Thursday, November 22, 2018

Um tal de Alzheimer



Um tal de Alzheimer

Foi quando já estava me preparando para a chegada da velhice que ouvi pela primeira vez falar do tal de Alzheimer. Já foi um trabalho danado aceitar o fato de que um dia precisamos ficar velhos. Agora, alguém chegar e dizer que, além de tudo, podemos nos esquecer de tudo? O competente doutor, que deu o nome à doença, podia ter ficado quietinho e deixar os velhinhos tranquilos. Imagino que ele quis que seus sucessores conseguissem, talvez, uma cura para o mal. Até agora, infelizmente, nada.
Por isso, estou pensando em combinar algo com minha amada. Que tal fazermos pequenos bilhetes dizendo “Eu te amo”, “Você me ama”, “Nós nos amamos”? Pendurá-los em lugares estratégicos da casa, para incitar nosso cérebro, no caso da vil enfermidade nos atacar? Espalhar por todo canto, lindas fotos dos dias maravilhosos que passamos juntos? Fotos dos nossos amados, da família? Quem sabe “cutucar” os dorminhocos neurônios para que eles liberem as lindas memórias? O fato é que não suporto a ideia de olhar para uma pessoa que amo e não conhecê-la.
Não sei não se isso vai funcionar. Parece que as sinapses de nossa cabeça entram numa espécie de “curto” e tudo se apaga. Eu nunca fui bom em eletricidade, isto vai ser um problema.
Se for mesmo, como dizem, um “branco” memorável (que ironia: memorável), um enorme vazio, que poderemos fazer?
Talvez eu possa, dentro dessa bolha de esquecimento, criar novas memórias. A partir de um sorriso de minha amada. Quem sabe, ela também se lembre de meu primeiro beijo? Ou se mesmo isso não for possível, talvez comecemos do zero. Quem impedirá nossos espíritos de, novamente, se apaixonarem? Eles certamente não têm sinapses ou eletricidade. Funcionam à base de um plasma divino, metafísico, que o grande médico ainda não conhecia. É isso que eu espero, antes de não mais poder nem mesmo esperar...

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Friday, November 16, 2018

Labirinto


Labirinto

De repente percebi
que estava num labirinto:
O labirinto da vida.
Buscar uma saída?
Mas qual? Eu não sabia...
Andei, voltei, saí e entrei,
por toda parte procurei.
Achei enfim um lugar
que parecia ideal.
Que bom, enfim, ser, estar.
Só então, descobri
que outro labirinto,
mais complicado e maior,
eu teria de percorrer:
o labirinto de meu ser,
aquele dentro de mim.
Nesse ainda estou,
e acho, vou sempre, viver...

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Wednesday, October 24, 2018




Cantigas de Ninar Gente Grande    


Menina dos cabelos loiros,
pensas que não sei de teus sonhos?
Sei que não queres me contar,
mas não sei por quê...
Pensas que vou rir deles,
ou talvez deles zombar...?
Pois com certeza te digo,
que também tenho os meus
e não ouso revelar...
Mas os teus sonhos
são para mim especiais,
mais preciosos que os meus próprios...
Sabes por acaso por quê?
Que vou fazer com meus sonhos,
se são eles todos,
todos, sem exceção,
unicamente sobre você?


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Sunday, October 14, 2018

Nosso placar na História


Nosso placar na História

Desde que nosso amigo Pedro chegou por essas bandas, muita coisa estranha aconteceu. Muita coisa boa, mas muita coisa ruim também. Deve ter sido bonito, certamente, ver aquelas caravelas chegarem, misteriosas, aventureiras, empolgantes, nessa linda terra de Deus.
Logo a seguir, porém, começou. Não sei se havia muito serviço ou se o pessoal não era muito chegado “no batente”, o fato é que tentaram escravizar os índios. Como eles não quiseram se submeter, foram acabando com eles. Ainda bem que uns poucos estavam escondidos na mata distante. Ficaram para remédio, se é que tem remédio isso tudo. Depois foram buscar os escravos lá longe, na África. Que barbárie! E assim foi. Tivemos também um rei fugido de Portugal: que lugar melhor que esse para se esconder do Napoleão? Fomos sede do Império e tudo mais. O Chico bem lembrou o sonho de então: “Esta terra ainda vai se tornar um imenso Portugal”. Depois de tudo que aconteceu e do jeito que está Portugal agora, até que não seria mau. Depois tivemos guerras fingidas, golpes bem dados, outros nem tanto. Tivemos até uma ditadura da qual muita gente ainda gosta. A esse respeito disso, vi um vídeo em que a moça falava que nada daquilo tinha acontecido: a tortura. Nunca ninguém viu. Estão vendo como é importante fazer tudo no porão?  A corrupção sempre tivemos, quem não sabe? No porão e fora dele: em todo lugar.

Ao contrário do que se pensa, porém, existe muita gente boa e honesta. Geralmente não falam muito. Eles são o golzinho que fizemos contra a Alemanha naquele jogo fatídico. O resto, foi um imenso 7 a 0. Já tivemos esse placar inúmeras vezes, só que não foi no futebol, por isso que ninguém viu. Se aprendermos a jogar justo na vida política, no social, vamos chegar lá. Ganhar de dez a zero como cidadãos. O resultado no futebol, então, vai ser só uma consequência.

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Novo lançamento no Clube dos Autores: Essa vida da 
gente

Saturday, October 13, 2018

Os mortos que voavam vivos



Os mortos que voavam vivos
(ou “O que vocês fizeram, hermanos?”)

Com algumas diferenças de datas, nossos “hermanos” uruguaios, argentinos e chilenos, tiveram suas ditaduras. Todas militares, é claro.Todas tinham presos politicos, é claro.Todas torturavam na escuridão, é claro.
É claro, também, que foi uma época de sombras, de medo e de terror. Alguns nem sabiam, eram a grande massa alheia, sem nome, sem opinião. As massas são sempre assim, são fáceis de levar. Nossos mortos, os brasileiros,  acabavam em diversos lugares. Um deles ficou famoso, o Cemitério Dom Bosco de Perus. Coitado do santo. Como podem dar um nome assim, para um lugar assim? Que Deus os perdoe.
Nossos irmãos argentinos, colegas de ditadura e de tortura, sempre quiseram ser  melhores do que a gente. Em tudo, até nisso. Por isso, criaram os “voos da morte”. Juntavam militantes já mortos com outros ainda vivos e voavam. Uns com algemas e dopados, outros em sacos plásticos. Os aviões decolavam, voavam sobre o Atlântico, e jogavam os corpos. Alguns deles foram mais tarde parar nas praias do Uruguai, irreconhecíveis.
É assim que se constroem grandes nações. Era assim que os inimigos da ditadura voavam. Os pilotos sobrevoavam, então, o Rio da Prata, leves, sem pecado.
Nem sei por que a gente fica falando dessas coisas. Ninguém se lembra de mais nada...









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Friday, October 12, 2018

Como começou toda a confusão




Como começou toda a confusão


Nos últimos tempos estava ocorrendo uma confusão enorme na ilha. Não que antes não houvesse, mas nunca as pessoas estiveram tão preocupadas. De certa forma, era algo que se podia esperar nesses tempos modernos em que todos conversam com todos e todos têm opiniões.
As pessoas mais conscientes, cientes de que ali nada se resolveria, convocaram um grupo de sábios do exterior. E eles vieram. Estavam agora todos reunidos numa enorme sala oval, tentando descobrir as causas de tudo. A primeira coisa que eles notaram era que o que as pessoas estavam discutindo eram os sintomas e não o verdadeiro problema. Esse era algo mais profundo, mais complexo, mais uterino.
E os estudos continuaram. Foram retrocedendo de governo em governo e já estavam agora na época da Ditadura. Cada época teve suas adversidades e, cada vez, a explicação estava no governo anterior. Verdade era que alguns tinham mais culpa que outros, mas sempre havia uma razão prévia. E assim foram indo cada vez mais para trás: república, reinado, época colonial. Sempre as pessoas de uma época eram responsáveis diretas pelas barbaridades da época seguinte. Deve-se dizer que o período da escravidão – para descobrir suas causas – essa foi difícil. Separaram uma comissão só para tentar entender como uma sociedade podia ter feito uma coisa tão horrível. Os outros sábios restantes continuaram em sua marcha a ré na história. Não deu outra, chegaram até um fulano chamado Petrolius Cabralius. Foi ele que trouxe os primeiros habitantes para a ilha. Depois de examinar a lista dos primeiros passageiros desembarcados na maravilhosa praia, ficou tudo claro. Era um bando de aventureiros, muitos deles com ficha na polícia e tudo mais. Claro, a ficha deveria ser um pergaminho e a polícia, os funcionários do rei. Como um grupo daquele poderia formar uma ilha decente? Gente sozinha, sem família, sem responsabilidade. Gente mais selvagem do que os selvagens que havia na ilha.
Os sábios chamaram os responsáveis pelo pedido de estudo e explicaram tudo, tim-tim por tim-tim. E perguntaram: “Vocês querem que continuemos e vejamos as origens das origens? Por que trouxeram esse tipo de colonizadores para cá? Ir de volta, na história e ver por que a Portugália era assim também? Mas advertiram, isso pode ir longe, muito longe.
O líder do grupo de boa-fé, que estava tentando entender tudo aquilo, imediatamente percebeu o que aconteceria. Iriam voltar, voltar e chegariam até Adams e Évora, os primeiros habitantes do mundo. E daí não daria para retroceder mais: iriam dar direto no Criador.

E esse tinha uma desculpa insuperável. Ele tinha dado o livre arbítrio para aqueles dois: O Adams e a Évora. Que fazer?


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Estranhas Histórias
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Thursday, October 11, 2018

Pessoas jogadas do céu e crianças roubadas





Pessoas jogadas  do céu e crianças roubadas

Imaginem uma república hipotética, onde os militares tomaram o poder e instalaram uma feroz ditadura. Imaginem, ainda hipoteticamente, que habitantes dessa nação resolveram discordar da maneira como eles estavam conduzindo o governo. Ainda, tudo supostamente, os ditadores resolveram calar essas bocas dissidentes.
Mas eles não se calavam. Continuavam a reclamar dos desmandos e do autoritarismo do novo governo. Imaginem só! O que fazer com gente que não para de reclamar, de protestar? Torturá-los, matá-los? Quem sabe jogá-los lá do alto, de um avião, sobre o mar?
E se houvesse também mulheres protestando? E se elas estivessem grávidas? Será possível - tudo, ainda, no campo da pura imaginação – que os detentores do poder seriam capazes de matá-las? Isso mesmo, as mães, logo depois do parto? Arrancarem delas seus filhos e entregarem a casais militares, em segredo?
Será que as pessoas que gostam de “governos fortes”, autoritários, achariam esse um bom governo? Que tipo de nação seriam esses homens capazes de construir? Uma nação baseada na tortura, em assassinatos, em sequestro de crianças?
Eu acho impossível ter havido uma nação assim. Roubando crianças de seus pais, jogando os que protestam de aviões para afundarem no mar?
Mas houve. Foi o que a  Argentina fez de 1976 a 1983. Provavelmente muito mais do que isso. Muitas daquelas crianças procuram, ainda hoje, descobrir quem foram seus pais. Muitos avós procuram seus netos, enraizados, sem saber, em outras estranhas famílias. Parece um pesadelo, mas foi verdade.
Se eu acreditasse em maldição, eu diria que é por isso que até agora eles não conseguiram se estabilizar, formar um país forte, uma grande nação. Mas eu não acredito.

Talvez apenas uma pura e maldita coincidência...

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Essa vida da gente

(crônicas e contos sobre o cotidiano)







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