Tuesday, April 30, 2019

Não sei o que puseram na minha bebida



Não sei o que puseram na minha bebida



Fez frio no Piauí. Múmia egípcia é encontrada no porão de uma mansão  em São Paulo. Índios isolados de uma tribo do Amazonas tinham Internet desde 1980. Maluf se arrepende e devolve tudo que roubou para o governo e para a população. Sarney devolve o Maranhão para o Brasil. Pastores param de pedir dinheiro para os fieis.  Os ricos americanos mudam de ideia e agora acham que os pobres têm direito à ajuda do governo. A extrema direita e a extrema esquerda acham que é melhor voltar para  o meio. Pedófilos se apresentam à polícia e pedem tratamento.  Traficantes do Rio entregam as armas e se dispõem a fazer serviços comunitários. O governo reduz drasticamente os impostos e mesmo assim a arrecadação sobe. Pequeno disco voador desce na Praça da Sé e traz mensagem de paz. Brasília amanhece deserta: os políticos resolveram fazer um retiro e meditar nas coisas que andaram fazendo nas últimas décadas. O sol ficou cor de rosa. Começaram a nascer laranjeiras, já com frutas, no meio da Faria Lima. Todos os pedintes de São Paulo amanheceram com dois mil reais na mão. O Feliciano reconheceu que tudo que fez até agora não passa de uma grande besteira. Não para de chover no sertão pernambucano. O Garrincha ressuscitou e agora fala Inglês.
Eu não sei o que puseram na minha bebida ontem. Fiquei sabendo de todas essas coisas num só sonho, na noite passada. Ainda estou meio grogue, será que é verdade?


 
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Eta poeminha besta...




Eta poeminha besta...


A folha branca olha, pálida, aflita, para o escritor. Este procura na mente as palavras para a  história que concebeu. Ele se recorda do enredo, da emoção e até dos vocábulos que escolheu. Mas agora os sinônimos viram antônimos, a sintaxe fica controversa, a morfologia demora a tomar forma.  Os fatos não correspondem aos atos, a história vira uma estória, o fim parece sem pé nem cabeça e do começo ele não se lembra mais.
Desiste.
Resolve escrever um poema. A folha, entretanto, continua branca, pálida, vazia. E continua olhando para ele.  Nada muda. Ele olha de volta para a página branca e pergunta em silêncio: “poesia abstrata?”
Como o papel não responde, resolve escrever a esmo:
Branco
Brancura
Imensidão
Imenso
Solidão

Para. Está tudo mesmo sem graça. E, ademais, ele está com sono. Resolve ir para a cama. Quem sabe, um bom sono... Antes, porém, não aguenta e escreve sobre o próprio poema:

Eta poeminha besta...
A folha de papel fica quietinha, nada fala. Mas lá no fundo, eu acho que ela concorda...


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Friday, April 26, 2019

Dançar no teu céu



Dançar no teu céu

(ou os perigos desta vida)

O Deolindo perguntou para a Doralinda: “Posso passear no teu céu?” Isso mesmo, como na canção popular. A moça, moderninha, não hesita e diz que sim. Adverte, porém, que o céu pode virar um inferno. “Não fala depois que não avisei”. Que nada, o moço está doido para bailar e vai, como cantou a Rita Lee, bailar no esconderijo dela, da Doralinda.
Depois vieram as consequências dessa alucinada coreografia, que mal o Deolindo sabia, era dirigida por ela, a Doralinda. Uma linda moça com curvas, que curvas! Ela, além de ser dona do céu, era também uma ditadora cruel e exímia coreógrafa. E a profecia se realizou. O paraíso, um inferno se tornou.

E essa é a moral da história, se é que alguma moral há nesse enredo. Um ensinamento de vida:  Há uma tênue  e delicada linha que divide o céu e o inferno. Uma hora você está lá, no paraíso. Outra hora aqui está você, no meio de chamas fatais, dançando com os demônios.

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Wednesday, April 24, 2019

Espero que...



Espero que...

Esperamos que nossas esperanças um dia se realizem. Esperamos que tudo corra bem. Quando um amigo está com algum problema, a gente diz “Espero que tudo se resolva”. Quando alguém que amamos está doente, dizemos “Espero que melhore”. Esperamos nove meses para nossos filhos nascerem e que tudo, então, corra bem. Esperamos que eles cresçam com saúde e se deem bem na vida. Esperamos que nada de mal aconteça, que as coisas melhorem. Que as que não estão bem, entrem nos eixos. Que os eixos sejam fortes e aguentem o tranco. Que o pagamento chegue no dia certo e que seja suficiente  para tudo que precisamos. Ousamos até esperar que um dia a gente ganhe na loteria.
Até dizemos “Espero que aconteça um milagre”, mesmo quando não esperamos que vá acontecer.

A vida é isso: Esperar, esperar, esperar... Espero que um dia não mais precisemos esperar. Que tudo que estávamos esperando, fique pronto e se realize. Sinceramente, é o que espero. De qualquer forma, tudo que podemos fazer,  por enquanto,  é esperar...

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Monday, April 22, 2019

O menino que fazia filmes

O menino que fazia filmes
Para minha querida nora, Mirella, 
mãe de minha linda neta 
e que também "sabe fazer filmes"...


“Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três...”
(João e Maria: Chico Buarque)

Veja o vídeo




Estávamos no final dos anos 50, quase chegando aos gloriosos 60. O nosso personagem era apenas uma criança e nem 10 anos tinha. Fazia sua lição de casa, algumas tarefas que sua mãe lhe passava, e depois perambulava pelo bairro, nunca muito longe de sua casa. E naquela época nem havia muito motivo para se preocupar, pois tudo era mais seguro. Mas você sabe como são as mães: nunca o filhote pode ir muito longe.
Havia, porém, um lugar especial que o menino sempre visitava. Era o cinema do bairro. Se você não viveu nessa época, eu preciso explicar como funcionavam esses lugares. Era tudo diferente. O velho cinema tinha poltronas de madeira – pelo menos o da nossa história, que se passa em Perus, São Paulo - e você sabe, as “fitas” eram realmente fitas e quebravam de vez em quando. Daí todos ficavam vaiando enquanto o pobre operador não conseguia emendar a dita cuja de volta. Espera angustiante. Também, quem mandava quebrar bem na hora do perigo? Bem na hora que o mocinho ia levar um tiro ou um soco? Talvez fosse isso mesmo, para dar tempo de avisar nosso herói. Naquele tempo não tinha essa história de torcer para o bandido, como certas pessoas que conheço, fazem hoje em dia. Não. Todos, sem exceção, torciam para o mocinho. E não é que o danado sempre levava a melhor! Uma vez houve um herói, num dos seriados, que estava preso numa esteira e essa se movia em direção a uma serra circular. Sua cabeça pendia para fora, bem na direção dos dentes cortantes da lâmina. Claro, o vilão havia feito isso. Bem quando chegou a hora de seu pescoço encostar na serra, o filme parou. Não, não tinha quebrado a fita. Tinha terminado a sequência e era preciso esperar uma semana inteira para saber como ele iria se livrar do perigo. Naquela época não havia seriados de TV, eles aconteciam no cinema do bairro. O menino não se lembra mais qual era o herói, talvez fosse o Flash Gordon. Não importa, o garoto, agora homem crescido, se lembra muito bem que ele se safou. Vamos voltar agora à fita quebrada.
O desastre era sempre antecedido por uma espécie de buraco que se formava na grande tela branca. Como se ela estivesse queimando ou algo assim. O som parava e ouvia-se um ruído característico da película se debatendo nos carretéis do grande projetor. O operador, então, se apressava em cortar as duas pontas para tirar as irregularidades e emendá-las novamente. Um suspiro coletivo de alívio da plateia e lá estávamos de novo em ação. Uma coisa banal, corriqueira, que acontecia várias vezes nas matinês.
Para o menino de nossa história, no entanto, isso era o motivo de algo muito importante que aconteceu na sua meninice e que influenciou toda sua vida. Os pedacinhos do filme que eram cortados, iam para um latão ao lado do prédio. E foi aí que o menino de nossa história descobriu esses “quadrinhos” de filmes. Dá para acreditar que jogavam fora essas preciosidades?
Nosso personagem morava numa casa bem simples, mas cheia de salas, lá em cima, no morro. Numa delas havia uma cristaleira. Dentro dela, taças, doceiras, copos antigos, transparentes, desenhados, coloridos: azul, verde, vermelho. A janela tinha duas folhas de madeira, que ao se fecharem, deixavam, talvez por causa de um pequeno defeito de ajuste, uma fresta minúscula. E, por essa, passava um raio de luz. Não um raio de luz qualquer. Ele durava não muito tempo e acontecia numa hora certa, numa hora divina em que o sistema solar se ajustava de tal maneira, geometricamente, num ângulo certo para permitir o fenômeno. Daí então, o menino, sozinho, tinha a sala de projeção mais bonita do planeta. A grande sessão começava com as diversas peças de vidro se movendo, através das mãos infantis, ao longo do raio de luz. Essa, graciosa e, ao mesmo tempo, poderosa, deslumbrante, se multiplicava em formas e cores mil e se espalhava e se espelhava nas paredes brancas da sala. Era um milagre. A luz reverberava, implodia, explodia, resplandecia. Então vinha a segunda parte. Os pequenos pedaços de filmes, que, com cuidado haviam sido recolhidos anteriormente, eram colocados sob a luz. E então o menino via as cenas dos filmes antigos, coloridos ou não. Um rosto, um carro, uma rua, um acontecimento. Inicialmente não se mexiam pois eram apenas um quadro. Mas, de repente, como numa mágica, a imaginação do garoto dava movimento e força para os quadrinhos. As cenas se desenrolavam, os automóveis andavam, os mocinhos e as mocinhas sorriam e cantavam e corriam. E se o bandido viesse para atrapalhar, num dos pedacinhos de fita, coitado dele. Era sumariamente destruído.
O raio de luz finalmente começava a desvanecer. Era o momento do “grand finale”. Os personagens iam se retirando... Voltavam cuidadosamente para a caixa de papelão. Os cristais, solenes, então retornavam para finalizar o evento com um espetáculo de luz. O menino – diretor de cinema – comandava com maestria o show. As luzes se distorciam em curvas, retas, círculos e nuances, juntavam-se novamente e explodiam, mais uma vez, em novos formatos... Até que a composição cósmica dos planetas se desfazia e a luz se esvaía... As peças de vidro voltavam em formação para seus postos na cristaleira da mãe... A escuridão voltava e o menino também, para sua vida normal.

Mas o colorido vibrante, multifacetado e os enredos e histórias daquela “sessão de cinema” continuam até hoje dissipando as nuvens e sombras da mente de adulto daquele que um dia foi um menino... o menino que fazia filmes...


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Saturday, April 20, 2019

Um pequeno poema para um imenso amor



Um pequeno poema para um imenso amor

Eu não queria ser não, o teu caderninho...
Nem queria que você me visse nas curvas da Estrada de Santos...
Nem mesmo ficar no teu corpo como tatuagem eu queria...
Só beijar-te as mãos, minha querida, como queria o Anísio Silva?
Não pode ser só isso, como na perdida e distante canção.
Nem mesmo ficar repetindo três vezes “te quero, te quero, te quero”,
como na melodia dos Beatles.
Quero muito mais.
Quero teu corpo embrulhado em tua alma,
Quero tua alma reencarnada em teu corpo, só para mim.
Milhares de vezes, reencarnada. Carne e alma.
Quero tudo. Toda você, por inteira.
E quero que me queiras também!
Isso é pedir muito?

Sinto muito, mas é isso tudo que eu quero e nada mais.

ooooooOOO0OOOooooo

A crônica acima não faz parte do livro abaixo

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Wednesday, April 17, 2019

Amor do futuro


Amor do futuro

Homem triste, solitário,
procura aflito, na Internet,
a companheira ideal.
Só acha, entretanto,
uma mulher virtual.
Não é a mesma coisa,
lamenta consigo mesmo.
Suspira, curte mesmo assim.
Ao menos, agora pode,
sempre que dela enjoar,
pedir uma nova versão.



ooooooOOO0OOOooooo



O texto acima não faz parte do livro abaixo

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Tuesday, April 16, 2019

Confiança

Confiança

Era um furgão, não muito grande, e passava toda semana perto de minha casa. Era muito bem fechado. A razão para isso era que ele levava uma carga muito preciosa. Outro dia eu estava parado, pensando, e ele passou de novo, bem na minha frente, pelo menos na minha imaginação. Era de um azul escuro e tinha um logotipo oval nos dois lados e atrás.
Fiquei me lembrando das coisas que havia lá dentro. Eu conhecia muito bem cada item que ele carregava. Havia tijolinhos bem pequenos, muito bem embrulhados, de doce de banana com açúcar cristal por cima. Havia outros tijolinhos: de paçoca, de marmelada, de doce de banana e outros tantos . Havia a maria-mole, a cocada branca e a cocada preta, a  pipoca doce, os dadinhos e o doce de abóbora, duro por fora, mole por dentro. Os canudinhos, mas não são esses que você está imaginando: os nossos eram cheios de doce. Além dos suspiros de amor, havia a guloseima chamada “suspiro”. Havia aquela geleia multicolorida e mais dura do que a que a gente faz em casa. Balas, quantas balas. Havia as moles, as duras, as com recheio de um líquido grosso e saboroso. O motorista parava nas “vendas” para distribuir o valioso produto. Item obrigatório. Era uma mercadoria que não podia faltar.

Sempre que ganhávamos um trocado, corríamos para a venda mais próxima e nos deliciávamos. Nunca ninguém falava em diabete ou gordura, ou muito açúcar no sangue. Comíamos sem culpa, sem gula.

O nome que vinha escrito nos furgões era “Confiança”. Naquela época esse nome não era só a marca do doce, era a marca de tudo, uma marca registrada em nossas vidas. Era a marca dos adultos e dos pequenos e dos mais velhos. Era o que regia nossas vidas: confiança.



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Sunday, April 14, 2019

Com o tempo aprendi


Com o tempo aprendi

Com o tempo aprendi a reconhecer os erros das pessoas e os meus também. Aprendi também que o improvável acontece mais vezes do que a lógica prevê. E até o impossível acontece. Só depois percebemos que, afinal de contas, não era tão impossível assim. Aprendi que os seres humanos, eu me incluo também, cometem idiotices enormes. É verdade que, antes, elas não pareciam tão idiotas assim. Aprendi que muitas vezes perdemos um tempo enorme com pessoas e projetos que não deveriam ter merecido nossa atenção. Outras vezes, amizades que deixamos de lado, eram as que deveríamos ter cultivado. E deveriam ter sido outros os objetivos que deveríamos ter programado. Outra coisa que aprendi, foi que o tempo é uma das coisas mais preciosas que temos. Só vem depois das pessoas que amamos. Até os momentos em que nada fazemos é muito importante. O importante dele, do tempo, é como ele é programado e usado. E os detalhes, então? Na maioria das vezes são mais relevantes do que aquilo que consideramos fundamental. Aprendi a duras penas que o conjunto de todos os pequenos atos, atitudes, e até palavras, são, no total, infinitamente maiores do que o maior momento de nossas vidas. A respeito desses, os grandes momentos, só os identificamos depois que eles passaram. No entanto, havia sinais óbvios, bem a nossa frente. É assim que somos, é assim que são as coisas.

Aprendi mais uma ainda. Eu, depois de tudo isso, ainda quase nada aprendi. Que nunca vou saber tudo. Talvez, momentos antes do momento final, eu aprenda alguma grande verdade que substitua todas. Mas isso eu ainda não sei. Nem sei se vou saber...

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Monday, April 1, 2019

O Grande Retorno





O Grande Retorno

Ainda com sono, pensei que estava tendo uma visão, quando olhei pela janela. Um avião, pintado de azul escuro, parecia estar subindo pela colina. Um acidente? Não poderia ser, pois ele se movia. Em zigue-zague tentava subir a rampa. Não conseguia entender. Deveria haver alguma explicação lógica, com certeza.
Tomei um café rápido – sem café não dá – e comecei a andar pela rua. Quando estava chegando na esquina, alguém me chamou pelo nome. Dei um sorriso, acenei, tentando me lembrar quem era. Certamente o conhecia, só não conseguia saber de onde, qual era seu nome. Continuei andando, mas depois resolvi parar e falar com ele. Quem sabe ele poderia me explicar a história do avião. Depois do “tudo bem?, “como está?”, fui direto ao assunto: o que estava acontecendo com o avião? Acidente? Por que estava tudo calmo? Ele me olhou com estranheza e explicou que sempre tinha sido assim. As aeronaves precisam subir em alguma colina ou rampa e depois pegar velocidade na descida de volta. Se assim não fosse, como conseguiriam impulso para voar?
Não preciso dizer que a explicação era absurda. Talvez mais absurda que o próprio fato. Não havia razão para ficar ali. Talvez mais para frente conseguiria uma informação melhor. Dos dois lados da avenida que eu tinha acabado de pegar, as pessoas agiam normalmente, ninguém parecia estar assustado ou diferente. Do  outro lado havia uma loja, toda pintada de vermelho brihante, com os dizeres “O Grande Retorno – 2019”. Resolvi atravessar. Estavam vendendo uns objetos estranhos. Alguns eram celulares, com certeza. Eram, no entanto, muito finos, muito pequenos. Outros itens, jamais tinha visto. O relógio na parede dizia 6:25. Estranho, pois eu tinha acordado às 9:10. Consultei meu próprio relógio e ele concordava com o da loja. Fiquei tendo aquele raciocício absurdo... o que era mais louco: o tempo ou o aeronave subindo a montanha?
Estava muito curioso, mas decidi continuar. Vi, então, uma lanchonete que me parecia familiar e entrei. Pedi um sanduíche com queijo e um café preto. Logo depois que minha comida chegou, comecei a  prestar atenção na conversa dos dois rapazes a meu lado. Um deles falava que ia viajar de avião na próxima semana. Ouvi algumas frases, mas depois não aguentei e entrei no meio do diálogo. Perguntei se eles tinham visto o acidente aéreo. Surpresos, me informaram que não sabiam de nada. Na verdade, nunca tinham ouvido de acidente nehum. Retruquei, quase assustado: “Na montanha?” Um dos dois riu, porém o outro esclareceu. Eles sempre usam a montanha para pegar velocidade.
A mesma explicação... Quis saber onde era o aeroporto. Eles ficaram assustados. Já tinham ouvido falar dessa besteira de antes do Grande Retorno sobre os aeroportos. De que adianta usar um avião, se você precisa pousar longe e andar não sei quanto tempo de carro para chegar a seu verdadeiro destino? Havia grandes avenidas, espalhadas pelas cidades. Eles desciam lá, passavam depois pelas outras avenidas, sempre recolhendo passageiros, e depois iam para a rampa, ou para a montanha, quando havia essa última.
Estava desolado e pensei seriamente que estava ficando louco. Terminei minha refeição, e continuei a andar. Quem sabe, de repente, houvesse alguma luz na minha mente e tudo se explicaria? Passei por várias lojas e tudo parecia bastante normal. À minha direita, vi uma livraria e entrei. Os livros pareciam normais até que reparei num bem maior, com capa preta, e cujo título, em letras douradas, dizia: “2019: O Grande Retorno”.
De novo essa data, esse assunto. Antes de continuar, preciso deixar claro que estávamos em março de 1994. Aquela data, portanto, era no futuro. Havia um prólogo, que li rapidamente. Dizia que em 19 de abril de 2019 aconteceu o grande retorno. O Universo parou e começou a voltar. Muitas pessoas simplesmente desapareceram, outras sumiram voltando com idades diferentes e, muitas, geralmente as mais idosas, simplesmente nasceram novamente. Como um milagre, não houve nenhuma grande ruptura. Inexplicavelmente, as coisas começaram a funcionar novamente, como se nada tivesse acontecido. Uma nova lógica havia se estabelecido. A maior parte dos indivíduos não se lembrava de nada, outros tinham algumas recordações do velho mundo. Alguns poucos se lembravam de tudo, como eu e, por isso, ele tinha escrito o livro. Precisava registrar tudo, pois, certamente ele também iria se esquecer com o tempo. Acontecia com todos, mais cedo ou mais tarde, segundo ele.
Peguei o livro para pagá-lo no caixa, não sem antes reparar no aviso que havia na parede. A partir de 15 de fevereiro, estariam funcionando em outro local. Achei estranho e, por isso, resolvi perguntar ao caixa por que eles não tinham mudado ainda. Ele estranhou a pergunta e reafirmou: “Só vamos mudar no dia 15 de fevereiro!’’ Retruquei que já estávamos em março. Ele olhou assustado e disse irônico: “Obrigado pela informação e eu informo o senhor de que, no mês que vem, em fevereiro, nós vamos mudar! “
Desisti, paguei o livro e saí. Foi então que notei o óbvio. O tempo, para eles, estava voltando. Tinha começado a voltar em 19 de abril de 2019. Tudo tinha se adaptado a isso. Aparentemente, algumas coisas, como o avião, os aeroportos e muitas outras, tinham sofrido uma brusca alteração. De alguma forma, havia uma nova lógica e tudo se adaptava a ela.
 Cheguei em casa, um pouco assustado e um pouco conformado. Havia,enfim,  uma certa lógica dentro do absurdo. Fui até o banheiro, lavei meu rosto, voltei, e me sentei no sofá. Olhei para o livro , grande, capa preta, com o título em dourado: “O Grande Mistério”. Era um romance policial de Roberto Lima.  Tinha certeza de que havia comprado um outro livro.
Pensei um pouco nas coisas que fiquei perguntando para as pessoas durante a manhã. Devem ter pensado que sou louco. Aeroportos? Como eu não sabia que os anos estavam baixando a numeração e não aumentando? Ainda bem que já era março e em janeiro eu teria um novo encontro com a terapeuta. O ano de 94 estava terminando! Graças a Deus. Logo estaríamos em 93 e tudo ficaria mellhor! Com certeza...



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