Percebeu que era pressurizado. Foi conduzida, então, para um veículo blindado, onde estavam mais três pessoas vestidas como ela.
Em 13 minutos chegaram à estação. Um túnel de plástico havia sido montado de forma que os 4 ocupantes pudessem caminhar até o último vagão do trem sem nenhum contacto com o ar exterior. A porta foi fechada e o trem começou a andar. Cynthia conhecia a rota do trem. No painel havia a indicação de quantos passageiros seriam recolhidos na próxima estação: 9. Provavelmente seriam colocados em outro vagão. Dava para ver que as portas, além de terem sido fechadas hermeticamente, estavam protegidas por uma espécie de fita que acompanhava todo seu contorno. As outras estações tinham também indicações da quantidade de pessoas a serem resgatadas: de 5 a 12 cada uma. Aquilo preocupou profundamente Cynthia. O que aquilo queria dizer? Que aquela quantidade de pessoas era o total de sobreviventes? Não podia ser. Por uma associação de ideias, lembrou-se do irmão. Pensou em dialogar com os outros do vagão e percebeu que era impossível.
Com tanta agitação em sua cabeça, não percebeu que o trem não tinha parado na estação seguinte. Olhou para o painel e verificou que no lugar do número 9 havia uma palavra: ERROR. O que significava aquilo? E ficou atenta para a parada seguinte. A velocidade não diminuiu e passaram direto. De novo, o número foi substituído por “ERROR”.
Cynthia estava entrando em pânico e estava desesperada para saber o que estava acontecendo. Foi então que percebeu que mais ar estava sendo injetado em seu capacete. Logo descobriu que, na verdade, era algum tipo de sonífero. Em segundos entrou em sono profundo.
Cynthia não sabia quanto tempo havia passado quando acordou. Percebeu, no entanto, que tudo estava muito diferente. O trem tinha parado em algum ponto que era entre estações. Agora, no entanto, ela conseguia ouvir vozes. Eram os outros passageiros conversando. Não entendia direito o que diziam, mas ficou claro que tinha havido algum tipo de contaminação. Havia mortos no vagão. O trem tinha sido abandonado. Pelo jeito que falavam dela, estavam considerando que estava morta também. É verdade que ela não estava conseguindo se mover e sentia seu corpo fervendo. Os olhos estavam ardendo e sua cabeça estava começando a doer muito.
Era óbvio que ela estava com o vírus. Tinha ouvido sobre aqueles sintomas inúmeras vezes. Ainda conseguiu ouvir mais um pouco as duas pessoas que estavam conversando perto dela. Eles eram os últimos. Todos haviam morrido no vagão, o trem tinha sido abandonado pela equipe de resgate. Ou talvez eles estivessem mortos também.  E aqueles dois... era óbvio que estavam igualmente contaminados. Talvez fossem mais fortes que ela e aguentassem mais algumas horas. Não muitas, entretanto. Ela sabia que, entre aparecerem os primeiros sintomas e a pessoa infectada morrer, havia um período de no máximo dez horas.
Foi o último pensamento de Cynthia. Antes de seu coração parar ainda pensou mais uma vez em Bem, seu irmão... Sabia, o tempo inteiro, que ele estava morto há muito tempo, vítima daquele horrível VICUS37. Ela só não queria acreditar...



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Monday, April 13, 2020

Um show para poucos: Moraes Moreira


Foto -Marcos de Paula: Estadão


Um show para poucos: Moraes Moreira


Há muitos anos atrás, ficamos sabendo de um show do Moraes Moreira no Sesc Pompeia. Não podíamos perder e lá fomos todos nós.  Minutos antes do horário, percebemos que não havia plateia suficiente: no máximo 15 pessoas estavam presentes. Houve algum tipo de erro na divulgação do show. Estava claro para nós que o espetáculo iria ser cancelado. Mas que nada, na hora marcada, lá estava ele e sua banda!
E o homem cantou, e dançou, e pulou... Parecia que estava num Maracanã diante de cem mil pessoas. Energia total. Foi o melhor show ao vivo de minha vida. Saí inspirado.
Que profissional, que artista, que ser humano, que respeito com o público. Nunca mais esqueci. O único medo que eu tenho é que, por essas e outras, comecem a chamá-lo de comunista...

Sunday, April 12, 2020

Facebook do Brasil: A dúvida de Deus





Facebook do Brasil: A dúvida de Deus

São Pedro estava dando uma olhada no Facebook do Brasil e reparou que havia algo estranho. Alguns cristãos estavam colocando uns posts bem esquisitos que iam completamente contra o Novo Testamento. Decidiu que tinha de falar imediatamente com o Todo Poderoso. Não dava. Ele estava ocupadíssimo com uns mamíferos de um planeta da Galáxia de Andrômeda que estavam quase adquirindo inteligência. Temia que acontecesse o mesmo que aconteceu com os Terráqueos. Precisava divinamente corrigir seu DNA. São Pedro, então, juntou todos os posts fora do normal e colocou tudo num flash drive. Depois pensou bem e achou melhor imprimir. Embora o Paraíso estivesse todo High Tech, achou que aquilo era demais. Imprimiu. Impressora divina, impressão perfeita. Mandou tudo para Ele. Três dias, nada.  Embora para quem tem toda a eternidade três dias sejam uma insignificância, estava preocupado, pois o povo não parava de postar. No quarto dia, porém, recebeu de volta todas as cópias que tinha mandado junto com uma nota divina. Ela dizia que havia algo errado. Aquilo não podia ser da Terra. Só podia ser de um Facebook de outro planeta. São Pedro tinha de pesquisar de novo, Ele não acreditava naquilo.
A história estava tão estranha que achei melhor nem saber o fim. No entanto, uma coisa eu aprendi. Entendi perfeitamente aquela expressão... Sabe, quando as pessoas dizem que fulano fez ou disse algo que “Até Deus duvida”?

Wednesday, April 8, 2020

Qualquer semelhança com o Corona, é pura coincidência, eu juro!



Qualquer semelhança com o Corona, é pura coincidência, eu juro!


\Há um fogo medonho destruindo um prédio cheio de gente. Labaredas gigantes saem pelas janelas e uma fumaça sinistra sobe para os céus. Algumas pessoas saíram antes do incêndio, outras foram resgatadas e suspiram aliviadas. Lá fora um grupo de pessoas reclama do pessimismo daqueles que não comemoram o suficiente o número de sobreviventes. Outros discutem se não seria melhor usar um outro tipo de equipamento que, embora não seja para esse tipo de fogo, talvez possa ajudar. Afinal de contas ainda há muitos lá dentro. Há a possibilidade de que o chefe dos bombeiros seja demitido porque alguém gritou que ele era um herói e talvez ele não seja tão herói assim. Parece que vai faltar água, pois ela foi desviada para outro incêndio numa rua perto dali. Existem também indivíduos discutindo quem foi que colocou fogo no prédio, se foi de propósito ou não. Há ainda gente que insiste em entrar no prédio para fazer uma oração e pedir que Deus ponha um fim àquela catástrofe. Outros acham que isso é uma loucura, uma burrice! Muita discussão, muita confusão, um inferno. Correm também boatos de que existem homens de negócios interessados na mudança dos equipamentos. mas acho que isso é um exagero.
Estava esquecendo, existem várias correntes de cidadãos que acham um despropósito a cidade ficar ali cuidando do incêndio. Que todos voltem a fazer o que estavam fazendo, pois senão faltará comida. Todos têm uma opinião e colocam cartazes nos muros xingando quem tem opinião diferente. Enquanto isso muita gente está morrendo...
Eu também tenho minha opinião, mas quem sou eu, quem vai me ouvir no meio de uma confusão dessas...? Estava pensando em orar, mas se fizer isso, vou fazer aqui fora que é mais garantido 
                                                                                     Flávio Cruz

Friday, April 3, 2020

A Virtude do Vírus


A Virtude do Vírus

Vamos separar os corpos,
vamos juntar as almas...
Preparar para o pior,
e esperar pelo melhor,
buscar as semelhanças,
evitar as divergências...
É hora de ter esperança
hora de pedir clemência!
É hora de cuidar do outro,
que amanhã o outro é a gente.
É hora de estar presente,
mesmo tendo de estar ausente...