Saturday, January 31, 2015

Dilúvio de Vento

Dilúvio de Vento



Alguns dizem que foi maldição, outros que foi castigo, e uns poucos que foi simplesmente um fenômeno da natureza.  O fato é que aconteceu. A pequena cidade se espalhava por uma grande planície, era praticamente um conjunto de propriedades rurais  com um pequeno centro. A praça e os pequenos estabelecimentos que vendiam material para pessoas que vivem no campo era o ponto de encontro.
Um dia, era primavera, uma brisa suave e gostosa começou a soprar. Durou umas duas semanas e todos comentavam que aquilo era bom, podia ficar assim para sempre. Mas não ficou, a brisa virou vento. E era daqueles que arrancam chapéu. Não era trágico, mas começava a atrapalhar. As coisas não paravam em pé. Os comerciantes precisavam tirar o que deixavam na frente das lojas, pois a corrente de ar levava tudo. As pessoas começaram a se recolher dentro das casas e só sair em caso de necessidade. Dia e noite aquele som sibilante, quase assustador.
E foi aumentando, aumentando. Não se viam quase pessoas nas ruas. Quem tinha de guiar, precisava ter muito cuidado para corrigir a trajetória do carro, que era afastado por aquele sopro fortíssimo.  E foi aumentando, aumentando.
A essa altura, já estava havendo problemas de suprimentos. Como a maioria eram pequenos fazendeiros e tinham quase tudo em suas próprias casas, conseguiam ir levando.
Os pequenos animais já tinham sido levados. As aves foram as primeiras. Os maiores  procuravam não sair dos celeiros, onde haviam se refugiado. O barulho tornou-se, então, terrível, além de ser acompanhado de estrondos de objetos, grandes e pequenos, que estavam sendo levados. Embora poucas pessoas soubessem, pois ninguém saía, vários  humanos já haviam sido levados pelo ar em movimento.
As construções mais fracas estavam sendo destruídas e, com elas, seus ocupantes. Chegou a vez das casas maiores e dos celeiros. Aos poucos iam sumindo: primeiro o telhado, depois tudo que havia dentro, incluindo seus habitantes. Eram sugados e levados pela incrível força eólica. Pouca  coisa restava. Finalmente, as últimas três construções foram destruídas. A paisagem era um campo vazio, sem plantas, sem nada. Só uma pequena relva, cá e lá, restou.
O vento, então, parou. Quarenta dias haviam se passado. Tinha sido uma espécie de dilúvio de ar.
Desta vez, porém, não havia nem Noé, nem a Arca, só um imenso vazio,que se espalhava até onde alcançava a vista.


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Estranhas Histórias
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Friday, January 30, 2015

O quebra-cabeça do amor


O quebra-cabeça do amor

Um sorriso de cumplicidade, que só você conhece. Um piscar de olhos, quase imperceptível, que só você consegue ver. Palavras com metáforas ocultas que só vocês dois entendem. Uma frase que significa muito mais do que aparentemente quer dizer. Um olhar, aquele olhar, que só você sabe olhar com olhos de quem ama. Um gesto que ninguém viu. Um jeito de mexer nos cabelos que pode ter muitos significados. Uma pausa no falar, que diz tudo. Um mexer dos lábios que é um código secreto. Uma sombra no rosto mostrando uma preocupação que só você entende. Um não que quer dizer sim e um sim que significa não.

Isso tudo e mais mil outras coisas que só os dois sabem. Coisas que, juntas, fazem parte de um sutil, enorme, maravilhoso e misterioso quebra-cabeça. O quebra-cabeça do amor.

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A crônica acima não faz parte do livro abaixo

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Thursday, January 29, 2015

A vaca e os nhe-nhe-nhens



A vaca e os nhe-nhe-nhens

Uma leitora sugeriu em um comentário sobre a crônica “Vamos fazer uma vaquinha” que eu falasse sobre a expressão “a vaca foi para o brejo”. Eu já tinha lido sobre o assunto mas fui pesquisar de novo, pois com o tempo e a idade, a gente costuma misturar as coisas. Na verdade, a explicação sobre a origem da expressão é bem simples. Antigamente, na época das secas, o gado, desesperado, procurava por água nos brejos ou em lugares pantanosos. Pesados animais que são, muitos acabavam ficando presos nos lamaçais. Os criadores tentavam socorrer as vítimas, mas nem sempre conseguiam. Por isso quando dizemos que “a vaca foi para o brejo”, queremos significar que a situação ficou difícil, praticamente impossível de se resolver.

Coitada da vaca. Ela não teve muita sorte na nossa história linguística. A outra expressão “vaca de presépio”, também é negativa, atribuída a pessoas que não têm vontade própria, que só fazem o que os outros mandam, como as estatuetas do presépio. E quando chamam uma dama de “vaca”, então? É uma grosseria, cujo significado nem preciso explicar. A vaquinha é um animal tão simpático, que eu quero fazer um protesto com a escolha que o povo faz ao usar o nome de tão agradável ruminante para expressões tão cruéis. Se eu pudesse, criaria uma metáfora bem bonita para ela. Mas chega de nhe-nhe-nhem, que nós não temos tempo para isso, nem as vacas também. Por falar no assunto, essa palavra, nhe-nhe-nhem, vem da língua Tupi, da palavra “nheeng” que significa falar. Os índios se referiam aos portugueses que ficavam falando, falando, coisas sem sentido, pelo menos para eles. Nesse caso eu acho justo. Os índios tinham direito de menosprezar aqueles invasores. Mas as vaquinhas, coitadas, não têm nenhuma culpa no cartório. Aliás, “culpa no cartório” não tem nada a ver com os cartórios de hoje em dia. Ela refere-se aos “cartórios” da época da Inquisição, mas como disse, por hoje chega de nhe-nhe-nhem.

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Obs.: A crônica acima não pertence a este livro:

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Wednesday, January 28, 2015

O velho diabo: Anhanguera



O velho diabo


Conta a história que Bartolomeu Bueno da Silva, o grande bandeirante, andava à procura de ouro pelas terras paulistas. Pediu ajuda aos índios em sua empreitada, mas eles não queriam, como se costuma dizer, “entregar o ouro”. O manhoso aventureiro derramou um pouco de aguardente num recipiente e colocou fogo. Disse, então, que ele incendiaria os rios, se eles não lhe dessem a informação. Diante de tal ameaça de destruição, eles cederam e deram-lhe o apelido de Anhanguera, que significa “diabo velho” ((anhang + puera). Cada época tem seus demônios lançando ameaças contra os mais fracos. Nós também temos os nossos e até sabemos quem eles são. Só não sabemos qual é nossa aguardente e qual é nosso fogo. Quando descobrirmos sua artimanha, já terão tirado nosso “ouro” também. E, talvez, nossos descendentes igualmente os homenageiem, dando seus nomes a bonitos locais. Como nós fizemos com nosso antepassado Anhanguera. Por que nós veneramos nossos algozes? Não sei, não sei...

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Tuesday, January 27, 2015

A grande libélula



A grande libélula

Curumim estava olhando para o céu, procurando aves. Os grandes tinham saído para caçar na floresta. Ele gostaria de ter ido, mas era muito pequeno. Curumim gostava das aves do céu, do azul do céu, da imensidão do céu. Amava o verde da floresta, o barulho das águas correndo entre as pedras.
Naquele dia seu coraçãozinho de índio estava inquieto. Quando alguma coisa importante estava para acontecer sua alma ficava assim mesmo: tremendo, tremendo. Será que os deuses da floresta estão zangados, ele pensava. Não demorou muito para ele entender a razão de tudo. O som de muitos trovões, assustadores, sinistros, sobrepondo-se uns aos outros como se fosse o tambor de muitas tribos numa guerra imensa. Aquele barulho denso, grave, confundia-se com o som agudo dos pássaros que fugiam daquele enorme ser. Não havia nenhum adulto perto dele, por isso ele correu e se escondeu atrás de algumas árvores. Foi então que ele viu. Uma enorme libélula, de asas enormes, que tremiam sem parar, foi se aproximando do chão. O movimento incessante fazia as folhas das árvores e os pequenos arbustos se agitarem freneticamente. O seu gigantesco ventre, de repente, se abriu. Um ovo grande, do tamanho de um dos mais valentes guerreiros da tribo, de lá saiu. Sumiu na floresta e o grande inseto novamente subiu. Um som estrondoso. Aos poucos foi sumindo na imensidão de anil. Agora, apenas mais um pássaro no céu. Curumim sabia que, em breve, uma grande libélula iria nascer. Mas ele nunca mais as viu: nem a mãe nem o filho que do ovo nasceu.
Curumim cresceu e guardou aquilo na memória. Saiu da tribo e foi morar com os homens brancos que estavam invadindo tudo. Construindo malocas enormes de concreto no lugar das casas dos valentes guerreiros. Muitas vezes ele viu helicópteros novamente, mais bonitos e maiores, mas para ele, aquele primeiro foi sempre uma impressionante libélula.

O ovo que de lá saiu, ele nunca soube, era um pesquisador chamado Miguel...

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Sunday, January 25, 2015

Tchaikovsky em Perus, São Paulo

Tchaikovsky em Perus, São Paulo



Quando você fica um certo tempo longe de sua terra, as imagens, os aromas, as visões e as lembranças ficam ainda mais fortes. Por isso é que, às vezes, me lembro do vilarejo onde passei minha infância e dos fatos que lá ocorreram, com especial intensidade. Perus, norte da Grande São Paulo, não era, como agora, um aglomerado de casas e comércio que às vezes se assemelha a secções  de uma grande cidade da Índia. Ao contrário, era então, uma paisagem quase bucólica. A estrada de ferro, antes chamada de Santos a Jundiaí, ainda corta o local bem no meio e tem, como acompanhante, um rio que vai serpenteando a seu lado e, no caminho, acaba dividindo a praça principal bem no meio. O rio e a estrada formam, assim, uma espécie de vale cercado de elevações, ou morros, como dizíamos. Na minha infância ainda era tudo muito espalhado, não havia tantas casas e elas estavam como que semeadas pelas elevações, enquanto o comércio, os bancos, o cinema e tudo mais, estavam no Centro, em volta à praça. De um dos  lados da mesma, saía uma rua, na verdade uma rampa íngreme, que chamávamos de Morro do Cartório, e que levava a algumas habitações mais para cima , inclusive a casa onde eu morava. O cartório – o Tabelionato Farias – ficava bem no meio desta rua, que subia, subia e continuava subindo. Ao pé da mesma, estava a igreja católica, cuja padroeira era a Santa Rosa de Lima. E antes de continuar a andar pela “cidade”, quero parar um pouco por aí. Era uma igreja como outra qualquer, branca, com uma torre, etc. Sei que mudou, desde então.
Toda tarde, às seis, algo muito especial acontecia. Nessa época, a esta altura do dia, as pessoas estavam começando a encerrar as atividades, fechar o comércio, ir de volta para casa. Então, com uma pompa e força inusitadas para todos, soava o “Concerto no. 1 para Piano e Orquestra de Tchaikovsky”. O som saía das torres da pequena igreja e ecoava pelas montanhas, pelas ruas, entrava nas casas, ia, ia, para além das fronteiras do nosso bairro. Era vibrante, imponente, poderoso, sensacional. Enchia os ouvidos, o ar e a alma. Se você não conhece esta peça, está intimado a ouvi-la. É incompreensível que um ser humano passe a vida sem tê-la ouvido pelo menos uma vez. É uma peça musical grandiosa, não sei onde o compositor arrumou tanta inspiração...
Depois de algum tempo, o som ia diminuindo, sem desaparecer, no entanto. Entrava então  a voz de um locutor, altivo, pomposo: “Ao som deste prefixo musical, vai ao ar o Serviço de Alto-Falantes da Paróquia da Santa Rosa de Lima de Perus”. Não podia haver nada mais solene do que isto. Naquele momento, Perus e sua paróquia eram mais importantes que o Vaticano, que Roma, que Aparecida do Norte, Brasília ou Rio de Janeiro. Éramos insuperáveis. Tudo parava por alguns segundos, pelo menos na minha imaginação. Nem sei o que o locutor falava depois. Talvez banalidades, anúncios locais... Não importa. Naquela hora era Tchaikovsky, e  Tchaikovsky  era o papa. Ele nos aproximava de Deus, mais do que qualquer sermão, livro, exortação. Era um momento simplesmente lindo, majestoso...
O locutor era meu irmão, o Bonifácio. Ele faleceu há alguns anos atrás e entre as inúmeras coisas boas e bonitas de que me recordo a seu respeito, essa foi a mais apropriada que achei para homenageá-lo.

Como dizem meus filhos, “era a sua cara”...



Saturday, January 24, 2015

São Paulo, meu amor


São Paulo, meu amor

Tenho saudades da minha cidade. Eu sei que dizem que ela é violenta, perigosa. Falam tanto dela. Falam que todo mundo é apressado, que as pessoas não têm tempo para nada. Mentira. À noite as pessoas se reúnem, cantam e contam histórias. Quem quer, sempre tem um amigo e quem não quer, pode ficar sozinho. Não há prazo de adaptação, não há carência. Assim que você chega, você pertence. Todo mundo pertence. E há de tudo. Há pecados e lugares para se pecar. Há perdão para poder se pecar. É boa de se cantar, é boa para se poetar. Caetano falou que é o avesso do avesso do avesso...e daí eu paro no avesso que quiser, no avesso que melhor me servir. O Tom Zé canta que nos amamos com todo ódio e que nos odiamos com todo amor. E Billy Blanco diz que as portas de aço levantam, todos parecem correr, não correm de, correm para...Para onde, não sei? Sei sim, quero correr para lá. Ela tem de tudo, de todas formas, todo o tempo. Ela é adulta, ela é criança, ela é adolescente também. Às vezes ela adoece mas está sempre a se curar. Há Consolação, há Socorro, há Liberdade e até uma Casa Verde para não se perder a esperança. À noite, então, nem posso falar. Há gente nos teatros encenando cenas que saciam os cultos e há cinemas ocultos que saciam a vontade de sexo dos incultos. Há cultos sinceros mas há os vilões do templo também. Há cultos e  pastores da noite de quem não quero falar. Há tantas coisas na cidade, em cada canto, em cada esquina. Há dor, muita dor, mas tanta alegria vem junto que às vezes nem sei qual é qual. E os sonhos, então? 

Tantos sonhos...Tantos segredos, tantas histórias que todos sabem e ninguém quer contar. Há também contos  de fada, milagres que acontecem, outros que se compram, alguns que se vendem. Há gente de todo lugar, há lugar para todos e em algum lugar sempre algo está para acontecer. Há segredos que não se podem contar. E há contos que não são mais segredos. E há lendas, lendas e mitos. Quase todos são verdade, mas ninguém precisa saber. Falam tantas coisas de você...Eu escuto todas e só presto atenção nas que quero. Sinto muito sua falta. Não há cidade igual.  Tenho muitas saudades de você, São Paulo, meu amor... 

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Wednesday, January 21, 2015

Cinzas, cinzas…

Cinzas, cinzas…        
Comerás o pão com o suor do teu rosto,
até que voltes à terra de onde foste tirado;
porque tu és pó e ao pó voltarás.»
(Gênesis 3: 19)
  

Como todos por aqui, quase todo dia recebo um número grande de propaganda pelo correio. Ofertas espetaculares que, se fossem 1% verdadeiras, teriam feito de minha vida um paraíso. Há alguns dias atrás, no entanto, uma delas me chamou a atenção. Neptune Society. O que você pode pensar? Lá estava o logotipo, bem feito, bonito, elegante. Antes de abrir  o envelope, muitas coisas passaram pela minha mente. Como vocês sabem, Netuno além de ser um planeta do nosso sistema solar, era também o deus dos oceanos na época dos romanos. Pensei então que fosse talvez uma sociedade que estaria protegendo as águas do mar da poluição e, claro, arrecadando fundos para isso. Talvez um fundo de investimentos prometendo lucros que cobririam o fundo do oceano, ou alcançando resultados que chegariam até o planeta distante? Poderia ser simplesmente alguém vendendo aquários ou peixinhos coloridos. Bom, resolvi parar com as especulações e abri o envelope. Que surpresa, nada disso. Um crematório fazendo propaganda. Que dureza, pensei, antes de ler a mensagem. Se eu fosse da área de marketing, a última firma que eu procuraria seria um crematório. Que tipo de apelo eu poderia fazer para o consumidor? Que nosso sistema produzia cinzas mais brancas do que as outras? Ou que elas eram mais leves e voavam melhor na hora da dispersão? 
Talvez cinzas perfumadas? Não, acho que não... Depois dessas especulações iniciais resolvi ler a mensagem. Estavam oferecendo o sorteio de uma cremação  “grátis” se você aderisse ao plano de pré-pagamento da mesma. Simples, como outro produto qualquer. Muitas firmas fazem sorteios para atrair clientes. Mas então, por que eu pagaria antecipadamente pela minha cremação, se até as contas já vencidas não estou conseguindo pagar? Mesmo que estivesse com as contas em dia, se eu entrasse no plano, ainda assim estaria diante de um dilema terrível. Se você já pagou, você quer receber seu produto o mais rápido possível. Mas, espera aí, daí tenho que morrer já, já. Não acho que seja uma boa ideia. Vamos então para a outra hipótese, ter a sorte de viver mais uns 15 longos anos ou, se mais sortudo, durar mais uns 30, ou por um milagre, muito mais do que 30? Daí, além de não ser vantagem, existe a hipótese de a firma fechar e, sem querer ser “infame”,  meu dinheiro virar “cinzas". Como estava dizendo, não é fácil fazer 
marketing para uma firma de cremação. Talvez a oferta de uma urna, linda, decorada? Parece meio macabro. Mas eu entendo, eles também precisam, faturar, viver... Pois, é claro, eles também têm família, filhos para sustentar e sonhos como todos... E ninguém quer que seus sonhos – desculpem o trocadilho, de novo – virem cinzas…


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Estranhas Histórias
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Tuesday, January 20, 2015

Fujão



Fujão

Ele sempre foi assim. Ainda criança, fugiu de casa. Adolescente, fugiu, de novo. Fugiu do casamento com a mulher amada uma vez. Outra vez fugiu de um casamento bom, embora não perfeito.
Sempre fugindo de tudo. Das responsabilidades, das oportunidades, do inevitável e do improvável. Fugia também do destino, da vida, do desconhecido.
Um fujão.

Finalmente, um dia, fugiu de si mesmo.

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Monday, January 19, 2015

Feriados americanos: vender é preciso


Feriados americanos: vender é preciso

Os negócios não podem parar. As festas de final de ano estão acabando e os americanos já estão preparando as vendas para o Valentine’s Day. Nada de intervalo, todo mundo precisa comprar, mesmo sem amar. E depois vem um vazio enorme? Nada disso, temos os coelhinhos da Páscoa. Ovos de chocolate e tudo mais. Camisetas, roupas adequadas, produtos para crianças, as vendas precisam continuar. Nem mesmo passou a Páscoa e todos se tornam patrióticos, porque 4 de julho está chegando. Tanta coisa para vender: bandeiras, fogos de artifício, símbolos patrióticos, tudo em quantidade e a módicos custos. Cuidado para não comprar bandeira feita na China, é um absurdo, afinal é um feriado nacional. Quase ia me esquecendo do Halloween! Que susto, que medo! Quanta venda seria perdida! E agora, vamos pensar num dos feriados mais importantes: o Dia Nacional de Ação de Graças. Não, sem antes passar, com vendas relativamente mais modestas, pelo dia do Trabalho, Colombo e dos Veteranos. Muita festa, muita comida. Até os pobres e sem teto podem comer! E então, de novo, Natal e Ano Novo, para tudo começar de novo. Vender é preciso. E o dia das crianças? Parece que por aqui não há. Ou talvez todo dia seja dia de comprar presentes para crianças. Precisamos vender, vender...
No Brasil, parece que estão imitando alguns feriados daqui, Já ouvi falar do Halloween e do Valentine’s Day. Não é um amor? Será que vão substituir? Qual feriado nosso vai cair fora? O dia dos namorados? Se conheço bem meu país, vai ser tudo em acréscimo. E um dia, então, felicidade total. Todos os dias vão ser feriados!



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Paralelo 38 e outras histórias
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Sunday, January 18, 2015

Vamos fazer uma vaquinha?



Vamos fazer uma vaquinha?

Nós usamos certas expressões e geralmente nem nos perguntamos o porquê das mesmas. Fazer uma vaquinha? O que juntar dinheiro entre amigos para conseguir um objetivo tem a ver com o tão apreciado ruminante? A coitada já aparece em outra expressão, não muito lisonjeira, que é “vaquinha de presépio” e aqui ela está de novo a inspirar a nossa língua pátria.
Para entender esse mistério, temos de voltar ao ano de 1920. Na época o futebol não era aquela fonte inesgotável de dinheiro que é hoje, mas os torcedores já eram fanáticos e queriam incentivar o time. Para um empate suado, mas precioso, davam 5 mil réis de prêmio aos jogadores. Para uma vitória simples, sem grandes shows, eles recebiam 10 mil réis.  Para vitórias espetaculares, históricas, ou que valiam uma taça, arrecadavam 25 mil réis. E é aí que o nosso querido mamífero aparece. Em nosso passado recente, os números sempre se relacionaram com o jogo do bicho. Daí, 5 para o cachorro, 10 para o coelho e, finalmente, 25 para a vaquinha. Como a grana era difícil já naquela época, os fãs do clube - dizem que foi o Vasco que começou – precisavam juntar um pouco de cada um para “fazer uma vaca” e pagar o prêmio. Ou seja, “faziam uma vaquinha”, juntando vinte e cinco mil réis.
Há uma explicação para tudo. Ou quase tudo.

*Mais tarde, as palavras “vaca ou “vaquinha” serviram para designar a nota de cem cruzeiros.

Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br / José Pereira da Silva, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

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Saturday, January 17, 2015

Hendrix vai para o laboratório



Hendrix vai para o laboratório

Hendrix estava na fila já há algum tempo. Para isso ele não ligava. O que o preocupava era o porquê daquilo tudo. Metódico que era, não gostou nada quando o afastaram de seus afazeres diários para ficar ali, esperando. Os outros pareciam não ligar muito. Pelo contrário, pareciam estar dormindo ou inconscientes. Nem mesmo quando o chão rolante se movia um pouco, eles mostravam qualquer reação.
Duas horas, doze minutos e trinta e oito segundos. Essa era a quantidade de tempo que já havia perdido. Sabia que seu cérebro não estava no máximo de sua capacidade e seu corpo estava indolente naquele momento. Mas não tinha sido por causa disso que eles o separaram. Só começou a sentir essas coisas depois que estava naquela esteira, esperando. Apesar de sua lentidão mental, agora podia reconhecer o ambiente em que estava. Aquele espaço foi o primeiro do qual teve consciência quando veio a este mundo. Tinha certeza. Aquilo não era uma coisa que se esquecesse. A sensação tinha sido esplêndida e tinha ficado para sempre em sua mente. Mais do que o lugar, era a sensação de estar vivo. Mais ainda, a sensação de saber que estava vivo. Ao mesmo tempo em que isso lhe trouxe boas memórias, trouxe consigo também, algumas preocupações. Por quê? Por que todos eles ali, reunidos, esperando? Ele sabia que os outros eram muito parecidos com ele. A única diferença era que ele estava “acordado”.
Na verdade, a fila tinha andado uma distância razoável. Ele sabia que a sua ansiedade é que lhe dava a impressão de demora demasiada. O ambiente era enorme e ele tinha acabado de parar em frente a uma placa que dizia “Recuperação”. Teria ele sido vítima de um acidente e nem tinha percebido? Mas e os outros? Todos eles, acidentados? Algo ali não estava certo, não estava bem. Desfilou em sua mente, todos os significados da palavra “recuperação”. Depois raciocinou que o que estava pensando era irrelevante. O pessoal da administração era todo cheio de eufemismos. Sempre davam nomes bonitos para coisas terríveis. Neste momento teve um calafrio. Mas não foi por causa de sua linha de pensamento, não. Ele tinha conseguido ouvir um diálogo, à distância. Seus ouvidos eram apuradíssimos, apesar de seu estado mental.
-O Hendrix?
-Qual o problema?
-Alguém esqueceu de desligar!
-Não se pode confiar em ninguém. Mais alguém na mesma situação?
-Não que eu saiba. Você cuida disso?
-Sem problemas.
Hendrix era extremamente inteligente e, por isso, imediatamente percebeu o que estava acontecendo. E isso, apesar de seu cansaço mental. Aliás, ele agora entendia isso também. Não era cansaço. Parte de seu sistema estava desligado. Os outros haviam sido desconectados completamente e ele, apenas parcialmente. Isto explicava o inquietante diálogo. Juntou esse raciocínio com outros, incluindo a placa “Recuperação” e entendeu tudo. Todos eles estavam sendo colocados fora de atividade. A pergunta era: para sempre ou temporariamente? Impossível. Eles eram a última geração de robôs, a estrutura principal feita de alumínio extra especial e de titânio. O que poderia haver de errado com eles? Foi a última coisa que ele pensou. As últimas palavras que ouviu do sistema automático foram: “Hendrix 2765, série B”, iniciar reciclagem.
Os dois encarregados, como se estivessem corroborando as ideias de Hendrix, falavam:
-Conseguiu desligar o Hendrix?
-Não deu tempo. O coitado foi para a reciclagem assim mesmo.
-É, eu sei. Esses robôs pensam, sabem o que está acontecendo. Não é como antigamente.
-Aliás, você sabe por que estão encerrando este projeto, que foi tão elogiado?
-A conversa que eu ouvi foi que os dirigentes ficaram com medo depois de alguns incidentes. Perceberam que a série do Hendrix era inteligente demais e, principalmente, sensível demais. Até mais que muitos humanos.
-Entendo.
E o diálogo, então, foi encoberto pela voz do sistema que anunciava:

- Hendrix 2765, recuperação encerrada. Material sendo devolvido para secção 312 para exame.

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Friday, January 16, 2015

Rodar a baiana



Rodar a baiana

Quase todo mundo sabe – ou ainda sabe – o que significa “rodar a baiana”. Quando uma pessoa ameaça alguém de rodar a baiana, é necessário cuidado, principalmente se esse alguém não gosta de escândalo. Em outras palavras, “rodar a baiana” é “armar um barraco”, fazer confusão. Aparentemente, os falantes brasileiros estão usando o verbo “causar” - quando intransitivo - em sentido semelhante: “Ele causou”. Divagações à arte, o que a baiana tem a ver com isso? Boa pergunta, pois a expressão vem do Rio de Janeiro e não da Bahia. Segundo Lívia Lombardo, em seu livro “Aventuras na História”, da Editora Abril, tudo começou no início do século 20. Os “engraçadinhos” já existiam nessa época e eles se divertiam beliscando as nádegas das incautas moças que desfilavam nos blocos de Carnaval. Os cariocas arrumaram um jeito de resolver o problema. Alguns capoeiristas se camuflavam de “baianas” - saia rodada e turbante na cabeça - e misturavam-se no bloco. Quando, alguém vinha beliscar, coitado! Levava o maior golpe de capoeira. Os assistentes não entendiam o que estava acontecendo quando viam aquelas baianas rodando no ar. Algum incauto tinha tentado beliscar uma delas e acabava levando um golpe certeiro. E assim nasceu a expressão. Alguém podia aproveitar a ideia para os transportes coletivos de hoje em dia.

Não sei, porém, qual seria a fantasia.

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