A Maratona de Ryan
Ryan Adams era um senhor respeitável, educado e
extremamente saudável, principalmente se considerarmos que estava com 73.
Poderia ter se aposentado há mais de 15 anos atrás, mas preferiu continuar
trabalhando. “Fazer o que em casa?”, perguntava.
Sam era relativamente jovem, tinha apenas 32. Bom
sujeito, extrovertido, brincava com todos. Tinha um pequeno defeito, porém.
Estava sempre fazendo observações sobre os colegas e sempre na frente de todos.
Não eram maldosas mas às vezes incomodavam um pouco. Era um grande hotel e
havia muitos funcionários. Ora Sam fazia uma brincadeira sobre a gravata do
recepcionista, outras vezes sobre a maneira como o rapaz do estacionamento
corria para pegar o carro do hóspede ou ainda sobre o novo penteado da moça da
limpeza. Como disse, nada pesado, mas não deixava passar nada. Tinha sempre uma
observação. Às vezes vinha disfarçada em forma de elogio, as vezes não tinha
disfarce nenhum. Apesar da diferença de idade, Sam não perdoava nem o Ryan. Sempre
alguma coisa a respeito da idade, da aposentadoria ou algo assim. Com o Ryan,
Sam disfarçava bem, sempre vinha em forma de elogio. Ryan, no entanto, era
experiente, já tinha vivido muito e certamente sabia ler nas entrelinhas. Não
só isso, sabia ler antes e depois da linha. Sábio que era, nunca retrucava,
embora tivesse pelo menos três ou quarto respostas que aniquilariam a piada do
colega de trabalho. Mas fazer isto não era seu tipo e por isso apenas dava um pequeno
sorriso, educado, mas que para um bom leitor de expressões faciais, significava
muita coisa.
Um dia houve uma maratona organizada pela empresa que
administrava o hotel. Qualquer um podia participar: hóspedes, funcionários,
qualquer atleta que viesse de qualquer lugar. Chega o dia esperado e Sam, que
também gostava de se exibir, resolveu participar da mesma. É dada a partida e
Sam começa com tudo. Antes de completar o primeiro quilômetro, entretanto,
começa a fraquejar, o coração parece que vai explodir e, sábia e
dissimuladamente abandona a corrida.
Espera, claro, que nenhum colega tenha visto pois não tinha vontade de
ouvir uma “gracinha” igual às que ele mesmo fazia. Encontra uma área de
descanso onde pode sentar-se e tomar um refrigerante. Precisa passar um bom
tempo lá para que nenhum colega seu perceba o fiasco.
Depois de mais de duas horas e meia, tempo que Sam precisou
“matar”, começam a chegar os primeiros maratonistas, aqueles com os melhores
tempos. Muita conversa e animação, pessoas se cumprimentando, se abraçando. De
repente, para surpresa de Sam, entra o Ryan, todo lépido, de tênis e tudo mais.
Senta-se e pede uma água gelada. Será que ele correu? 73 anos? Não pode ser…Ele
é um velhinho. Sam começa a ficar
preocupado com todas as piadas que fizera. Quando percebe, Ryan está acenando
para ele. A seu lado, uma linda mulher também está sorrindo. Não havia outro jeito
senão se aproximar. Após as introduções de praxe, Jessica explica que “Papai
fez um bom tempo mas está chateado pois sempre fica entre os primeiros 50 e
desta vez ficou entre os cem”. Diante da estupefação de Sam, ela explica: “Existe
uma boa explicação para isso…” e continua:
“Papai estava deprimido porque a direção
do hotel não o liberou para a maratona de Boston no próximo mês, onde ele
sempre consegue uma boa marca. Papai correu a vida inteira.”, finaliza a
orgulhosa filha.
Sam estava aturdido, envergonhado, mudo de vergonha. O “velhinho”
era um sério corredor de maratonas. E ele? Um gozador barato que mal conseguiu
dar as primeiras passadas na corrida. Nem se lembra do que falou para a
exuberante Jéssica, deu algumas desculpas esfarrapadas e foi para a casa. E
pensou, pensou…
Sam praticamente parou de fazer piadas. Com certeza nunca
mais fez nenhuma sobre o Ryan, pai de Jéssica, o grande maratonista, o grande
atleta, etc, etc…
A história é verdadeira e até pensei em um grande
pensamento para o desfecho, mas acho que não precisa, os fatos falam por si
mesmos…ou talvez melhor dizendo “calam por si mesmos”?
No comments:
Post a Comment