As pombas brancas do tio Marcílio
Meu tio
Marcílio tinha aquele olhar distante, que ia muito além das paredes de seu quarto.
Sua cabeça era raspada. Seu rosto era muito parecido com o de seus irmãos.
Vivia numa
casa muito pequena, construída por meu pai, seu irmão, numa parte do nosso terreno.
Minha mãe preparava sua comida, lavava sua roupa.
Meu tio era
louco. Talvez esta não seja a palavra politicamente correta, mas era o que eu
ouvia na minha infância. Diziam que era sequela da meningite que tivera quando
era mais jovem.
Todo dia eu
ia visitá-lo e ele me dava um sorriso. A partir daí, perdia-se em seu
imaginário firmamento e balbuciava
palavras incompreensíveis. Vez ou outra, entre elas, aparecia um nome de
mulher: Linda. Minha memória pode estar falhando, mas estou perto da certeza. Colocava
então, suas mãos à altura do rosto e mexia lentamente os dedos e daí eu
entendia o que ele falava: pombas brancas. E eu sabia que o movimento dos dedos
era para imitar suas asas. Parecia estar
em êxtase. Era um céu utópico onde ele,
sua Linda, e pombas brancas voavam.
Quando
piorava, precisava ser internado no Hospital Psiquiátrico de Franco da Rocha.
Meu pai e eu o visitávamos regularmente. Era um lugar triste.
Talvez haja
outras lembranças melancólicas sobre ele que minha mente infantil se recusou a
guardar. O fato é que, quando penso nele, até hoje, minha alma chora um choro
sem lágrimas.
Não me
lembro do dia de sua morte. Quando me lembro dele, só penso nas pombas brancas.
Num espaço infinito, todo de anil, vejo as pombas, e sua Linda, e ele, todos
num voo etéreo, mágico, sem fim. Asas brancas batendo, tênues, graciosas,
sutis, contra o azul vasto, infindável, do Cosmos.
Imagine um país que vai de São Paulo até o Uruguai, numa outra realidade. Imagine agora que este país foi dominado pelos alemães e agora são seus habitantes. Esta nação é GERMÂNIKA e pertence a um universo paralelo ao nosso.
Leia GERMÂNIKA, disponível no Amazon.