Thursday, August 29, 2013

Cassar ou caçar?

Cassar ou caçar?



Um amigo  me contou que, em São Paulo, um prédio caiu. Já estava em perigo antes, alguém tinha sentido um pequeno tremor. Tinham de parar, não pararam. E mais, segundo o jornal, “o pintor Gleisson Feitosa, disse que a estrutura da obra ‘estava fraca’. De acordo com o funcionário, que estava no momento da acidente, o fato já havia sido avisado aos responsáveis pela obra que ‘pediam para continuar". Como é possível, no mundo de hoje, acontecer uma coisa dessas? Pessoas inocentes, pobres pessoas trabalhando para sobreviver, ficarem ali, soterradas, mortas por um desleixo, por ganância?
Ah, a ganância, que coisa triste. Mais sobre a tal da ganância. Quem lê jornal, viu a notícia sobre o tal de Donadon, o deputado que está preso. Coisa rara, sem dúvida. Está preso porque desviou dinheiro público. O vocábulo “raro” é para o fato de estar preso e não para o fato de desviar recursos, é claro. “Desviar” é mesmo um belo de um eufemismo, não é? Por falar em figuras de linguagem, temos outra, no que se refere ao caso. Não sei se é ironia ou metáfora. O nome do ilustre parlamentar, Donadon. Significa, em Latim “presenteado”, “dado”. Não é demais?

Interessante como as notícias se cruzam ao longo da vida. Posso até especular um pouco agora. Quando disseram aos responsáveis pela obra que o prédio estava tremendo, eles devem ter pensado: “treme mas não cai”. O que eles não sabiam que isso só se aplica ao Congresso Nacional. Estou dizendo isso porque, o tal de Donadon, ou “presenteado”, depois de preso e algemado, conseguiu ir até a Câmara e fazer lobby para não ser cassado. E conseguiu. Voltou algemado para a cadeia com seu mandato e tudo mais. Esse é dos bons. A única conclusão a que posso chegar é que prédios comuns que tremem, acabam caindo. A câmara dos deputados pode tremer à vontade, que não cai, de jeito nenhum. Estão todos unidos, na mesma  emoção...quero dizer, corrupção. Estava me confundindo com o hino da copa de 1970. Só há um jeito. Já que esses aí não podem ser cassados, quem sabe poderíamos talvez, caçá-los? Essa letrinha faria uma bela diferença...

Monday, August 19, 2013

Apesar da Geometria, o sol continua brilhando na Flórida

Apesar da Geometria, o sol continua brilhando na Flórida



Michael Bargo matou Seath Tyler Jackson a tiros. Charlie Kay Ely, de 19, Justin Soto, de 20, Kyle Hooper, de 17, e Amber Wright, de 15 anos, todos ajudaram. Esquartejaram o corpo. Colocaram os pedaços em latas de tinta. Ah, sim, antes haviam arrancado os dentes da vítima com um alicate. Um detalhe.
O sol brilha na Flórida.
Kyle disse que Seath saiu com a sua ex-namorada. Um excelente motivo para o crime.
Triângulo amoroso, dizem os jornais. Para resolver o problemas dos três, entretanto, foi usado um hexágono. Ou, em outras palavras, um pentágono contra uma solitária vítima angular. Para os ignorantes em Geometria, como eu, cinco matando um.
Agora, sem embargo, estão pedindo pena de morte para o Bargo. O que disparou os tiros.
Um já morreu, outro vai ser executado, quatro morreram por dentro e morrerão para a sociedade. Sob qualquer ângulo, uma tragédia de proporções geométricas.
Geometria complicada: polígono de horrores, pentágono de monstros.
Não se fazem mais triângulos amorosos como antigamente.
Não se fazem mais crimes passionais como antigamente. Como o do José matando o João, em “Domingo no Parque”, por causa da Juliana.
O sol continua brilhando na Flórida.



Saturday, August 17, 2013

Pelegos e Queixadas: o cimento das almas

Pelegos e Queixadas: o cimento das almas


Era uma vez um lugar… Lá moravam nossas famílias, ganhávamos nosso pão, vivíamos nossos sonhos. Quase todos trabalhavam no mesmo lugar, uma grande fábrica de cimento. Era enorme, dominava a paisagem, dominava a comunidade.
O que nós não sabíamos na época, era que a fábrica, ao produzir o cimento, jogava o resto do pó sobre nossas casas, nossas ruas, nossas plantas. Era como se tudo fosse cinza-esverdeado. Os arames das cercas tornaram-se três  vezes mais grossos do que  eram originalmente. As ruas eram cimentadas ou se tornaram, não porque quiséssemos, mas simplesmente porque o pó não parava de cair. As folhas das plantas eram todas da mesma cor, a cor do cimento. Flores, só as que estavam dentro de casa. Todos passaram a reclamar, exigir uma solução. Esse tipo de consciência não era tão forte naquela época, mas algumas pessoas eram valentes, lutavam e sabiam que era tudo um problema de ganância: a fábrica não queria gastar dinheiro com os grandes filtros industriais. O cimento era tanto que começou a entrar em nossos pulmões, nos pulmões de nossas crianças, em nossos olhos, em nossa pele. E ainda assim, precisávamos da fábrica, do trabalho.
Um dia, porém, o cimento entrou em nossas almas. Por várias razões, os empregados resolveram entrar em greve. Não foi uma greve qualquer, foi uma longa e interminável greve. Não foi uma greve qualquer, foi uma greve que mudou a nossa cidade. Não foi uma greve qualquer, foi uma greve que nos transformou por dentro e por fora. Foi aí que o cimento endureceu em nosso interior tanto quanto endurecera em nossos pulmões. As pessoas se dividiram. Umas achavam que a greve deveria ir até o fim, outros achavam que os trabalhadores deveriam retornar ao trabalho, que “trabalhar era preciso”. Dividiram-se  as pessoas entre “pelegos” e “queixadas”, os que queriam voltar a trabalhar e os que queriam continuar a paralisação até o fim. Foi triste. Amigos se tornaram inimigos, parentes e amigos se separaram, passaram a “olhar torto”, a falar coisas... Cada um, de cada lado, tinha suas razões. Foi aí que, mais do que nunca, sentimos a dureza do cimento. Passamos a ter almas de concreto. O cimento, definitivamente, tinha invadido tudo: o corpo e a alma.
Muito tempo se passou e, claro, de uma forma ou outra, tudo se resolveu. Não sei quantas pessoas ainda se lembram dessas coisas tristes, não sei se ainda há gente com rancor em Perus, onde tudo aconteceu. Eu sei que o cimento das ruas, das plantas e das casas, embora com dificuldade, um dia você pode limpar. Quanto ao cimento das almas, não sei. Não sei se passa de pai para filho, se amolece com o tempo. Eu só sei que esse cimento prejudicou nossa gente mais do que os acidentes de trem, do que a política, do que tudo... Claro, estou falando do cimento da alma... Espero que os filhos e netos de Perus - os filhos da terra - tenham se esquecido desse capítulo triste de nossas vidas, para sempre.
(parte da crônica do mesmo nome)


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Thursday, August 15, 2013

Conversa de gente louca

Conversa de gente louca



O gato de Schrödinger está vivo e ainda tem mais seis vidas para usar. É uma coisa que os especialistas em felinos deveriam explicar.
Emquanto isso, num restaurante de Copacabana, um turista americano come lula. Nos Estados Unidos uma criança deixa noventa por cento da lasanha no prato. Num outro país outra criança tem 99 por cento de chances de morrer por falta de alimentos. Um está aqui, outro está lá. Entretanto, quem está na sala de visitas conversando é o Ghandi. Conversa com John Lennon, imagine! Pela janela, o Charlie Chaplin filma tudo. O papa está esperando a eleição.
O John convida os outros Beatles para viajar no submarino amarelo. Ancoram em Pearl Harbor. A Yoko sai primeiro para ver se os japoneses ainda estão lá. Não estão não, voltaram para o Japão, estavam preocupados com o tsunami. O Lennon volta para Nova Iorque e o Paul se alista na marinha. O Obama adverte sobre a radiação. A notícia faz baixar a bolsa de Nova Iorque. A de São Paulo também.  Os raios atômicos não chegam, as bolsas voltam a subir. Notas de dólares sobre Manhattan. Sobre a Avenida Paulista também. A avenida fica cheia de cores e o deputado se preocupa com toda aquela cor. Diz que não pode.
Em São Paulo, outro arrastão. O pobre pedinte também se arrasta na 25 de Março. Mas é fevereiro ainda e o Carnaval nem chegou. Todos vão se arrastar, então.
Essa conversa é de  se jogar fora. Jogar fora mesmo. Estou cansado.  Ela me deu fome e eu vou almoçar.

Antes de ir, preciso avisar que o gato de Schrödinger está mesmo morto. Faz tempo que não o vejo. Essa conversa de sete vidas é fiada. Coitado do gato. Já morreu.

Sunday, August 11, 2013

Ariel Castro: Nos quintos dos infernos

Ariel Castro: Nos quintos dos infernos



Balões amarelos subiram no ar. Ao mesmo tempo, uma escavadeira gigante começava a demolir a casa onde Ariel Castro manteve três mulheres no cativeiro por mais de dez anos. Essa propriedade de Cleveland começou a ser conhecida como a “casa dos horrores”.  Um nome apropriado pelo que se sabe a respeito do que ocorreu. Ohio  já conheceu outros monstros, outros assassinos famosos. Há décadas acontecem coisas horríveis por lá.
A cessão da casa fez parte de um acordo que o “monstro” fez para se livrar da pena de morte e evitar um julgamento que se estenderia por semanas, causando certamente dor e sofrimento para as três vítimas. A pena foi prisão perpétua mais mil anos.
Inicialmente parece brincadeira. Se a prisão é perpétua, de que adianta se adicionarem mil anos? Em primeiro lugar, há uma explicação simbólica. O crime foi tão hediondo, que, se fosse possível,  ele deveria ficar preso mais um milênio, para haver uma melhor correspondência entre o crime e o castigo.
Talvez a promotoria tivesse algo diferente em mente, mas isso é pura especulação. Já pensou se Ariel, depois de morrer, com a ajuda do maligno, do rabudo, consegue ressuscitar? Ainda assim teria de voltar para a cadeia para cumprir o resto da pena, mil anos. Sempre é bom garantir. A outra hipótese é de que o juiz acredita em reencarnação. Com a idade que o réu tem, ainda que reencarnasse umas quinze vezes, teria de ir para a cadeia novamente, pelo resto de cada vida. Cada vida, uma prisão perpétua. Passaria do ano 3000 e poderia virar uma atração turística do futuro. Juntos com outros monstros seriam apresentados no Pavilhão “Horrores do Passado”, numa feira exótica. Estaria algemado, é claro. Existe ainda mais uma hipótese. E se ele chegar no inferno, e o dito cujo, o maldito, achar que ele exagerou nos seus crimes. Sabe, assim, como se estivesse querendo competir com o cujo. O coisa ruim não gosta de competição.  Assim sendo, o horrendo iria mandá-lo de volta.Sim, ele poderia voltar, mas teria de ficar mais mil anos preso por aqui, até que o demo esquecesse da traição do Ariel, o homem que queria competir com o maldito. O inferno também tem essas coisas de política. Não duvide. Existe gente que até desconfia  que é lá onde tudo nasceu.

Como disse, pura especulação. Talvez seja mesmo pura pressão psicológica, puro tormento. Saber que depois de passar a vida inteira lá num cubículo e morrer, ainda vai ficar devendo mil anos? É duro mesmo para um “coisa ruim” como ele. Existe ainda uma última hipóstese. Pela insensatez de seu crime, talvez depois de morrer ela tenha de ficar num inferno provisório, até começar a eternidade de fato, o fogo eterno. Lá nos quintos. Nos quintos dos infernos, não é assim que se diz?

Saturday, August 10, 2013

Suzana de Campos: anos dourados

Suzana de Campos: anos dourados




Vi a foto na página “Amigos de Perus” do Facebook  e imediatamente me lembrei do  ano de 1955. Era meu primeiro dia de escola no  “Suzana de Campos”.  Novos amigos, um monte de novidade. O material escolar, novinho, tinha um cheiro melhor do que perfume. Régua, lápis coloridos, estojo, até compasso eu tinha. As carteiras de madeira ainda  tinham aquele buraco para se colocar o tinteiro.
Lá na frente, a professora Lígia. Alta, magra, morena clara. Talvez o tempo esteja me ludibriando e as características físicas não sejam exatamente essas, mas não importa. Depois de minha mãe, ela era a pessoa mais importante da época. Lá na frente, ela era uma espécie de fada, de rainha.
Do outro lado da rua, o bazar cheio de coisas interessantes. Havia também a sorveteria. E aquele foi um dos anos mais bonitos, mais interessantes de minha vida. Parece que o ano inteiro passou em apenas uma semana. No final, glória total. Primeiro lugar, com a nota 88, junto com o Osvaldinho. Ganhamos um exemplar, capa dura, do “Patinho Feio”. Foi o maior orgulho, o meu peito ficou todo estufado.
Quem falou que ir para a escola não é gostoso? Para mim era a hora mais interessante do dia. Pena que não se fazem mais escolas como antigamente. Não se fazem mais anos como antigamente. Muita coisa não se faz mais como antigamente.

Eu não sabia que o mundo lá fora e o mundo do futuro também, não eram tão perfeitos assim. Não faz mal. Imitando o que disse o poeta, “foi infinito enquanto durou”.  



ooooooOOO0OOOooooo


Essa vida da gente

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Friday, August 9, 2013

Presidentes e ex-presidentes

Presidentes e ex-presidentes



Existe um grande país que tem alguns costumes feios, como tantos outros no mundo. Têm coisas bonitas também e uma delas, é a imagem que tem de “presidente”. Para começo de conversa eles não usam o prefixo “ex”.Uma vez presidente, sempre presidente , mesmo não estando no cargo. Não existem ex-presidentes. Um detalhe significativo. Além disso, depois de terminarem o mandato, os presidentes não procuram mais cargos políticos. Ficam acima disso. São figuras quase  sagradas. Fazem palestras, participam de cerimônias públicas, promovem campanhas sociais. São respeitados, até mesmo aqueles que não foram tão eficientes assim. Não é o homem presidente. É o cargo de presidente que é respeitado. É bom, é bonito.
Conheço um outro país, onde alguns presidentes, depois de acabarem seus mandatos, tentam desesperadamente voltar para um cargo político, obviamente inferior ao primeiro. Qual a dignidade de um ato como esse? As pessoas se acostumam, apesar de ser estranho. Nesse país, o cargo de presidente tem menos valor? Existe até aquele que foi expulso do cargo e ainda assim insistiu em se candidatar para uma outra posição. Não sente vergonha? Outro fez um governo tão ruim que deveria se ausentar para sempre, esperando que, com o passar do tempo, pudesse parecer  “presidenciável”. Ou talvez ser simplesmente esquecido, melhor para ele. Poderia se contentar em ser apenas dono de um estado de seu país. Um estado inteiro, imaginem! Que nada, lá está exercendo mais um cargo. Menos presidenciável que um bedel de escola, apesar de todo poder que tem. E as pessoas votam de novo, nas mesmas pessoas, de novo.
É só uma curiosidade, mas é algo de se notar. Num país há presidentes e ex-presidentes, que podem agora ser deputados ou senadores. Noutro só há os Presidentes para sempre, com “P” maiúsculo, o atual e os outros que já saíram do cargo. Nunca mais se candidatam para um cargo. Jamais.

Como alguém fez no passado , é o caso de se perguntar: “Que país é este?” Melhor ainda, “Que país é aquele?”

Wednesday, August 7, 2013

Contexto é tudo

Contexto é tudo



Contexto é uma coisa séria. Imaginem só uma pessoa falando “Quero sangue!”. Coisas horríveis podem vir à nossa cabeça.Um vampiro encurralando você numa viela sem saída? Um médico, que está tentando salvar uma vida,  falando para a enfermeira se apressar? Um técnico de futebol, no intervalo da partida, falando para para seu time jogar mais agressivamente? A lista é interminável. E tem mais: Depende da “cara” que você está fazendo quando está falando a frase. A língua, além de ser extremamente rica, têm nuances às vezes quase imperceptíveis.
Para exemplificar mais uma vez, vamos pensar numa outra frase: “Estou com fome.” O mais legítimo e direto significado é quando uma criança da África, realmente com fome, pronuncia a frase. Acho que, na prática, muitas delas nem conseguem mais fazer isso. Estão tão desnutridas que nem falam mais. Em diferente situação, e bem mais confortável, está o cidadão bem nutrido que, por um motivo qualquer, se atrasou para o almoço. Aposto que ele diz “estou morrendo de fome”, enquanto na verdade para morrer ainda falta muito: tem muita gordura para queimar. Ainda mais diferente de tudo isso é quando dizemos, de um ditador, que ele tem “fome de poder”. E como tem gente assim! Para não dizerem que sou cínico, devo citar também o rapaz apaixonado que diz que “tem fome”, mas é de amor. Claro, há aqueles que quando dizem que “têm fome de amor”, estão querendo impressionar a garota só para ir um pouco mais além. Acho, porém, que isso era antigamente. Hoje em dia, imagino, os namorados nem falam nada e já vão muito além.
“Vou lutar” pode ter igualmente inúmeros significados. Só para citar uns exemplos, pensem nos soldados, num líder sindical, num pugilista. Com as mesmas palavras, querem dizer coisas bem distintas. Como disse, contexto é tudo. Entretanto, quando um político falar a frase “Vou lutar por você”, vou deixar para sua interpretação. Pode ter vários significados.

Talvez, quando você transforma em palavras a famosa equação de Einstein, E= mc2, você não precise de contexto. Ciência é ciência. Mas depois dessas histórias que a Dona Quântica está contando por aí, não sei não...As coisas estão complicadas. Outras dimensões, outras leis da Física? Melhor calar a boca, quero dizer, calar as teclas do meu computador. Esse negócio é complicado.

Tuesday, August 6, 2013

O tio Sebastião

O tio Sebastião



Eu me lembro dele, falando forte, com decisão. Eu sei também, porque meu pai mais tarde me falou, que ele era um lutador. Lutava pelo direito dos operários, dos colegas de trabalho. Meu pai e ele, como São José, eram marceneiros, você pode confiar.
Naquela época o cimento chovia em nossas cabeças. Na dele e de meus primos mais ainda, pois eles moravam dentro da propriedade da  fábrica, no Triângulo. E eu gostava de ir para lá, se gostava. Parecia um sonho, parecia o paraíso. O trenzinho da Pirapora-Perus, aquelas pessoas todas fazendo uma comunidade, uma alegria no ar. A minha tia Sílvia, humilde, mas sempre com um sorriso, e o meu tio Sebastião, falando, explicando. Eu era muito pequeno para entender o que ele explicava, mas eu sabia que era importante. Outra coisa de que me lembro, era de que ele era sãopaulino. E nem adianta você fazer pesquisa, pois não vai achar ninguém tão fanático como ele em toda a história do time. Sozinho, valia por uma “organizada”. Se eu já não torcesse pelo time, tenho certeza de que viraria bandeira, só de ver sua convicção.  Eu me lembro dele, com a garrafa de cerveja – talvez uma Antarctica – falando, explicando tudo com segurança, com convicção. Era muito bom estar por ali, tenho sudades do meu tio e de todo mundo por lá.
Eu eu lia todos os gibis do mundo ali mesmo. Almanaques do Fantasma, do Mandrake, do Tio Patinhas. Meus primos tinham a maior coleção que eu já vi. E era tudo uma coisa só, as histórias que eu lia, as histórias que eu via e meu tio era um heroi também.

É melhor parar por aqui, que essas lembranças, de tão gostosas, às vezes até machucam a gente.

Friday, August 2, 2013

Loucos e loucuras

Loucos e loucuras



Loucuras, loucos, loucamente. No mundo há tantos, deve haver em outros planetas também.  Os loucos estão espalhados por aí, sem nenhuma organização. Isso é perigoso, pois não sabemos onde nos colocar. Nós, por exemplo, que somos apenas “louquinhos”, de baixa concentração, não podemos nos misturar com loucos desvairados, sem norte, sem razão. Podemos, entretanto, nos misturar com os loucos de amor, que, com eles é bom ficar.  Os loucos de verdade – clinicamente diagnosticados - precisam ficar com os loucos por gente, que é para deles cuidar.  De amor, mais até que nós, é do que precisam mais. Os loucos ousados, que não têm limite, que acham que tudo podem,  devem ficar numa terra distante, para não roubarem a liberdade dos loucos normais. Os loucos por poder devem ficar todos  num só lugar, para poderem uns nos outros mandar. Vai ser interessante saber como isso vai ficar.

Os loucos assassinos, matadores de inocentes, que abusam de outros, deveriam ser lançados no fundo do mar. E os loucos que abusam de crianças e mulheres, esses só tem um lugar: todos ele devem ficar, para sempre, queimando, na parte mais funda do inferno. De lá, nunca deveriam ter saído.