Monday, December 31, 2018

Ano vai, ano vem


Ano vai, ano vem

Ano vai, ano vem, curtimos esperanças que ficaram, lamentamos sonhos que não aconteceram. Juntamos o saldo do não realizado com novos desejos e pulamos, alegres, de um ano para o outro. Recalculamos tudo, reforçamos nossa capacidade de sonhar e olhamos para a frente. Para cada tranco do novo ano, recalibramos nossas expectativas, ajustamos nossas metas. É o que melhor fazemos como seres humanos. Criar fantasias, brincar com elas, nutri-las, alimentarmo-nos delas.

É o que melhor sabemos fazer.. Na verdade, essa é a essência de nosso ser, é o que somos.

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Essa vida da gente

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Wednesday, December 26, 2018

A Capela


A Capela
(lembranças do seminário, capítulo do conto "Casa dos Loucos)

“Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
 Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o diabo e seus anjos.”( Mateus 25:41)




A capela tinha poucas luzes naquele dia, mas dava para se ver que os bancos e genuflexórios eram de madeira de lei e os vitrais eram enormes e coloridos. Os santos eram estátuas solenes e nobres e pareciam nos olhar com um misto de compaixão, solidariedade e piedade. A cúpula era muito alta e fiquei pensando nas pessoas que construiram a capela, como chegaram lá no alto para trabalhar. O altar central era enorme e sobre ele havia uma cruz de metal, talvez ouro. Candelabros dos dois lados, uma grande e principal imagem de uma santa, solene, quase uma deusa. De um dos lados, um grande púlpito de madeira, elevado, com uma pequena escada de acesso. Não olhei para os outros meninos mas acho que estavam impressionados ou assustados como eu. A capela era muito diferente da igreja da minha paróquia onde eu havia sido coroinha. Lá eu dominava tudo, sabia onde estavam as coisas, o que significavam, conhecia a nossa santa, a Santa Rosa. Aqueles santos que via agora pareciam ser superiores, pareciam nos advertir, embora tivessem aquele olhar meigo. Mais tarde aprendi a gostar da capela. Nela podia me refugiar nos momentos de tormenta, de angústia e de dor que meu coração de menino mal podia suportar. A Ave Maria, solenemente executada no órgão, muitas vezes me fez voar para fora daquelas paredes e pairar sobre campos verdes e calmos. Naquele primeiro contacto, no entanto, tive a primeira grande revelação sobre o inferno. O monsenhor com crueldade e profundidade revelava as responsabilidades de quem tinha vocação. Ele falava de um pulpito sombrio e autoritário e naquele dia a capela me amedontrou. Minha alma de menino não via outra alternativa que não a de seguir em frente numa vida de sacrifícios pois qualquer outra seria minha perdição. Havia tantas coisas das quais eu gostava na minha meninice e pelo que eu entendi, tudo teria de ser deixado para trás. Não me lembro do resto da noite, a não ser de muita reza, de um grande dormitório sombrio e de faces de meninos muito diferentes dos da minha rua. Foi a primeira vez que alguém mostrou para mim o Inferno como uma coisa real e possível. Eu só conhecia um inferno para gente muito ruim, completamente fora de minha experiência, de minha vida. O Monsenhor trouxe um Inferno real, vivo, um Inferno que poderia ser nosso, caso não agarrássemos com força a nossa vocação.Tive medo, muito medo. Pensei de novo no rosto da virgem, suave, comprensivo e fiquei confuso.
              
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Sunday, December 9, 2018

O discreto charme da elite



O discreto charme da elite
(para quem quiser entender...)

Na sala de jantar descrita pelo Gil e pelo Caetano, os burgueses estavam ocupados em nascer e morrer. Não era um charme tão discreto como sugerido pelo Bunuel, porém. Terminado o banquete, vestiram-se com roupas reais e foram até a sacada do prédio. Agora eram a realeza. Mais até.
Lá de cima viram o povo se debatendo. Uns eram contra, outros a favor. Não sei de quê. Uma coisa a ser explorada. Os que eram a favor faziam os preços das mercadorias subirem. Faziam os preços descerem os que eram contra. Ou era vice e versa? E a nova monarquia apostava em uns e outros e sempre ganhava. Era uma beleza aquela peleja toda. Alguém sugeriu que estava ficando perigoso. Poderia haver brigas de verdade, até uma guerra. Um deles sugeriu que, nesse caso, eles fariam a intervenção. Além do mais, se não houvesse mesmo jeito, se uma luta acontecesse de verdade, então eles poderiam vender as armas. Uns nobres fabricariam, outros venderiam.
Era bonito, pelo menos para eles, ver aquela disputa de cores. Pessoas enraivecidas se atacando. Essa era a parte do circo. A parte do pão – o banquete – já tinha acontecido. Alguém corrigiu que o pão e o circo eram para o povo, não para eles. A realeza tinha coisa melhor. Jogaram então comida para a população faminta. Mandaram alguém organizar as brigas, de forma que virassem diversão e não uma simples guerra. Assim, poderiam ter um intervalo, ter mais um jantar, lá dentro.

Novamente sentaram-se à mesa e voltaram a ser burgueses comuns. Comendo e bebendo. Quando houvesse outra briga, voltariam ao balcão. Discretos, charmosos, poderosos.

Vídeo: PANIS ET CIRCENSES - Marisa Monte

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Wednesday, December 5, 2018

Rostos de ontem, rostos de hoje



Rostos de ontem, rostos de hoje



Depois de décadas, vejo novamente faces amigas e conhecidas no Facebook e em outros lugares. É a maravilha da moderna tecnologia acontecendo. Alguns rostos reconheço imediatamente, outros nem tanto. E nisso fiquei pensando. Por quê? Alguns mudaram muito e outros muito pouco. Só depois percebo. Não é uma questão de idade. Reconheço, na verdade, aqueles que estão sorrindo. O sorriso é a ponte do tempo, a marca atemporal e a chave da alma. E a alma não envelhece...



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Uma “mãozinha”


Uma “mãozinha”

O sinal ficou vermelho. Paro e imediatamente vejo um homem se aproximar. Passos curtos, difíceis, uma barba entre grisalha e branca, um olhar cansado e um sorriso perdido nos lábios. Nas mãos, um pequeno e cuidadosamente cortado pedaço de papelão. Lá dizia “Sometimes we’ll need a little help.” Lá estava o velho homem admitindo que, de vez em quando, a gente precisa de uma “mãozinha”. Embora estejamos no país mais rico do mundo, essa é uma grande verdade. Tentei achar umas moedas ou uma nota de um dólar no bolso e ... nada. Ainda assim, ele deu mais um sorriso e fez uma quase imperceptível reverência com a cabeça. E passou, continuando lentamente pela fila de carros.
Fiquei com um nó no peito o resto do dia e com a imagem daquele senhor na cabeça. Quantas vezes, todos nós precisamos de uma “mãozinha”, de um tipo ou outro, em nossas vidas.

É verdade, meu amigo, é verdade.



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Tuesday, December 4, 2018

Em conformidade com as estrelas


Em conformidade com as estrelas

Eu me conformo com as formas
deste mundo conformado.
Que fazer? É a formação
que recebi dos mais velhos.
Mas dou uma informação,
recente, nova em folha.
As formas de minha alma,
ah, elas não são assim.
Doutra forma elas se formaram:
De informais belezas,
colhidas aqui e acolá,
informalmente, de almas
que pela vida conheci.
Ah, elas existem sim!
São almas bem formadas
de precioso material
que não tem humana forma.
São formações etéreas,
vindas de um infinito
que está bem dentro de nós
e antes, muito antes,
estava no coração das estrelas.



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Saturday, December 1, 2018

Os “Ismos” do novo milênio



Os “Ismos” do novo milênio


Qualquer um percebe que o mundo político e tudo que vem com ele, mudou muito nos últimos tempos. O que era ruim, ficou pior. No entanto, o que preocupa não é a intensidade, é o próprio DNA de sua estrutura.
Antigamente quando alguma figura pública era pega no ato, ou renunciava e pedia desculpas, ou tentava negar, se explicar. Hoje em dia muitos reagem dizendo que o que fizeram é normal, ou que outros fizeram a mesma coisa, como se isso justificasse sua conduta. Um  vez em domínio público, os autores dos atos criminosos, começam a se defender, não com com argumentos morais ou outros, mas sim com estratégias legais, com a esperteza, tudo isso de maneira bem clara e aberta. Em vez de termos uma batalha do bem contra o mal, temos uma batalha de opinião pública, de convencimento. A essência não é discutida. E uma parte enorme do povo entra na dança, usando os mais absurdos argumentos para justificar os atos de seus “líderes” preferidos.
 O que quero dizer, na verdade, é que não existem mais socialismo, comunismo, capitalismo, e outros “ismos”. Tudo que restou foi apenas o Cinismo, a nova grande onda política do novo milênio. E para pessoas normais, isso é muito estranho.

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Thursday, November 29, 2018

Resumindo a história...




Resumindo a história...

Quem gosta hoje em dia de ficar lendo um texto enorme? Todo mundo quer coisa fácil, rápida. Os cronistas precisam ser sucintos, concisos. Substantivos sem adjetivos ou adjetivos que já digam tudo. Objetividade, essência e graça. Fazer uma crônica como se faz um poema, sei lá...  Significar sem enrolar, direto ao ponto?
Acho que é isso. Fim!
Ooops, ficou muito curta... Acho que exagerei!




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Wednesday, November 28, 2018

Virando a página



Virando a página

Não resisti. Não tinha nenhum livro para comprar, mas não aguento ver uma livraria dessas bonitas, modernas, e passar direto. É quase um vício. Não que não goste de sebos. Adoro esses também. Só passo direto se estiver atrasado para alguma coisa. Entrei na Fnac e já senti aquele cheiro gostoso de papel impresso. Ou pelo menos acho que senti. Logo perto da entrada, uma grande tela de TV. A Ivete Sangalo cantava uma música do Chico. No palco estavam também o Gil e o Caetano. Que turma! Uma senhora, provavelmente da minha idade, olhava, parada e em pé, como num transe hipnótico, para o aparelho. Não era para menos, um lindo show! Fiquei também um pouco me deliciando com o som, mas depois saí andando pelos dois andares. Dei uma folheada em alguns livros, cheguei a ler páginas inteiras de outros, vi novidades.
Perdi noção do tempo, mas ele não se perdeu e assim passou muito rápido. Acordei de meu pequeno devaneio e me dirigi para a saída. E não é que a minha desconhecida amiga continuava lá, sem sequer piscar? Eu até entendo, se pudesse, também ficaria. Fui embora pensando nela. Ela não queria virar aquela página da nossa história musical. Era uma prisioneira. Pensei comigo mesmo: eu virei a página e continuo pela vida tentando conhecer coisas novas.

Depois de andar uns blocos, entretanto, confessei para mim mesmo. Eu virei a página, mas a toda hora vou lá e dou mais uma olhadinha. Quem resiste?

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Monday, November 26, 2018

Classificados



Classificados

Amanda sempre foi uma sonhadora. Gostava de consertar o mundo, as coisas, as pessoas. Queria que todo mundo fosse feliz. Adorava quando apresentava um amigo para uma amiga e eles acabavam namorando. Ela se sentia uma fada fazendo isso. Era como se ela estivesse regendo o mundo. Ela mesma, porém, ainda não tinha encontrado seu príncipe. Ela sabia, contudo, que um dia isso iria acontecer.
Por enquanto, ela continuava sua missão. Outro dia estava olhando os classificados do jornal quando viu, na secção de “pessoais”, um anúncio:
“Senhor viúvo de 60 anos, carente, procura senhora da mesma idade, ou um pouco mais nova, para relacionamento. Sem compromisso. Entrar em contato pelo telefone...” Logo abaixo o apelido: Lobo Solitário
A primeira palavra que lhe veio à mente foi “safado”. Sem compromisso? Deu mais uma olhada aqui e aí e viu outro:
“Senhora de 55 anos, solitária, procura senhor da mesma idade, ou um pouco mais velho, para futuro relacionamento. Liberal, com limitações. Entrar em contato pelo telefone...” E assinava: Gata Manhosa.
Ficou intrigada. O Lobo não queria “compromisso”, mas certamente queria sexo. Não era bobinha, aquilo era óbvio. A Gata, manhosa que era, parecia ser muito mais liberal do que aparentava, apesar das “imitações” que lá colocou. Aquilo era conversa para boi dormir. Um estava certinho para a outra. E vice-versa.
Recortou os dois anúncios e, cuidadosamente, colou-os, juntinhos, em seu caderninho de notas. Era o máximo que podia fazer. Não ia se meter na conversa de duas pessoas que certamente tinham idade para serem seus avós. Eles que se entendessem. Quem sabe? Passou os dedos pelos dois anúncios e suspirou.
Quem sabe ela nunca precisasse, um dia, colocar aquilo no jornal. Além disso, se precisasse, certamente faria diferente:
“Senhora solitária, de bons princípios, procura um verdadeiro amor, para compromisso sério e definitivo.” E assinaria: Uma Fada Sonhadora.
Isso mesmo, não ia deixar por menos.

Pobrezinha, ela ainda não sabia o que era solidão. A verdadeira solidão.

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À procura de Lucas  (Flávio Cruz)
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Sunday, November 25, 2018

Um amor de bits e bytes

Um amor de bits e bytes




Já houve, num passado distante, o amor escravo, o amor com “dote”, e até o amor encomendado. O amor de conveniência, esse sempre existiu. Mais avançado, embora inconveniente, aconteceu, bem recente, o amor liberal. Continua à solta, pela sua própria natureza. O amor interrompido, cortado, divorciado, que antes existia escondido, agora anda às claras por aí. Às vezes é colorido, às vezes torna-se cinzento ao ponto de as coisas ficarem pretas. Hoje em dia existe até amor de ostentação, de um lado e de outro. Amor paixão, ainda há alguns, muito poucos, porém.  Amor à distância quase não se vê mais. Já os de curta duração, são tantos que não cabem nesta relação.
Um dos mais modernos é o resultante dos sites de encontro. Todo estruturado, orientado, parece mais uma obra de consultoria. Dizem que é amor de verdade, estudado, baseado na lógica e na razão. Para ele, precisamos das máquinas, da Internet e um pouco de aplicação. Acho que é por isso que, antes de mais nada, nós amamos os computadores, passamos o dia todo com eles. Mas eles estão ficando cada vez mais espertos, mais sensíveis, mais humanos. Se hoje os amamos, um dia eles vão nos amar também. Ensinados e programados por nós. Mas, como sempre acontece, eles vão ficar melhores do que nós. Vão nos oferecer um amor perfeito, sem falhas, sem traição. É só fazer o “download”. Um amor, sincero, cibernético, sem cópia pirata. Estruturado em bits e bytes.
Quando isso acontecer, você saberá que, definitivamente, o futuro chegou.


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