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Wednesday, July 9, 2014

Bola murcha



Bola murcha

O jogo acabou. Falhou a cobrança, falhou o chute, tudo falhou. Do goleiro ao centroavante. A voz do povo calou e, na alma dos torcedores, um galo enorme também ficou. A explicação não explica nada, a técnica e a tática são inúteis diante do destino, e não adianta querer explicar. O fato é que a bola murchou.
Sofre quem gosta de futebol, sofre quem não liga para futebol, todo mundo sofre. Uns xingam, outros amaldiçoam, alguns se escondem nos cantos.
Derrotados, humilhados, desconsolados.
Na prática, porém, nada muda. A não ser que você seja um jogador, o técnico, alguém ligado profissionalmente ao “negócio”, nada vai mudar. É só continuar vivendo a vida como se nada tivesse acontecido. Garantido, nada vai mudar, tudo voltará ao normal, pelo menos pessoalmente.
Mesmo assim, ainda está doendo? Eu sei, eu sei...

Meu amigo Nino Belvicino bem que tinha avisado: nunca faça do futebol a base de sua vida. Sábio pensamento, esse do meu amigo! Ou então, você pode ficar com o Nelson Rodrigues que dizia:  “a bola é um reles, um ridículo detalhe” : o que interessa é “o ser humano por trás da bola”.

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 À procura de Lucas  (Flávio Cruz)

Saturday, May 31, 2014

Houve uma época em que nosso país era muito feliz



Houve uma época em que nosso país era muito feliz
( ou “A copa e as covas de Perus)

Houve uma época em que nosso país era muito, muito, feliz. Havia tão poucas notícias ruins, que os jornais nem mais tinham matéria para publicar. Você sabe como é, só desgraça é que vende jornal. Para preencher espaço tão precioso de um noticiário, um deles começou a publicar receitas de bolos e doces. Como não tinham muita prática nessa nova empreitada, às vezes elas saíam incompletas, com defeitos. Outro jornal, mais dedicado à cultura, lançou poemas de gente famosa, e principalmente versos de “Os Lusíadas”. Isso era para o povo ficar cada vez mais culto. Acho que deviam ser mais organizados, porém. De repente, interrompiam a narrativa, e isso poderia prejudicar seu sentido. Valeu a tentativa , no entanto.
Além de não haver notícias ruins, havia um monte de boas. Um progresso sem igual. Estradas, telefonia, tecnologia. Parecia até os Estados Unidos. Era difícil ver alguém  insatisfeito! Era mesmo um governo bom, esse dos militares.
Você sabe como são as pessoas. Sempre arrumam um jeito de reclamar. Começaram a falar que esse progresso todo ia custar uma fortuna e que, mais tarde, teríamos de pagar. Décadas e décadas de pobreza e fome para cumprir os compromissos financeiros e seus juros. Mas não é assim que se constroem as coisas? Não dá mesmo para satisfazer a essa gente toda. Como se isso não bastasse, até uns coveiros do novo cemitério de Perus estavam insatisfeitos com seu trabalho. Era um excesso. Corpo vindo de todo lado. Para acalmar a situação, disseram a eles que não precisavam se preocupar. Estava dispensada a identificação. Além disso, poderiam colocar todos numa só cova. Ainda bem que esse pessoal tinha visão: era preciso facilitar o jeito de operar, pois isso, sim, fazia parte do progresso.
Quando o contentamento e a satisfação eram completos, ainda assim, apareceram uns chatos. Diziam que ouviam gritos. Parecia gente sofrendo. Não sabiam de onde vinham aqueles sons horripilantes. De casas fechadas, dos porões? Podia ser, pois os ruídos eram abafados. Mas, acho eu, eles estavam apenas ouvindo demais.
Ainda bem que, com o tempo, esse choro pungente foi passando. A gente tinha quase esquecido. Nos últimos tempos, porém, não sei por quê, existem pessoas que estão falando deles novamente. Talvez reconheceram as vozes, talvez eles mesmos sejam os que gritaram de dor, um dia. Como eu disse, existe gente que reclama de tudo.

Justo agora que tudo ia tão bem, a gente quase ganhando a copa e tudo mais...


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Monday, April 14, 2014

Notícias de lá, notícias de cá



O Putin avisou: “Agora a Crimea é minha”. O Obama advertiu que não pode, que não é assim. Ele retrucou que pode sim, que os americanos fizeram a mesma coisa no Iraque. Pior ainda, nem plebiscito houve. Nessa mesma época um avião desapareceu sem mais nem menos. Ninguém sabe, ninguém viu. O governo da Malásia está mais perdido do que russo no Carnaval carioca. Diz que está procurando mas não acha. Um dia vai achar. Os chineses exigem uma explicação. Querem saber onde estão os seus passageiros do voo 370.
Na Itália pararam de falar do Berluscone. Na França já faz alguns meses que não se tem notícias de escândalos conjugais de presidentes. No Japão estão quase terminando de descontaminar as usinas atômicas. Espero que esse ano não haja nenhum tsunami. Eles, os japoneses, continuam, porém, a pescar as baleias.
Na América do Sul, na República do Brasil, está tudo normal. Tudo azul. Está todo mundo, de um jeito ou de outro, esperando pela Copa. Aí, então, vai ser uma festa...
Que bonito!
No Paraguai continuam contrabeando um pouco de tudo. Nos altos da Bolívia, a coca continua necessária. Nas favelas do Rio, também.
Faz tempo que não ouço falar nada da Argentina nem do Uruguai. Espero que os ditadores não tenham voltado. Faz tempo que não se fala deles. Isso sim seria uma coisa de se preocupar...
Não sei se vão achar os corpos do avião que sumiu. Alguns da época da ditadura, nunca acharam não. Acho que é porque naquela época não havia GPS. Será que GPS significa “Gente Possivelmente Sumida”? Não sei não, existem coisas que ninguém explica...




Lançamento de novo livro no Amazon: ESTRANHAS HISTÓRIAS II