Sunday, November 29, 2015

E o pássaro voou

E o pássaro voou

Uma coisa de louco. Lá estava ele no meio da floresta, sem saber para onde ir, sem saber o que fazer. Começou a correr, pois sentiu que havia perigo por ali. Não conseguia se lembrar de seu nome, mas certamente tinha um. Era uma dificuldade correr no meio do mato, descalço e nu. Os gravetos do chão machucavam seus pés, os ramos das árvores machucavam seu corpo. Mas era preciso correr.
Quem era, o que fazia ali? De onde tinha vindo? Nada, absolutamente nada, vinha à sua mente. Agora já doía o corpo todo. As pernas, os músculos das costelas, os braços, tudo. Quando levantou a mão para tirar o suor do rosto, percebeu que havia sangue nelas. Assim, seu rosto também ficou manchado de vermelho. Assustado, corria mais e mais. Finalmente, ao longe podia se ver que as árvores iam ficando escassas. A paisagem estava mais clara.
Diminuiu a intensidade de seus passos. Estava andando e dali para a frente só havia uma relva, com arbustos dispersos. Mais um pouco, estaria perto das primeiras casas que tinha visto à distância. Ao invés de ficar mais tranquilo, o medo aumentava. Não podia voltar, entretanto. Sabia que tinha de continuar. Queria se lembrar  pelo menos de seu nome. Nada, absolutamente nada vinha em seu cérebro. Olhou para seu corpo e viu que havia muito sangue escorrendo.
Andava por uma rua, ainda era de manhã e não havia pessoas na rua. Queria e não queria encontrar alguém. Chegou a pensar em bater à porta de algum morador mas desistiu. O desconhecido também lhe dava medo. Era agora uma avenida comprida. Além de casas, havia lojas. Havia coisas escritas, mas ele não conseguia ler. Não sabia ler, mas sabia que aquilo tudo era para ser lido.
Bem lá na frente, pela primeira vez viu um vulto que vinha em sua direção. Caminhava rápido e vinha para ele. Quando percebeu que, definitivamente, era com ele que ele vinha ter, parou bem no meio da pista. De um lado havia uma igreja e, do outro, estava o fórum.  Mais um pouco, à esquerda estava a cadeia.
Depois de alguns longos segundos, o homem chegou e parou à sua frente. Era bem mais alto que ele. Tinha uma barba rala, era forte e vestia uma túnica cinza. Tinha também sandálias e usava um estranho chapéu.
Falou com ele em uma língua estranha, que ele não conhecia, mas mesmo assim ele entendeu tudo. Entendeu que ele havia pecado e daí a razão de sua nudez. Estava ali para cumprir sua pena, seu destino. Pecado sem perdão, castigo sem redenção. Pensou em perguntar para o estranho seu próprio nome mas não teve coragem. No fundo, talvez, não quisesse saber. Sem direito ao fórum e sem direito à igreja, foi jogado numa cela onde havia apenas um banco. No alto da parede, uma pequena janela por onde entrava um pouco de luz. As grades não eram pequenas, mas certamente não permitiam que ele pudesse escapar. De nada adiantaria, de qualquer jeito, pois seria pego novamente. Adormeceu, estava muito cansado.
Quando acordou, percebeu que muito tempo havia se passado. Olhou para suas feridas. Não mais sangravam, estava seco e sujo. O corpo já não doía tanto. O silêncio, lá fora, era total. Devia ter um nome, queria se lembrar. Queria se lembrar do pecado também, uma vez que o estranho homem o havia mencionado, mas nada lhe ocorria. Achou, porém, que deveria se sentir culpado e assim o fez.
Dormiu mais uma vez. Um pouco antes de pegar no sono, sentiu que algo estava crescendo em seu corpo, principalmente em seus braços e em seu peito. Pareciam penas.
Desta vez dormiu muito mesmo. E agora estava se sentindo muito diferente. Não se lembrava mais de nenhum pecado, não se lembrava de nenhuma dor, nem se lembrava do homem que o prendera. Ele era muito pequeno, podia passar por entre as grades, podia até passar pela pequena  janela. Tinha penas, tinha asas. Era um pássaro marrom, com peito amarelo e uma cabeça vermelha. Não sabia como tinha vindo parar ali, mas sabia que era uma ave e que podia voar...
Bateu as asas e voou.

Enquanto voava, não sentia culpa, não sentia dor, não precisava de um nome, não sangrava. Voava sobre as casas, sobre as florestas, sobre as águas. E continuou a voar. Era a  única coisa que queria e que precisava fazer. E era isso que ele fazia, voar, voar, voar...
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Saturday, November 28, 2015

A Balada



A Balada (em algum ano do século vinte e dois...)

Luna tinha um dia agitado pela frente e achou que seria bom divertir-se um pouco aquela noite. Precisava relaxar. Estavam na moda as famosas festas noturnas do final do século 20 e começo do 21. Eram festas “da pesada” e faziam parte de uma onda de saudosismo.  Quem tinha experimentado, dizia que acontecia de tudo. Com tudo que havia ocorrido em termos de diversão nas últimas décadas, ficava cada vez mais difícil achar alguma novidade no setor. E algo de que Luna não gostava, era de ficar entediada. É claro que o que se fazia nessas casas noturnas tinha que ser encaradas dentro do contexto. Para se divertir pesado, você precisava “entrar” nelas com o espírito do passado, aí é que residia a essência da diversão.
Luna preparou-se adequadamente e dali a pouco já estava “se aquecendo” no novo ambiente. Rostos desconhecidos, mas todos interessantes, rindo, animados. Homens e mulheres jovens movimentando-se doidamente pelo imenso clube. Ela, por seu lado, já estava tomando seu primeiro drinque. Depois dos dois primeiros goles já se sentia em estado de êxtase. Seu corpo parecia flutuar entre os pares que dançavam. Claro, a bebida já vinha com as drogas certas. Prazer através de todos os sentidos, de todos os tipos. Seu corpo ia da total languidez para a total excitação. Num momento estava viajando pelas galáxias, noutro estava imersa no próprio sangue, nas próprias moléculas. A seguir, suas células explodiam e se espalhavam pelo enorme salão. Depois se reagrupavam e reconstituíam seu corpo... que, então caminhava célere por tubos multicoloridos que terminavam em grandes piscinas com água rosa, azul, verde... Daí então, os rostos da festa apareciam de surpresa do fundo da água a sua frente e sorriam... Lá estava ela de volta no salão flutuando... Seu corpo sendo devorado por todos os jovens da sala. Todo seu ser envolto em volúpias mil, sua libido aumentando, aumentando até seu corpo explodir em pequenos pontos de luz e se evaporar no ar. Os pontinhos lentamente voltavam ao chão e depois se reorganizavam em células, moléculas, e seu corpo surgia no meio do salão, outra vez, no meio de todos. Ela era novamente devorada e no prazer do devorar, até sua alma se enchia de gozo.

As horas passaram rápidas. Loucura após loucura, numa espiral doida e sem sentido, mas com todos os sentidos do corpo sentindo todas as sensações possíveis. Nada importava e tudo importava. Entendia tudo, falava todas as línguas, conhecia todas as fórmulas. Olhos, ouvidos, nariz, pele... todos os órgãos estavam auferindo tudo do ambiente, das pessoas, do universo. Cores, luz, formas...
Finalmente, começou a vir uma calma quase divina. Seu corpo e sua alma começaram a ficar em silêncio. Começou a voltar.
Lá estava Luna calmamente sentada em sua poltrona. As horas que passara na sua louca balada eram na verdade apenas 10 minutos de “viagem virtual”. Estava toda plugada e nem precisara sair de seu quarto. No seu corpo não havia uma gota de álcool ou um grama de drogas. Estava sadia e forte como nunca. Estava relaxada e calma.

Bem-vindo ao saudável “admirável mundo novo” do sexo, das drogas e “rock and roll” do século vinte e dois...



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