O
discreto charme da elite
(para quem quiser entender...)
Na
sala de jantar descrita pelo Gil e pelo Caetano, os burgueses estavam ocupados
em nascer e morrer. Não era um charme tão discreto como sugerido pelo Bunuel,
porém. Terminado o banquete, vestiram-se com roupas reais e foram até a sacada
do prédio. Agora eram a realeza. Mais até.
Lá
de cima viram o povo se debatendo. Uns eram contra, outros a favor. Não sei de
quê. Uma coisa a ser explorada. Os que eram a favor faziam os preços das
mercadorias subirem. Faziam os preços descerem os que eram contra. Ou era vice
e versa? E a nova monarquia apostava em uns e outros e sempre ganhava. Era uma
beleza aquela peleja toda. Alguém sugeriu que estava ficando perigoso. Poderia
haver brigas de verdade, até uma guerra. Um deles sugeriu que, nesse caso, eles
fariam a intervenção. Além do mais, se não houvesse mesmo jeito, se uma luta acontecesse
de verdade, então eles poderiam vender as armas. Uns nobres fabricariam, outros
venderiam.
Era
bonito, pelo menos para eles, ver aquela disputa de cores. Pessoas enraivecidas
se atacando. Essa era a parte do circo. A parte do pão – o banquete – já tinha
acontecido. Alguém corrigiu que o pão e o circo eram para o povo, não para
eles. A realeza tinha coisa melhor. Jogaram então comida para a população
faminta. Mandaram alguém organizar as brigas, de forma que virassem diversão e
não uma simples guerra. Assim, poderiam ter um intervalo, ter mais um jantar,
lá dentro.
Novamente
sentaram-se à mesa e voltaram a ser burgueses comuns. Comendo e bebendo. Quando
houvesse outra briga, voltariam ao balcão. Discretos, charmosos, poderosos.
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