Ouvi uns toques na porta e
imediatamente sabia que era a moça do seguro de saúde. Bonita, simpática, sorridente
e... vendendo saúde! Mas isso não podia falar, pois é falta de respeito. A
propaganda dizia que nosso plano era maravilhoso pois se preocupava conosco e
queria, de vez em quando, saber como nós estávamos. Sabe, a idade vem
chegando... No fundo eu sabia que eles estavam ppreocupados mesmo é com a
despesa que a gente podia dar: remédios para diabete, para pressão alta, aquela
coisa toda. No entanto, é bom acreditar que alguém se preocupa com a gente.
Sentou-se à mesa e ao mesmo tempo foi sacando o aparelho de pressão da sua malinha. Deu aquelas bombadinhas e disse que estava ótima!
Também com tanto remédio que a gente toma... só faltava! Daí, falou para mim:
-Laranja, maçã e árvore.. .Por uma
fração de segundo, pensei que ela tinha dado uma olhada no Facebook do Brasil e
viu aquelas histórias todas. Mas não! Ela só queria que eu decorasse as três
palavras. Pensei comigo: fácil!
Daí deu uma picadinha na minha mão
e pegou um pouquinho de sangue. Estendeu a seguir uma folha onde havia um
espaço em branco. Pediu que eu desenhasse um relógio marcando três horas em
ponto. Pensei em perguntar se eram três da tarde ou madrugada, maas achei
melhor ficar quieto e comecei a desenhar. Primeiro um círculo, depois 12 lá em
cima, 6 embaixo, 3 para o oeste e 9 para o leste. O resto foi fácil. Ponteiro
grande no 12 e o pequeno no 3. Quem não sabe fazer isso? Coisa de criança. A partir
daí, uma bateria de perguntas. Se eu como bem – claro que sim e muito, alem da
conta – se durmo bem, se fumo, se bebo água, se tenho isso, se tenho aquilo. De
repente, sem mais nem menos, me perguntou as três palavrinhas. Hesitei por um
minúsculo segundo, mas depois respondi confiante: laranja, maçã, árvore. Quase
fiz uma piada com o cabelo do presidente, mas não ficava bem e, além disso, ela
podia ser um fã e eu estaria lascado. Pegou meu desenho, olhou meu reloginho e
disse que estava bom. Também achei que sim. Quase falei que era capaz até de
desenhar aqueles que ficam derretendo – do Salvador Dali – mas ela poderia não
entender a minha graça. Estava provado que eu não tinha aquelas doenças todas
de louco e, por causa das três palavrinhas, eu não tinha Alzheimer. Bom demais
para uma tarde de inverno.
A moça foi embora e deixou o
desenho do reloginho. Que orgulho! Parecia até um diploma. Pois é... o tempo
vai passando e a gente vai diminuindo as expectativas!
oooOOOOOooo
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