Showing posts with label guimarães rosa. Show all posts
Showing posts with label guimarães rosa. Show all posts

Wednesday, August 22, 2018

Língua Portuguesa



Língua Portuguesa

São tantas palavras. São onomatopeias, aliterações, sinônimos fáceis e outros difíceis, a me confundir. Raízes, radicais, alguns raros, outros rudes, porém incisivos, decisivos. Vocábulos novos, antigos, pouco usados e outros abusados. Importados, também. Do grego, do latim, às vezes – sometimes - do inglês, mas que  vieram do grego e do latim, mesmo assim. Palavras duras. Chocantes. Palavreado fácil, dissimulado a se contundir com outro difícil, retórico, sutil. Palavrório, palavreado.Termos às vezes incompreensíveis em termos de linguagem comum. É bom termos isso em mente, em bom termos.  
Gosto das assibilações, assimiladas nos sussurros suaves do som do meu suspirar. Divirto-me com esses sons, sensatos, insensatos, sábios às vezes, às vezes insensíveis ao meu sentir, que ficam em suspensão, suspirando no ar...
Rebelo-me contra os rumores irritantes de erros gramaticais. São como ratos roedores  pleonásticos, cheios de vício,  que roem o ritmo e a rima de meu falar. Sempre a me consumir.
Existe a gíria que gira num doido girar vocabular. Dói nos ouvidos, mas é fácil de falar, de provocar, de assimilar. Gíria nefasta, gíria popular. No estudar dos linguistas, garantido tem seu lugar.
Palavras que o Chico e o Gil controlam, manipulam, devastam, reconstroem, digestam, digitam, usurpam, sentem, ressentem num sincero sentir. E o Guimarães, então... Deflora a Rosa da linguagem e vai  fertilizando as pétalas. Vai lá no fundo, na semente, no gens, no DNA. Clona, reclona. Recria, de suas almas, novas almas numa majestosa reencarnação. Recriador que aperfeiçoa a criação. Como num recreio, cheio de fetos sadios, que me custa crer, possa haver.
Palavras de todas as línguas. Lingua-mãe e outras que são apenas tias e filhas. Algumas são irmãs. Línguas doces e suaves vindo da latina, nossa querida mãe. Matriarca. Mas gosto mesmo, sou apaixonado, pelas palavras do meu português.  Lingua gostosa, suave, às vezes devassa... Outras vezes, santificada por escritores mil. Tanta força, tanto som...Tantas notas e tons. Tantas sílabas tônicas. Átonas, para quando você está à toa. Parece uma canção, uma valsa, uma sinfonia, uma melodia, uma ópera tropical. Com certeza, por certo, sem sombra de dúvida, é sempre, falada ou escrita, uma música no ar!

 Lançamento no Clube de Autores:  Insólito

Para comprar no Brasil ( impresso ou e book) clique: 


Para comprar nos Estados Unidos clique

Wednesday, July 10, 2013

A respeito de Miguilim e outras coisas da vida


A respeito de Miguilim e outras coisas da vida




Nem sei como um escritor como Guimarães Rosa pôde acontecer.  Ele fez  nas páginas da literatura mais do que Dali e Picasso fizeram nas telas. A magia que ele arrancou das palavras, nem mesmo elas sabiam que estava lá. A visão do mundo que ele conseguiu revelar com suas incríveis narrativas, bem como  o uso que fez da linguagem, é quase impossível de se encontrar.
Recentemente li mais uma vez a história do menino Miguilim em “Campo Geral”. E essa leitura me fez meditar, aliás, com muita satisfação. Nessa história,  percebemos que o garoto não enxerga bem, mas não sabe disso, até que um senhor de fora chega até seu meio e alerta para o fato. Ele percebeu o que estava ocorrendo, após notar  que Miguilim  “apertava” os olhos para conseguir ver. No caso, Miguilim queria saber se o senhor estava sorrindo mesmo. O estranho, então, coloca seus óculos no garoto e, de repente, ele começa a ver um mundo que não sabia existir. Pelo menos, não daquele jeito. Miguilim, que vive num lugar remoto, logo depois é convidado a partir com aquele senhor para obter estudo, conhecer um mundo diferente e, lógico, conseguir um par de óculos. Na hora de sair, quando está se despedindo de todos e todos se despedindo dele, pede para o homem deixar que, mais uma vez,  ele coloque os óculos. Guimarães Rosa, então, descreve o que  Miguilim consegue ver. Uma nova versão, mais bonita e ampliada do que ele conhecia. É uma descrição fantástica, de fazer chorar. A imensidão de metáforas que brota dessas cenas, mal posso vislumbrar...
Isso me fez pensar em coisas da vida. Quando somos crianças, vemos o mundo à nossa maneira, de uma forma muito especial. Há mais de nossos sonhos e desejos no que vemos do que a realidade está mostrando. De repente, você não é mais criança, começa a ver o mundo como ele é, mais vivo, mais interessante e mais outras coisas. É o mundo sob os óculos de Miguilim. Mas, dali a pouco, percebe-se, ele vai perdendo novamente a magia, desfazendo os sonhos e as fantasias do ser que era antes uma criança. Belezas que só os pequeninos conseguem ver, mesmo quando são míopes como o Miguilim.
Mas é o que temos de fazer: seguir pela vida,tropeçando aqui e ali, e deixar a infância e suas fantasias para trás.
A gente vive então a vida, muitas vezes aos trancos e barrancos, com alegrias e tristezas, com tragédias e com consolos, enfim, a vida como ela é. Depois vamos ficando mais velhos, bem mais velhos. Chega uma hora em que pensamos que talvez seja bom sonhar novamente. Talves seja bom fugir um pouco do realismo duro que existe por aí. Temos direito, afinal já passamos por tanta coisa.

Muita gente até acha que as crianças, por serem puras, são como os anjos. Eu acho que os velhos sentem essa necessidade de voltarem a ser esses anjos, para poderem sonhar uma vez mais, Talvez para poder encerrar as coisas por aqui e recomeçar em outro lugar. Mesmo os ateus. Até eles querem ter o privilégio de poderem sonhar novamente. Para muitos, o que ficou entre a infância e a velhice foi apenas um sonho feio, um pesadelo que deve ser esquecido...