Friday, September 27, 2013

A Promessa do Honório

A Promessa do Honório


Não se sabe se o Honório está vivo ou não. Ninguém mais viu o homem.
Antes, quando andava por aquelas bandas, falava para todo mundo que, quando morresse, voltaria para dar satisfação. Quer dizer, se houvesse qualquer coisa do outro lado, ele voltaria para avisar. Se não voltasse, era porque, depois da morte, acabava tudo. Garantido, iria acabar com a dúvida. Para que essa discussão toda? Há vida depois da morte ou não? Ele não gostava de meia conversa, se houvesse qualquer coisa que fosse, voltaria para avisar os amigos.
Como tinha feito inúmeras outras vezes, naquela noite de sábado, estava lá no bar bebendo com seus amigos. Depois da meia-noite, não havia um só deles que estivesse falando coisa com coisa. E, naquela mesma noite, o Honório repetiu que estava chegando sua hora, que logo ficaria sabendo de tudo. E seus amigos poderiam contar com ele. Ele não era homem de ter medo. Iria verificar tudo o que acontece depois da morte e, nem que não deixassem, iria dar uma escapada e voltaria para dar uma dica para todos. Se sumisse de vez era porque a vida acabava coma morte e depois seria um vazio total. E sempre repetia, que isso não era de todo mau, pois existia tanta coisa ruim nesse mundo, que desaparecer  seria um descanso, uma paz.
Por volta das duas da madrugada, o Honório mal conseguia ficar em pé. Dois amigos ajudaram-no a chegar em casa. Não foi tão difícil pois morava ali perto, a cerca de um quarteirão. Como ele morava sozinho, os seus companheiros o ajudaram a ir para a cama. O que foi bom, pois ele estava completamente passado. Ante de os dois amigos saírem ainda falou:
-Acho que é hoje. Se eu não voltar é porque não existe nada do outro lado. Garantido. Promessa do Honório. Estou sentindo que é hoje. O sábado, que então já era o domingo, rompeu a madrugada e desabrochou numa bela manhã.
Por volta das duas horas, o pessoal todo estava de novo  lá no bar e nada de o Honório chegar. E aquilo era uma coisa sagrada, o Honório nunca perdia as rodadas da tarde domingo no bar do Zeca. Por volta das três, todos estavam muito preocupados, pois o amigo nem tinha dado sinal. Quando o relógio da parede avisou que eram quatro horas, o Epaminondas e o Inácio acharam que era hora de conferirem, ver se alguma coisa tinha acontecido. Ainda mais porque ele tinha falado o tempo inteiro que a hora dele estava chegando.
Bateram na porta e nada. Insistiram, bateram na janela do quarto. Quando perceberam que alguma coisa estava errada, procuraram a chave embaixo da imagem do santo e lá estava ela. Entraram. A cama estava desarrumada mas o Honório não estava. Procuraram o amigo por todo canto e nada. Falaram com os amigos e cada um foi para um lado da pequena cidade mas não havia nem sombra do Honório. Veio a segunda, vieram a a terça, a quarta e a quinta. Depois o final de semana e nada. Uma semana, duas semanas, um mês, e o Honório nunca mais voltou. Falaram com os parentes distantes e ninguém sabia do Honório. Ele havia desaparecido como por encanto.
Todo mundo se perguntava se ele tinha morrido, se iria voltar para dar satisfação sobre a vida do outro lado, mas nada aconteceu. Uma das teorias era que não deveria ter nada mesmo no além, uma vez que ele nunca voltou. Outros achavam, e essa era a maioria, que quem quer que fosse o dono do outro lado da existência, não estava feliz com aquela ideia do Honório revelar os segredos do além. Com essas coisas não se brinca. E esse dono do outro lado fez a coisa bem feita. Sumiu com o Honório, mas não deixou o corpo. Assim ninguém poderia ter certeza. Ele não voltou mas será que ele não estaria vivo em alguma outra parte do mundo? E foi assim que o maior segredo de toda a humanidade ficou preservado, a dúvida continua. Quem, o Honório pensa que é? Um homem de bar, querendo assim revelar coisa que nenhum outro antepassado conseguiu? Nem os santos, nem os profetas, nem ninguém? Dessa forma a memória do Honório ficou sendo mesmo a de um simples bebum e ele nunca se transformou no maior profeta da humanidade. Mas que diabos, com o perdão da palavra, o que é que ele pensava que era? Um profeta bêbado, melhor dizendo, um bêbado profeta?


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