Os
mortos que voavam vivos
(ou
“O que vocês fizeram, hermanos?”)
Com
algumas diferenças de datas, nossos “hermanos” uruguaios, argentinos e
chilenos, tiveram suas ditaduras. Todas militares, é claro.Todas tinham presos
politicos, é claro.Todas torturavam na escuridão, é claro.
É
claro, também, que foi uma época de sombras, de medo e de terror. Alguns nem
sabiam, eram a grande massa alheia, sem nome, sem opinião. As massas são sempre
assim, são fáceis de levar. Nossos mortos, os brasileiros, acabavam em diversos lugares. Um deles ficou
famoso, o Cemitério Dom Bosco de Perus. Coitado do santo. Como podem dar um
nome assim, para um lugar assim? Que Deus os perdoe.
Nossos
irmãos argentinos, colegas de ditadura e de tortura, sempre quiseram ser melhores do que a gente. Em tudo, até nisso. Por
isso, criaram os “voos da morte”. Juntavam militantes já mortos com outros
ainda vivos e voavam. Uns com algemas e dopados, outros em sacos plásticos. Os
aviões decolavam, voavam sobre o Atlântico, e jogavam os corpos. Alguns deles
foram mais tarde parar nas praias do Uruguai, irreconhecíveis.
É
assim que se constroem grandes nações. Era assim que os inimigos da ditadura
voavam. Os pilotos sobrevoavam, então, o Rio da Prata, leves, sem pecado.
Nem
sei por que a gente fica falando dessas coisas. Ninguém se lembra de mais
nada...
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