A latinha de extrato de tomate
Era uma festa quando um circo ou um parque de diversões chegava ao nosso bairro. Podia ser mambembe, geralmente era. Nosso coração de criança não fazia a menor distinção. Era tudo uma festa. Os caminhões começavam a chegar, descarregando todo aquele mundo maravilhoso. Gente diferente, andando para lá e para cá. Logo, logo, as arquibancadas começavam a ser montadas, a lona começava a ser içada. Quando era um parque, como se fosse mágica, aquelas peças todas se organizavam e lá estavam a roda gigante, o carrossel, os carrinhos. Parecia uma coisa de outro mundo.
Entretanto, eles cobravam ingresso. Desconfio que eles realmente precisassem, mas minha vontade de entrar era tão grande que achava aquilo injusto. À noitinha, lá de cima, do Morro São Jorge, admirava aquela lindeza, com as luzes acesas, tudo funcionando. Precisava pensar rápido, meu pai certamente não tinha sobra para eu gastar numa coisa tão fútil. Tinha de fazer alguma coisa, o espetáculo era imperdível.
No dia seguinte, bem cedo, ia do outro lado da linha de trem, subia pela Avenida Sílvio Campos, virava à direita na rua do Sindicato e ia até a divisa com a Companhia Melhoramentos. Havia a cerca. Os pinheiros, do lado de lá, que estavam esperando serem cortados para virarem papel, não sabiam da divisa e, sem querer, despejavam as pinhas do lado de cá. Devo confessar, às vezes, eu fazia uma pequena incursão, os Weiszflog que me perdoem, e lá estava eu colhendo as pinhas do outro lado também. Tudo ia para meu saco de estopa. Chegando em casa, minha mãe cozinhava os pinhões para mim. Daí ela me dava uma latinha de extrato de tomate Elefante, vazia e bem limpinha. Era a medida certa para vender. À noite, eu colocava os pinhões cozidos no mesmo saco de estopa, “estacionava” perto da entrada do circo ou do parque, enfiava a latinha – a medida oficial - no meio dos gostosos pinhões e aguardava os fregueses. Era um negócio muito bom. Eu vendia bem baratinho, tudo ia num instante. Dava gosto ver aquelas cascas todas espalhadas no chão de terra. No dia seguinte eu tinha o ingresso na mão. Não havia ganância, nem vontade de faturar. Tudo que eu queria era o dinheiro suficiente para o ingresso.
Invariavelmente o “show” era maravilhoso. Pelo menos para mim. Eu adorava.
Ainda hoje eu me lembro da latinha de massa de tomate e do elefantinho. Tenho saudades dela por causa da macarronada gostosa que a Dona Eleta fazia, mas também por causa do circo. Tempos bons, esses...
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Essa vida da gente
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