Tuesday, July 22, 2014

Retrato em branco e preto


Retrato em branco e preto

Eu não conheci pessoalmente minha avó Etelvina, pelo lado paterno. Tinha visto uma foto dela, no meio da família toda, quase sumida. Não dava para ver o rosto, não dava  para ver quase nada. Ainda assim, eu gostava de olhar. Aquela mulher valente, que teve quatorze filhos, só Deus sabe quantas lutas lutou.
Outro dia, porém, minha querida prima me passou uma foto só de rosto, bem nítida, da avó. Eu me emocionei imediatamente. Ver aquele rostinho suave, em branco e preto, o cabelinho arrumado, como se arrumava antigamente, foi muito bom. Um véu preto cobrindo a blusa branca fechada em cima. Um sorriso que não saiu, uma tristeza disfarçada? Tudo isto estava ali, esboçado, nos lábios  finos, fechados. Uma delicadeza sem par. Talvez ela quisesse dizer alguma coisa. Talvez estivesse apenas posando para a foto.

Gostaria tanto que ela pudesse ver os netos de seus netos e ver a beleza que eles são. Gostaria que ela terminasse o sorriso que começou. Gostaria que ela pudesse ver o bem que, talvez nem saiba, fez e espalhou. Gostaria de, por alguns segundos, trocar umas palavrinhas com ela. É possível amar em retrospecto? Eu não sei, mas é o que estou fazendo agora. Amando a avó, daquele retrato em branco e preto, que eu nunca conheci...

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Novo lançamento no Clube dos Autores: Essa vida da 
gente




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