O Protocolo
A estação estava calma como sempre e o funcionário
KS23-6788 realizava as inspeções de
rotina. Há um bom tempo os humanos haviam parado de usar nomes para
identificação. No entanto o KS23-6788 gostava do apelido que seu avô lhe dera
quando ele era bem pequeno ainda: Nick. Era uma coisa de família, pessoal.
Quase todos achavam uma infantilidade usar esses nomes da época em que os humanos
mal conseguiam navegar pelo espaço. Na verdade neste ano fazia 3 séculos que o
homem pela primeira vez havia conseguido voar para fora de seu planeta e posar
na Lua. O que na época foi algo espetacular, agora era considerado uma
navegação grosseira, rudimentar e arriscada.
Nem os grandes escritores de ficção científica conseguiram
antecipar os rumos que a exploração do espaço iria tomar. Na verdade foi a
combinação de avanço científico e tecnologia com o imprevisível, o acaso.
As pessoas agora viviam muito mais, pelo menos 200 anos. Poderia ser mais, mas havia uma combinação de fatores sociais, científicos e econômicos, que fizeram o homem “optar” por cerca de 200 anos. Na verdade os indivíduos não morriam mais: eram “preservados” através do incrível e avançadíssimo sistema de criogenia administrado por computadores quânticos. Ninguém sabia ao certo os crítérios de descogelamento, mesmo porque esses novos computadores eram programados mas depois se auto-reprogramavam. Tomavam então decisões por conta própria. Uma pessoa seria “descongelada” quando e se fosse necessário, de acordo com eles. Trariam de volta à vida número suficiente de humanos no caso de uma catástrofe ou de uma ameça de extinção vinda do próprio planeta ou de fora.
As pessoas agora viviam muito mais, pelo menos 200 anos. Poderia ser mais, mas havia uma combinação de fatores sociais, científicos e econômicos, que fizeram o homem “optar” por cerca de 200 anos. Na verdade os indivíduos não morriam mais: eram “preservados” através do incrível e avançadíssimo sistema de criogenia administrado por computadores quânticos. Ninguém sabia ao certo os crítérios de descogelamento, mesmo porque esses novos computadores eram programados mas depois se auto-reprogramavam. Tomavam então decisões por conta própria. Uma pessoa seria “descongelada” quando e se fosse necessário, de acordo com eles. Trariam de volta à vida número suficiente de humanos no caso de uma catástrofe ou de uma ameça de extinção vinda do próprio planeta ou de fora.
Através do novo sistema de navegação espacial a espécie
humana espalhou-se por inúmeros planetas. Basicamente instalavam algumas estações
em cada um e essas continham alguns poucos humanos e inúmeros robôs, além de
máquinas, que lentamente iam tornando o planeta habitável. Era um novo sistema
de colonização. Agora os humanos eram “elaborados geneticamente” para
sobreviver mais especificamente no local
para onde foram designados. Seria, pois, quase impossível Nick voltar
para a Terra pois teria de ser “reelaborado” em sua configuração. Mesmo assim
Nick às vezes sonhava com isso. Seu avô
conseguira lhe transmitir algumas ideias saudosistas ( por muitos consideradas
perigosas) dos primórdios da colonização espacial empreendida pela raça humana.
Cada vida durando dois séculos não foi
difícil as imagens e ideias do bisavô de Nick chegarem até ele.
O Planeta GP3467A não era dos piores. Até que lembrava de
longe o nosso planeta. Em uma série de 8, a colônia estava na fase 3 de colonização completa. Fora da grande base inúmeros
robôs trabalhavam enquanto Nick ficava a
maior parte do tempo no interior. A atmosfera ainda era tênue e ele precisava
sair com o equipamento apropriado. As grandes explosões que criariam uma
atmosfera razoável só viriam na fase 6 e durariam quase um ano pelo tempo da
Terra. Durante a última semana Nick havia trabalhado intensamente com os computadores de
comunicação para restabelecer a mesma. Não havia conseguido nada e ele estava
preocupado, pois precisava de aprovação urgente para algumas alterações no
programa. Era muito raro o corte completo de contato e por isso Nick havia
tentado se comunicar, em caráter de
emergência, com outras colônias. Isso normalmente não era permitido e a administração central da Terra
normalmente era severa contra esse tipo de tentativa. Nick, no entanto, não
estava preocupado com isso. O que o aborrecera tremendamente é que as mensagens
recebidas do Planeta G9878B estavam truncadas e o pouco que se podia entender
delas era profundamente preocupante. Havia a menção de que eles também não
estavam conseguindo contatar a Terra e, pior que isso, haviam recebido uma mensagem gerada por
computador de que havia emergência 3B segundo a classificação de emergências do
centro geral de comunicação do sistema
de colônias da Terra. Era profundamente perturbador para Nick que tanto a
mensagem original do nosso planeta como a retransmissão através do Planeta
G9878B não tinham chancela humana, ou seja, ficava a pergunta, havia humanos
para validar a mensagem? Além disso emergência 3B estava a apenas dois passos
da emergência L que era o ultimo grau e que consistia numa autorização
implicita de seguir seus próprios passos por falta de comando central. Quando a
emergência atingisse o nível L, as colônias deveriam usar o Protocolo. O
Protocolo certamente daria as instruções mas ninguém o havia usado antes e
obviamente havia algo fatalístico sobre o conceito. O que mais assustava a respeito do assunto é
que todos sabiam como funcionava o mecanismo.
O Protocolo na verdade era um computador separado de todo o sistema e
que só poderia ser acionado pelas colônias, se no Planeta Terra, o comandante
chefe de comunicações ou alguém autorizado por ele não o reativasse por mais de
uma hora. O fato de ninguém estar lá para acionar o Protocolo por esse tempo
era obviamente estarrecedor e significava uma tragédia de inusitada proporção.
Nick tinha esperança de que brevemente as comunicações seriam restabelecidas.
Para longas viagens no espaço ou para longos períodos de
tempo sem atividade numa colônia era usada a técnica do “adormecimento”. Isto
permitia que um longo período se passasse com um consumo mínimo de energia e principalmente, sem danos psicológicos para o astronauta ou colonizador. Além
do mais, o nível de ”adormecimento” era tão profundo que praticamente não contava como “tempo
vivido” e se uma pessoa ficasse neste estado por um periodo longo, esse tempo estaria sendo acrescido a
sua vida. No entanto, esta técnica só poderia ser usada por cerca de 10 anos.
Mais do que isso seria necessário recorrer-se à criogenia, obviamente algo
muito mais sério e definivo. Todos sabiam que o uso do Protocolo estava ligado
a uma dessas duas técnicas ou às duas.
Foi por isso que, quando ele recebeu de um planeta próximo a retransmissão de
“condição L”, ou seja a emergência maxima, Nick realmente se assustou por mais
preparado que estivesse psicologicamente. Até então ele havia ficado bem mesmo
quando, nas últimas semanas, toda a sua equipe, de 14 pessoas, havia sido removida para uma missão especial.
Deixaram-no sozinho e nem por isso se
abalou. Na época, como era praxe, não questionou nem consigo mesmo nem através
das mensagens a proridade ou não daquela retirada. Agora, no entanto, começou a
relacionar os dois fatos, “ a condição L” e a remoção de seu pessoal e começou
a achar, quase ter certeza, de que as
coisas estavam interligadas.
Em duas horas , se não chegasse nova mensagem, ele deveria
tentar abrir o Protocolo. Além de ser um sistema de segurança, o Protocolo eram
também, um lugar físico com o grande computador independente e as máquinas de
adormecimento e criogenia. Havia também quatro robôs que operariam o sistema em caso de
necessidade. Até então ninguém havia entrado na sala do Protocolo.
Nick acabava de estar em contato com essa nova realidade,
quando para sua surpresa, o sistema de Protocolo respondeu a sua tentativa de
acesso.Isso era a confirmação da condição "L " ou seja, emergência máxima. Por mais treino que ele tivesse tido para este momento – você nunca acredita
que é possível acontecer - ele estava estarrecido. Acomodou-se no confortável assento e começou
a seguir o “prompt” com as instruções. O
Protocolo informava inicialmente que o “incidente” havia ocorrido no
Planeta Terra e era localizado. A
possibilidade de sobrevivência local era
de apenas 10%. A seguir o Protocolo
calculou de 3 a 10 anos o tempo de restabelecimento no caso de haver o mínimo
de vida reminiscente na Terra para operar o processo de resgate e recuperação. O Protocolo então explicava que as colônias
que tinham passado da fase 6 de colonização estavam autorizadas a tomar medidas
de sobrevivência em sistema de autonomia da Terra. As outras, segundo o próprio
Protocolo estariam diante de um dilema. Se a Terra sobrevivesse – e as chances
eram de apenas 10% - o adormecimento era a melhor alternativa, pois em menos de
10 anos haveria socorro, instruções.
Outros planetas mais próximos poderiam mandar
ajuda, o que não fariam no caso de o dano na Terra ser permanente, pois
teriam de cuidar da prória
sobrevivência. No caso de a administração
central e sua população ficar reduzida a zero ou a condições de pré-civilização
espacial, o congelamento seria a melhor indicação por ser quase perene. Milhares
de anos poderiam se passar até que novas tecnologias voltassem e viabilizassem
o descongelamento. Depois de séculos de tirania , autonomia e arrogância,
pensou Nick, os computadores estavam confessando que não tinham condições de
tomar uma decisão. Ironicamente, na hora mais importante de sua existência, Nick teria de confiar em
seu próprio senso de análise. O Protocolo, o “Grande Protocolo” estava ali, a
sua frente, confessando que não tinha a capacidade de decidir. O Nick, que era
um funcionário de quinta linha no “ranking” tecnológico, estava ali, a uma
distância assustadora da terra , sozinho, com a decisão de sua própria vida em
suas mãos, pela primeira vez.
O computador dizia que ele tinha cerca de 300 horas decidir e iniciar ou os
procedimentos de “adomercimento “ ou “congelamento.” Cinco ou dez anos de sono super profundo
seriam como nada e tudo estaria resolvido. E se o problema na Terra fosse muito
mais grave? Dali a alguns anos ele estaria de volta, ali, sozinho, acordado mas
sem qualquer perspectiva e provavelmente teria de induzir a própria morte para
não ficar louco. A outra alternativa, a da criogenia, era a um tempo garantida
e assustadora. Assustadora porque nada
mais dependeria dele. Se as coisas voltassem ao normal, milhares de anos
depois, alguma civilização que dominasse tanto a tecnologia de viagens espaciais
e a criogenia talvez chegasse até ele e o
ressuscitasse. O Protocolo estaria mandando sinais indefinidamente pelo
espaço.Ou então…ele poderia ficar congelado para sempre.
Embora não fosse momento para isso, Nick resolveu dormir
por algumas horas. Induziu em si mesmo um sono leve em que pudesse sonhar. E
sonhou. Sonhou com a Terra. Com seus rios, seus oceanos, suas árvores, sua
aves. Com o sorriso das pessoas, com o som dos ventos, com o aroma das flores.
Sonhou que uma nave o estava transportando de volta, que seus gens estavam sendo
modificados para novamente habitar o Planeta. Sonhou que a civilização estava
voltando devagar…
Nick acordou aliviado
e feliz. Tinha decidido. Era melhor esperar mais de mil anos e ter pelo
menos a esperança sólida de uma vida mais parecida com a que seu avô
descrevera. Entrou na sala de criogenia e deitou-se na cápsula que se fechou
automaticamente. Apertou o botão de “iniciar”. Segundos depois notou que dois
robôs, um de cada lado se aproximaram dele. Dali a pouco começou a se sentir
sonolento, a primeira fase do
congelamento …Nick então dormiu profundamente enquanto as máquinas programavam
o evento e armazenavam a fabulosa energia para manter a sua cápsula isolada e
fria, muito fria por muito tempo..…Mas ele não estava sentindo nada. A última coisa que sentiu foi o vento quente
do mar da Terra em seu rosto, em seu sonho…
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