Tuesday, October 4, 2016

Pequena crônica de uma noite paulistana



Pequena crônica de uma noite paulistana


A noite paulistana já está acontecendo. De seu apartamento, Júlia olha para os outros prédios. Algumas janelas  estão escuras, outras poucas ainda têm a luz acesa. Pensa consigo, que tristeza! São pessoas que não conseguem dormir.  Solitárias, machucadas, sangrando por dentro. Corações partidos, desilusões, desespero. Deixam as lâmpadas ligadas porque temem os sonhos que não vão ter. De dia se embriagam com o torpor do sol, a lua noturna não é capaz de lhes dar a paz.
Júlia sente  uma pena enorme de todas essas almas. Não há como confortá-las, não as conhece, elas também são estranhas a todos. São estranhas a si mesmas. Na cidade grande são ainda mais sós, mais sem ninguém.
Enfim, chega aquela parte da noite em que ela já é definitiva, já é a madrugada, berço da solidão total. É aí que Júlia percebe que também ela é uma órfã da metrópole. Só, também chora por dentro. É apenas  mais uma janela acesa na solidão da grande cidade...


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