Tuesday, October 22, 2013

Agora eu é que estou grilado

Agora eu é que estou grilado



A língua é um negócio complicado. Tantas palavras, tantas acepções, tanto jeito de falar. Po isso, hoje de manhã, quando a Cecília falou que tinha acordado “grilada”, fiquei pensando...Fiquei com a expressão na cabeça e resolvi pesquisar. Não foi muito, mas aí vai. A palavra vem do latim  “grillus” , o  que não diz muita coisa.Todo mundo sabe que “grilar” também pode se referir ao que fazem com propriedades. Sabe, “tomar posse”, se apropriar? Coisa muito comum nesse Brasil. Obviamente,  existe o significado como gíria: “Estar preocupado”. Certamente a ideia vem do  barulhinho  insistente que os bichinhos fazem. Sabe, aquele som chato na cabeça?  Realmente dá uma ideia de aborrecimento. Será que a Cecília tem terras griladas?  Ou será que há uma infestação de grilos em sua casa? Sei lá...Comecei a falar com ela sobre minha pesquisa e recebi uma resposta meio grossa: “Onde você anda com a cabeça? Falei bem claro que  “acordei grilada com esse falatório de demissões na empresa. Você não presta atenção?” Realmente, ando meio distraído, se prestasse atenção, não precisaria pesquisar, nem teria levado uma bronca...Além de tudo, agora estou preocupado com as demissões. Estou grilado.

Monday, October 21, 2013

Solução provisória

Solução provisória



Preciso relaxar. Deixar que os problemas pareçam menores, para que eu possa resolvê-los. Sento-me, então, junto à piscina. Olho o azul do céu, o azul das águas. Eles são maiores que tudo, podem colorir o cinza de meus dias, podem me ajudar.
Fecho os olhos e sonho. Com minha vida reformada, sem enredos tristes, sem problemas. Ela vai, como um barquinho, navegando pelas ondas suaves do mar. É assim que eu quero, é assim que eu preciso que sejam as coisas.
Não quero abrir os olhos, não quero acordar. Este sonho infantil, quero perpetuar.
Mas sono e sonho estão sempre terminando.  Às vezes não têm começo, às vezes não tem o meio. Fim, com certeza, sempre têm. Acordo e olho a paisagem à minha volta. As imagens ainda estão difusas e dispersas, mas já sei que este é o mundo real. Apesar do azul do céu e do mar, os problemas estão todos aqui e eu preciso enfrentá-los.
Noto, porém, uma latinha de cerveja gelada, logo à minha frente. Ela serve para abater minha sede, para suavizar meus pensamentos. Com certeza, vou bebê-la.

Não é uma solução definitiva, mas, definitivamente, é uma solução um pouco mais do que provisória.

Tuesday, October 15, 2013

A bica

A bica



Para nós, garotos, era a ”rua do cinema “. Ela começava na Praça Inácia Dias e ia até o começo da Estrada da Ponte Seca. Aquele era nosso jardim de infância, nosso parque de diversões. Quase não havia carros. Eu me lembro do prédio da Caixa Econômica,  da venda do “seu” Machado, de uns sobrados velhos e de algumas pessoas. A Casa Lotérica veio depois e a Vidraçaria do “seu” Elias também. Mas não tenho certeza. Fui crescendo junto com a rua, não sei mais quem e o que veio quando e como. Nessa época o grupo escolar era ali mesmo, na esquina com a Rua João Rodrigues de Abreu. Um prédio velho e sofrido. Meu irmão do meio ainda estudou lá. Mais tarde a escola foi transferida para a Avenida Sílvio de Campos: o Grupo Escolar D. Suzana de Campos.
No entanto, eu tenho certeza do cinema e da bica. No cinema eu saciava meus sonhos, na bica saciava minha sede. Que nada, às vezes nem tinha sede, mas aquilo era um marco. Um lugar especial, nem sei por quê. Duas pequenas escadas de cimento, uma de cada lado e, lá embaixo, aquele cano com a água saindo pura, cristalina. Era um oásis, beber água era só um detalhe, o importante era brincar, era estar lá...

Não sei se a bica ainda existe, são quase sessenta anos. Na minha cabeça, porém, ela está lá inteirinha, aquele líquido cristalino, puro, satisfazendo minha alma...

Sunday, October 13, 2013

Tudo normal na frente ocidental

 Tudo normal na frente ocidental


Os tiroteios e massacres continuam acontecendo. Os americanos continuam gostando muito de armas. Os políticos continuam  fazendo leis para eles mesmos. Eles continuam sendo processados, presos e soltos rapidamente. Por que prendeu, por que soltou? O povo continua protestando nas ruas. O Obama está espionando a gente. Sempre espionou, mas agora a gente ficou sabendo porque ele é democrata.  Viva a democracia. Os terroristas continuam aterrorizando, enquanto os drones não chegam.

Não sei o que o Snowden está fazendo na Rússia, um país comunista.

Os pastores continuam pedindo dinheiro. O povo continua dando, não sei quando vai parar. Na Colômbia, os traficantes continuam traficando. O Rio continua lindo. Lá também continuam os assaltos e os arrastões. Na África, crianças continuam morrendo de fome.  Os assaltantes aqui continuam assaltando e os ladrões continuam roubando. Rouba aqui, rouba acolá e quando é que vai parar? Na Amazônia continuam roubando as terras dos índios. Os grileiros continuam grilando as terras. O campeonato continua. Meu time desce e sobe na tabela. O técnicos continuam sendo despedidos e contratados. Os cartolas vão muito bem, obrigado.
A novidade é que vamos ter a Copa do Mundo. Outra novidade é que Francisco disse qua as coisas vão mudar. O Banco do Vaticano vai ter que contar tudo que faz. O que já fez, sei não, acho que não vai contar. A Copa, será que vamos ganhar? Se perdermos, quem não pode ganhar é a Argentina.
De resto tudo continua igual neste mundo ocidental. No oriental, não sei. Fica muito longe daqui.

Estava esquecendo. O Carnaval também continua normal. Por que não continuaria?

Friday, October 11, 2013

Deus nos livre dessas chinesas de hoje em dia

Deus nos livre dessas chinesas de hoje em dia



A Cheng, essa garota de 20 anos, é uma parada.  Pegou o namorado de 23 em flagra, é o que dizem. Coitado, teve de ajoelhar-se. Depois, durante quase cinco minutos, nesta humilhante posição, esbofeteou-o na frente de todos, em plena rua, lá em Hong Kong. Só Deus sabe o que ela gritava para ele e o que ele dizia, chorando. O vídeo é meio confuso. Ainda tentaram convencê-la a parar com o abuso, mas ela não quis saber, continuou “descendo o cacete” no pobre indivíduo. A notícia está virando o mundo, como se não houvesse tragédias maiores para serem noticiadas.
Há muitas lições a serem tiradas do episódio. É verdade que elas não são baseadas em lógica psíquica ou filosófica, mas são coisas que todo mundo sente.
A primeira e mais óbvia é que não se fazem mais chineses como antigamente. Onde se viu ajoelhar-se para receber tapas da namorada? Nem que fosse a Gisele Bündchen. É uma ofensa cruel a todos os machos, ocidentais ou orientais.
No caso da Gisele, podemos deixar uma pequena abertura. Uns tapinhas, com jeito, mas em recinto privado, sem câmeras.
A outra conclusão é que lá por aquelas bandas não há tantas “Amélias”como pensávamos. Não que por aqui existam muitas. Pelo contrário, acho que agora já é uma coisa rara. O máximo que podemos encontrar neste mercado complicado é “Amélias” por conveniência. E, posso lhe garantir, precisa ser muito conveniente. As mulheres me desculpem, não quero faltar com o respeito, isso é apenas uma teoria em evolução, uma estatística teórica.
Por último, podemos também dizer que não se fazem mais chinesas como antigamente. Para ser franco, entretanto, eu não tenho a menor ideia de como eram as chinesas de outrora.
Quanto aos homens aqui do acidente, não tenho ideia da situação atual. Não sei se ainda eles são feitos como antigamente. Mas se vocês virem algum ajoelhado pelo nosso Brasil afora, sendo cruelmente estapeado por uma mulher, me avisem. Mas, pelo amor de Deus, não coloquem nem no Face nem no Youtube. Não quero passar por esta vergonha: “Homem brasileiro é estapeado...”. Imaginem os comentários. Vão me perguntar se são todos assim.  Se você não aguentar – tem gente que não aguenta – e quiser mesmo postar nas redes sociais, tenha cuidado em escrever com letras bem grandes que ele é argentino e que o incidente se deu em Buenos Aires. Talvez em Rosário, tudo bem...Quanto mais longe do Brasil, melhor!


Para não dizer que estou mentindo:

Thursday, October 10, 2013

Shakespeare e o perfume das palavras


Shakespeare e o perfume das palavras



“Aquela que chamamos rosa, com qualquer outro nome teria o mesmo perfume." Foi o que Shakespeare escreveu em “Romeu e Julieta”. E ele, é claro, estava certo.  Uma palavra não vai mudar a essência de uma coisa.  Devo dizer, porém, que o oposto também é verdadeiro. Uma palavra tem seu valor. Ela tem sabor, essência, independentemente da coisa ou pessoa que ela significa. Ela tem sua própria força, sua própria cor, sua própria vida. Você nunca se deparou com uma palavra cujo significado não conhece? Pois bem, mesmo sem sabê-lo, esse vocábulo causa algum impacto em sua mente, dependendo da sua experiência de vida, da maneira como você vê a existência. Quando você ouve a palavra “selanteio”, mesmo sem saber seu sentido, alguma coisa ecoa em sua mente. Alguma sensação boa ou má, alguma lembranca. Talvez por associação, talvez por causa dos sons. È a palavra pela palavra. Na verdade, essa palavra não existe. Melhor ainda, ela passou a existir agora, embora apenas no reduzidíssimo universo desta nossa crônica.
As palavras têm vida, têm sabor, têm cor, têm personalidade, independente do que elas significam. Pense numa palavra bem simples como “estrada” e por alguns instantes fique repetindo-a. Você vai perceber que ela tem seu próprio caráter, seus sons independem de seu significado. É assim com todas elas. Uma prova disso é que uma mesma palavra, conforme o contexto, pode significar coisas bem diferentes. Ela é quase um instrumento.
É por isso que ouso dizer “Qualquer palavra, independente da coisa que significa, tem seu própria perfume”. Claro, se o Shakespeare dissesse isso, teria mais valor e certamente ele diria de um jeito mais bonito. Também ninguém vai querer competir com o  Shakespeare...


Wednesday, October 9, 2013

Os lírios do campo

Os lírios do campo

E quanto ao vestuário, por que andais solícitos?
Olhai para os lírios do campo, como eles crescem;
não trabalham, nem fiam;
Mateus 6:28

Diz a palavra divina: “Olhai para os lírios do campo, como eles crescem.” Eu andei, andei. Procurei nos campos, em todos que consegui, para ver os lírios. Para ver se  realmente eles crescem e como. Para verificar se eles realmente não trabalham, nem fiam. Como estava na cidade, havia poucos campos e a maioria era de futebol. Não achei os lírios. Não pude verificar a verdade bíblica. Depois fiquei pensando. Crescer, eu sei que eles crescem, nem preciso olhar. Precisam estar no campo certo, é claro. De futebol, não serve. Que eles não trabalham, eu também sei. Não dá. Não tem braços nem pernas. Fiar, também sei que não fiam, porque não tem mãos.



Acreditei nas palavras porque estão na Bíblia. De qualquer forma, andando pela rua, finalmente vi alguns lírios. Brancos, lindos, puros. O branco era ainda mais impressionante em contraste com o verde de suas folhas. Era uma floricultura. Fiquei com vontade de perguntar ao dono se ele podia me falar onde eles cresciam. Desisti, pois ele poderia achar que eu estava querendo me meter no seu negócio, talvez querendo comprar direto do produtor. Fiquei olhando para eles para ter certeza de que não trabalhavam, nem fiavam. Ficaram lá parados sem se mexer e aí eu tive a confirmação.
Com a verdade bíblica assegurada, pensei em talvez comprar alguns para minha amada. Depois, pensei bem. Quem dá lírios para quem ama? Além disso, me lembrei que é muito comum vê-los em velórios, junto ao caixão. Aí, sim, é que eu ia ficar em apuros com a minha querida. Ainda bem que me lembrei disso.
Não sou tão burro assim, eu sei o que o livro sagrado quis dizer. Que a gente não deve se preocupar além da conta. Que Deus vai prover. Por outro lado, tenho certeza também que a gente precisa fiar, trabalhar, porque em outras partes da Bíblia está escrito assim. É complicado, às vezes, os ensinamentos parecem contraditórios. Como tudo na vida.
Por fim só restou uma coisa que eu não entendi. Por que os lírios? As rosas, os cravos, as dálias, nenhuma dessas flores trabalha também. Muito menos fiam. Por que a bíblia escolheu os lírios para exemplo?  Acho que não vou obter a resposta. Talvez depois de morrer, talvez.

Será que é por isso que as pessoas gostam de colocar lírios nos arranjos de velório? Não sei, aposto que você também não sabe.

Tuesday, October 8, 2013

O spray verde

O spray verde

A polícia inglesa está usando um produto químico sem odor, invisível e quase impossível de limpar. No ato do roubo ou assalto, um jato de spray é lançado no meliante, que nem percebe o que está acontecendo. Quando exposto à luz infravermelha o larápio fica de cor verde. E ninguém consegue tirar o verde da cara do indivíduo por semanas a fio. O novo sistema diminuiu violentamente a quantidade de crimes na região onde está sendo usado.
Pensei que talvez pudéssemos usar esta ferramenta útil na luta contra o crime. Depois, pensando bem, achei que seria inútil. Em primeiro lugar, teríamos de usar uma quantidade tão grande deste produto que ia acabar ficando caro. Em segundo lugar, alguém muito esperto, conseguiria fazer por aqui o que ainda  não conseguiram fazer na Inglaterra: limpar o produto da pele. Em terceiro lugar,  mesmo sabendo que o fulano está “verde”, não conseguiríamos capturá-lo por falta de policiamento. E, por último, se, por sorte, pegássemos algum, uns bons advogados iriam conseguir provar que...Sei lá, qualquer coisa, que o seu cliente comeu muito agrião, e por isso está verde, por exemplo. Nunca se sabe. Todos sabem como funciona o sistema judicial.
Talvez pudéssemos usar para políticos corruptos. Mas daí, como iríamos saber onde estão sendo feitas as reuniões secretas, onde estão combinando a “comissão” da obra, o superfaturamento? Não daria para montar uma armadilha para lançar o super spray verde. Além disso, eles certamente pagariam algum “por fora”para os que fornecem o tal do spray, para alterar a química do dito cujo. Tem tanto jeito de se safar.
Além do mais, se tivéssemos sucesso com o spray verde, no caso dos políticos de nada iria adiantar. Existe gente tão cínica que é capaz de falar que mudou para o “Partido Verde”. E daí, os coitados deste Partido, que nada têm com a história, para não serem confundidos com a máfia, iriam ter de mudar de cor: Partido Azul, Partido Abóbora, ou qualquer coisa assim. É o que todos sempre dizem: aqui não funciona...



Saturday, October 5, 2013

Dos loucos nossos de cada dia, nos livrai hoje

Dos loucos nossos de cada dia, nos livrai hoje



Foi o que eu vi no jornal.
Pastor pede R$ 21 milhões aos fiéis para pagar dívida de TV. Doleiro chama político de “chefe” em diálogo. Pastor é condenado a 15 anos de prisão por estuprar fiel. PF descobre esquema de desvio de dinheiro em 32 prefeituras do Maranhão. Carne humana recheava salgados, diz presa. Marc e Lauren Gilbert, de Houston (Texas, EUA), dizem que um estranho hackeou a babá eletrônica usada pelo casal e xingou sua filha de dois anos. Brasil é único país em que Montblanc vende caneta de luxo em 10 prestações. MP denuncia pastor Marcos Pereira por associação ao tráfico. Mulher diz que foi violentada por telepatia e convence marido a atirar no vizinho. Marido agride mulher, bate nos filhos e se esconde na casa dos pais. Homem é preso suspeito de matar a esposa a pedradas em Afogados da Ingazeira.
Aqui e lá é uma loucura. Eu não inventei nada, está tudo no jornal.
“Dezenas de parlamentares corruptos pedem renúncia, se arrependem e dizem que vão lutar por um Brasil melhor”...
Oops, essa saiu por engano. Sem querer eu tirei a frase de uma obra de ficção que eu vou escrever. Realismo Fantástico. Fantasia pura. Mas nem precisava falar, eu sei que você não acreditou...