Friday, August 6, 2021

Uma antiga sintonia

 


Uma antiga sintonia

 

A parte de trás do antigo aparelho de rádio havia sido retirada. Eu podia ver, então, aquelas misteriosas válvulas e seus filamentos, alguns claros, outros avermelhados. Pura mágica. Havia, além de outras peças, duas roldanas, pelas quais corria um barbante. E, conforme ele se movia, vozes de outros lugares, até de outros países, se alternavam naquela caixinha de madeira. Meu coração de menino estava arrebatado pela máquina e pelo momento fabuloso que estava acontecendo. Era o ano de 1958 e o dia era o do jogo do Brasil contra a Suécia, final da copa. A minha família, os vizinhos, todos circulavam pela cozinha da mamãe, que, então, à moda italiana, era o centro de tudo.

O locutor que transmitia o jogo só repetia os nomes de nossos heróis: Didi, Vavá, Pelé, Garrincha, Zagalo. Alguns achavam que ele não sabia os nomes dos suecos, mas acho mesmo é que eles mal pegavam na bola. E os gols vinham acontecendo, o entusiasmo aumentando.

Talvez porque eu fosse criança, aquela fantasia era resultado apenas de minha percepção. Acho, entretanto, que aquela foi verdadeiramente uma época de paz, de contentamento, de vitórias. Foi antes dos torturadores e dos torturados do depois. As mentiras eram de mentira e não prejudicavam ninguém. A compaixão era maior e as pessoas se importavam.

Talvez não houvesse  monstros ainda. Ou, quem sabe, eles estavam escondidos em porões escuros e só mais tarde foram soltos pelos homens do mal.


GERMÂNIKA

Imagine um país que vai de São Paulo até o Uruguai, numa outra realidade. Imagine agora que este país foi dominado pelos alemães e agora são seus habitantes. Esta nação é GERMÂNIKA e pertence a um universo paralelo ao nosso.
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