2060: O Novo Mundo de Herrera
Lá vem o Herrera com mais uma das suas. Desta vez, segundo ele, não é uma história. Por enquanto, diz ele, é apenas “um palco” fictício, situado no futuro e imaginado por ele. É aí onde enredos inimagináveis vão se desenvolver. O ano é 2060. Em todos os setores do conhecimento humano, o avanço é extraordinário. Genética, nanotecnologia, robótica e informática alcançaram níveis jamais sequer vislumbrados. Essas áreas do conhecimento já vinham crescendo exponencialmente no começo do milênio, mas entre os anos 2018 e 2022, experimentos sob o prisma da física quântica trouxeram à luz dados e conhecimento antes simplesmente impensáveis. Conhecimento é poder, e por volta dessa época, ele estava quase todo em posse das grandes empresas internacionais. Não foram muitos anos antes que elas simplesmente passassem a controlar tudo. Os governos foram assimilados. As características excepcionais das novas descobertas justificavam tudo e ficou muito mais fácil impor as regras. Aliás, não havia outra opção, as grandes forças econômicas representadas pelas corporações já tinham o poder de fato, era apenas uma questão de formalizá-lo através do “corporation control” ou “CORPCON”. Ademais o conforto e a tranquilidade que as grandes companhias proporcionavam, traziam muita confiança para a população, que, além de tudo, já estava cansada das traquinagens políticas. Embora o “governo” fosse um só para todo o globo, havia três grandes regiões administrativas: O grupo I, que congregava todas as Américas, o II que incluía Europa e África e o III que era composto da Ásia e Oceania. Aliás, esses nomes nem são mais usados. Agora, voltando para 2060, temos apenas “Sector I, Sector II e Sector III. Praticamente não há mais doenças. Órgãos humanos são reproduzidos com facilidade e praticamente não há mais acidentes. Devido ao incrível avanço da genética, as crianças nascem quase perfeitas. O sistema sabe de tudo, sabe sempre onde você está. Quando você nasce, “nanochips” são impantados em seu corpo. Com isso a monitoração é total, para o bem e para o mal. Sempre sabem onde você está, mas por outro lado, sabem se você está bem, se você tem algum problema de saúde. Igualmente, problemas de segurança você não tem mais, pois a criminalidade é zero. Tudo, absolutamente tudo, é gravado o tempo todo. Os satélites não existem mais. O que existe é uma incrível rede de estações orbitais contruídas com a ajuda do “elevador espacial” e que monitoram tudo. A precisão é extraordinária. Dentro e fora dos prédios e casas, tudo se sabe. Ah, as casas e os prédios, não dá nem para explicar...Nem sei se podemos ainda usar esses nomes. O grande conselho das empresas, o “Corporation Control”- CORPCON- se reúne regularmente apenas para checar o andamento das coisas. Tudo já está programado, acertado...A língua Inglesa, definitivamente tomou conta de tudo...A essa altura, parece que temos uma boa visão de nossa querida Terra daqui a algumas décadas e eu, falo para o Herrera, “Então é isso, vamos ser governados pelas multinacionais?” Ele me responde para ter calma, para não ser simplista, ainda não terminou. E continua. Quando houve a implantação do sistema, do jeito que é agora, apesar das inúmeras vantagens que oferecia para todos, houve gente que não aceitou. Filósofos, naturalistas, liberais, livres pensadores, etc...O “Sistema” poderia obrigá-los mas optou por lhes dar uma chance. Eles poderiam se recolher para as “colônias” e lá viver do jeito que quisessem. Foi o que aconteceu. Não são muito grandes e há pouco mais de cem, mas todos se referem a elas como “As Cem Colônias” e seus habitantes são os “prims” (de “primitives’) Estão espalhadas em territórios fora dos três setores, por toda a terra. O mais significativo a respeito delas é que seus habitantes não têm os nano-implantes e assim não podem ser monitorados. Parte do acordo também foi que lhes forneceram “defletores” que supostamente impediam que as estações espaciais invadissem com suas câmeras potentíssimas as suas residências e tudo que havia lá. A vida dentro das colonias é como se o tempo tivesse parado em 2030...
Finalmente, Herrera deu aquele sorriso enigmático. Diante da minha cara interrogativa, explicou. Aí é que estava toda a grande fonte de suas histórias. O pessoal das colônias não podia adentrar o perímetro da nova civilização e vice-versa. Eles- o pessoal das 100 colônias - não têm identificação, não têm mapa genético, podem oferecer risco para o “novo ser humano” – os habitantes dos Setores I, II e III- e além disso, eles também não têm proteção contra o modo de viver do novo mundo. No entanto parece que o acordo não tinha sido muito honesto. Os agentes do CORPCON haviam implantado clandestinamente vigias e sensores eletrônicos dentro das colônias, e pior que isso, secretamente planejam usar as mesmas para experiências sem que seus habitantes saibam... Já pensou quantos enredos, quantas sequências de suspense e ação poderia se tirar deste “conflito”? Herrera não falou nada, mas eu poderia jurar que ele, bem lá no fundo, estava já pensando até numa mini-série de televisão...
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