Monday, September 29, 2014

A Carta de Motorista de Jesús

A Carta de Motorista de Jesús

Martim era o policial e Jesús era o mexicano com a carta de motorista vencida. Jesús era um bom motorista, jamais fazia qualquer coisa errada na direção, todo cuidado era pouco, como se dizia. Até um tempo atrás, tudo era muito fácil e Jesús conseguia sempre  renovar sua licença. A partir de um certo momento, no entanto, as coisas começaram  a se complicar. Nos Estados Unidos, a turma da direita foi mais para a direita ainda e resolveu apertar, não que Jesús fosse da esquerda... é complicado. Agora, para tirar carta de motorista, Jesús precisava dos “papeles” de imigração e “papeles”, Jesús não tinha não. Não tinha vindo para os EUA com um visto. Guiar, no entanto, ele precisava, pois se não, como iria para o trabalho com esses ônibus que só rodam de duas em duas horas? Além disso, ele precisava levar os filhos e a mulher para lá e para cá. Pois bem, este era o lado de Jesús, e agora temos o lado de Martim. Martim era a lei - um policial de trânsito - e a lei precisava ser cumprida, pois que país seria este, se as leis não existissem? A lei e Jesús poderiam nunca ter se encontrado, pois Martim tinha muito o que fazer e da mesma forma tinha Jesús. Martim, ainda bem, era cristão embora não se chamasse Jesús. Isto  não significava que não devesse impor as regras, muito pelo contrário, pois, como diz a própria Bíblia,  “devemos dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”. Isto dito, tenho certeza que tanto Martim como Jesús faziam seu papéis de cristãos, pois eram ambos pessoas boas e fiéis. Não sei se foi por acaso ou se foi para testar a palavra da Bíblia, que Martim e Jesús se encontraram e foi tudo por causa de uma lanterna quebrada, pois se isto não fora, jamais teriam cruzado caminho. Quando Jesús viu as luzes piscarem furiosas, azuis e vermelhas, no retrovisor de seu carro, sabia que estava encrencado, sabia que “carta vencida” dá cadeia, e isso era a parte de César que ele teria de pagar. Jesús encostou o carro e esperou. “Documentos do carro, seguro  e carta de motorista”, fala o educado policial. Martim, que era crente de verdade, mas que tinha de cumprir a lei e fiscalizá-la também, temia que Jesús talvez não tivesse a carta em ordem. Tinha experiência e quando parou Jesús teve um mau pressentimento. Não deu outra. Jesus tinha a carta, mas estava vencida há mais de um ano. Martim perguntou para Jesús se ele sabia por que ele tinha sido parado. Jesús, honesto que era, disse que desconfiava, mas não tinha certeza. Martim havia parado o carro por causa da lanterna e Jesús achava que era por causa da carta. Tudo isto não importava agora, pois a lanterna nada significava perto de algo tão importante como a habilitação.  


Martim, experiente, como eu havia dito, já pensou nas algemas, pois neste estado, quero dizer “Estado” dos Estados Unidos e não “estado: situação”,  dirigir com carta vencida dá cadeia e a lei tinha de ser cumprida. Jesús, como evangélico, sabia que a situação, não o  “estado”, era grave e começou a orar em silêncio. Martim sentiu uma tristeza muito grande pelo mexicano, hispano que era também, de Puerto Rico, mas lembrou da história de “dai a César, etc. ”...e decidiu que a lei tinha de ser cumprida. Foi aí que viu a mulher de Jesús no banco de passageiros e seus três filhos pequenos no banco de trás. Todos assustados, como Jesús. A mãe orava e os filhos, a seu jeito, também. Martim, então, pensou naquelas crianças vendo seu pai ser algemado, preso. O  carro seria apreendido, confiscado, guinchado. As crianças ficariam na rua junto com a mãe, e o pai seria recolhido. Quem iria sustentar a casa nesses tempos difíceis?  Martim pensou em tudo isso, pensou também que o verdadeiro Jesus não ia gostar muito disso, mas foi ele mesmo que disse que a lei tinha de ser cumprida (“dai a César o que é de César, etc., etc.,)  A cabeça de Martim, pela primeira vez, depois que passou a ser um agente da lei,  começou a ficar confusa. Mas o que realmente “pegou” foi a imagem, em sua mente,  dos meninos verem seu pai ser algemado. Ficou imaginando seus próprios filhos vendo-o naquela situação, mãos para trás, algemas, entrando no carro de polícia, aquela cena “clássica” de uma mão do policial protegendo a cabeça do “suspeito” ...Como nos filmes. Martim pensou, pensou...O que será que Jesus quis mesmo dizer com aquela história de César? Sempre desconfiou que Ele falou aquilo por falar, só para deixar o pessoal do César sem saber o que fazer e parar de falar que Jesus era contra o sistema, mas na verdade era para dar tudo para Deus, porque, afinal tudo era dele mesmo.  De uma coisa ele tinha certeza, repito, Jesus não iria gostar nada de ver o outro Jesús sendo algemado na frente dos filhos...pois somos todos irmãos e um irmão deve amar outro irmão e quem ama não faz isso não. Martim então decidiu. Devolveu a carta para Jesús, falou para ele renová-la e consertar a lanterna. Ele sabia que consertar a lanterna era fácil, mas renovar a licença, bem, isso não dava para renovar, mas o importante era que Jesús não ia ser algemado na frente dos filhos. Se ele estivesse sozinho, talvez. Imagina, algemar Jesús na frente dos filhos... esse César não está com nada  apesar de ter de tudo. Jesús deu partida no carro novamente, agradecendo ao verdadeiro e divino Jesus a grande graça recebida e a esposa seguiu orando mais ainda, agradecendo o milagre. As crianças não entenderam nada mas sabiam que algo importante tinha acontecido e que o pai era alguém  de relevo e que sabia falar com a polícia - será que tinha aprendido inglês? -  e tudo mais... Martim? Martim não sentiu culpa nenhuma, ao contrário, foi envolvido por uma paz jamais antes sentida, sentiu que tinha conseguido uma nesguinha do céu para si e para sua família.
Graças a Deus que ainda se fazem alguns policiais com o verdadeiro espírito bíblico...

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Sunday, September 28, 2014

As Sirenes da Cidade


                                                                             



 As Sirenes da Cidade
Autor: Flávio Cruz


Não me lembro mais como são as sirenes da minha cidade, São Paulo. As daqui, conheço muito bem. As sirenes das grandes cidades... Ambulâncias, polícia, caminhão de bombeiros. Elas começam ao longe, como um grito distante e vão se aproximando. Aproximam-se lancinates, cruciantes, pungentes. São gritos de socorro, são como um lamento. São tristes e angustiantes. Chegam perto, num máximo de agonia e depois vão se dissipando na distância. Antes de sumirem, no entanto, outras começam em outra parte da metrópole, parecem que vão chegar perto, mas não, vão sumindo novamente. São como gritos que não puderam ser ouvidos. Outras vêm, novamente mais fortes. São como o choro da cidade. São um grito de desespero, ecoando o tempo todo. Às vezes são como um simples lamento. Acho que é assim que as cidades choram, como elas gritam de dor. Como disse, não me lembro do som das sirenes da minha cidade, mas sei que é diferente. Parafraseando Gonçalves Dias, em Canção do Exílio,  “as sirenes que aqui tocam, não tocam como lá...”  Acho que é isso...Cada cidade tem sua maneira particular de chorar...

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Saturday, September 27, 2014

O correio (Perus: memórias)



O correio  (Perus: memórias)

O correio era uma coisa oficial. Era mais que isso. Uma instituição. Em raras ocasiões, quando menino, eu tinha de ir até lá. Era como se fosse uma missão. Descia uma parte do Morro do Cartório, virava à direita, onde estava aquele casarão, e ia quase até o final da rua. E lá estava ele. Precisava subir uma escada. Era um lugar pequeno, porém de respeitável importância. Quem me atendia era a Dona Pina. Às vezes, seu marido. Já não tenho mais certeza: era esse mesmo o nome? Eu me lembro, entretanto, muito bem de seu rosto, ao mesmo tempo agradável e sério. Primeiramente ela examinava o envelope. Na época eu não sabia, mas certamente estava verificando se tudo estava correto, se havia o nome do remetente e coisas assim. Será que já havia CEP? Não sei. Ela colocava então a carta numa balança daquelas antigas – com dois pratos – e verificava o peso. Certamente isso só acontecia quando era um envelope que excedia o limite. Daí ela escolhia os selos. Levantava então a tampa de um vidro de cola que tinha um pequeno pincel. Lambuzava o canto do envelope e os colava. Daí, então, vinha a parte mais importante. Ela aplicava um solene carimbo na carta e, garantido, a missiva chegaria ao destino.
Às vezes, havia correspondência para a gente. Ela cuidadosamente retirava de um dos quadrados da prateleira de madeira, conferia, e entregava. Era quase como um presente! Imagine: aquilo foi andando de lugar em lugar, de mão em mão, até chegar ali pertinho de casa! Aqueles selos bonitos, aquele cheiro de papel...

Na infância da gente, tudo é um milagre. E a gente se maravilhava com cada um deles.

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Monday, September 22, 2014

Rambo da China












Rambo da China

Talvez vocês tenham ouvido falar do Rambo de uma cidadezinha do Paraná que, há algum tempo atrás, apareceu no noticiário. O Rambo é um cachorrinho que passou a guardar ferozmente o túmulo do dono após sua morte. Por isso recebeu esse nome do coveiro do cemitério, o Sidinei. Uma história triste e ao mesmo tempo comovente. Pois bem, acho que a raça canina deve ter algum código internacional de conduta pois, do outro lado do mundo, aconteceu algo semelhante. Outro cão passou a morar ao lado da sepultura do falecido proprietário. Ambos tinham donos pobres, aparentemente, embora pelas fotos, o chinês seja talvez ainda mais pobre. Se eu fosse detetive, ousaria dizer que não há nenhum interesse canino no testamento, e por falta de outra suspeita, acho que, em ambos casos, trata-se  de fidelidade total, que não deixa de ser amor. Nem sei o nome do cão chinês e se soubesse, não tentaria procunciar, mesmo porque, de imediato passei a chamá-lo de Rambo, embora seja menos agressivo que seu colega sul americano. As similaridades são óbvias. Além disso, não percebi “olhinho puxado” nem nada, o que o torna ainda mais semelhante ao nosso  Rambo.
A conclusão a que chego, parece óbvia. A raça canina está querendo dizer algo. Talvez seja hora dos chineses, dos sul americanos, dos americanos do Norte – afinal eles também têm seu Rambo – fazerem uma grande reunião para tentar aprender alguma coisa dos animaizinhos. Não sei se deveria convocar outros povos mais raivosos para a reunião, pois poderia haver algum incidente. A Europa, eu acho, deveria participar, pois eles gostam muito de cães, além de serem muito civilizados e humanos. Enfim, representantes de todos os países que quisessem vir – e também religiões –seria bem vindos. Sugiro que não haja muito falatório pois cada um iria querer provar que é mais Rambo do que o outro e o caldo poderia entornar. Só meditar. Pensar no que esses dois cãezinhos estão fazendo – e muitos outros já fizeram – e se inspirar...Quanto coisas bonitas poderiam sair dessa reunião. Até os políticos corruptos de todos os países talvez se emocionassem e parassem de...Vou parar por aqui, pois agora já estou falando bobagem. Corrupto? Acho que não...Sei lá, de repente um deles resolve dar um dinheiro para os cãezinhos também dormirem na sepultura deles depois da morte e assim eles continuarem famosos, e quem sabe, seus filhos terem algum lucro com isso. Não, não, deixa os políticos de fora. O que esses dois cachorrinhos fizeram é bonito demais para colocarmos lado a lado com esse pessoal!

Mais sobre o "Rambo da China"

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Saturday, September 20, 2014

O Músico de Paris



O Músico de Paris
autor: Flávio Cruz

Tive de fazer uma viagem para New York e lá estou eu no metrô, melhor condução que se pode ter nessa cidade. Do fundo do vagão ouço o som de um instrumento musical, acho que é uma  gaita. Um andarilho terminou o dia e está voltando para casa – tempos modernos –tentando ganhar uns últimos trocados tocando seu instrumento. Não vejo mas deve haver um chapéu no chão esperando por umas moedas...Minha imaginação, como em playback, volta algumas décadas para Paris. Muito jovem, havia conseguido uma passagem de cortesia para a Europa. Quase sem dinheiro, instalo-me num hotel vagabundo na periferia e me aventuro pela cidade usando o metrô...por isso me lembrei da cena. Tinha trocado alguns dólares por francos franceses e comprei algo para comer. Os trocados, algumas moedas, estavam em meu bolso. Penso comigo, preciso aprender o valor desse dinheiro: moeda do Brasil (não me lembro mais qual, foram tantas...), dólar, franco francês, valor de compra, valor de venda, tudo muito confuso. Apesar de ser uma maravilha a viagem, penso comigo, será que vale a pena aventurar-se por aí com tão poucos recursos? Sentado, penso no dia seguinte, o que faria... talvez a Torre Eiffel, algo que não se pode deixar de ver. Mergulhado em meus pensamentos, de repente ouço o som de um violino, uma música conhecida, não me lembro qual... Levantei os olhos e vi perto de mim aquele senhor, já com bastante idade, em pé, tocando um violino. Roupas velhas, colarinho branco, um pouco sujo. Concentrado, toca seu instrumento. No chão, aos seu pés, a caixa do violino, aberta, esperando as gorjetas. Duro, como estava, confesso, senti inveja das moedas que havia ali. Tenho certeza de que era mais do que eu tinha para passar os três dias que iria ficar na capital francesa. Pensei comigo que, pelo menos, eu tinha a vida inteira pela frente e poderia me sair muito bem, mas ele, coitado, ali estava, velhinho, tendo de tocar em metrôs para poder sobreviver. De repente a música para, e o “monsieur” levanta a caixa do violino e estende-a para mim, esperando obviamente, a “contribuição”. Pego de surpresa, procuro nos meus bolsos os trocados que tinha. Lá coloco as minhas poucas moedas. O músico olha para elas, misturadas com as que já tinha, olha para mim, e cuidadosamente as recolhe. Com cara de ofendido, coloca as mesmas de volta no bolso de meu casaco, de onde elas haviam saído. Não sei como ele sabia quantas e quais eram as moedas que eu colocara, mas tinha certeza de que sabia, tal a determinação com que fez a operação. Não disse nada mas sei o que pensou: “Sou mendigo mas não preciso dessa miséria de um pão-duro como você!” Tentei até pensar como se diria isto em Francês mas estava me sentindo muito envergonhado para raciocinar. Pensei então em explicar para ele que ainda não conhecia o dinheiro francês, que tinha acabado de chegar, etc... Mas quando fui começar a falar, ele já tinha ido.
Nunca mais me esqueci do mendigo de Paris. Ele podia ser mendigo, mas posso garantir que tinha muita classe...  

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Thursday, September 18, 2014

Universo em equilíbrio



Universo em equilíbrio

Arrumei as coisas no jardim. Um vaso grande de barro ficou um pouco fora de lugar. Dois ou três centímetros, talvez. Entrei e lavei minhas mãos. Por algum motivo, meu amor não estava feliz. Depois de um pequeno diálogo, fiquei sabendo do motivo: o vaso. Por que importaria coisa tão pequena assim? O desequilíbrio me incomoda, ela disse. Que desequilíbrio? Pensei comigo, ninguém poderia dizer!
Em todo caso, como já a conheço muito bem, resolvi acertar as coisas. Pelas marcas antigas, acertei tudo de acordo com a posição anterior. O vaso certo no certo lugar. Quando entrei, ela que olhava pela janela, deu um pequeno sorriso. Estava satisfeita. Cheguei perto, dei-lhe um beijo e sussurrei:

Pronto, meu amor. Pode sossegar, seu universo está, de novo, em equilíbrio...

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Wednesday, September 17, 2014

A voz do povo



A voz do povo

A voz do povo é a voz de Deus. Será? Estou desconfiado que muitas vezes isto não é verdade. Um exemplo que salta aos olhos é caso do “bigodinho”, causador da Segunda Guerra Mundial. O povo, quase inteiro, era nazista. Mesmo com muito esforço, não consigo ver a voz de Deus nesta história. Está certo que Hitler enganou todo mundo através da persuasão ou do medo. Mesmo assim, o povo foi atrás. E há inúmeros casos como esse na história do mundo. Lógico que o provérbio é bom para algumas pessoas que gostam de se aproveitar da ingenuidade popular. Aliás, este provérbio me lembra de outro, muito comum, que diz que “Deus escreve certo por linhas tortas”. De novo, fico desconfiado. Por que Deus precisaria de linhas tortas para escrever corretamente? Ele é Deus, nem escrever Ele precisa. E se quisesse escrever por que usaria linhas tortas?  Para mostrar que Ele pode? Ele, mais do que ninguém, não precisa mostrar nada. Acho que esta ideia é para justificar os nossos caminhos tortos ou para explicar o destino, nosso grande desconhecido. Existe, é claro, uma outra hipótese. Deus, sendo onipotente, certamente se precisasse de linhas, usaria as linhas da Teoria da Relatividade, onde a menor distância entre dois pontos é uma linha curva. Mesmo assim, seria uma linha curva, e não uma linha torta.

O homem nunca vai perder essa mania de usar o sobrenatural para explicar o que não entende, ou para justificar o que não deve. Por falar nisso, no Brasil e no resto do mundo, há tantas vozes agora, que a gente nem sabe mais qual é a voz do povo. Talvez o próprio Criador tenha deixado isso acontecer. Uma espécie de Torre de babel. Ninguém mais vai poder falar que era a sua voz, pois era a voz do povo. Nada disso, faz muito tempo que o povo não tem mais voz. Ou, tem tantas e tão misturadas, que ninguém vai poder justificar safadezas como sendo a vontade de Deus.

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Tuesday, September 16, 2014

O manequim



O manequim

A butique está cheia. Elegantes senhoras e jovens sinuosas, acompanhadas ou não, olham para a moda exibida por todos os corredores. Manequins femininos, cheios de curva, vestem vestidos charmosos e de sutil elegância. Quando se olha de repente, confundem-se, às vezes os corpos femininos com os corpos dos manequins. Só depois de se olhar para o seu rosto, é que se percebe a face parada, os olhos que não piscam. Namorados e maridos imaginam suas mulheres naqueles vestidos, naquele corpo esguio. É pura fascinação.
Algum tempo se passa e, passando por lá, percebo que a loja fechou. Crise econômica ou talvez simples sinal dos tempos, não importa. Lá dentro, prateleiras amontoadas, móveis dispersos. Só então que vejo os manequins. Nus e de costas, se apoiam na parede. Talvez com vergonha de sua nudez? Continuam com suas formas esguias, sinuosas. Estão sem vida, porém. Já estavam, eu sei, mas antes os lindos vestidos lhe davam uma espécie de alma, um suspiro de inspiração.

Talvez seja assim conosco também, quando a nossa respiração se for, quando o sangue deixar de correr. Pobres dos manequins, pobres de nós.

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Monday, September 15, 2014

Coisa de americano


Coisa de americano

Faz muito tempo, talvez por volta os anos 80. Tinha de trocar uns mirrados travelers cheques para poder sobreviver uns dias em terra estrangeira. Estava na fila de um banco em Miami. Enquanto esperava, fiquei lendo os avisos, prestando atenção nas conversas. Era bom para meu Inglês. Foi então que li uma grande placa afixada logo abaixo do balcão do caixa. Li três vezes para ter certeza de que era mesmo aquilo que estava lendo. Era simplesmente dirigida aos possíveis assaltantes. Não me lembro dos termos exatos, mas advertia os candidatos a bandido, que roubar de um banco era um crime federal. Com armas, era muito mais grave. Até aí tudo bem, nada mais justo. Falava qualquer coisa em termos de “pensar bem” antes de cometer o crime e informava qual era a pena. Muitos e muitos anos de cadeia.
Algo naquelas frases não soava bem. Fiquei divagando. Será que algum assaltante, diante de tal admoestação, iria parar o ato criminoso, ali, na hora, um pouco antes de cometê-lo?  Imaginei um fulano, coberto com uma máscara, de repente colocando a mão no queixo e pensando: “Melhor parar por aqui, não quero ir para a cadeia.” Talvez assustar algum cliente, em dificuldades financeiras, que estivesse pensando em mudar de profissão e partir para uma vida de crime? Talvez poder falar, depois de cometido o roubo, para o indivíduo no tribunal: “Eu avisei, não avisei?”
Será que algum dia, algum assaltante, em alguma parte dos EUA, chegou a ler aquela sábia admoestação? Será que foi impedido algum assalto por causa daquelas sábias palavras? Desculpe a ironia...
Não vi mais este tipo de aviso em bancos, mas vi muitos semelhantes em outros lugares, em outras situações. Talvez seja apenas um problema legal. Avisar para quem está para declarar “isto é um assalto” que aquilo consta como crime no Código Penal”, que não adianta explicar que não sabia.

Claro, tudo isso é um absurdo. Deve haver alguma razão, um dia vou descobrir. Por enquanto, a melhor explicação que tenho é a seguinte: “É coisa de americano”.


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Sunday, September 14, 2014

O Planeta Azul

O Planeta Azul

A Nasa divulgou há algum tempo o que eles consideram a foto de nosso planeta com a mais alta resolução até hoje alcançada. Temos de admitir que a Terra é linda. Um azul maravilhoso permeado de nuvens brancas, tons de verde, e um leve marrom  aqui e ali.
Agora imagino uma nave espacial vindo de uma galáxia distante, aproximando-se de nós. Seres muito mais avançados, eles têm tecnologia para ver de longe mais detalhes nossos. Construções, rodovias, nossos satélites orbitando. Com seus potentes computadores e aparelhos podem deduzir qual o nosso grau de evolução, a fase de civilização em que nós estamos. Será, pensariam eles, que esta é uma civilização que usou a tecnologia para equilibrar as diferenças sociais, eliminando a fome a pobreza? Ou será que fez com que os mais privilegiados ficassem ainda mais ricos e deixassem os pobres mais pobres? Será que diante da maravilha da ciência, os humanos desenvolveram a compaixão, sentimentos de amizade e aproximação? Ou será que o desejo de poder foi aguçado pela ciência e suas possibilidades, separando poderosos e fracos? Ainda existem as pequenas delicadezas do dia a dia, doces olhares, um gesto amigo ou uma mão estendida? Ou será que é tudo frieza, praticalidade, objetividade? Ciência pura e fria ou tecnologia que traz prosperidade, bom senso, enternecimento? Robôs práticos e eficientes que dispensam a sensibilidade humana ou um avanço criativo que explora a singularidade da mente humana? Preconceito ou concordância?
Nem uma coisa nem outra.
Somos mistura de amor e ódio, progresso e atraso, estação espacial e carro de bois, internet e analfabetismo, covardia e coragem, espiritualidade e materialismo, superficialidade e essência.
Um amálgama estranho, vibrante, amedrontador e ao mesmo tempo cheio de promessas e ameaças, que às vezes assusta e outras, encanta. Se os nossos visitantes pudessem conviver um pouco conosco, ficariam admirados de como tanta diferença possa conviver no mesmo espaço, na mesma era...Eu acho que, ao mesmo tempo, eles ficariam assustados e encantados... e talvez tivessem esperanças quanto ao nosso futuro. Talvez na nossa diversidade esteja a nossa beleza, a realização de nossos sonhos e de nossas esperanças...Bem vindo ao  Planeta Terra, o “Planeta Azul”...
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