Monday, August 31, 2015

O gramofone e o Chico caindo lá das nuvens



O gramofone e o Chico caindo lá das nuvens

O gramofone, esse eu não conheci pessoalmente, não senhor. Até vi depois, coitado, num museu. Ele era bonitão, com aquela concha charmosa e tudo mais. A vitrola, essa sim, foi uma grande amiga minha. Tive mais de uma. Uma azul escura, com uma faixa branca, foi a de quem mais gostei. Foi nela que eu ouvi o Sgt. Peppers dos Beatles pela primeira vez. E isso, garanto, não é coisa de se esquecer. Além disso era um LP, isso mesmo Long Play, para quem não teve o prazer. Um montão de músicas, todas num mesmo lugar. Dá para acreditar? Isso mesmo, antes os discos de vinil, continham uma só canção, os tais de compactos simples. Depois houve os compactos duplos.  Uma loucura, uma sofisticação. Depois tudo começou a ir mais rápido.  Veio a tal de fita cassete, acho que não tinha saúde muito forte, logo partiu.  Os cds, muito teimosos, dizem que estão por aí até hoje. Mas esse povo moderno não liga muito para eles não. Levam música de um lado para outro num tal de flash. E eu que pensava, antigamente, que ele era apenas um super-herói. Mas a novidade mesmo, você não vai acreditar. Dizem que agora eles guardam as canções nas nuvens. Os entendidos falam que é a "cloud'. Eu já andei de avião e nunca vi nem o Chico, nem o Caetano, lá em cima, não. Talvez porque eles sejam do meu tempo? Até que seria interessante ver o Pink Floyd pairando numas altocumulos lá no alto. O pessoal do Abba, cantando gostoso numa nuvem cirrus? Nossa! Eu ia “viajar”...
Só não entendo por que nãos as deixam, as canções, é claro, por aqui mesmo no ar, pertinho da gente? Quando a gente quiser ouvir, é só pegar. Além disso, lá em cima, é perigoso. Não quero ver meus ídolos despencando acidentalmente, sem paraquedas, lá do alto.

Mas eu sei por que eles não deixam nossas canções  aqui, ao alcance da mão. Só pode ser por causa dos direitos autorais.

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Sunday, August 30, 2015

A geração dos sessenta

A geração dos sessenta



Esse mundo ligeiro, fantástico, mutante, não dá mesmo folga para o pessoal dos anos 60. Nós já passamos por tantas, não foi brincadeira. Vimos e sentimos a “guerra fria”, aquele medão desgraçado de uma bomba atômica cair em cima da gente e espalhar radiação por toda a parte. Já pensou, gente nascendo com defeito, corpos se desfazendo? Tudo por causa dos comunistas. A bem da verdade, os americanos foram os únicos que definitivamente usaram bombas atômicas em guerras.
E a AIDS? Doença maldita, sorrateira, com aquela carga enorme de preconceito, assustando todo mundo. E os grupos terroristas, de esquerda e de direita, fazendo coisas medonhas? E os sequestros de aviões? Era um pavor danado, a gente estava o tempo todo esperando o mundo acabar. Naquela época, era difícil distinguir os bandidos dos mocinhos. Muita gente achava que estava claro. Engano seu, as coisas não são bem assim. Mas não vou falar disso não, essa coisa de política é complicada.
Vamos falar de coisas boas. O Kennedy falou que a gente ia chegar na Lua e nós chegamos. Não fomos bem “nós”, foram os americanos, mas naquela hora era o “homem” chegando lá. Vou dizer uma coisa, vocês que nasceram depois, não têm a menor ideia do que foi isso. Coisa emocionante, não dá para explicar. E os Beatles? Você sabe o que é pegar, pela primeira vez, o álbum “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” dos rapazes nas mãos? A gente até tremia. Poder ter as letras das músicas: naquela época não tinha internet. E ver o Chico ganhar o festival de música popular? No dia seguinte, conferir a letra com os amigos no trem? Ir a um cinema de verdade, com namorada e tudo? Cantar com o Vandré na televisão?
E as coisas que vinham lá de fora?  E o Festival de Woodstock? As loucuras que aconteciam nos Estados Unidos, na Rússia?
E as coisas foram mudando, mudando. A gente foi se adaptanto. Os computadores foram chegando, fomos nos acostumando. Eram grandões, deajeitados, mas eram estranhos para todos nós. Com o tempo as coisas foram se sofisticando. Internet, email, software. De repente, tudo se acelerou. A vida da gente ficou toda eletrônica. Os bebês já nascem com os tablets nas mãos e nossa geração, aos poucos, foi ficando para trás.
Parece fácil, mas para nós, que viemos lá de trás, foi um turbilhão. Não apresse a gente, vamos chegar lá. Devagarinho. Agora já sei um monte de coisa. O duro é que quando a gente acaba de aprender uma coisa, outra já está aparecendo. Esse povo não dá folga.

Outro dia falaram para eu colocar as músicas que comprei na “cloud”. Nas nuvens! Pode? Como vou guardar as canções, as minhas poesias, os meus livros lá em cima, nas nuvens? E se chover? Vai tudo para o bueiro? Não sei não.
Bem feito para você. Eu demoro um pouco, mas acabo aprendendo. Em compensação, você nunca vai ver o homem pisar na Lua pela primeira vez. Talvez em Marte, quem sabe...Mas vai demorar um pouco.

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Thursday, August 27, 2015

A represa


A represa

Arlindo tinha a sua pequena horta, uma criação de galinhas, e um pequeno barraco para dormir. Morava sozinho, de que mais precisava? Estava muito bem assim. Não tinha vizinhos, e a sua “propriedade” ficava no começo de uma pequena elevação. Não tinha documentos daquilo tudo não, mas quem tinha, naquele fim de mundo? A parte mais difícil era a água. Tinha de andar quase dois quilômetros para conseguir aquela preciosidade de líquido, num pequeno riacho que, graças a Deus, estava sempre à disposição. Para as plantas, usava uma água meio barrenta que havia por ali mesmo.
Ele se considerava abençoado. Sem amolação, sem gente para incomodar, estava bom demais. Por isso, quando aqueles homens bem vestidos, apareceram do nada com aquela conversa fiada, ele não gostou muito. Diziam ser do governo. Traziam uma papelada na mão, que, para o Arlindo, não valia nada. Ele nem sabia ler! Explicaram que ele tinha de sair dali, mas não era para ficar preocupado. Já tinham um novo lugar para ele, muito bom. Melhor até. Uma construção de verdade, com muros e tudo mais.  Aquilo tudo ia ser inundado, estava vindo uma represa. O povo precisava de energia, uma grande hidrelétrica ia ser construída. Uma verdadeira benção. Queriam que o Arlindo assinasse aquilo tudo, mas ele nem sabia pegar numa caneta. Os homens desistiram, mas avisaram para ele que em um mês, aquilo tudo ia virar uma água só, ia ficar tudo submerso. Dava para ficar ali, não, precisava ir para um lugar seguro que estava reservado para ele. O governo tinha cuidado de tudo. Os homens, no fim, foram embora, sem ter certeza se o Arlindo tinha entendido ou não a gravidade da situação. Teriam de voltar mais uma vez e tentar  levar a mudança do homem para o novo lugar. Não era quase nada o que ele tinha, mas era uma questão de respeito.
O Arlindo ficou cismado com aquilo tudo e não quis saber de conversa, sabia que aquilo era coisa para boi dormir. Estavam querendo era tirar a sua propriedade só porque ele não tinha os papeis. Mas não ia sair dali, nem morto.
Passou um tempo e vieram outros conversar com ele. A conversa já não foi tão doce. Disseram que se não saísse, a responsabilidade era dele. O caminhão estava ali para fazer a mudança, era só ele pegar as coisas e subir junto com os outros. O Arlindo não arredou pé, teimoso que era e decidido que estava a lutar por sua terra. O homem explicou, a água ia chegar e ia começar a subir, subir, até tudo afundar ou ficar boiando, Não tinha para onde ele fugir. Não havia nada que convencesse o homem. Foram embora.
Passaram-se algumas semanas e nada aconteceu. O Arlindo sabia que aqueles homens com cara importante, estavam querendo enganá-lo. Ali tinha alguma coisa errada. Imagina, a água ir subindo, subindo, naquele fim de mundo. Ali nunca tinha tido água suficiente nem para beber! Imagina só.
Um dia porém, pouco antes do meio dia, o Arlindo ouviu um barulho diferente. Uma espécie de trovão ensurdecido, um rosnar de animal ferido, depois um barulho igual a de um rio, que foi crescendo, crescendo... Foi então que ele viu, ao longe, aquele mundão de água se espalhando pela planície, correndo entre as árvores, derrubando tudo que encontrava pela frente. Ainda assim, Arlindo não se apavorou, sabia que ela não ia levar nada que era seu. Sentou-se um pouco mais acima de seu barraco, no topo do pequeno monte e ficou apreciando o acontecimento. Era um verdadeiro mar. A água estava bem perto agora e já não tinha mais a rapidez de antes. Ela foi subindo, subindo. Uma parte da horta do Arlindo já tinha ido embora. E daí ela continuou a subir, mas bem devagar. Ainda assim, o homem não se assustou, sabia que ela ia parar. E ela parou. Ficou a pouco menos de um metro da porta do barraco. O Arlindo, então, foi entrando na água até ficar com os joelhos molhados. Estava feliz com aquela fartura. E tinha mais. Tinha vindo tanta coisa boa boiando, que ele mal conseguia pegar tudo que podia usar. Eram tábuas de qualidade, ripas, troncos e outras utilidades. Foi levando tudo para o seco. Parece até que ele viu uns peixes. Já pensou, poder pescar?

Agora ele entendia por que aqueles homens do governo queriam que ele saísse. Já pensou o valor de uma propriedade daquelas? Com um riozão cheio de coisas boas e até peixe, bem ali na porta? Eles sabiam de tudo, os safados. Queriam era pegar sua propriedade. Ele sabia que tinha lei contra aquilo. Quando você fica muito tempo num lugar, aquilo é seu. Os safados estavam querendo que ele deixasse tudo para eles. Esse pessoal do governo não tem jeito mesmo, só quer roubar...

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Wednesday, August 26, 2015

As enchentes de Perus, vistas lá de cima


As enchentes de Perus, vistas lá de cima

Morar no morro, segundo alguns compositores populares, é poético. Quando eu era pequeno, achava isso também. Na verdade, não era bem poesia, era emoção. Ver tudo lá do alto, bem alto, era como se tudo fosse meu. O campo de futebol do Portland Perus, o rio, a estação da  estrada de ferro, tudo. A família era simples, a casa era simples, mas que importava, se eu podia possuir tudo lá do alto, lá do morro São Jorge?
Mas havia as enchentes. Sem avisar, elas chegavam. Se havia previsão de tempo naquela época, ninguém sabia. De nada adiantaria, se soubéssemos. O morro era o único lugar seguro. Lá embaixo, a água cor de barro  invadia tudo, apagava os contornos dos lotes, das ruas, era tudo uma coisa só. Telhados e copas de árvores eram as referências. A estrada de ferro, mais alta, ficava a salvo e dividia, do outro lado, os alagados dos não alagados.
Éramos crianças e não víamos o lado da tragédia, pessoas perdendo as coisas que tinham, perdendo as casas, sofrendo. Na nossa inocência, não víamos nada daquilo. Só conseguíamos ver um grande espetáculo, os adultos comentando, tudo acontecendo.

Depois, tudo passava, tudo voltava ao normal. Para nós. Para muitos, entretanto, muita coisa mudava. Muito sacrifício pela frente, muita dureza e destruição.
Mais tarde, adulto, aprendi. Todos nós temos nossas enchentes. Enchentes de todos os tipos, destruidoras e fatais, as de verdade e as metafóricas. Passam sim, seca tudo depois. Fica, porém, um grande estrago que só a gente consegue ver. Fica um estrago danado nas coisas, um estrago danado nas almas, lá dentro da gente. Agora não gosto mais de ver as enchentes: nem as de água barrenta, nem as outras enchentes da vida... Nem a dos outros, nem as minhas.

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Sunday, August 23, 2015

Amigos, amigos...

Amigos, amigos...


Passam os tempos, as experiências, os fatos. Passam as coisas do mundo, as histórias das nações, dos líderes. Os acontecimentos se perdem na distância, mudam as narrativas, os valores, os pontos de vista. Muitos pecados se tornam virtude e vice-versa. O sagrado  vira profano, e o profano pode se tornar a palavra de ordem.

Na nossa vida pessoal, também tudo passa.  Ódios antigos desaparecem, grandes modelos de desvanecem. O importante de antes já não é mais tão importante assim. Por outro lado, pequenos detalhes passam a ser parte crucial de nosso caminho. Conscientemente ou não, sepultamos culpas antigas para que as novas possam ocupar seus espaços.  Tomamos novas resoluções, hasteamos novas bandeiras, elegemos novos ideais.

É assim que vivemos, é nosso jeito de continuarmos e de sermos.

Existe algo, porém, que fica. É a lembrança das pessoas boas que cruzaram nosso caminho, seus rostos  sorrindo, suas vozes nos consolando. São as almas boas, sem malícia, que nos quiseram bem, nem que tenha sido por um dia, um dia só. São os verdadeiros amigos que, em diversos momentos, apareceram em nosso trajetória. É deles que vivemos até hoje, de suas lembranças. Mesmo sem percebermos, eles formaram o solo onde hoje pisamos. São a espinha dorsal de nossas sofridas almas, sem eles não teríamos sobrevivido...É doce a lembrança de suas faces, de suas palavras... Amigos de todos nós, amigos nossos, muito obrigado!
o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o


Essa vida da gente

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Friday, August 21, 2015

Elas estão na minha cabeça



Elas estão na minha cabeça

Irriquietas, eufóricas,
atropelam-se, vez ou outra,
secretas, melancólicas,
nas teclas do computador.
Palavras buliçosas,
inquietas, com ardor,
se agitam e dizem coisas
que não deviam dizer.
Dizem mais do que podem,
ou menos do que devem.
Ora tem gosto de mel,
outras vezes, de fel.
Estão na minha cabeça,
louquinhas para sair.
Às vezes eu até penso
que elas são realmente,
nada mais que pura gente.
Gente como a gente,
de verdade, carne e osso,
doidinhas como estão,
para nascer e crescer
e, enfim, acontecer!

          ooooooOOO0OOOooooo



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Essa vida da gente

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Monday, August 17, 2015

A prova dos nove

                     www.tvi24.iol.pt
A prova dos nove
(ou “A Matemática não é uma ciência exata”)

Juanita sempre dizia que o nove era seu número de sorte. Qualquer dia algo extraordinário iria acontecer e tudo por causa do nove.
Naquele dia, uma segunda à tarde, seu marido Júlio tinha saído um pouco mais cedo do trabalho. Um ano de casamento, claro que merecia uma comemoração. Um pingente de ouro numa caixinha, no bolso, esperava ele fosse alegrar o coração da esposa. De uma vez por todas apagar aquela mania de achar que havia outra mulher na vida dele. Imagine, além de muito sério, Júlio jamais faria algo horrível assim, logo no primeiro ano de matrimônio. Todo feliz e lampeiro, ele para na esquina da rua de casa. Lá havia uma floricultura e ele tinha acabado de ter uma grande ideia. Perguntou para Jonas, o florista, se era possível arrumar um buquê só com nove rosas. Claro que sim, o freguês é quem manda. Enquanto o rapaz preparava o pequeno arranjo, Júlio escrevia uma cartão. Tudo pronto, seguiu para casa, logo ali.
Alguns minutos antes, imaginem que coincidência, passou por ali o Pinda. Rapaz chamoso, sempre exibindo aquele ar de conquistador, comprou três rosas. Ele não precisava de muito para agradar sua nova namorada. Ele, por si  só, já era o agrado, pensou. Ele era metido mesmo, isso sim ele era. Assim que saiu da floricultura, passou bem à sua frente uma verdadeira gata. Ele não teve dúvidas, aproximou-se dela e começou a conversar. Foi com aquele ar de galanteador que ele sempre exibia. Disse que a viu de longe – que mentira – e não pode resistir, Comprou três rosas, pois, segundo ele, ela era três vezes mais bonita que qualquer mulher daquela cidade. Ela aceitou, meio a contragosto, mas saiu com pressa, deixando-o para trás. Pinda, que era muito sábio com as mulheres não se preocupou. Qualquer dia desses, completaria o serviço. Sabia que ela morava ali mesmo naquela rua. Falou “ciao”, metido a italiano, que era para impressionar e se despediu. A nova namorada teria de esperar pelas flores. Tinham ficado para outra ocasião. O importante era não perder aquela oportunidade.
Juliana era o nome da quase nova conquista do Pinda. Enquanto ela ia para casa, encontrou a Juanita no caminho. Elas eram quase  vizinhas. Eram de dizer apenas  “Olá, como vai?, mas diante da cara de felicidade da Juliana com três flores na mão, perguntou o que  tinha acontecido. Ela só falou que alguém se apaixonou por ela de repente, deu-lhe três lindas flores e ...

Juanita pensou que garota de sorte, ganhar assim três flores de um estranho. Ficou ali no portão, esperando o maridão chegar. E ele chegou com um lindo buquê de flores na mão. Beijaram-se, ela estava feliz. Ela sim tinha alguém que a amava de verdade. Daí comentou que não era todo dia que ganhava uma dúzia de rosas. Ele respondeu que eram nove. Antes mesmo dele explicar o que achava óbvio, nove era o número de sorte dela, a Juanita teve um ataque de fúria. Fez a conta dos nove. Doze menos três são nove. Ele havia tirado três rosas para dar para a vizinha. Safado. E ainda vem com essa cara de apaixonado. Jogou as flores na cara dele e o expulsou de casa. Ele foi para um hotel aquela noite. Tentando, de todas as formas entender a mulher. Coitado, quem consegue entendê-las? Afinal, a Matemática não é uma ciência exata.

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Saturday, August 15, 2015

Um suspiro


Um suspiro

Um suspiro, breve, surdo, manso, é o que nós somos. É somente isso o que representa nossa vida inteira nesse Universo estupidamente imensurável, absurdamente incompreensível. Mal ouvido por nós mesmos, pelos outros, pelas pessoas que nos amam. Encontramos inúmeras desculpas para nos afastar dessa ideia. Falamos de nossas almas, de nossa inteligência, de nossa capacidade de viajar pelo espaço sideral. Mas, convenhamos, no fundo somos um pontinho que praticamente não existe. Imperceptível, intangível, inconsequente, mesmo aqui em nossa própria constelação.
Não é o que sentimos, no entanto. Somos movidos por um incrível orgulho, uma sensação de presunção, de poder, que parece até ridículo, se considerarmos o resto do Cosmos. Há, dentro de nós, uma motivação, uma vontade que, às vezes, nos torna heróis ou gênios e que, outras vezes, nos transforma em monstros. A verdade é que tudo isso é um nada, dentro de uma minúscula gota de água, dentro de um infinito oceano.

No entanto, todos os dias, a todo instante, este suspiro, breve, surdo, suspira por outro suspiro também surdo e breve, formando um compasso, uma onda, uma diminuta energia que de alguma forma é percebida. Alguns chamam essa conexão de amor. Percebido, medido, talvez, num laboratório sofisticadíssimo, ultrassensível, do Criador. Só ele mesmo para observar tão minúsculo ponto no Universo.

ooooooOOO0OOOooooo



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Friday, August 14, 2015

O dia em que Steve perdeu as estribeiras



O dia em que Steve perdeu as estribeiras


Steve era um empregado exemplar. Sempre lá do outro lado do balcão do hotel, tentando resolver os problemas dos hóspedes, tentando ajudá-los. Como se costuma dizer, para ele não havia tempo ruim. Fazia verdadeiros malabarismos para contornar situações difíceis, encontrar um ponto comum entre os interesses do hotel e as necessidades ou desejos de quem precisasse. Era educadíssimo. Diante de pessoas arrogantes, sem educação, ele sempre conservava sua calma e mantinha o respeito, mesmo quando não era respeitado.
Aquele fulano de Nova Iorque estava sendo um teste rigoroso para ele. Embora o erro na reserva tivesse sido do próprio, pois solicitou uma cama de casal, quando na verdade eram duas camas o que queria, ele insistia que aquilo era incompetência do hotel. O Steve já tinha provado para ele, de uma maneira inequívoca, que não havia como o computador ter errado. Estava agora tentando resolver a situação da melhor forma possível. O impaciente senhor, entretanto, não dava folga, não parava de falar. Hotel incompetente! Cinco estrelas? Nem duas merecia, e assim por diante. O Steve mexia e mexia no computador, tentando acomodar o inconveniente hóspede. Fazia de conta que aquele xingamento todo não era com ele, era apenas um desabafo. Num determinado momento, porém, o homem começou a falar muito alto e chamou o Steve de incompetente.
Não sei o que deu no nobre servidor. Ele levantou a cabeça, olhou bem para os olhos do reclamante e soltou, bem sonoro:
-Fuck you!
Deixo o palavrão no original, pois, nesse caso, soa melhor. Todo mundo do saguão olhou para o Steve e para aquela insolente figura, que, de repente tinha ficado muda. Saiu dali, foi para a sala onde os funcionários deixam suas coisas, pegou a mochila, e foi para casa de uniforme mesmo. No dia seguinte foi informado que tinha sido transferido para um cargo inferior, sem contato com o público e, para salvar seu emprego, teria de fazer um tratamento psicológico. Justo ele que nunca tinha se irritado.
Todos estavam solidários com ele, pois tinham visto o que tinha acontecido e sabiam como ele era. O Steve, no entanto, estava muito bem. Repetia para todos:
-Eu me sinto leve, leve...
E se você visse a cara dele, você concordaria. Ele estava tranquilo, suave, quase pairando no ar....

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Thursday, August 13, 2015

Pedacinhos do Céu



Pedacinhos do Céu

Já se discutiu muito se um chorinho deve ter letra ou não. As opiniões são bem diversas. Originalmente eles não tinham, eram só instrumentais, mas a partir de 1930, por influência do rádio, alguns compositores começaram a introduzi-la nas composições. Embora eu não entenda de música, acho que eles ficam melhores assim, em sua pureza original. Acho que eles não precisam de mais nada. E olha que eu gosto de um bom texto, quase sempre. É um gênero gostoso, suave, que toca bem no fundo da alma brasileira.

Estava a pensar nessa e em outras coisas e ouvindo uma sequência deles. E, de repente, ouvi um que me deu uma paz, uma alegria, uma sensação maravilhosa. Eu já o conhecia mas não conseguia me lembrar do nome. Fiquei curioso e fui conferir: Pedacinhos do Céu. Achei que era o nome mais apropriado que eu já tinha visto para uma canção. Ela realmente não precisava de letra, mas, daquele nome, precisava. Era o perfeito nome para o perfeito chorinho, de um perfeito compositor: Waldir Azevedo. Definitivamente, pedacinhos do céu...


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