Saturday, November 28, 2015

A Balada



A Balada (em algum ano do século vinte e dois...)

Luna tinha um dia agitado pela frente e achou que seria bom divertir-se um pouco aquela noite. Precisava relaxar. Estavam na moda as famosas festas noturnas do final do século 20 e começo do 21. Eram festas “da pesada” e faziam parte de uma onda de saudosismo.  Quem tinha experimentado, dizia que acontecia de tudo. Com tudo que havia ocorrido em termos de diversão nas últimas décadas, ficava cada vez mais difícil achar alguma novidade no setor. E algo de que Luna não gostava, era de ficar entediada. É claro que o que se fazia nessas casas noturnas tinha que ser encaradas dentro do contexto. Para se divertir pesado, você precisava “entrar” nelas com o espírito do passado, aí é que residia a essência da diversão.
Luna preparou-se adequadamente e dali a pouco já estava “se aquecendo” no novo ambiente. Rostos desconhecidos, mas todos interessantes, rindo, animados. Homens e mulheres jovens movimentando-se doidamente pelo imenso clube. Ela, por seu lado, já estava tomando seu primeiro drinque. Depois dos dois primeiros goles já se sentia em estado de êxtase. Seu corpo parecia flutuar entre os pares que dançavam. Claro, a bebida já vinha com as drogas certas. Prazer através de todos os sentidos, de todos os tipos. Seu corpo ia da total languidez para a total excitação. Num momento estava viajando pelas galáxias, noutro estava imersa no próprio sangue, nas próprias moléculas. A seguir, suas células explodiam e se espalhavam pelo enorme salão. Depois se reagrupavam e reconstituíam seu corpo... que, então caminhava célere por tubos multicoloridos que terminavam em grandes piscinas com água rosa, azul, verde... Daí então, os rostos da festa apareciam de surpresa do fundo da água a sua frente e sorriam... Lá estava ela de volta no salão flutuando... Seu corpo sendo devorado por todos os jovens da sala. Todo seu ser envolto em volúpias mil, sua libido aumentando, aumentando até seu corpo explodir em pequenos pontos de luz e se evaporar no ar. Os pontinhos lentamente voltavam ao chão e depois se reorganizavam em células, moléculas, e seu corpo surgia no meio do salão, outra vez, no meio de todos. Ela era novamente devorada e no prazer do devorar, até sua alma se enchia de gozo.

As horas passaram rápidas. Loucura após loucura, numa espiral doida e sem sentido, mas com todos os sentidos do corpo sentindo todas as sensações possíveis. Nada importava e tudo importava. Entendia tudo, falava todas as línguas, conhecia todas as fórmulas. Olhos, ouvidos, nariz, pele... todos os órgãos estavam auferindo tudo do ambiente, das pessoas, do universo. Cores, luz, formas...
Finalmente, começou a vir uma calma quase divina. Seu corpo e sua alma começaram a ficar em silêncio. Começou a voltar.
Lá estava Luna calmamente sentada em sua poltrona. As horas que passara na sua louca balada eram na verdade apenas 10 minutos de “viagem virtual”. Estava toda plugada e nem precisara sair de seu quarto. No seu corpo não havia uma gota de álcool ou um grama de drogas. Estava sadia e forte como nunca. Estava relaxada e calma.

Bem-vindo ao saudável “admirável mundo novo” do sexo, das drogas e “rock and roll” do século vinte e dois...



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