Eu
li no jornal que a Pilar descobriu que o Félix vendia hot dog na rua. Vi também
que o Félix decidiu pedir perdão para a irmã Paloma. Nossa, que emoção! Na
minha ignorância sobre as coisas nacionais, demorei um pouco para perceber que,
o que falavam, não era sobre o mensalão nem sobre o Barbosa. Mas a história
estava ali, toda natural, parecia fazer parte da vida. Até vi, na minha mente,
o coitado do Félix dando um duro danado, comercializando o cachorro quente. E
olha, que eu nunca vi o tal de Félix na minha vida!
Descobri
o óbvio, tratava-se de uma novela, a tal de “Amor à Vida”. Apesar de eu amá-la
também – a vida, não a novela - segui em
frente e comecei a ver as notícias do mundo real. E, quanto mais eu lia,
percebi que as coisas da vida eram tão surreais quanto às da novela. E fiquei confuso, quase tudo podia ser
novela, quase tudo podia ser a vida normal. Normal? Ninguém mais sabe o que é
isso. Só sei, como dizia o Chico nos “Saltimbancos”, que era tudo igual, estava
tudo misturado “na grande gaiola do meu país”...
Lembrei-me,
também, por associação, da época em que se faziam novelas como “Pavão
Misterioso” e “O Bem Amado”. Fiquei com saudades do Odorico Paraguaçu. O
personagem de Paulo Gracindo, esse sim, era um político autêntico, apesar de “malcaratista
militante e juramentado”, copiando suas próprias palavras. Pelo menos, ele ia
direto ao assunto, já se sabia quem ele era. Hoje em dia, não dá mais para
saber: tantas cobras e lagartos, tanto engano, tanta dissimulação. Existe até malandro, disfarçado de homem da fé
e homem da fé disfarçado de parlamentar que, no fim, é mais malandro do que o
próprio. Disfarce é o que não falta.
Pois
é, como sempre digo, nem novelas se fazem mais como antigamente.
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Histórias do Futuro
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