Showing posts with label gramática. Show all posts
Showing posts with label gramática. Show all posts

Monday, May 21, 2018

O assento da cadeira e o acento da palavra



O assento da cadeira e o acento da palavra

O assento, da cadeira, é claro, não tem acento, pois é uma palavra paroxítona terminada em “o”. Cadeira, por outro lado, também não tem acento, embora tenha assento, conforme explicado. Se uma firma comprar cem cadeiras, pode-se  dizer que comprou um cento das ditas cujas. Assim, com certeza, o dono vai poder dizer ”eu me sento numa das cadeiras que comprei”. Assim, não confunda “cento” com “sento”. O acento pode ser grave, agudo, ou circunflexo. Estamos falando do acento gráfico. Quase todas as palavras têm acento na pronúncia, ou seja, uma sílaba mais forte, a tônica. A maior parte delas não tem acento gráfico, porém. E é desse último que estamos falando aqui. Interessante, por outro lado, que a própria palavra acento não tem acento gráfico, assim como não o tem, também, a palavra assento. Mas isso eu já falei.
Ainda há mais. Existe o verbo assentar, que significa “tomar assento”, “fazer sentar”. Já o verbo “acentar” não existe. Manias da língua, não vejo por quê. Poderia siginificar fazer uma coisa cem vezes, ou algo assim. Mas não adianta insistir, pois a gramática já deixou assentado – entendido, registrado – que é desta forma. Consequentemente,  existe “assentado”, como ficou assentado, e não “acentado”. Conclui-se, igualmente, que não existe “assentuado”, embora exista “acentuado”. Na prática, existe. Porque há pessoas que insistem em escrever errado.

Já aprendemos que o acento pode ser agudo, grave, etc.  Embora o assento possa ser também, entre outras coisas, circunflexo, como o acento da gramática, embora não pensemos nele assim, ele é usado em outras circunstâncias. Uma delas, é grave: quando um piloto precisa usar um assento ejetável. Preciso acentuar (assentar, também, por que não?) que isso pode ser grave ou agudo, dependendo de onde ele cair. Se o paraquedas dele não funcionar, então, ele pode até ir até o “assento etéreo”, dependendo das boas obras que fez. Mas isso já é um assunto completamente fora da minha alçada. Do verbo alçar. Não confundir com o verbo assar. Que, por sinal, não tem cedilha, pois não tem a letra “c” com  som de “esse”, quando faz sílaba com a, o, u. Cada coisa, acabei de me lembrar, esse – a letra do alfabeto – e esse – pronome demontrativo - têm pronúncias diferentes, mas nenhuma das duas têm acento. Mas, voltando à questão da cedilha, ela própria não tem cedilha. Claro, embora tenha som de esse, vem seguida de "e". De qualquer jeito não há palavras iniciadas por "ç" na Língua Portuguesa. Sei lá, talvez devesse ter. Só por uma questão de coerência mental, pois, coerência gramatical, jamais iria ter. Termino aqui e isso fica assentado – como se escreve nos livros de cartório, às páginas tais e tais – que acabo de escrever uma crônica e não uma aula de Português. Foi apenas uma coincidência de assuntos (e não de assentos ou acentos).

ooo000ooo



Para comprar no Brasil 
(impresso e e book):


À procura de Lucas  (Flávio Cruz)
----------------------------------------------
Para comprar nos EUA:

Thursday, October 26, 2017

A Gramática do Amor




A Gramática do Amor

Faz muito tempo, essas coisas não acontecem mais. Pelo menos não do jeito que aconteceram aqui. O Dida era um bom menino e acabara de fazer dezesseis anos. Época de amar, época de buscar, época de descobrir. Foi aí que ele descobriu que estava apaixonado pela Isabel. Só pensava nela, uma paixão real. Ele não era um galã, mas segundo as meninas, não era de se jogar fora. A menina de vez em quando olhava para ele, mas não dava para dizer se era correspondido ou não. Nessas coisas as meninas eram mais espertas, diziam as coisas sem dizer, e diziam coisas que não significavam o que queriam dizer. Qualquer coisa assim. Acho que elas não mudaram. O fato é que o amor do Dida foi aumentando, não aguentava mais aquele calor no peito, o coração saltando, dando pinote, um desespero.
Naquele começo de noite finalmente ia ter uma chance. Um bailinho da turma da escola ia acontecer na casa do Eduardo e, garantido, ela ia lá. De manhã, as aulas foram normais, exceto pela aula de português. A professora estava explicando a tal de história de uso correto de pronomes, o problema de manter a coerência, qualquer coisa assim. Por que você fala “Eu te amo”, se você estava tratando a pessoa por você até agora?  Se você falar “Eu te amo”, é porque você está tratando a pessoa de “tu”, certo? Certo e errado, hoje em dia alguém falaria para ela, porque a linguagem coloquial, etc.,... mas quem quer ouvir essa conversa? Estamos falando do amor do Dida, não de gramática. Mas não é que o pobre rapaz ficou atrapalhado com aquilo?  O problema é que a professora arrematou o assunto dizendo que se você trata a pessoa por você, o correto seria dizer “Eu a amo”.
O assunto não era tão importante assim, mas o Dida ficou com aquele negócio na cabeça. Essa noite era a noite, ele ia se declarar e daí veio a dúvida besta: falo “eu te amo” ou falo “eu a amo”? Que besteira, não? Pois não é que ele estava já no baile, ela já tinha até dado uma olhada para ele, e ela estava o máximo, e aquele negócio não saía da cabeça? Quase perguntou para o Juca o que ele achava, mas tinha certeza de que ele ia dar uma gargalhada. Ficou repetindo a frase dos dois jeitos para ver o que ficava melhor. Se falasse “te amo” era mais bonito, mas estaria errado. Se falasse certo, “a amo”, ia ficar esquisito, que droga! Começou a ficar com raiva da Júlia, a professora, que chata!
Finalmente se decidiu. Ia falar “eu te amo” e depois faria um comentário qualquer durante a conversa, “eu sei que é errado, mas falar ‘eu a amo’ é esquisito, você não acha?” Falaria do jeito mais bonito, mas mostraria que era bom de gramática. Poderia ser até uma forma de quebrar o gelo, já que ela era uma menina inteligente e aplicada, ele sabia. Você e tu, quem liga para isso, não é mesmo? Decidido. Levantou a cabeça, procurou a Isabel pela sala e... nada. Foi para a varanda e imediatamente viu que ela estava lá, com seus cabelinhos lindos, soltos sobre o vestido azul.O problema é que ela estava conversando com o Eduardo, o dono da festa. Depois olhou melhor e quase teve um choque. Estava de mãos dadas. Foi para a casa, desiludido. Nunca mais tentou falar com a Isabel.
Cresceu, encontrou a Alícia, casou e teve filhos. Nunca mais teve coragem de falar “eu te amo” ou “eu a amo” para mulher nenhuma. Fala “estou apaixonado”, “sinto amor por você”, qualquer coisa assim. “Está vendo como são as coisas”, comentou um dia o Juca, que sempre continuou seu amigo e acabou virando professor de português. Ponderou que o Caetano, o Chico e o Vinícius escreveram tantas coisas bonitas sobre o amor e nunca deram a mínima para essas regrinhas. “Eles gostam da língua portuguesa, brincam com ela, fazem o que querem com as palavras e... tenho certeza de que nunca tiveram falta de mulheres...”.  Mas o Dida não gosta de falar desse assunto, são coisas do passado...


o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o


Essa vida da gente

Para adquirir este livro no Brasil 

--------------------

Para adquirir este livro nos Estados Unidos 



Saturday, December 10, 2016

O jugo das conjugações


O jugo das conjugações



A vida é bem  parecida com uma conjugação verbal. Todos sabemos que o Pretérito Perfeito indica alguma ação que já está completamente terminada, resolvida, definida.  Parece, entretanto, que nada é perfeito, e tudo que fizemos – principalmente de errado – continua a atormentar nossas vidas. Já o Pretérito Imperfeito é mais adequado. Segundo a gramática, descreve fatos passados não concluídos, por isso mesmo, imperfeitos. Não é assim que acontece? Sempre existe na vida da gente algo que ainda precisa ser resolvido. Já o tempo presente é o mais enganoso de todos. A gente fica esperando e, quando percebe, já aconteceu. E isso é um contínuo presente. Além disso, não é nada do que a gente esperava. Por isso temos de botar a esperança no Futuro do Presente. Esperando que nossas esperanças se realizem, de preferência num futuro próximo. Mas que nada, é só desilusão. Este tempo verbal acaba virando Futuro do Pretérito: poderia, ganharia, venceria, etc... Acho que é por isso que, antigamente, ele se chamava “condicional”, pois sempre há uma “condição”, geralmente impossível, para que ele aconteça. Não é fácil. E tudo isso que descrevi ainda é no modo indicativo, que, supostamente, deveria ser mais real, mais preciso. Como se não bastasse, ainda existe o modo subjuntivo. As frases desse tipo, indecisas, marotas, começam sempre com “talvez”, “se”, “quando”, “mesmo que” e vai por aí afora. Se eu ganhasse na loteria, mesmo que eu arrume um bom emprego, talvez ela diga “sim”... Talvez, talvez... Aparentemente, por todo o infinitivo, quero dizer “infinito”, temos de viver sob o jugo das conjugações. E tanto faz se o Infinitivo é Pessoal ou Impessoal... Eu ainda ia falar sobre os verbos irregulares, mas daí pensei: é demais! Você não acha?

==(((()))===


Lançamento no Clube de Autores:  Insólito

Para comprar no Brasil ( impresso ou e book) clique: 


Para comprar nos Estados Unidos clique

Wednesday, November 16, 2016

Poeta louco, língua insana



Poeta louco, língua insana

Minha língua gostosa. Língua de falar. Também tenho a língua do paladar. Tenho o “tu” para te dar importância, às vezes para te afastar. Tenho “você” para dar intimidade. Tenho “vós” para vos dar majestade. Tenho voz para tudo falar. Tenho avós para me lembrar das palavras que não sei mais. Língua danada. Danada de bom. Danada de boa, me perdoa, nada como a concordância. Agrada meus ouvidos, me faz suspirar. Inspirar. Vocal. Vocábulo, vocabulário, vozerio, vociferar, afônico. Verbo. Vozes da América. Palavra, parábola, parar a bola, poesia parada, sem rima, sem cisma, sem verso, nem  reverso. Sozinho, soneto, sonolento, sem boca para falar. Ou reclamar. Palavra. Palavra escrita, palavra falada, palavra da vida, termo, tremo,trema, palavreado, palavrório. Palavra de homem, dar uma palavrinha. O poeta cisma, descansa na prosa, prosaicamente, rima à deriva, ruma incerto no oceano verbal, descomunal, sem acento. Polissílabos de uma sílaba só, proparoxítonas com acento na última, aversão ao verso versátil e ao verbo regular. Regras regulares de gramáticos incomuns acostumados às exceções, exceto secções da sessão sem síncope. Metáforas, anacronismos, hipérboles, pleonasmo. Plasma.Linfático, linfoma. Metástese. Saturação verbal. Excesso de vírgulas. Acentos sem sentido, sem nexo. Sem fonia, sinfonia, sintonia, sem sentido, semi, sema, semantema, fonema, presufixo, radical total, semântica, palavrão, cacófato inusitado, desusado, desiludido, desilusão do poeta que não sabe escrever em monossílabos, arcaico. Linguista, linguística, linguiça portuguesa, livro sem lista, índice sem livro, livro sem bliblioteca. Livraria grega, livro na internet, publicação anônima, presente de grego. Gênesis, o meio e o ômega. Ômicron, minúsculo, oi, origem do fim, fim do livro, capítulo final, conversa fiada, prosa vulgar, poeta sem sabor, sem rima, sem cisma, sem verso, sem reverso, no avesso, na contramão. Contra a mão que escreve a palavra correta na reta sem fim. Fim. Teu fim, poeta sem graça, que ri da poesia que fez e faz de conta que não sabe de nada. Nihil. Zero. Nihilismo.
Preciso de férias.


==============

À procura de Lucas


Para adquirir este livro no Brasil 

Clique aqui  ( e-book: R$ 7,32 / impresso: R$ 27,47)

Para adquirir este livro nos Estados Unidos