Thursday, May 8, 2014

Lágrimas masculinas

 


Você acha que é possível alguém se separar depois de velho? Trinta e cinco anos de casamento?
Foi o que aconteceu com meu grande amigo Lourenço. O pior mesmo é que a sua mulher é minha amiga também. Que situação! Ainda bem que não houve aqueles rompantes de fúria, de ódio. Não ficaria bem para nenhum dos dois. Afinal, modéstia à parte, só tenho amigos distintos. Lá no fundo, minha solidariedade masculina está a me sussurrar que ela tem mais culpa que ele. Não importa, porém, quem cometeu o delito. O negócio, agora, é curar as feridas, cobri-las com algum unguento que tire a dor, colocar alguns esparadrapos. Que se há de fazer?
Pelo menos, o meu amigo diz que está bem, que, no final das contas, não doeu nada! Foi até bom, ele arrisca dizer. Depois olho bem para a cara dele e percebo que mal consegue conter as lágrimas. Tento contemporizar e falo:
-Um pouco tem que doer, Lourenço. Afinal de contas são trinta e cinco anos...

Ele disfarça, diz que já volta e dá uma saída. Mas demora mais do que o normal...Lágrimas masculinas saem menos. Por isso mesmo, quando saem, doem muito mais...

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Novo livro  (ficção científica) no Clube dos Autores: À procura de Lucas  (Flávio Cruz)

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