Um coroinha e a história de Perus
Se
você pudesse voltar no tempo e ver Perus dos anos 50, certamente iria pensar
que estava em um outro país, em alguma terra distante. Além do esqueleto
principal do bairro, suas principais artérias, nada se parecia com o que é
agora. Mas não é assim em todo lugar?
Às
vezes olhamos fotos antigas e, por algum mecanismo mental, pessoas e fatos
voltam à nossa mente. Foi o que aconteceu comigo quando vi aquele “retrato” da
antiga Paróquia de Santa Rosa de Lima. Lembrei-me da época em que fui coroinha.
Nem sei como aconteceu. Não sei se minha mãe, devota como ninguém, teve alguma
coisa a ver com isso, mas o fato é que aconteceu.
Fora
do horário da missa, eu ficava bisbilhotando os objetos, livros e tudo que
havia por ali. Foi então que encontrei aquele livro enorme – enorme mesmo –
igual àqueles que existiam nos cartórios. Aliás, eu nunca entendi por que os
chamavam de livros, se você escrevia neles e eles não vinham impressos. Não
deveria ser “caderno”? Semântica à parte, o fato é que o livrão, em pé, era
mais alto do que eu. Abri a primeira página e lá estava uma grafia impecável,
distinta, daquelas que só se viam antigamente. Comecei a ler e percebi que era alguém
tentando escrever a história de Perus. Dava para ver que o projeto tinha sido
abandonado. Infelizmente não tinha ido além da primeira página. Lembro-me
vagamente do narrador falando da tal “Maria
dos Perus”, a Nhá Maria. Quando ela tinha chegado, onde era sua casa, a antiga
fazenda que havia por ali... Eu era muito pequeno e certamente não me lembro
dos detalhes. O que eu me lembro, no entanto, é de que eu sabia que estava
diante de alguma coisa importante, uma espécie de documento histórico. Enchi o
peito e avisei o padre e todo adulto que pudesse me ouvir. Ninguém deu a menor
bola para mim. Esses meninos – eu, no
caso – não têm mesmo o que fazer, pensam que os adultos têm tempo para essas
besteiras. E eu continuei minha vida,
não fui historiador nem nada, mas não consigo me esquecer do ocorrido. O livro, será que ele existe ainda? Duvido.
O que iriam fazer com um “cadernão” desajeitado daqueles, que quase precisava
de duas pessoas para ser carregado? E o escritor misterioso? Um pároco antigo,
algum dos primeiros residentes de Perus, um devoto? Nunca vou saber.
Como
se escreve nos tabelionatos, eu vi, atestei. É verdade, dou fé. Ou como o grande poeta
brasileiro do Romantismo, Gonçalves Dias, escreveu uma vez: “Meninos, eu vi!”.
Histórias do Futuro
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