Thursday, August 30, 2018

Você tem razão, meu amor!



Você tem razão, meu amor!

-Você tem razão, meu amor!
Foi com humildade que o Hilário aceitou as acusações da mulher, Não que fossem graves, como traição ou algo assim. Coisas do dia a dia, não deixar os utensílios no lugar, dar uma varrida quando o chão estivesse sujo... enfim ajudar na casa.
Não adiantou, porém. Pela terceira vez ela começou a enumerar os defeitos que ela via no marido. Ele sempre tinha sido assim, relaxado, relapso. O pobre homem chegou a pensar em falar “Por que casou comigo, então?”, mas sabia que as consequências seriam fatais. Assim que ela terminou mais um relatório, ele quase sem pensar, falou de novo:
-Você tem razão, meu amor!
-É só isso que você sabe falar? Nã adianta admitir, tem que mudar, prestar atenção... E enumerou mais alguns defeitos do pobre marido. Ele pensou em sair, bater a porta e voltar mais tarde. No entanto, sabia que, quando voltasse, ia ser pior. Nem prestou atenção no que ela falava agora, só pensava em alguma frase diferente que pudesse bolar, uma frase de efeito, que a fizesse calar. Pensou em várias, todas ruins. Quando percebeu que ela tinha dado uma  pausa, soltou:
Você tem razão, meu amor!
Só então percebeu o trágico erro que tinha cometido. Mais uma vez a mesma maldita sentença!
De fato, a ira dela se tornou imensurável. Praticamente gritava. Só sabe falar isso, só sabe falar isso... repetia com fúria feminista. Foi para o quarto e bateu a porta com tanta violência - Hilário nem sabia que ela tinha tanta força – que um quadro caiu e até um pozinho do forro também. E ela continuou gritando, gritando, incompreensivelmente, lá dentro.
Hilário, um pouco mais aliviado, suspirou. E antes que percebesse, falou , mais uma vez, quase num sussurro a maldita oração:
-Você tem razão, meu amor!


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Wednesday, August 22, 2018

Língua Portuguesa



Língua Portuguesa

São tantas palavras. São onomatopeias, aliterações, sinônimos fáceis e outros difíceis, a me confundir. Raízes, radicais, alguns raros, outros rudes, porém incisivos, decisivos. Vocábulos novos, antigos, pouco usados e outros abusados. Importados, também. Do grego, do latim, às vezes – sometimes - do inglês, mas que  vieram do grego e do latim, mesmo assim. Palavras duras. Chocantes. Palavreado fácil, dissimulado a se contundir com outro difícil, retórico, sutil. Palavrório, palavreado.Termos às vezes incompreensíveis em termos de linguagem comum. É bom termos isso em mente, em bom termos.  
Gosto das assibilações, assimiladas nos sussurros suaves do som do meu suspirar. Divirto-me com esses sons, sensatos, insensatos, sábios às vezes, às vezes insensíveis ao meu sentir, que ficam em suspensão, suspirando no ar...
Rebelo-me contra os rumores irritantes de erros gramaticais. São como ratos roedores  pleonásticos, cheios de vício,  que roem o ritmo e a rima de meu falar. Sempre a me consumir.
Existe a gíria que gira num doido girar vocabular. Dói nos ouvidos, mas é fácil de falar, de provocar, de assimilar. Gíria nefasta, gíria popular. No estudar dos linguistas, garantido tem seu lugar.
Palavras que o Chico e o Gil controlam, manipulam, devastam, reconstroem, digestam, digitam, usurpam, sentem, ressentem num sincero sentir. E o Guimarães, então... Deflora a Rosa da linguagem e vai  fertilizando as pétalas. Vai lá no fundo, na semente, no gens, no DNA. Clona, reclona. Recria, de suas almas, novas almas numa majestosa reencarnação. Recriador que aperfeiçoa a criação. Como num recreio, cheio de fetos sadios, que me custa crer, possa haver.
Palavras de todas as línguas. Lingua-mãe e outras que são apenas tias e filhas. Algumas são irmãs. Línguas doces e suaves vindo da latina, nossa querida mãe. Matriarca. Mas gosto mesmo, sou apaixonado, pelas palavras do meu português.  Lingua gostosa, suave, às vezes devassa... Outras vezes, santificada por escritores mil. Tanta força, tanto som...Tantas notas e tons. Tantas sílabas tônicas. Átonas, para quando você está à toa. Parece uma canção, uma valsa, uma sinfonia, uma melodia, uma ópera tropical. Com certeza, por certo, sem sombra de dúvida, é sempre, falada ou escrita, uma música no ar!

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Essa língua de Camões, boa de se namorar


Essa língua de Camões, boa de se namorar

O Chico, em “Construção”, canta que o operário “dançou e gargalhou como se ouvisse música”, anunciando o trágico momento que ele iria viver. Uma imagem poderosa. Depois anuncia que ele “tropeçou no céu como se fosse um bêbado”, fazendo do topo do edifício um céu de onde se pudesse cair. E continua brincando drasticamente com a língua e suas imagens dizendo que ele “flutuou no ar como se fosse um pássaro”. Para compor assim, além de inteligente, precisa ter um dom de um Deus em quem nem sei se ele acredita.
E o Caetano que canta “Gosto do Pessoa na pessoa, da rosa no Rosa, e sei que a poesia está para a prosa, assim como o amor está para a amizade”? Esse Caetano que joga com a essência e com a forma, invertendo e misturando seus conteúdos. Não é demais?
Já o Milton, junto com o Chico, diz que é preciso “afagar a terra, conhecer os desejos da terra”, pois estamos no momento do “cio da terra, propícia estação” e é preciso “fecundar o chão”.
Eles brincam com a nossa língua, enchem-na de atavios, para depois despi-la e mostrar sua bela nudez. Descobrem nela segredos que nem mesmo ela sabe que tem. Falam de sua intimidade de seus segredos, mostram seu reverso, seu “por dentro” e seu “por fora”. Fazem prosa de sua poesia e cometem atos poéticos com sua prosa. São seus amigos, seus namorados, seus amantes.

Também, essa nossa Língua Portuguesa, quem não quer “ficar” com ela? Ela é gostosa de se ouvir, de se falar, de se cantar. Ela é muito boa de se namorar. Acho que me apaixonei por ela...

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Thursday, August 16, 2018

Palavras, tantas palavras


Palavras, tantas palavras

Anacrônico
Anátema
Anacoluto
Analfabeto
Anatomia
Anabel, um amor que já se foi...
Análise
Analogia
Anarquia
Anagnostenia:
Essa última me deu dor de cabeça...
Preciso de um
Analgésico

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Monday, August 13, 2018

Esquerda, Direita, Trump e Putin


Esquerda, Direita, Trump e Putin

Naquele tempo havia o Capitalismo e o Comunismo. Briga ferrenha. Segundo os primeiros, os segundos eram ateus, eram contra a liberdade e até matavam criancinhas e depois as engoliam. Segundo estes últimos, o Capitalismo era cruel, fazia os pobres ficarem mais pobres e morrerem de fome. A briga ficou tão feia que até se criaram os ditadores para garantir que seu regime não pudesse ser derrotado pelo outro. Os comunistas começaram a ser chamados de “esquerda”e os capitalistas de “direita”. Provavelmente foram os capitalistas que arrumaram esses nomes, pois esquerda quer dizer sinistro, ruim. E, lógico, direita é direita, aquilo que está certo, direito. Ficou, então, tudo muito confuso. Havia grupos terroristas que queriam transformar a direita em esquerda e a esquerda em direita. Havia tortura, mas segundo os especialistas o pessoal da direita fazia uma  tortura mais cruel que o da esquerda. Isso, no entanto, é especulação.
Os governos de esquerda mais espertos, como a Rússia e a China, aceitaram um pouco de Capitalismo para o pessoal se animar um pouquinho. Só não abandonaram essa parte de autoritarismo, pois, senão, a coisa ia ficar difícil de controlar. O pessoal da direita, que também não é nada bobo, arrumou um pouco de Comunismo para contrabalançar: inventaram alguns programas “sociais” para os pobres não ficarem muito bravos.
Daí veio essa explosão enorme de comunicação de massa, redes sociais e todo mundo ficou especialista em esquerda e direita, mas, na verdade, ninguém entende nada. Um chama o outro de radical e há muitos xingamentos: esquerdopata, nazista, racista. Ninguém sabe mais nada, todo mundo quer só xingar.
Há pouco tempo atrás, porém, algo mais inusitado ainda, aconteceu. Um cara considerado de extrema direita, venceu as eleições nos EUA. Até aí, tudo normal pois lá esquerda não tem vez. Você estar no centro, para eles, já é ser de esquerda. Foi então que descobriram que a Rússia ajudou o tal de Trump se eleger. Um cara de extrema esquerda ajudar outro de extrema direita?
Está a maior confusão, há investigação, as provas começaram a a surgir. E se você pensa que o presidente está negando seu amor pelo presidente da Rússia, está muito enganado. É o maior fã do Putin. Segundo ele, esse cara é um homem forte, líder, e é seu ídolo.
Bom, se já estava tudo muito confuso, agora é que não dá para entender mais nada. Talvez seja tudo fake news. Não existe esquerda, nem direita. Agora embaixo e em cima existe sim. Eu tenho certeza de que estou por baixo, como muitos outros e que tem um pessoal que está bem em cima. Sei também que é esse pessoal que tem muita grana. Ah, sim, eles também controlam essas tais de fake news. Bom, de qualquer forma, eu desisto...

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Saturday, August 11, 2018

Um coroinha e a história de Perus


Um coroinha e a história de Perus

Se você pudesse voltar no tempo e ver Perus dos anos 50, certamente iria pensar que estava em um outro país, em alguma terra distante. Além do esqueleto principal do bairro, suas principais artérias, nada se parecia com o que é agora. Mas não é assim em todo lugar?
Às vezes olhamos fotos antigas e, por algum mecanismo mental, pessoas e fatos voltam à nossa mente. Foi o que aconteceu comigo quando vi aquele “retrato” da antiga Paróquia de Santa Rosa de Lima. Lembrei-me da época em que fui coroinha. Nem sei como aconteceu. Não sei se minha mãe, devota como ninguém, teve alguma coisa a ver com isso, mas o fato é que aconteceu.
Fora do horário da missa, eu ficava bisbilhotando os objetos, livros e tudo que havia por ali. Foi então que encontrei aquele livro enorme – enorme mesmo – igual àqueles que existiam nos cartórios. Aliás, eu nunca entendi por que os chamavam de livros, se você escrevia neles e eles não vinham impressos. Não deveria ser “caderno”? Semântica à parte, o fato é que o livrão, em pé, era mais alto do que eu. Abri a primeira página e lá estava uma grafia impecável, distinta, daquelas que só se viam antigamente. Comecei a ler e percebi que era alguém tentando escrever a história de Perus. Dava para ver que o projeto tinha sido abandonado. Infelizmente não tinha ido além da primeira página. Lembro-me vagamente do  narrador falando da tal “Maria dos Perus”, a Nhá Maria. Quando ela tinha chegado, onde era sua casa, a antiga fazenda que havia por ali... Eu era muito pequeno e certamente não me lembro dos detalhes. O que eu me lembro, no entanto, é de que eu sabia que estava diante de alguma coisa importante, uma espécie de documento histórico. Enchi o peito e avisei o padre e todo adulto que pudesse me ouvir. Ninguém deu a menor bola para mim.  Esses meninos – eu, no caso – não têm mesmo o que fazer, pensam que os adultos têm tempo para essas besteiras.  E eu continuei minha vida, não fui historiador nem nada, mas não consigo me esquecer do ocorrido. O livro, será que ele existe ainda? Duvido. O que iriam fazer com um “cadernão” desajeitado daqueles, que quase precisava de duas pessoas para ser carregado? E o escritor misterioso? Um pároco antigo, algum dos primeiros residentes de Perus, um devoto? Nunca vou saber.

Como se escreve nos tabelionatos, eu vi, atestei. É verdade, dou fé. Ou como o grande poeta brasileiro do Romantismo, Gonçalves Dias,  escreveu uma vez: “Meninos, eu vi!”.



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Wednesday, August 8, 2018

Uma lenda cósmica


Uma lenda cósmica

Aquele ser do espaço estava visitando planetas pelo Universo. Parou em um onde havia só comunismo. Não havia fartura, mas ninguém passava fome. Os habitantes eram muito parecidos uns com os outros. Não estavam felizes, porém não estavam angustiados também. Os chefes comiam e moravam bem melhor do que os outros. No entanto ninguém achava isso anormal. O visitante fez anotações em seu computador cósmico e prosseguiu a viagem. A próxima parada foi num planeta onde só havia o sistema capitalista. Muita fartura, muita liberdade. As pessoas riam e se divertiam muito. Parecia uma maravilha, mas ele achou um pouco suspeita aquela “farra” toda. Chegou mais perto e foi aí que ele viu. A miséria estava escondida em vielas suspeitas e debaixo dos viadutos. Ficou um pouco assustado com as disparidades, tomou notas, e partiu. A terceira parada foi num planeta exuberante. Uma natureza majestosa, águas límpidas e puras. Não havia construções, pelo menos à vista. Havia animais selvagens, lindas aves, répteis, peixes e uma flora indescritível. Nada parecia perturbar o ambiente. Desconfiado, procurou olhar com mais cuidado e mais perto. Permaneceu lá mais do que o normal em busca de uma explicação. Nada. Era aquilo mesmo, um lugar perfeito. Tomou notas e partiu. Enquanto disparava loucamente pela Via Láctea, colocou os dados no seu computador quântico, esperando por uma análise. Foi muito rápido. Antes de dar a resposta, entretanto, a poderosa máquina inteligente não conseguiu se conter e falou para o viajante do Universo: “Não posso acreditar que você precisou de mim para fazer esta análise.” Diante do olhar interrogativo do ser espacial, ele exclamou: “Está óbvio, não está? Esse planeta maravilhoso que você acabou de visitar não tem gente. Ninguém mora lá, só vida animal. Nada de inteligência. Entendeu agora?”

Decepcionado com o resultado de sua busca por vida inteligente, ele acelerou sua nave e desapareceu numa nuvem de estrelas.

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Wednesday, August 1, 2018

Palavras e palavras




 Palavras e palavras



Há palavras que dizem tudo. Outras, que não dizem absolutamente nada. Por outro lado, todas as palavras do mundo não conseguem descrever certas coisas. E há coisas que não precisam de palavras: falam por si mesmas.