Saturday, October 28, 2017

A Lenda do Povo Feliz




A Lenda do Povo Feliz

Era um povo bonito, alegre, sempre a cantar. Não era só o cantar, era também o dançar, o gingar, parecia uma alegria sem par. Era sol, era chuva e nada e nem ninguém conseguia estragar a felicidade daquela gente. Às vezes vinha tempestade, outras vezes até inundação, mas nem isso tirava o brilho bonito das  faces. Havia um porém: algumas pessoas espertas estavam roubando das pessoas que não eram tão espertas. Aconteceu então uma coisa horrível. Um pessoal, que estava quieto, só olhando, quis consertar tudo. Consertaram e desconsertaram. Para consertar, machucaram quem não era para se machucar e isso foi seu desconsertar. Mas o povo era bom e esqueceu-se de de tudo, quase tudo. Lembraram-se apenas de algumas coisas boas que eles fizeram e ficaram só com elas na cabeça. Eu já disse, é um povo bom, que só tem coisas boas na cabeça. Daí vieram os que resolveram consertar o que havia sido desconsertado. E o povo se alegrou e se regogizou. Agora até podiam escolher a quem deviam obedecer. Novos tempos, novos ares, novos sonhos. E as pessoas que quase haviam parado de sorrir, novamente se alegraram. E foi um sorriso gostoso, alegre, que só aquele povo sabe dar. Daí, não sei como foi,  não sei o que aconteceu. Os que vieram para consertar, depois de consertar, começaram a estragar tudo de novo. O coitado do povo, sofrido, ainda assim continuou a sorrir, a dançar, a pular. Para alguns não tinha jeito, não. Um sofrimento danado,  amargura, fome, desilusão. Ainda assim, os danadinhos, de vez em quando, no intervalo da dor, cantavam um pouquinho, davam um pequeno sorriso que é para não esquecer o que é felicidade. Outros nunca pararam de sorrir, povo danado de alegre que era esse. O estrago  foi ficando pior, mas eles, os que mandavam, mandaram dizer que estava tudo bem, que tudo estava melhorando. Esse povo que acreditava em tudo, nisso acreditou também. Não dizem que a profissão do povo é a esperança? Foi assim que todos, animados, esperaram tudo melhorar. Viveram para ver o futuro chegar. Viram o que era para ser visto. Que tudo estava melhor. Afinal de contas, não é essa terra, uma terra bonita? As praias são tão belas que não há nada igual. O clima, meu Deus, não poderia ser melhor. Que paisagem! Palmeiras, flores, frutos tropicais.  Ah, e como esse povo sabe cantar! Dançam de um jeito que ninguém sabe dançar. Ah, o sorriso, podem apostar: não há gente no mundo que saiba sequer imitar. Que ironia! Tanta alegria, tanto sorriso, tanta arte, almas tão boas, bom-humor sem fim... E alguns poucos a explorar a grande maioria. Será que não há ninguém bom para governar?
O meu amigo, Nino Belvicino, metido a filósofo e outras coisas mais, me explicou. É uma questão de equilíbrio cósmico. Existem terras onde há governos excelentes, mas o povo não sabe sorrir e dança mal. Há outras com governos muito bons mas daí vêm o terremoto e o furacão. Daí, mesmo sabendo, o povo não consegue cantar. Há casos ainda piores: o governo é ruim e, em cima disso, há tempestades e vulcões, além do povo não saber cantar. Há lugares onde as pessoas até conseguem sorrir um pouco e o governo é bom. Mas a alegria não vem de dentro e além disso, quando sorriem, não se pode ver por causa do tempo ruim. Ninguém tem tudo, não dá. Por isso que digo que esse povo aqui da nossa história, tivesse quem soubesse governar, meu Deus, estaria no paraíso... Daí, a gente teria que controlar as fronteiras com esse mundão todo querendo  vir para cá. Não se pode querer tudo. Claro, um governo pelo menos um pouquinho melhor não seria pedir muito. Vamos esperar, quem sabe... Por enquanto, povo querido, continue a cantar, a sorrir e a bailar... porque não se sabe ainda o que vai te sobrar!



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Thursday, October 26, 2017

A Gramática do Amor




A Gramática do Amor

Faz muito tempo, essas coisas não acontecem mais. Pelo menos não do jeito que aconteceram aqui. O Dida era um bom menino e acabara de fazer dezesseis anos. Época de amar, época de buscar, época de descobrir. Foi aí que ele descobriu que estava apaixonado pela Isabel. Só pensava nela, uma paixão real. Ele não era um galã, mas segundo as meninas, não era de se jogar fora. A menina de vez em quando olhava para ele, mas não dava para dizer se era correspondido ou não. Nessas coisas as meninas eram mais espertas, diziam as coisas sem dizer, e diziam coisas que não significavam o que queriam dizer. Qualquer coisa assim. Acho que elas não mudaram. O fato é que o amor do Dida foi aumentando, não aguentava mais aquele calor no peito, o coração saltando, dando pinote, um desespero.
Naquele começo de noite finalmente ia ter uma chance. Um bailinho da turma da escola ia acontecer na casa do Eduardo e, garantido, ela ia lá. De manhã, as aulas foram normais, exceto pela aula de português. A professora estava explicando a tal de história de uso correto de pronomes, o problema de manter a coerência, qualquer coisa assim. Por que você fala “Eu te amo”, se você estava tratando a pessoa por você até agora?  Se você falar “Eu te amo”, é porque você está tratando a pessoa de “tu”, certo? Certo e errado, hoje em dia alguém falaria para ela, porque a linguagem coloquial, etc.,... mas quem quer ouvir essa conversa? Estamos falando do amor do Dida, não de gramática. Mas não é que o pobre rapaz ficou atrapalhado com aquilo?  O problema é que a professora arrematou o assunto dizendo que se você trata a pessoa por você, o correto seria dizer “Eu a amo”.
O assunto não era tão importante assim, mas o Dida ficou com aquele negócio na cabeça. Essa noite era a noite, ele ia se declarar e daí veio a dúvida besta: falo “eu te amo” ou falo “eu a amo”? Que besteira, não? Pois não é que ele estava já no baile, ela já tinha até dado uma olhada para ele, e ela estava o máximo, e aquele negócio não saía da cabeça? Quase perguntou para o Juca o que ele achava, mas tinha certeza de que ele ia dar uma gargalhada. Ficou repetindo a frase dos dois jeitos para ver o que ficava melhor. Se falasse “te amo” era mais bonito, mas estaria errado. Se falasse certo, “a amo”, ia ficar esquisito, que droga! Começou a ficar com raiva da Júlia, a professora, que chata!
Finalmente se decidiu. Ia falar “eu te amo” e depois faria um comentário qualquer durante a conversa, “eu sei que é errado, mas falar ‘eu a amo’ é esquisito, você não acha?” Falaria do jeito mais bonito, mas mostraria que era bom de gramática. Poderia ser até uma forma de quebrar o gelo, já que ela era uma menina inteligente e aplicada, ele sabia. Você e tu, quem liga para isso, não é mesmo? Decidido. Levantou a cabeça, procurou a Isabel pela sala e... nada. Foi para a varanda e imediatamente viu que ela estava lá, com seus cabelinhos lindos, soltos sobre o vestido azul.O problema é que ela estava conversando com o Eduardo, o dono da festa. Depois olhou melhor e quase teve um choque. Estava de mãos dadas. Foi para a casa, desiludido. Nunca mais tentou falar com a Isabel.
Cresceu, encontrou a Alícia, casou e teve filhos. Nunca mais teve coragem de falar “eu te amo” ou “eu a amo” para mulher nenhuma. Fala “estou apaixonado”, “sinto amor por você”, qualquer coisa assim. “Está vendo como são as coisas”, comentou um dia o Juca, que sempre continuou seu amigo e acabou virando professor de português. Ponderou que o Caetano, o Chico e o Vinícius escreveram tantas coisas bonitas sobre o amor e nunca deram a mínima para essas regrinhas. “Eles gostam da língua portuguesa, brincam com ela, fazem o que querem com as palavras e... tenho certeza de que nunca tiveram falta de mulheres...”.  Mas o Dida não gosta de falar desse assunto, são coisas do passado...


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Essa vida da gente

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Wednesday, October 25, 2017

Discos Voadores



Discos voadores

Tenho saudades dos discos voadores. Antes eles estavam por toda a parte. Apareciam em estradas no interior de São Paulo,  sobre o mar, perto da praia, e alguns mais ousados chegavam a sobrevoar a Casa Branca e até o Pentágono. Não passava um mês sem que se ouvisse falar deles. Era excitante, dava para conversar horas sobre eles. Tantas histórias: abduções, desaparecimentos, operações a bordo das naves, uma luz saindo por baixo e “puxando” gente para dentro da nave. Era uma época extraordinária. Fizeram livros, filmes, tratados, estatísticas...Você se lembra de aviões da Força Aérea perseguindo os danados, que, invariavelmente faziam aquelas manobras impossíveis para máquinas humanas e depois desapareciam no espaço infinito? Você se lembra de pilotos comerciais garantindo que viram luzes, que nada tinham a ver com coisas deste mundo, no horizonte, subindo, descendo, parando desafiadoramente no ar? E aquele senhor de reputação ilibada, parando na estrada porque vira luzes estranhas acima de seu carro?  E, por cima, outras pessoas paravam, testemunhavam o que ele tinha visto, também. E para corroborar ainda mais, não distante dali, na cidade e no campo, outras pessoas também viram as mesmas luzes? Saía no jornal e tudo mais. É claro, sempre havia os incrédulos, que achavam que era tudo conversa fiada, essa era gente que só  queria “aparecer”? A certa altura começaram a chamá-los de “OVNIS” ou se você queria ser mais sofisticado, de “UFOs”... Fiquei excitadíssimo quando descobri que “OVNIS” e “UFOs” eram a mesma coisa, mas “UFOs”, pasmem, era “Unidentified Flying Objects”! Você sabe o que isto significava? Até os americanos confirmavam sua existência, mas para dar um ar mais técnico, chamavam-nos de “UFOs”. Chega de amadorismo... essa história de “Flying Saucer”... Passamos a ver as coisas de um maneira mais científica: “UFOs” isso sim, tinha um ar de ciência...O tempo passou, vieram os foguetes, os satélites, os aviões modernos, os super radares...e de repente ninguém mais fala dos discos. Sinto falta deles, acho que é uma conspiração. Acho que eles se retiraram para sempre, para seus planetas distantes. Ficaram ofendidos ou ressentidos com nossa atitude de “não precisamos mais de vocês, temos nossas próprias naves”. Ou talvez, agora só mandem as naves invisíveis. Não ria, nós não temos nossos aviões invisíveis também, os tais “stealth”, por que não eles, que são muito mais avançados? 
Acho que tenho de ser realista. Na verdade, hoje em dia não dá mais para inventar essas histórias.Todos esses satélites, monitorando tudo o tempo inteiro, GPS, etc...Tenho de confessar, acho que era tudo imaginação. Agora não dá mais. Nada de imaginação. Além disso, quem precisa de imaginação com toda essa Internet, “smart phones”, “androids”, meu Deus, não consigo acompanhar mais... Quem precisa imaginar alguma coisa se já está tudo imaginado...
Eu sei, eu sei...Mas ainda continuo com saudades dos discos voadores...


Não Identificado  (Gal Costa)
"Eu vou fazer uma canção de amor 
Para gravar num disco voador 
Eu vou fazer uma canção de amor 
Para gravar num disco voador 
Uma canção dizendo tudo a ela 
Que ainda estou sozinho, apaixonado 
Para lançar no espaço sideral "
(Caetano Veloso)

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Monday, October 23, 2017

Ave, César


Ave, César

O homem se perdeu no começo do milênio. É verdade que foi muita coisa ao mesmo tempo. Tudo e todos em exposição constante. Uma tecnologia feroz contrastando com velhos costumes e antigas crenças. Confundiu-se Deus com o demônio e foram soltos monstros que estavam no calabouço. Ferozes, eles começaram a atacar. Atônito, o ser humano precisou conferir seu próprio eu. Foi, então que viu que ele não existia mais. Era um “eu” fabricado, arrumado e preparado pelas máquinas. Aproveitando-se da confusão, o maligno se vestiu de correto e de autoridade, e atacou também. Agora inocentes morrem a todo momento. Alguns conseguem se esconder e se proteger, mas não se sabe por quanto tempo. Nada é mais seguro.
Escondidos em castelos de cristal, com suprimentos e poder, estão os donos do mundo. Você não sabe quem eles são. Os que conhecemos e que estão em exposição, não são os verdadeiros. Talvez tenham procuração. Os autênticos não vão sair de suas fortalezas. Só quando a tempestade passar. Daí, talvez, apareçam como heróis e como salvadores. E nós vamos adorá-los e vamos nos sujeitar.
Nem sequer desconfiaremos que foram eles mesmos que começaram toda a confusão.

Ave, César!

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Saturday, October 21, 2017

A casa de meu avô



A casa de meu avô


A casa de meu avô era grande, muito grande. Tinha muitos quartos, muitas salas. Muita gente, muitos tios e tias, muitos primos e primas e meu avô e minha avó. Eu era muito criança e a minha idade era a idade da inocência, a primeira inocência, a primitiva. E o casarão tinha muitos porões, porões cheios de coisas. Um porão para cada cômodo da casa, em cima.
Os objetos que havia lá, nos porões, eram estranhos, pelo menos para mim. Eu os pegava, um a um, e os admirava. Uma porcelana pintada, uma garrafa colorida, uma caixinha de madeira, uma coisa que eu não entendia. Jornais de não sei quando, com letras antigas, notícias antigas, fotos antigas de gente antiga. Havia muitas coisas que eu não entendia.
E os livros? Havia tantos que não dava para contar. Eram livros gozados, tinham capas com gente desenhada, quase se beijando, outras de mãos dadas. Romances antigos, talvez pudorados, não sei pois não sabia ainda ler. Histórias que não acontecem mais ou que agora parecem sem graça ou que acontecem de outro  jeito. Era só um mistério só, grande, cheio de mistérios pequenos.
E havia os livros de Allan Kardec, depois aprendi. Antes mesmo de saber, porém, eu sabia que havia segredos ali. Folheava um a um, com uma mistura de medo e curiosidade. Queria e não queria saber o que estava escrito, olhava as figuras e não entendia. Eu não sabia ainda da vida, da eternidade e muito menos o que as pessoas pensavam dela. Não sabia o que as pessoas discutiam sobre o pós-vida, nem sabia ainda da primeira vida, dos seus acertos e desacertos.
Tudo isso aconteceu em Santana do Parnaíba, terra dos bandeirantes,  terra da represa Edgard de Sousa, que invadiu nossas casas para trazer luz para o povo. É assim que se fazem as coisas.
Naquela época meu avô estava doente. Acho que era o coração. Estava num quarto acima, na cama. Algum tempo depois, já em Perus, fiquei sabendo, a notícia veio molhada com as lágrimas de minha mãe, que ele havia falecido. Soluçando, ela contava para alguém que ouviram sua mão bater na madeira da cama. Era a mão desfalecida, caindo. A imagem ficou.
Muitas vezes, depois disso, fiquei meditando.  Será que ele se reencarnou? Será que o que acontece com a gente depois da morte é aquilo que a gente acredita? Se isso for assim, acho que ele está no corpo de um jovem, bonito, inteligente, andando por aí. Talvez um jovem rebelde, com muitas causas para lutar. De qualquer jeito, uma pessoa boa, isso eu sei. Se não fosse assim, como dele poderia ter nascido uma mãe, como a minha mãe, um anjo de primeira linha?
Luis Maximiliano, esse era seu nome. Nome bonito, cheio de força. E ele acreditava nos espíritos, e isso era bom, é bom acreditar em alguma coisa. Só sinto falta de poder ter tido contato com ele. Nunca tive uma chance. Ele poderia ter me explicado sobre as capas das revistas, sobre as figuras dos livros de Allan Kardec, sobre as notícias dos jornais antigos. Explicar para que serviam aqueles objetos estranhos, sobre o que havia nas caixinhas de madeira. Sobre os mistérios do mundo. Sua versão, pelo menos. Que pena.
 Espero que eu possa contar coisas para meus netos. Só coisa bonita, explicar o pouco que eu sei. Não sei se eles vão achar graça ou interesse, como eu teria achado, vindo de meu avô. Não faz mal, mesmo que eu seja um avô antigo, quero poder estar com eles. Só estar, só isso, já vai ser muito, muito, bom.



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Tuesday, October 17, 2017

Um bauru "na frança”



Um bauru "na frança”

Ficava pensando na mulher de seus sonhos. Uma loira, como gostava delas, mas com um toque de morena sensual. Uma mulher inteligente, mas que fingisse não ser mais que ele. Uma mulher ativa, empreendedora, mas que não ofuscasse sua presença. Uma mulher de firmes decisões, mas que não o fizesse parecer um tonto. Com bastante coragem, mas não a ponto de fazê-lo parecer um covarde. Uma mulher que gostasse de trabalhar bastante, fizesse dinheiro mais do que suficiente, mas que se mostrasse – para si e para os outros – uma mulher dependente. Dele, é claro. Que lhe desse carinho e amor o tempo inteiro e não ficasse pedindo dele o mesmo a todo instante.
- O que o senhor vai querer?
Pensou por um instante que o destino, ou um interventor divino, tivesse vindo atender seus pedidos. Mas não. Era apenas o rapaz da lanchonete perguntando o que ele queria para comer.
-Um “bauru na frança” e um guaraná!
Os sonhos teriam de ficar para mais tarde. Por enquanto, o “sanduba” e o “refri” eram a única coisa a que ele tinha direito. E olha lá...

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Sunday, October 15, 2017

Tudo passa


Passa tudo.

Aquele vexame que a gente deu, quando não podia dar. A vergonha por não ter feito o que deveria e por ter feito o que não deveria. Por aquela palavra maldita que nunca deveria ter saído dos lábios. Passa até a frustração por não termos conseguido satisfazer aquela vontade enorme por algo que, na verdade,  não era tão importante assim. Pela ausência quando a gente não poderia deixar de estar. Pela presença quando não era para a gente estar.
Passam as vontades, os desejos, o ódio, a inveja, a insensatez. Passa o medo, passa a miséria, a desilusão, a luxúria. As coisas boas e as más também.
Tudo passa.
A vida vai chegando ao fim.
No final, só fica um grande amor e tudo que a ele pertence.

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Friday, October 13, 2017

Somos aves voando




Somos aves voando

Somos todos aves voando,
voos rasantes,
voos suaves,
voos solitários,
voos gigantescos,
voos curtos,
longos voos também.
Corajosos, medrosos,
há voos de todos os tipos.
Voos quase perfeitos
-porque perfeitos não há-
todos voamos.
Porque voar é preciso.
O que também todos fazemos
Com certeza
É um dia,
Finalmente,
Pousar...


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Wednesday, October 11, 2017

Os Vitrais da Capela



Os Vitrais da Capela


“Na minha vila tem uma capela
Muito bela e dentro dela
Tem um morador
É um anjo de braços abertos
E esse anjo é Nosso Senhor”
(Zico e Zeca: Capela)

Acho que tinha 8 ou 9 anos. Antes de ir para  o “colégio interno”. Adorava passar ao lado do cinema local e examinar a grande lata redonda onde o dono colocava os pedaços de “fita” que ele tinha de cortar para emendar o filme. Certamente é diferente agora, mas naquela época os cinemas tinham aqueles grandes rolos com a “fita" que ia passar. Às vezes dava algum problema, o filme queimava, a plateia toda soltava aquela exclamação de desagrado e o coitado do operador tinha de “correr”. Cortava o pedaço queimado ou quebrado, juntava as duas pontas, colocava o mesmo de volta no carretel e continuava. O pedaço queimado ou estragado ia para o lixo. Mas sempre sobravam alguns quadradinhos. Era esses que eu pegava. Levava-os para casa cuidadosamente. Eram cenas de filmes diversos, filmes que eu nunca tinha visto e provavelmente nunca iria ver. Alguns eram coloridos, ah esses eram demais.. Cenas, rostos, objetos que eu não conseguia identificar, pois eram de terras distantes. Eu ia para casa, fechava a porta da pequena sala onde minha mãe mantinha uma mesa, cadeiras e uma cristaleira. A janela de madeira que meu pai havia feito tinha duas folhas. Quando eu as fechava, por algum motivo, na parte de cima escapava um raio de luz. Eu colocava um pano branco no chão, o pequeno pedaço de fita no caminho do raio de luz,  e assim fazia meu próprio cinema. Era fascinante. Minha imaginação de criança voava, era maravilhoso... Depois eu escolhia um dos copos coloridos de minha mãe, ou então os tampos trabalhados de vidro das doceiras e os punha sob o faixo de luz que, então, se espalhava pela sala em cores, em formas. Na minha imaginação essa luz multifacetada era o pano de fundo para os pequenos quadros do filme que eu “exibia”... Eu era feliz, muito feliz.

Já no seminário, aos 11 anos, eu não tinha como montar as minhas sessões. No entanto, eu podia ir até a capela, e depois de fazer a genuflexão e o sinal da cruz, eu me sentava no banco e olhava para os vitrais coloridos recebendo os raios do sol. Eram lindos e representavam motivos religiosos. Refletiam-se em múltiplas formas pelo chão e pelas paredes. Como disse, eram lindos, mas nem de longe se pareciam com as minhas espetaculares sessões  de “multivision” em casa... Talvez por isso, até hoje, eu considere o cinema a arte das artes...


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