Neste dia, a horas de véspera,
houvemos vista de terra!
Primeiramente dum grande monte,
mui alto e redondo;
e doutras serras mais baixas ao sul dele;
e de terra chã, com grandes arvoredos:
ao monte alto o capitão pôs nome –
o Monte Pascoal e à terra –
a Terra da Vera Cruz.
(A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA)
A Lenda de Oropacen
Índio guerreiro, veloz, ele caminha
pela mata ao longo do oceano. Vez ou outra uma brecha se abre e ele, por entre
as árvores, vê o infinito das águas. Ele gosta do mar, gosta de nele com seu
corpo brincar. De repente, porém, tem uma imponente, mas também sinistra visão.
Ao largo, no meio das águas, vislumbra as velas dos navios portugueses
destacando-se no azul do céu, pairando sobre as ondas. Sente ao mesmo tempo uma
emoção, e uma terrível opressão. Algo diferente estava acontecendo. Seu coração
selvagem, embora ignorante, sabia que nada mais seria igual. Pela primeira vez
o corajoso guerreiro tremeu, diante de um inimigo desconhecido.
Voltou. Passos céleres para sua
tribo. Conta as novidades e também seus temores. Um inimigo diferente. Sem
arcos ou flechas, mas provavelmente com outras armas temíveis, desconhecidas,
nunca vistas por estes lados. É o que seu coração dizia. É o que temia. Os
outros não sentem ou fingem não sentir nenhum temor. Oropacen, esse era seu
nome, guerreiro tupinambá, é de repente desprezado por alguns de sua própria
gente. Um tupinambá não deve nunca temer. Ele, porém, lutador de longas
batalhas, sabia a diferença. Temia nenhum outro que fosse como ele, mas aquelas
embarcações eram de mau agouro. Não eram coisa daqui, não eram coisa boa, eram
coisa de se evitar. Eram forças contra quem, ninguém, por mais valente, devesse
ou pudesse lutar.
Oropacen,
que significa “arco e corda”, sentiu que tinha de salvar os seus. Não era
covardia não, simplesmente não era hora de enfrentar. A batalha ali não seria
uma de arcos e flechas. Seria uma muito maior e a vitória, a única possível, era se preservar. O chefe ordena
que a tribo deve ficar. Eles e mais alguns decidem partir. Juntam poucas coisas
e penetram fundo na floresta. Um pequeno grupo, talvez a semente de uma nova
nação. Andam dias, meses, e continuam andando. Vão parar em terras onde é
difícil chegar. São uma nova tribo. Aí então têm seus filhos, e vivem gerações.
Por um tempo enorme não ouviram falar dos inimigos, aqueles que chegaram nos
navios. Foram morrendo em paz, aos poucos, e com a certeza de que seus filhos viveriam uma vida
de índios valentes, com combates que valia a pena praticar. Só muito, muito
mais tarde, é que os brancos lá chegaram. Foram os netos de seus tataranetos
que tiveram de com eles lidar. Aí foi uma luta diferente, com outras armas.
Oropacen então, já dormia em paz na sua urna mortuária. Seu espírito contemplava
as estrelas do céu. Lutou a guerra verdadeira, a que tinha de lutar. Tanto
quanto pudera. Vencera tudo que pudera vencer. Manejar armas nem sempre é a
melhor maneira de se ganhar. Sim, Oropacen perdeu o mar, mas ganhou o céu e o verde das
matas, com suas plantas e seus animais, para si e para os seus. Oropacen podia
agora descansar em paz...
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