Feitiço da Terra? Feitiço da Lua?
Era uma grande procissão,
uma linha interminável na estrada. Alguns, como bêbados, saíam às vezes do
asfalto, depois voltavam. Outros, monótonos, andavam em linha reta. Havia
maltrapilhos, havia bem vestidos, havia luxo, havia miséria. Uns estavam cabisbaixos,
outros pulavam com falsa alegria. Multidão insana, incoerente, dependente de
líderes que não estavam lá. Uns falavam incompreensíveis palavras, contavam contos
sem sentido e sem final e cantavam partes de cançōes que não se cantavam mais.
De onde vinha aquela turba,
como tinha tudo começado? Dizem alguns que começou de quase nada, de alguns
poucos, que, aos poucos foram aumentando. Foram ficando cada vez mais
estranhos, cada vez mais sem sentido. Havia quem dissesse que aquilo era o
começo do fim do mundo. Havia quem dissesse que era uma nova seita, daquelas
que sempre aparecem. Outros afirmavam que eram filhos de uma nova era,
rejeitados e escravizados por vontade própria. Uns poucos garantiam que eram
adoradores de máquinas divinas, que tinham chegado de outros mundos.
Cheguei mais perto. E vi que
havia uma luz pálida em uma das mãos. E a palidez se espelhava nos olhos
daqueles seres. E era mágico, estavam hipnotizados.
De repente, sem querer, sem
saber, estava no meio deles. E a luz pálida veio também de minha mão e meus
olhos ficaram enfeitiçados por ela. Só então percebei que era um pesadelo. Era,
porém, um paradoxal pesadelo do qual não queria mais sair, ninguém queria sair.
E a fantástica procissão
prosseguia, prosseguia, por aquela estrada sem fim.
Talvez fosse uma estrada em
círculo, mas ninguém queria saber. O que importava era a luz pálida das mãos.
Era uma noite de luar e a luz pálida da Lua se confundia com a palidez da luz
dos homens.
Feitiço da Terra? Feitiço da
Lua?
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