Xixi
nas calças
(O
longo caminho do Suzana de Campos até a casa)
O
garotinho saiu da escola apertado. Criança, não sei por quê, não foi ao banheiro. Vontade de chegar
logo em casa? Não se pode entender um pequenino desses, com certeza. A gente
mal entende os adultos. E as mulheres, então? Quem consegue?
Foi
aguentando firme, o garoto. Mas o fato é que, do Grupo Escolar Suzana de Campos
em Perus até onde morava, era um bom chão, principalmente para alguém daquela
idade. Não deu outra: ele não aguentou. Fez xixi. Não muito, mas era
bem visível naquelas calças curtas, azuis, que ele usava. Aquele último trecho
antes de chegar, foi um tormento. A cabecinha do garoto fervilhava. Iria levar
uns tapas? A mãe, ocupada, teria de lavar suas roupas, ia dar um trabalhão.
Vexame. Primeiro vexame de menino. Conjeturou mil desculpas. Um colega malvado
espirrou água nele. Passou embaixo de um telhado? Mas não tinha chovido...
Estava com fome, queria chegar, mas estava com medo e vergonha também. Alcançou a tramela, abriu o portão e foi,
como um condenado, até a cozinha, enfrentar a mãe. Esta, atarefada, virou-se
para ele e logo percebeu o que tinha acontecido. Você sabe como são as mães.
Ele ia começar a gaguejar algo, quando ela abaixou-se, deu-lhe um beijo que
nunca tinha dado antes e falou: “Vai se trocar, que a comida está pronta”. Ele
pôs roupas secas, deixou as molhadas na porta do quarto e, aliviado, foi se
sentar à mesa. O cheiro da comida estava
uma delícia. Com o rabo dos olhos viu a mãe passar rapidamente com suas
suspeitas calças em direção ao tanque.
Foi
uma tarde feliz. Ele estava tranquilo, tinha superado o trauma. À noite, a mãe
chegou perto dele, antes de se deitar. É agora, ele pensou, vai falar alguma coisa. Que
nada, deu mais um beijo, um abraço materno novo, que ele ainda não tinha
experimentado. Dormiu um sono gostoso, infantil, quase de bebê.
Não
é assim que Deus fez as mães?
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Novo lançamento no Clube dos Autores: Essa vida da
gente
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