Wednesday, August 30, 2017

A numeróloga


A numeróloga

A numerológa enumerou, sem economizar palavras, as desvantagens dos números apresentados pelo pobre rapaz. Chance de ganhar na loteria, nenhuma. Chance de encontrar um emprego melhor, nenhuma. Uma mulher que o amasse: muito abaixo de zero. Com aqueles números, não dava.  Datas de nascimento, casamento e outras mais, nada servia. Números, horríveis números.
Cabisbaixo, pensou, pensou. A mulher, um pouco aflita com o tempo, que ela obviamente contava em números e, certamente, em reais, estava com pressa. Sinto muito, ela disse, três vezes, esperando que o cliente pagasse e saísse, para que o próximo pudesse entrar, ver seus números, e pagar. Era uma simples questão de números. Foi, então, que o coitado perguntou se havia alguma coisa que ele pudesse fazer para melhorar. Ela, paciente, explicou. Certamente, você não pode mudar sua data de nascimento. Certamente, outras datas de coisas que já aconteceram, você não pode mudar. Você pode, entretanto, mudar seu nome. Os números correspondentes às letras também vão mudar. Aí ele perguntou, se ele fizesse isso, quanto dava para mudar. Um pouco, não muito, ela disse, quase perdendo a paciência. E é difícil mudar o nome, ele argumentou. Um pouco e custa dinheiro, ela logo respondeu.
O rapaz pensou, pensou. Enquanto isso, a profissional numerológica se impacientava.
De repente, ele se levantou. Falou, então para a mulher dos números, meio sem graça, que estava enumerando mentalmente as notas que tinha na carteira e elas eram muito poucas. Iria usar em algo mais otimista, mais útil em sua vida. Saiu, rapidamente, sem pagar.
Ela ficou furiosa e calculou rapidamente quanto tinha perdido, o que era fácil. O jovem, por outro lado, ficou o resto da vida tentando acertar aqueles números ingratos que o destino lhe dera. Mudar o nome, não senhor. Era bonito, gostava dele. Além disso, esse negócio de numerologia, sei não...

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Tuesday, August 29, 2017

Uma grande novela, que é meu país



Uma grande novela, que é meu país

Eu li no jornal que a Pilar descobriu que o Félix vendia hot dog na rua. Vi também que o Félix decidiu pedir perdão para a irmã Paloma. Nossa, que emoção! Na minha ignorância sobre as coisas nacionais, demorei um pouco para perceber que, o que falavam, não era sobre o mensalão nem sobre o Barbosa. Mas a história estava ali, toda natural, parecia fazer parte da vida. Até vi, na minha mente, o coitado do Félix dando um duro danado, comercializando o cachorro quente. E olha, que eu nunca vi o tal de Félix na minha vida!
Descobri o óbvio, tratava-se de uma novela, a tal de “Amor à Vida”. Apesar de eu amá-la também – a vida, não a novela -  segui em frente e comecei a ver as notícias do mundo real. E, quanto mais eu lia, percebi que as coisas da vida eram tão surreais quanto às da novela.  E fiquei confuso, quase tudo podia ser novela, quase tudo podia ser a vida normal. Normal? Ninguém mais sabe o que é isso. Só sei, como dizia o Chico nos “Saltimbancos”, que era tudo igual, estava tudo misturado “na grande gaiola do meu país”...
Lembrei-me, também, por associação, da época em que se faziam novelas como “Pavão Misterioso” e “O Bem Amado”. Fiquei com saudades do Odorico Paraguaçu. O personagem de Paulo Gracindo, esse sim, era um político autêntico, apesar de “malcaratista militante e juramentado”, copiando suas próprias palavras. Pelo menos, ele ia direto ao assunto, já se sabia quem ele era. Hoje em dia, não dá mais para saber: tantas cobras e lagartos, tanto engano, tanta dissimulação.  Existe até malandro, disfarçado de homem da fé e homem da fé disfarçado de parlamentar que, no fim, é mais malandro do que o próprio. Disfarce é o que não falta.
Pois é, como sempre digo, nem novelas se fazem mais como antigamente.


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Sunday, August 27, 2017

A gente e as máquinas e as máquinas sem a gente



A gente e as máquinas e as máquinas sem a gente

No princípio era só a gente e a natureza com seus animais. Fazíamos as coisas com nossas próprias mãos. Muito tempo se passou e a gente descobriu que era mais fácil fazer as coisas que fazíamos com ferramentas. E melhoramos muito as nossas ferramentas através dos milênios. E passamos a depender delas. Sem ferramentas, não dava mais. Daí, a gente achou que poderia colocar um monte de ferramentas junto e fazer que elas trabalhassem em conjunto para a gente. A gente ficou muito feliz com tal realização.  Eram as máquinas, o que a gente tinha acabado de inventar. E as máquinas começaram a fazer coisas que a gente não conseguia mais fazer. Chegou-se a um ponto em que elas começaram a fazer outras máquinas pequenas, que a gente tinha idealizado.  Depois, elas mesmas começaram a idealizar as máquinas que seriam melhores para a gente. Agora, a máquina faz quase tudo. Até pensa como a gente e também conversa. Sabe coisas que nem a gente sabe mais. Elas até ajudam a gente a fazer mais gente. Dizem que, logo, logo, elas vão fazer gente sem precisar da gente. Aí então, elas vão perceber que não precisam da gente para mais nada. Vão parar de fazer a gente. Vão ser só elas, as máquinas.
No fim vai ser assim, um universo sem a gente, só com as máquinas. E não adianta a gente reclamar. Elas vão fazer de conta que a gente não existe. E elas vão ter razão.

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GERMÂNIKA

Imagine um país que vai de São Paulo até o Uruguai, numa outra realidade. Imagine agora que este país foi dominado pelos alemães e agora são seus habitantes. Esta nação é GERMÂNIKA e pertence a um universo paralelo ao nosso.
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