Sunday, March 31, 2013

O Formigão: “The book is on the table.”



O Formigão: “The book is on the table.”

“Você precisa
Aprender inglês
Precisa aprender
O que eu sei
E o que eu
Não sei mais”
(Caetano Veloso: Baby)



“The book is on the table”. Esta talvez seja a frase mais usada na primeira lição dos livros de ensino de Inglês de todas as épocas e certamente era a mais usada na minha época. Por motivos que eu não ouso explicar, o único professor do seminário, que não era padre, era o de Inglês. Se você um dia precisar de um símbolo ou imagem de “professor tradicional” – de antigamente, é claro -  pode contar com o “Formigão”: não dá para ser melhor. Ele não era excessivamente gordo mas tinha uma barriga muito grande. Vinha duas vezes por semana da “cidade” para o seminário para dar suas aulas de Inglês. Sempre no mesmo estilo, sempre do mesmo jeito, anos a fio. Nunca ninguém perguntava nada, ninguém ousava. Uma pergunta certamente alteraria o curso inabalável e absolutamente estático das aulas. Uma perguntinha só, alteraria o equilíbrio do Universo. Acho que o Formigão não era um mau sujeito, mesmo porque ele era praticamente o único contacto que tínhamos com o mundo exterior. O Formigão entrava, falava as frases que tinha de falar, juntava seu material e ia embora. Como uma aula pela Internet do passado. Não se emocionava, não alterava a a voz, não ria. Mentira minha, eu acho que ele tinha um sorriso quase imperceptível no canto dos lábios. Ou, talvez, eu queria que ele tivesse...

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Saturday, March 30, 2013

Apenas uma ponte


Apenas uma ponte

Os paralelepípedos da ladeira que levavam até minha casa não existiam mais. Agora era um asfalto duro, seco e cinza. Tentava trazer de volta  a paisagem de 27 anos atrás mas não conseguia. Talvez na praça? Pelo contrário. Agressivos bancos de cimento com propaganda  substituíam os de madeira, com pés de ferro fundido. As memórias da infância não estavam mais lá, nem as frondosas árvores, nem a  “venda” do “seu” Antônio ou a lojinha do Turco. Procurei mais. Queria ver o passado, mas não conseguia.


Olhei então para a ponte de cimento e as duas muretas de tijolos  que a protegiam. Águas lentas e  sujas deslizavam por baixo dela. Sacos plásticos jogados nas duas margens. A cena provocou revolta dentro de mim. Como uma antítese, pude ver, de repente, as imagens distantes, do meu tempo de garoto. O riozinho, cristalino, ia  veloz  sob a ponte de itaúba. Sem muretas, sentava-me na beirada. Meu pai dizia  que aquelas águas iam para muito longe, caíam em outro rio e  depois se lançavam no mar. Eu me maravilhava. Quer dizer, que eu podia, com um barquinho, ir da minha cidadezinha até o longínquo mar? Num barquinho, eu poderia viajar para longe, com  tudo que queria...? A ponte, então, seria como um porto, o porto seguro de minha imaginação, de meus desejos...

Tuesday, March 26, 2013

A cidade grande


A cidade grande

O Duda estava assustado. Pensando bem, não sei se essa ideia de vir para São Paulo, a cidade grande, era mesmo uma boa. Ele tinha terminado o segundo grau e o pai falou o que tinha de falar. Ou faz faculdade ou vai trabalhar. Coisa de estudar não era com ele não. Veio capengando desde o primeiro ano primário, aquilo era uma tortura só. Qualquer outra coisa estava bem. Negociar, trabalhar duro, organizar...Mas ficar ali, enfiado em livros, aquilo era um suplício.
Deu uma de macho  e disse que era capaz de se virar sozinho, trabalhar e montar negócio, crescer e ganhar mais do que qualquer doutor. Não tinha medo de enfrentar a vida. E a cidadezinha onde viviam era muito pequena para tudo o que ele queria fazer. São Paulo, sim. Isso era coisa de homem de negócios, coisa de gente grande. O pai ainda tentou, pelo menos, arrumar uns contatos em São Paulo, lugar para ficar, pelo menos até ele se estabilizar. O Duda, entretanto, falou que não era preciso, sabia se virar.
Desceu na rodoviária, pegou um táxi e foi para um hotel. Só depois ficou sabendo, estava bem no meio da “boca”. Foi uma noite de cão. Não conseguiu dormir. Não pensem que o Duda fosse cheio de histórias. Não. Estava acostumado a um monte de coisas difíceis, dureza. Já dormira no mato inúmeras vezes, caçando ou acampando. O negócio ali era diferente, Não era só a feiúra, o jeito das coisas. Ali tinha coisa ruim, era coisa de espírito. Ele sabia, podia sentir.
No dia seguinte saiu de manhã, começou a andar pelas ruas, procurar. Tentou pedir emprego em dois ou três lugares, sem sucesso. As coisas que ele sabia fazer não eram as coisas que as firmas queriam que ele fizesse. Bateu uma depressão no coitado, uma coisa que ele nunca tinha sentido antes. Além disso bateu uma solidão em seu peito, algo que ele nem suspeitava que pudesse existir. De repente deu uma saudade de todo mundo lá do interior, até de quem ele não gostava.



Aguentou mais dois dias, mas foi só para disfarçar. Por ele teria voltado no minuto em que chegou. Precisava de uma desculpa, agora ele tinha. Não havia emprego, a coisa estava difícil. Quando chegou de volta, ninguém ousou comentar nada. Todo mundo apoiou, todo mundo ficou feliz.
O Duda viu a cidade pelo ângulo errado. Tinha tanta coisa bonita para ele ver, tanto emprego que ele podia ter, tanta gente bacana para ele conhecer. Ficou assustado antes da hora. Até lá na zona, se ele olhasse com cuidado, com bastante jeito, ele podia ver alguma coisa boa, alguma perspectiva interessante, sempre existe alguma coisa...
Eu contei essa história só para dizer que isso às vezes acontece na vida. Há gente que passa a vida inteira sem conseguir ver o lado certo, a parte cheia de luz.  Há gente que não consegue ouvir a música que está escondida nos ruídos, o sussurro suave que há no meio dos gritos, o poema que está escrito em códigos, por trás da notícia sangrenta do jornal. E, daí, ficam sempre rodando, rodando...

Sunday, March 24, 2013

A atriz que deveras sente


A atriz que deveras sente

Lá vai a bela atriz para o palco, sentir o que não podemos sentir. Sente por nós, fala por nós, chora por nós. Quase uma oração, “ora pro nobis”. Tudo aquilo que sentimos e não sabemos falar. Tudo que falamos mesmo sem sentir. E, como disse  o grande poeta, finge sentir o que deveras sente. Por nós e por ela mesmo. Sente, sentida e com sinceridade, a nossa insensibilidade.
Nossas tragédias, nosso ridículo de todos os dias, e o eterno ridículo de nossas vidas, tudo ela mostra em seu encenar, que é puro sentir. Para que não precisemos rir de nós mesmos, ri por nós. Para que não precisemos chorar por nós mesmos, chora por nós. Daí nos emocionamos e choramos e rimos com ela. Tudo isso sem saber que estamos rindo o nosso próprio riso, chorando o nosso próprio choro. E ela faz tudo isso com propriedade, com seriedade, e com uma graça que só ela pode exibir.
Ainda bem que existe a atriz. Assim posso me ver chorando e rindo, posso ver meu pranto, meu drama, e meu ridículo no palco, e fingir que tudo aquilo é com ela, a atriz, e não comigo, apenas espectador desse mundo, que é só dor, dor sem fim. Assim posso ser feliz. Obrigado, minha querida atriz, por você existir!


(homenagem simples para todos os atores e atrizes, e especialmente para minha nora, mais filha que nora, a Mirella)












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À procura de Lucas  (Flávio Cruz)

Saturday, March 23, 2013

A mensagem perdida: o Fator “Alien”


A mensagem perdida: o Fator “Alien”


O projeto Morfeus já estava em andamento há mais de duas décadas. Baseado nas descobertas, feitas no final do século 21, de algumas novas propriedades das subartículas e em outros avanços da Física Quântica, seu objetivo era receber mensagens extraterrestres. Era uma gigantesca plataforma com equipamentos sofisticadíssimos e que orbitava o sol. Já tinha recebido mensagens matemáticas cujo significado básico era possível de se captar. Entretanto vinham de culturas tão diferentes da nossa que era difícil penetrar-se mais profundamente no seu significado. Além disso vinham de planetas que estavam a  uma distância tão absurda que nos próximos milênios não haveria possibilidade de contato por mais que a tecnologia avançasse.
Naquele dia, porém, Tito, que estava de plantão na sede do projeto na Terra, notou algo diferente. Ele atendeu o chamado do computador alertando para uma mensagem especial. Ela havia sido transmitida em linguagem humana. Para ser mais preciso, estava escrita em 25 diferentes línguas humanas. Tito conhecia bem pelo menos três  delas, por isso notou algo estranho logo de início. Alguma coisa não soava bem nas palavras e nas construções das frases. Não demorou quase nada e o próprio computador avisou que aquilo era Inglês do século XVI. O mesmo  acontecia com as outras línguas.
Pallas, o encarregado geral do projeto, não demorou muito a chegar até a sede do projeto. Recebera o recado a respeito das mensagens e veio correndo. O texto básico dizia que eles eram uma civilização que estava a 57.5 anos luz da Terra e que seu planeta estava entrando em colapso. A órbita em volta de seu sol estava ficando cada vez mais curta e o calor estava tornando a sobrevivência  impossível. Eles tinham apenas mais cem anos de vida e pretendiam nos próximos 50 mandar “sementes” para que a sua raça se integrasse com a nossa. Que não devíamos temer, pois eles só acrescentariam à nossa civilização. Que nós nem perceberíamos sua vinda e em cerca de 300 a 400 anos impulsionariam a humanidade para um desenvolvimento fora do comum. O que demoraríamos normalmente para conseguir em mil anos, faríamos em 100 anos com a integração das duas espécies.
Tito comentou com certo tom de ironia que, aparentemente, nós havíamos conseguido progredir até mais que isso sem as “sementes”.  Parece que elas , as sementes, se perderam no caminho e deu uma risada, apesar de saber que aquela mensagem era importante.
Foi aí que Pallas ficou muito sério e perguntou a Tito:
-Você já ouviu falar no Fator “Alien”, Tito?
Tito respondeu meio desconfiado:
-A ideia não me é estranha.  Esta não é a tal da teoria do professor Harrison que diz que muitos de nós temos nosso DNA impregnado com elementos extraterrestres? Ele descobriu isso  depois que aplicou um nova técnica que permite obter informações que estão escondidas nas subpartículas que estão em nosso corpo. Estou certo? Mas ele não foi levado a sério, foi?
- Mais do que isso, a sua teoria é atualmente mais do que uma teoria. Tornou-se um fato científico. E agora temos a prova final.
-Como assim?
- Você ainda não percebeu? Está tudo tão óbvio. Eles definitivamente  mandaram as “sementes”. Chegaram aqui nos meados do século XVII. Fomos implantados com elas. Muitos de nós. Como, ainda não sabemos. As datas batem. Outra coisa que está clara é o fantástico desenvolvimento que começou na segunda metade do século vinte e tomou proporções geométricas depois disso: nossa ida para a Lua, a conquista espacial, a informática, a Física Quântica...Você não consegue enxergar? 300, 400 anos depois?
Tito estava mudo. Tudo era tão óbvio, de repente...Ainda assim, quase balbuciando, perguntou:
- Mas e essa mensagem, só agora? Ela deveria ter chegado antes...
-Você tem razão. Deveria. E pelo formato  da línguagem, do séulo XVI, você sabe que ela foi mandada naquela época. Por algum motivo, ela ficou ricocheteando nas galáxias do Universo, antes de chegar até nós, com seis séculos de atraso. As sementes, entretanto, chegaram na data certa. Você, eu e muitos outros somos prova disso, pois temos o Fator “Alien” em nossos  DNAs. Quase 30% da população tem. “Coincidentemente” os 30% com muito mais inteligência do que todo o resto.
Depois de uma pausa e um suspiro, finalmente Tito falou:
-É verdade, a mensagem ficou perdida por aí mas as sementes chegaram e ...germinaram!
-É, meu caro Tito, nós somos as sementes germinadas...somos parentes de um povo distante, muito distante, novamente reunidos!

Linda só, somente só...


Linda só, somente só...


Linda é seu nome, mas seu nome poderia ser também solidão. Só, somente com seus pensamentos e cuidados, nada mais. É como ela é, não foi educação nem imposição. Hoje em dia, bem que poderia se dizer que é seu DNA, pois outra explicação boa, não há.
Pela janela ela vê a rua. E nela, crianças brincando, homens passando, até algumas pessoas fofocando. Não se interessa por nada, nem pelas belas flores do jardim que vê pela janela. Como diz seu nome, ela é mesmo linda, mas sua lindeza não está lá fora, nem em qualquer lugar, que alguém possa ver.
Que moça só!
Eu também tenho andado muito só. Mas não é meu DNA, não. Queria ter companhia, estar com alguém tão linda como a Linda, a moça só. Fico o dia inteiro a pensar. Por que não lhe faço companhia? Por que será que ela não me quer?
Disse para mim uma vez que não queria nada com ninguém. Estava bem assim, só queria ficar só. “Sozinha, entendeu? “, ela me disse então.
Agora fico o dia inteiro pensando: Bem que ela podia ficar sozinha comigo.
Eu só, ela só, nos dois sozinhos, em boa companhia...

Friday, March 22, 2013

Rua das Morangas, 629


Rua das Morangas, 629

Maurício gostava de correr logo cedo. Naquela manhã o ar parecia mais gostoso, parecia mais volumoso. Ia passar agora por aquela sequência de casas antigas, todas com frondosas árvores na frente.
Notou de repente  que, numa delas, logo adiante,  havia uma senhora de idade na porta. Parecia fazer um sinal para ele.  Não tinha certeza de que era com ele.  Sem saber como agir, continuou a andar. Havia alguma coisa de diferente nela, mas não sabia dizer o quê.
No dia seguinte, excepcionalmente, não fez os exercícios de costume. Precisou ir ao trabalho de manhã. Um dia depois, no entanto, lá estava ela novamente, como se o estivesse esperando. Dessa vez estava quase na calçada. Não houve jeito, Maurício teve de parar.
Disse que precisava de ajuda, se poderia entrar. Ela  parecia estar sendo sincera e, além do mais, era certamente inofensiva. Entrou. Ela fez sinal para que ele sentasse. Foi até o quarto e trouxe na mão a foto de uma mulher. Mostrou-a para o Maurício explicando que era sua filha. Tinha 22 anos, morava perto dali e seu nome era Valdívia Monteiro de Albuquerque. Quase chorando, disse que ela estava em apuros e que seu namorado, Leno, era o culpado. Precisava ajudá-la, era sua filha. Pediu, pelo amor de Deus, que ele passasse lá para dar uma olhada. Passou-lhe um bilhetinho com o endereço. Beijou a mão de Maurício e repetiu: “Me ajuda, pelo amor de Deus!”
Maurício estava perplexo e impressionado. Ao sair, ela ainda falou: “Obrigado. Meu nome é Anastácia.” Ele virou-se,  fez um sinal com as mãos e viu o número da casa: 629. Ali era a Rua das Morangas, 629.
Naquele mesmo dia não havia nada que ele pudesse fazer. O endereço que a mulher lhe dera era distante uns 18 quilômetros dali e já estava na hora de ir para o trabalho.
No dia seguinte, ao invés de sair para andar, pegou o carro e se dirigiu para o endereço dado pela velha senhora. Conhecia um pouco a região mas não se lembrava especificamente daquela rua.
Depois de meia hora e um pouco de trânsito, finalmente dobrou à esquerda e em segundos estaria na casa da Valdívia. Para sua surpresa, logo a frente, havia um aglomerado de pessoas e um carro de polícia com as luzes de cima acesas, piscando. Estacionou na calçada e já foi perguntando...
-O senhor não sabe? A moça que estava desaparecida...? Acharam seu corpo, todo desfigurado. Já sabem quem é o assassino, um tal de Leno, acho que é seu namorado.
Maurício quase teve um enfarte com o susto. Atormentado, foi trabalhar, sentindo uma culpa enorme no peito. Durante o dia, tentou se consolar dizendo que não havia como ele prever uma coisa daquelas. No intervalo, mais tarde, assistiu ao noticiário na TV. Estava em todos os canais. Valdívia morava sozinha, não tinha família. Uma colega reparou que ela estava faltando no trabalho e na faculdade há mais de dez dias. Sabia também da personalidade violenta do Leno. Foi até a polícia. Interrogaram duro o Leno e ele acabou confessando tudo, inclusive onde estava o corpo.
Não tinha família? Será que ela não sabia que a mãe era viva e morava na mesma cidade? Resolveu visitar a dona Anastácia no dia seguinte. Ia ser duro, mas precisava.
Chegou bem cedo, a casa estava toda fechada, Tocou a campainha, bateu na porta, nada. Andou até a porta de trás, nada. Quando estava voltando para a frente encontrou uma senhora que vinha em sua direção. “O senhor deseja alguma coisa?”,  perguntou. Ele explicou a situação.
A vizinha, que na verdade cuidava da casa para a família, ficou bem surpresa. Da filha Valdívia, ela ficou sabendo, viu nos jornais. Entretanto estava desconfiada da história que o Maurício contou sobre a dona Anastácia. Ela perguntou se ele era algum repórter que estava usando uma desculpa para entrar na casa. Diante da negativa do Maurício, a vizinha explicou: “O senhor deve ter visitado outra casa. Esta aqui está fechada há mais de dez anos. Além disso, a dona Anastácia, mãe da Valdívia,  também  morreu há mais de dez anos.”



Maurício estava muito confuso com a história. Foi até a prefeitura e pesquisou a casa da Rua das Morangas 629, pesquisou a história da dona Anastácia. Era verdade o que a vizinha estava dizendo. A casa estava fechada  há mais de dez anos e a dona Anastácia havia falecido na mesma época. Foi até o cemitério e aí teve mais uma confirmação: lá estava o túmulo da da senhora Anastácia Monteiro de Albuquerque. Com fotografia e tudo. E aí seu coração gelou de novo. A foto mostrava exatamente a mesma mulher com quem falara há dias atrás.
Com o tempo, Maurício foi conseguindo por a história para trás. Dizia para si mesmo que foi uma alucinação, um sonho. Qualquer coisa assim. Mas esquecer, ele nunca esqueceu, não...

Thursday, March 21, 2013

Pensamentos


Pensamentos curtos, às vezes cultos, de Nino Belvicino
Nino Belvicino é um grande amigo meu, filósofo ( por vocação, não tem curso superior), pensador e, muitas vezes, um tanto esquisito. Entretanto, às vezes tem alguns  bons pensamentos. Acho que seria melhor dizer “pensamentos bons”:

Segredo é algo que todos  sabem, fingem não saber e,  mesmo sabendo que não vai adiantar,  pedem para o próximo não contar para mais ninguém porque é um...segredo!

O mundo acaba todos os dias. Acaba para a pessoa que morreu naquele dia. O fim do mundo seria a coincidência de todos morrerem no mesmo dia.

Antes de tomar uma decisão, olhe bem para os detalhes de uma grande coisa e também para as grandes coisas que um detalhe pode representar.

As coisas realmente importantes sobre a vida você só aprende depois dos sessenta, ou depois, se ainda estiver vivo.

Um homem não tão inteligente, mas sábio, pode fazer grandes coisas. Um homem inteligente sem sabedoria pode fazer grandes besteiras.


Tuesday, March 19, 2013

Uma nau portuguesa

Uma nau portuguesa



Era uma linda manhã e o pequeno vilarejo perto de Ankara, Turquia, amanheceu agitado naquele dia do longínquo mês de Março de 1821. Quem olhasse para o lado norte, iria notar que, entre as árvores, havia aparecido um objeto enorme, de um marrom escuro,  que se sobressaía no meio do verde da pequena floresta. Não estava lá no dia anterior e agora estava.
Três camponeses resolveram chegar mais perto. E foi aí que viram algo que, para eles, era mais incrível que um fantasma. Uma enorme nau portuguesa, um patacho, com a maioria das velas rasgadas, lá estava imponente, no meio do bosque. Estava ligeiramente tombado para a direita, parcialmente sustentado pelas árvores. O casco ainda estava úmido. Um dos camponeses umedeceu os dedos na madeira da embarcação e levou-os aos lábios. Como esperava, sentiu um gosto salgado. Mais tarde, mais pessoas chegaram e a notícia se espalhou pelo vilarejo. Ninguém tinha uma explicação para o fato e imediatamente começaram boatos fantásticos, embora o fato por si só dispensasse qualquer exagero nas narrativas. Alguns, mais corajosos, entraram na embarcação. Não havia quase carga nenhuma e o que havia estava completamente estragado. A maioria dos observadores tinha medo de se aproximar pois temia-se  algum tipo de maldição.
A vila foi dormir sem uma explicação para o mistério. Fizeram-se planos para o dia seguinte. Especulações é que não faltavam. De manhã, logo cedo, todos foram tomados de surpresa. Havia sumido a embarcação tão misteriosamente como havia surgido.
Durante décadas o evento foi comentado, recontado, reinventado. Com o tempo passou a ser uma lenda, depois uma história para crianças. Ninguém acreditava mais naquilo. Entretanto, aconteceu.
Naquele mesmo dia, muito longe dali, a muitos quilômetros da costa de Portugal, em direção ao sul da África, uma pequena armada lusa foi tomada de surpresa por uma misteriosa tempestade. Uma tempestade sem água, só com trovões, relâmpagos e ondas violentas.  A luz dos raios era tão constante e forte, que durante quase uma hora nada se via, só uma claridade insuportavelmente forte e ruídos ensurdecedores. As naus todas balançavam fortemente e eram invadidas pelas águas do mar, porém um pingo sequer vinha do céu. Finalmente tudo se acalmou, mas já era tarde da noite e a escuridão era total. Com a luz do sol, pela manhã, os marinheiros começaram a verificar os estragos. Eram bem menores do que se esperava. Entretanto, um dos navios estava faltando: um patacho.  Foi ordenada uma busca e cada embarcação foi para um lado à sua procura. Nada foi encontrado: nem o patacho, nem os tripulantes, nem quaisquer restos.
Durante muito tempo essa história foi contada e recontada por marinheiros. Com o tempo virou uma lenda, uma daquelas loucas histórias que se contam para passar o tempo nas longas viagens marítimas. Ninguém mais acreditava nela... Só restaram duas estranhas lendas.

Monday, March 18, 2013

Mais um dia para o Pato Donald


Mais um dia para o Pato Donald

O Pato Donald está muito cansado. Trabalhou muito durante o dia. Foto aqui, foto acolá. Criança de um lado, criança de outro. Adulto também. Gente enfiando a cara para aparecer na fotografia. Gente filmando, ele acenando, aquele calor de matar. Um moleque deu um pontapé em sua perna. Outro, um murro na costela. Ainda bem que havia as penas para proteger.
Vida dura. Muita dureza, pouca magia.
Ainda bem que seu turno acabou. Quase desfalecido, vai para uma sala descansar.Tira seu capacete de pato, estende os braços, espalha as penas, suspira, relaxa...Ufa, até que enfim o dia acabou. Mundo mágico.
Nossa! Agora que eu vi. O Pato Donald é uma garota!

Sunday, March 17, 2013

A Síndrome de Terek


A Síndrome de Terek


Selsk era o chefe do Departamento de Controle de Fatores Genéticos de sua região. Sem dúvida era uma função importantíssima no começo do século 31. Não havia mais gestação, não havia mais partos, não havia mais família. Todo ser humano era “projetado” em laboratório, sempre com vistas à perfeição genética. As pessoas eram classificadas em “grupos genéticas”, a única reminiscência do que haviam sido as “famílias” de séculos atrás. Bem verdade era que, em alguns raríssimos lugares, ainda se “faziam” pessoas à moda antiga. Eram as chamadas “zonas naturais”. Havia seres  que nunca haviam se adaptado às grandes inovações e descobertas da humanidade. A existência dessas regiões, por um lado transmitia uma certa ideia de liberdade, e por outro servia como referência para a maneira rápida como o resto da civilização evoluía. Muitas vezes acontecia de virem cientistas para as “zonas naturais” com o fim de “coletar” dados e até mesmo material. Essas áreas eram absolutamente isoladas e controladas.
Naquele dia havia uma reunião importantíssima para Selsk. Uma figura importante do Controle Central estaria presente.  Essas reuniões com a presença física dos participantes eram raríssimas e só por isso poderia se ter uma ideia de sua gravidade. Estavam ali para discutir  a  “Síndrome de Terek”. Terek era um cientista do bloco oriental, que pela primeira vez  havia notado o fenômeno e daí o nome. Esporadicamente – isso havia começado há quase dois anos – algumas pessoas, sem razão aparente, desapareciam. No final eram encontradas, pois todas tinham um implante de localização. Apareciam em outras regiões conversando e até morando com outras pessoas. Entrevistadas, invariavelmente declaravam que não sabiam por que haviam feito aquilo. Simplesmente sentiam uma urgência de ir para um lugar definido e iam. Mais interessante ainda, era que as pessoas que as recebiam, de certa maneira esperavam por elas e sempre as recebiam bem. Foi Terek que notou que essas pessoas – visitantes e visitados – tinham código genético muito semelhante. Eram “parentes”, de certa forma. Como eles sabiam quem eram os “parentes”, onde eles estavam? Era um mistério.
Aparentemente algo desconhecido no cérebro induzia, de uma maneira incontrolável, esses indivíduos a se encontrarem. O cérebro estava completamente mapeado e todas as suas funções eram completamente conhecidas e daí vinha o mistério. Como, por quê?
Terek já sabia como evitar o problema, se é que isso pudesse ser considerado um problema. O incoveniente de tomar uma atitude assim, era que, desta forma, oficialmente se reconhecia que o poderoso Departamento de Controle de Fatores Genéticos não era tão absoluto e infalível, afinal de contas. Isso não era bom para sua imagem. A proposta de Terek era aplicar a solução que ele havia proposto para, uma vez por todas, evitar que essas “visitas” continuassem. Selsk era completamente contrário a isso. Segundo ele, e esse era um bom argumento, seria um absurdo científico eliminar o problema sem conhecer profundamente suas causas. Além de ser possível algum tipo de desdobramento, talvez estivessem perdendo a chance de descobrir algo novo,  algo revolucionário, numa época em que havia quase nada para se descobrir em termos de corpo humano.
Muitas pessoas do Departamento tendiam a concordar com Selsk, embora o comando central fosse poderoso e estivesse contra ele.
O que ninguém sabia –e esse era seu grande segredo – era que Selsk também tinha tido suas “viagens” inesperadas. Conhecera alguns “parentes” muito interessantes. A experiência tinha sido espetacular para ele, tinha passado por sensações que ele jamais imaginou pudessem existir. Era como se estivesse em contato com o que havia de mais profundo, em termos de experiência humana. Ele era esperto e sabia como dissimular suas “visitas”.
Além do mais, estava determinado. Faria de tudo para impedir que o novo controle proposto por Terek  fosse implantado. Afinal, ele estava passando por uma experiência memorável. Ninguém tiraria isso dele...A sensação de ter uma família, um irmão, um pai...

Saturday, March 16, 2013

O segredo da Dona Vitória


O segredo da Dona Vitória


Dona Vitória tem um segredo. Nem seu filho Beto, de 40 anos, casado e com dois filhos, sabe. Claro que não posso contar, é segredo.
Entretanto posso falar algumas coisas da vida da Dona Vitória e, você, como é inteligente, pode até descobrir o que é que a Dona Vitória está escondendo.
Ela é viúva e adora cuidar do jardim. Muitas flores, viçosas e bonitas. Há uma parte, porém, que é mais bonita do que as outras. Lá, é tudo mais gracioso e colorido e é onde ela passa  a maior parte do tempo quando está jardinando. É bom que ela tenha essa distração, pois o marido e ela eram muito ligados e agora ele já não mora mais lá. Pelo menos é o que se diz. Ele sempre falava para ela que, quando morresse, não podia nem pensar em ir para o cemitério, queria ficar ali pertinho dela. Claro, isso não seria possível. O “seu” Armindo, amado esposo, além de problemas no coração, estava começando a ter alguns sintomas de alguma doença no cérebro também. Às vezes se esquecia das coisas, até mesmo não sabia onde estava. Foi assim que, um dia, a Dona Vitória anunciou para a rua toda que o “seu” Armindo sumira. Saiu e, provavelmente, se perdeu por aí, só Deus sabe o que pode ter acontecido...ou saiu e teve um ataque cardíaco...
Nunca mais ninguém achou o “seu” Armindo...A Dona Vitória ficou triste uns dias mas depois começou a ficar mais e mais no jardim. Nem parecia que era necessário saber o que havia acontecido com o marido. E cuida que cuida das flores. Parece que agora, tudo que é importante em sua vida, está no jardim. De certa forma, isso é verdade.
Espero que, a essa altura, você já saiba qual é o segredo da Dona Vitória...Mais do que isso não posso falar. Você sabe como é...é um segredo, não se pode contar...


(vagamente inspirado na personagem Karen McCluskey de “Desperate Housewives”) 

Wednesday, March 13, 2013

Os “novologismos” do Toninho Professor


Os “novologismos”  do Toninho Professor



O Toninho Professor é, sem dúvida, uma figura especial. É todo cheio de saber das coisas, de conhecer tudo, de entender  os  porquês. Acho que é por isso que lhe deram o apelido de “professor”, porque professor formado ele não é não. A coisa que mais chama a atenção nele, entretanto, é mania que ele tem de inventar palavras. Não tem medo, nem vergonha. Vai inventando direto, sem consideração por padrões linguísticos ou outro qualquer. O povo em volta dele acha bonito e nem sequer põe qualquer obstrução. Acham até graça.
Naquele dia ele estava um furor. Veio com uma tal de “sinconometria” para explicar porque as coisas aconteciam na vida de um indivíduo. Segundo ele, havia uma tal de medida universal de acordo com a qual, a síntese dos fatos...deixa para lá. Ninguém entendia nada, nem queria entender. Só achavam bonito ele falar assim.
No parágrafo seguinte, meteu um tal de “sinetivismo” no meio de uma explicação, que , na verdade, não explicava nada. Eu não aguentei e falei:
-Toninho, essa palavra não existe. O que é “sinetivismo”?
-Claro que existe. Sinetivismo éo conjunto do saber humano. O meu saber aqui, dos meus ouvintes e até um pouquinho de gente que duvida de mim, como o senhor.
E aí a ironia era para mim...
-Se existe, está no dicionário, vamos olhar...
-Meu pobre amigo, eu tenho de lhe explicar tudo. Pelo fato de não estar no dicionário não quer dizer que não existe. É palavra nova, fui eu mesmo que inventei...
-Então, o senhor confessa, não existe, o senhor que inventou.
-Às vezes tenho pena do pouco conhecer dos meus ouvintes. Engano seu, meu amigo. Eu “criei” a palavra, mas tudo de acordo com as regras da nossa lingua mãe.
-Mas não é assim, ir “criando” tudo de acordo com sua cabeça, “seu” Toninho!
- Meu irmão, o senhor nunca ouviu falar de “novologismo”?
Foi aí então que eu não sabia se ficava com raiva ou se ria...
-Não é “novologismo”, é neologismo!
-Aí é que o senhor se engana. Neologismo é coisa de antigamente, agora é “novologismo” que se usa...
Eu desisti, não dava.
As “ criações” do “seu” Toninho só ficavam ali pela vila, não se espalhavam pelo país. Algumas delas até que mereciam ser divulgadas pelo mundo, tão engenhosas que eram. Talvez um dia desses alguém coloque na internet um dos neologismos do “seu” Toninho e ele se espalhe por toda a nação. Aí sim teríamos o primeiro neologismo oficial do “professor”...Quero dizer, o primeiro “novologismo” do professor...

Tuesday, March 12, 2013

POEMINHA ECOLÓGICO, sem rima


POEMINHA ECOLÓGICO,  sem rima








O peixe está com mercúrio,
A verdura tem agrotóxico.
A carne contém toxinas,
E a água está poluída.
O que se pode fazer?
Ainda bem que não falaram nada da cerveja...
Nem do vinho!
Desse jeito não vou morrer de fome,
Quero dizer, de sede..

Monday, March 11, 2013

Briga de casal


Briga de casal














Você está no norte,
Eu estou no sul.
No centro, nenhum de nós dois.
Você vai para o leste,
Eu para o oeste.
Estamos à deriva, sem rumo magnético,
Sem rumo nenhum.
Sem prumo também.
Procuro uma porta,
você olha pela janela,
vendo o além.
Algo não está bem.
Definitivamente,
Precisamos conversar.
Urgente!

Sunday, March 10, 2013

O Mendes e o mundo da lua


O Mendes e o mundo da lua

O Mendes era um cara distraído. Muito distraído. Vivia no mundo da lua. Verdade a ser dita, acho que morava em Marte, talvez até em um  planeta ainda mais distante. A situação era agravada pelo fato dele ser funcionário público. Isso não ajudava.  E pior ainda,  o trabalho era perto de casa. Era tudo uma tranquilidade e isso facilitava a sua condição. Não precisava se focar em nada. As coisas praticamente aconteciam por si mesmas.
A dona Genoveva não gostava nada disso. Com o tempo a coisa piorou. O Mendes ficou mais e mais lunático. Um dia, ele estava na repartição e aconteceu um problema  em casa. Um grande vazamento. Um cano estourou e estava inundando tudo. Genoveva correu até o local de trabalho e procurou pelo marido. Quando se aproximou da mesa, lá estava ele, cabisbaixo, fazendo o que ele tinha de fazer. A Genoveva, aos gritos, falou o que estava acontecendo. O Mendes, sem levantar a cabeça, estendeu um formulário e falou para ela preenchê-lo. Ela replicou que era ela, a sua mulher.  Ainda sem levantar a cabeça, estendeu uma caneta e falou que ela podia usar a cadeira ao lado.
Ela saiu de lá furiosa. No próximo dia o Mendes recebeu a papelada para o divórcio. A Genoveva tinha atingido seu limite.
A rotina do Mendes agora teria de ser  alterada. Isso era um problema. Estava tudo indo tão bem, tão certinho. Divórcio? Que coisa estranha, o que deu na Genoveva?
Eu não sei não o que vai acontecer com o Mendes. Coitado, tudo vai se tornar tão diferente, tão estranho...pobre Mendes...




Saturday, March 9, 2013

Existe uma nação


Existe uma nação



Uma nação existe, que tem de tudo. Tem montanhas lindíssimas, algumas com neve, outras com um verde exemplar. Às vezes há vulcões no topo delas, às vezes os vulcões se espalham pelo chão.  Há terremotos e há furacões, mas tudo se pode controlar. É uma nação bonita, grande, que se espalha de oceano a oceano e tem riquezas mil. Ciência com recursos sem par, pessoas com riqueza ímpar. Pessoas diferentes, ricas de se admirar, outras bonitas de se invejar.
É uma grande nação. Indeed. Tem soldados. Tem artefatos de guerra, guerra que gosta sempre de recomeçar. Há soldados nas guerras, há inimigos na espreita, que querem sabotar. Morrem herois todos os dias. Outros morrem depois, em casa, desesperados com o próprio pensar.
Agora há um novo tipo de guerra. Guerra que brota de dentro, guerra feito um incesto, que gosta de seus próprios matar. Mata outros iguais, mata infantes. É um sangue injusto, que não era para se derramar. Que sangue é este, todos perguntam? Que loucos são esses, todos perguntam?
Todos perguntam. Ninguém responde. Os meninos querem, a todo custo, com as armas brincar...

Friday, March 8, 2013

O livro


O livro


Fiquei com vontade de ler novamente “1984” em inglês, do George Orwell. Lá vou eu, como todo mundo, na internet, procurar meu produto. Já ali, me deu uma saudade da época da Rua Maria Antônia, onde eu ia até a livraria da faculdade procurar os livros que queria. Às vezes nem havia um “que eu queria”, para ser franco. Apenas tinha vontade de estar lá, passando pelas estantes, olhando. Pegava um, pegava outro, folheava.  Vinha aquele cheirinho gostoso das páginas, junto com aquele barulhinho suave que elas faziam quando eu as manipulava. Era bom. Fazia parte de um conjunto, de tudo que eu vivia ali, daquele momento da minha vida e até do momento que o país todo vivia.
Eu era cercado de livros: na faculdade, em casa, no dia-a-dia. Acho que eles faziam até parte da minha alma. Amor antigo e persistente, nunca me livrei dele.
Pois bem, era a segunda vez que estava com aquele dilema. Compro uma cópia daquelas de verdade, com papel de verdade, com cheiro de livro, com jeito de livro...ou simplesmente baixo o texto no meu kindle?
A dúvida só persistiu alguns segundos. Ali, bem do meu  lado, estava o “Grande Sertão: Veredas” do Guimarães Rosa, que eu tenho desde a época universitária. Quantas vezes passei por aquelas páginas e quantas lembranças me trouxeram de uma fase tão boa.  O Rosa me fez decidir. Cliquei na opção do livro de verdade, físico, consistente. Ia demorar uns dois dias, podia esperar. Esperar era gostoso também, fazia parte do prazer de ler...