Monday, February 13, 2012

Rua Maria Antonia: o campo de batalha

Rua Maria Antonia: o campo de batalha


O ano é o de 1968, a cidade é a de São Paulo e o local é a Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo. Época de revolução no mundo, desde a França e Europa, com seus estudantes, até lugares mais improváveis como os Estados Unidos. Ali, no entanto, na rua Maria Antonia – para ser bem específico – um jovem sonhador, no seu primeiro ano de faculdade, tem sua primeira vivência de Revolução. Jovens de uma outra revolução da Universidade do outro lado da rua vieram para o seu lado da rua e houve o confronto. Pessoas armadas com revólveres – na cintura, como em filmes de caubóis – subiam e desciam as escadas do velho prédio.
 Houve tiros. Houve ferimentos e até um morto. Eram comunistas contra não comunistas. Era mesmo? Talvez jovens ávidos de mudança, influenciados pelas ideias da Europa, cheios de esperança, e às vezes ódio, de um lado. De outro, jovens também influenciados, mas  por grupos com pavor de comunismo. A luta no entanto foi real, um verdadeiro campo de batalha. Difícil de acreditar que, na mesma época, os Beatles encantavam o mundo com suas canções... No entanto, o que ainda continua na cabeça do jovem estudante é a Dona Margarida, professora de Inglês, desesperada, apavorada... Só não desmaiou porque seria muito arriscado naquela confusão. Também continua na lembrança a Maria do Socorro, militante do pessoal da esquerda, que voava pelos corredores, dando gritos e ordens, uma verdadeira Chê. O jovem estava  a favor do pessoal do seu lado, da sua faculdade, é claro. O resultado da confusão toda você ainda hoje pode ver na Internet. Prédio semi destruído, muita mágoa, muito rancor e mais manifestações depois. O pessoal da esquerda teve de ir para outro prédio na Cidade Universitária. Uma pena, era um lugar quase histórico, muita gente erudita passou por ali. O final, você sabe.  O pessoal da Ditadura, da direita, ficou ainda mais furiosa e torturou e matou e cassou. Dizem que até a pobre da Democracia foi destruída. Todo mundo cansa e um dia a Ditadura também cansou. Além disso foi consumida pela corrupção. Daí veio o pessoal da esquerda, cheia de sonhos e começou a reconstruir, a exigir eleições diretas, a restabelecer liberdades, a determinar o fim da tortura e da censura. Algum tempo depois, no entanto, o improvável (será?) aconteceu. O pessoal  da esquerda, que derrubou o pessoal da direita, pasmem, acabou também se corrompendo. Os "moços" daquela época ficaram sem seus sonhos, seus ideais, nem de esquerda, nem de direita. Algumas coisas, parece, deram certo. Coisas que o pessoal da direita fez, obras de infra-estrutura- com dinheiro arrumado pelos EUA – e coisas que o pessoal da esquerda fez, como estabeler uma série de proteções contra possíveis  abusos, proteção social, etc... Mas, para ser bem franco, por mais que o jovem goste de um dos dois lados, os dois falharam. Os dois – depois que ficaram adultos – roubaram os sonhos dos estudantes  e os profanaram. Enfim, sobrevivemos todos:  com cicatrizes, ferimentos, mas estamos aqui. O jovem do lado de cá da Rua Maria Antonia até colocou seus filhos, mais tarde,  na escola do outro lado da rua, sabe, o lado do pessoal da direita. Bom, o jovem, na verdade, não é mais jovem. A Maria do Socorro, dizem, foi torturada e morreu nos “porões da ditatura”, para usarmos a expressão do pessoal da esquerda. Muitos jovens da esquerda – “comunistas e materialistas”, se nos colocarmos sob o ponto de vista do pessoal da direita ou o pessoal do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) - foram presos e nunca mais ouvimos falar deles. A escola do lado de lá, vocês sabem, é o Mackenzie, uma excelente escola. O nome do garoto que morreu – sim, era apenas um garoto – é José Guimarães. Deixou uma mãe chorando: acho que ela nem sabia o que era Esquerda e o que era Direita. Há outras partes da história das quais o então jovem não se lembra mais ou não quer se lembrar: como o ácido que voou da janela do prédio  do Mackenzie e atingiu as jovens do outro lado. Como canta Nelson Ned “tudo passa tudo passará”...



Saturday, February 11, 2012

O Monstro de Jefferson City

O Monstro de Jefferson City

Eu já não sei mais o que uma menina de 15 anos faz hoje em dia. Imagino, no entanto, que vai para a escola, curte amigas, têm “namoradinhos”, faz fofocas, e obviamente fica bastante tempo na internet. Claro, há variações, depende da classe social, da família, de uma série de coisas. Eu não sei se as garotas dessa idade do estado de Missouri nos Estados Unidos são muito diferentes das outras. Acho que não, não há motivo.  Exceção brutal, com certeza, é Alyssa Bustamante, que há três anos atrás, quando tinha apenas 15, matou sua vizinha de 9. Matar por si só é a pior coisa que uma garota pode fazer, com certeza. Alyssa, no entanto, não parou aí, matou com requintes de crueldade, para se usar um termo de jornal de subúrbio. Estrangulou, esfaqueou, furou a garganta da outra menina. Não pense que é só isso, embora só isso não seja só e já seja demais. Foi e escreveu em seu diário o motivo do crime: “queria saber como se sentiria matando alguém...”  Mais ainda, disse que a experiência foi “muito agradável”. A confissão macabra continua:  “Eu a estrangulei, cortei a gargante e a esfaqueei, então agora ela está morta”, escreveu Bustamante . “Eu não sei como estou me sentindo. Foi incrível. Logo que passa a sensação de ‘oh, meu Deus, eu não posso fazer isso’, é realmente prazeroso. Agora estou tipo nervosa e tremendo.” E então vem o inimaginável: “Tenho que ir para a igreja agora... (risos)”.
O que aconteceu aí? Sua família é daquelas horríveis, deu mau exemplo e acabou dando nisso? Ela é doente, tem inúmeros  parafusos soltos? Essa seria a mais saudável das explicações, se alguma coisa de saudável pode haver numa história dessas. Será que é essa sociedade maluca que acaba criando esses monstros? Não sabemos. Eu sei que se visse essa história num filme, iria achar que era exagero, iria achar que o autor do script exagerou para chamar a atenção e que não é um bom roteirista...mas, infelizmente aconteceu. Foi condenada à prisão perpétua. As pessoas mais humanas nem sequer podem proclamar que é demais pois ela é apenas uma criança. Quem pode acreditar que “uma criança” dessas pode andar solta por aí, ou ficar só um pouco na prisão e depois sair? Menos ainda o pessoal de Jefferson City, a cidade onde ela morava. Não, ninguém quer arriscar. Se fosse possível nós sabermos em que labirinto mental, social ou mesmo físico, esses monstros são criados e articulados, poderíamos ir lá e, com nossas armas de guerra, destruí-lo. Mas não sabemos, é algum lugar obscuro ou uma parte recôndita da mente, não sabemos. Algumas pessoas religiosas certamente acreditam que é coisa do demo, de satanás...Não quero acreditar nisso, meu bom senso e minha inteligência não me permitem...Mas a ideia fica lá, martelando no meu cérebro...

Wednesday, February 8, 2012

2060: O Novo Mundo de Herrera

2060: O Novo Mundo de Herrera
Lá vem o Herrera com mais uma das suas. Desta vez, segundo ele, não é uma história. Por enquanto, diz ele, é apenas “um palco” fictício, situado no futuro e imaginado por ele. É aí onde enredos inimagináveis vão se desenvolver. O ano é 2060. Em todos os setores do conhecimento humano, o avanço  é extraordinário. Genética, nanotecnologia, robótica e informática alcançaram níveis jamais sequer vislumbrados. Essas áreas do conhecimento já vinham crescendo exponencialmente no começo do milênio, mas entre os anos 2018 e 2022, experimentos sob o prisma da física quântica trouxeram à luz dados  e conhecimento  antes simplesmente impensáveis. Conhecimento é poder, e por volta dessa época, ele estava quase todo em posse das grandes empresas internacionais. Não foram muitos anos antes que elas simplesmente passassem a controlar tudo. Os governos foram assimilados. As características excepcionais das novas descobertas justificavam tudo e ficou muito mais fácil impor as regras.  Aliás, não havia outra opção, as grandes forças econômicas representadas pelas corporações já tinham o poder de fato, era apenas uma questão de formalizá-lo através do “corporation control” ou “CORPCON”. Ademais o conforto e a tranquilidade que as grandes companhias proporcionavam,  traziam muita confiança para a população, que, além de tudo, já estava cansada das traquinagens políticas. Embora o “governo” fosse um só para todo o globo, havia três grandes regiões administrativas: O grupo I, que congregava todas as Américas, o II que incluía Europa e África e o III que era composto da Ásia e Oceania. Aliás, esses nomes nem são mais usados. Agora, voltando para 2060, temos apenas “Sector I, Sector II e Sector III. Praticamente não há mais doenças. Órgãos humanos  são reproduzidos com facilidade e praticamente não há mais acidentes. Devido ao incrível avanço da genética, as crianças nascem quase perfeitas. O sistema sabe de tudo, sabe sempre onde você está. Quando você nasce, “nanochips” são impantados em seu corpo. Com isso a monitoração é total, para o bem e para o mal. Sempre sabem onde você está, mas por outro lado, sabem se você está bem, se você tem algum  problema de saúde. Igualmente, problemas de segurança você não tem mais, pois a criminalidade é zero. Tudo, absolutamente tudo, é gravado o tempo todo. Os satélites não existem mais. O que existe é uma incrível rede de estações orbitais contruídas com a ajuda do “elevador espacial” e que monitoram tudo. A precisão é extraordinária. Dentro e fora dos prédios e casas, tudo se sabe. Ah, as casas e os prédios, não dá nem para explicar...Nem sei se podemos ainda usar esses nomes. O grande conselho das empresas, o “Corporation Control”- CORPCON-  se reúne regularmente apenas para checar o andamento das coisas. Tudo já está programado, acertado...A língua Inglesa, definitivamente tomou conta de tudo...A essa altura, parece que temos uma boa visão de nossa querida Terra daqui a algumas décadas e eu, falo para o Herrera, “Então é isso, vamos ser governados pelas multinacionais?”  Ele me responde para ter calma, para não  ser simplista, ainda não terminou. E continua. Quando houve a implantação do sistema, do jeito que é agora, apesar das inúmeras vantagens que oferecia para todos, houve gente que não aceitou. Filósofos, naturalistas, liberais, livres pensadores, etc...O “Sistema” poderia obrigá-los mas optou por lhes dar uma chance. Eles poderiam se recolher para as “colônias” e lá viver do jeito que quisessem. Foi o que aconteceu. Não são muito grandes e há  pouco mais de cem, mas todos se referem a elas como “As Cem Colônias” e seus habitantes são os “prims” (de “primitives’)  Estão espalhadas em territórios fora dos três setores, por toda a terra. O mais significativo a respeito delas é que seus habitantes não têm os nano-implantes e assim não podem ser monitorados. Parte do acordo também foi que lhes forneceram “defletores” que supostamente impediam que as estações espaciais invadissem com suas câmeras potentíssimas as suas residências e tudo que havia lá. A vida dentro das colonias é  como se o tempo tivesse parado em 2030...
Finalmente, Herrera deu aquele sorriso enigmático. Diante da minha cara interrogativa, explicou. Aí é que estava toda a grande fonte de  suas histórias. O pessoal das colônias não podia adentrar o perímetro da nova civilização e vice-versa. Eles- o pessoal das 100 colônias - não têm identificação, não têm mapa genético, podem oferecer risco para o “novo ser humano” – os habitantes dos Setores I, II e III-  e além disso, eles também não têm proteção contra o modo de viver do novo mundo.  No entanto parece que o acordo não tinha sido muito honesto. Os agentes do CORPCON haviam implantado clandestinamente  vigias e sensores eletrônicos dentro das colônias, e pior que isso, secretamente planejam usar as mesmas para experiências sem que seus habitantes  saibam... Já pensou quantos enredos, quantas sequências de suspense e ação poderia se tirar deste “conflito”?  Herrera não falou nada, mas eu poderia jurar que ele, bem lá no fundo, estava já pensando até numa mini-série de televisão...

Saturday, February 4, 2012

Vostok, um lago no coração da terra






Vostok, um lago no coração da terra 
Os cientistas russos estão perfurando um túnel na Antártida, dentro do gelo, há duas décadas. Este túnel, de duas milhas, deve chegar até Vostok, um lago subglacial, que provavelmente não vê luz há mais de vinte milhões de anos. Estão quase lá. Não vão perfurar de vez, vão devagar, só um pouquinho, pode ser perigoso. Vão primeiro atingir uma área com pouca água para experimentar e depois...vão decidir como tudo vai ser feito. Pode haver contaminação. Pode haver uma “explosão”de gás, pois essa água tem alta concentração de oxigênio e nitrogênio. A comunidade especialista no assunto e os cientistas em geral estão excitadíssimos. Haverá lá algum tipo de vida? Que tipo? Que efeito sobre a água esses milhões de anos podem ter exercido? Que outros lagos estão conectados ao Vostok? Aparentemente há mais de 200 outros lagos profundos na Antártida, escondidos sob uma densa camada de gelo. Não sei como, eles podem até tirar conclusões sobre a nossa Lua, sobre a origem do planeta...Pois é, existe aquela necessidade do saber, a curiosidade sem limites do ser humano. Imediatamente vem a analogia. O que se esconde na profundidade de nossas almas? Nós também temos nosso Vostok? Quais são nossos segredos? Aqueles desconhecidos até mesmo por nós. Que tipo de vida há dentro de nossos espíritos? Haverá monstros ou haverá uma vida exuberante que pode brilhar na escuridão? Os psicólogos e psicanalistas 
acham que é bom ir até o fundo e resolver tudo. No entanto, outro dia ouvi num programa de rádio que uma corrente moderna de psicólogos acha melhor esquecer, ou tentar pelo menos, as coisas do passado, que se alojaram bem no fundo de nossas almas...A ideia é que assim liberamos espaço em nossas mentes para coisas  mais novas, mais saudáveis. Cabe a você mesmo a última palavra...Você quer penetrar no fundo de seu lago Vostok e saber tudo...ou prefere ficar sob o sol amigo, quente e cheio de vida da superfície? Quanto aos cientistas, eu sei...eles vão fundo, vão decifrar o lago, os lagos, suas águas, sua vida, tudo.. E depois vão atrás de outros lagos...Ao mesmo tempo em que outros estão desbravando o espaço exterior, o universo, as estrelas. É essa necessidade básica de nossa espécie. É o que nos fez avançar até hoje. É o que nos desenvolve, é o que nos lança no caminho do Infinito...Mas, como dizia o Vandré, “Mas com gente é diferente...” 

Wednesday, February 1, 2012

A Paixão de Jessica Anderson

A Paixão de Jessica Anderson
Seu nome era Jessica Cooper. Quero dizer, isto foi antes de se casar. Bonita que era, isto não foi difícil. E ainda mais, Jessica era graciosa, formosa, simpática e tinha até umas curvas sensuais, iguais àquelas que as brasileiras têm. O escolhido pelo destino para marido da linda mulher foi o Harry, Harry Anderson. Casamento bonito, cheio de gente, de alegria, sorrisos, fotos e tudo aquilo que esperamos de um casamento. A partir de então, por direito e por escolha, Jessica passou a se chamar Jessica Anderson. Tinha orgulho do nome, pelo nome em si e porque amava Harry. Harry era seu príncipe. Um  casamento lindo, coisa de cinema. Três meses se passaram e você não vai acreditar: o Harry, sem mais nem menos, de repente, um dia chega e fala que quer o divórcio. Não havia outra mulher, disse ele, apenas achava que não eram um para outro. Jessica não podia acreditar. Chorou, chorou e, humildemente, pediu para ele ficar, Pediu para ele não fazer aquilo. Foi humilde e não se revoltou. Bom, não teve jeito, ele não queria só separação, queria tudo no papel, divórcio de verdade. O mundo de Jessica caiu. Tristeza, choro. Na hora de assinar os papéis, então...Nem consigo escrever, dava dó da Jéssica. Em nenhum momento, no entanto, perdeu a compostura, não xingou, não amaldiçoou, não fez nada daquilo que uma mulher ferida em seus sentimentos costuma fazer e eu não preciso dizer aqui o que uma “fera ferida” pode fazer...Não só isso, conservou o nome de Jessica Anderson. No fundo ela tinha esperança de que ele se arrependesse e voltasse. Outros “príncipes” tentaram conquistar a nova "opção" no mercado do amor: Phillip, Charles, William e até outros que não tinham nomes de príncipes. 
Que nada, Jessica tinha paixão por Harry. Não queria saber de ninguém. No primeiro ano chorou muito. No segundo, um pouco menos. No terceiro não chorou mais, mas não se iludam, ainda queria Harry de volta e por isso não trocou seu sobrenome. Seus pais aconselharam e até suas amigas. Seria bom para sua cabeça - trocar o sobrenome – ajudaria a esquecer...Mas quem disse que Jessica queria esquecer? Continuou esperando e mais anos se passaram. Para ser preciso, sete anos se passaram. Talvez porque sete seja um número bíblico, ou talvez porque seja muito tempo, não sei por quê, um dia Jessica resolveu voltar a seu nome antigo. Agora era Jessica Cooper de novo. As colegas de trabalho elogiaram sua atitude. Isso sim. Agora era só esperar um novo príncipe.  Afinal, sete anos se passaram. Mas sabe de uma coisa? Ela ficou ainda mais bonita. Juntou a sua formosura um certo ar de “mulher adulta”que deixava qualquer homem louco. Aliás, não foi por falta de homem que ela não se casou. Apareciam jovens e também não tão jovens, de todos os lados. Quem não queria uma mulher como Jessica? Mistérios da vida, mistérios do destino. Mais sete anos se passaram e Jessica, Jessica Cooper, continua solteira, bonita e...eu desconfio...ainda amando Harry. Vá se entender o coração humano!