Estou ouvindo despretenciosamente um programa de rádio – NPR – aqui nos EUA e de certa forma me divirto com os telefonemas dos ouvintes. Acabou de passar um furacão e a pergunta é: “O que você levaria num kit de emergência no caso de uma catástrofe?” Um ciclone, um grande terremoto, uma inundação sem precedentes, uma desastre nuclear... Uma ou duas semanas sem energia elétrica, sem locomoção, sem alimentos, sem comunicação, como nos filmes do gênero. Se você pensa que as respostas eram mais ou menos parecidas, está muito enganado. O que é importante para uns, para outros é absolutamente dispensável e vice-versa. Temos aquele cidadão que acha fundamental levar palavras cruzadas e outros passatempos deste tipo, pois, afinal, sem energia elétrica, como as crianças vão passar o tempo? O outro precisa de linha de pescar e anzol, porque, obviamente, sem transporte, os alimentos não vão chegar e há um rio perto de sua casa. Água, alimentos enlatadados e lanternas estão entre os mais cotados. As coisas mais estranhas, no entanto, passam pela lista. Até, que mais estranho do que tudo, um cidadão fala, sem hesitar, que ele só precisa de duas coisas. A apresentadora do rádio, incrédula, pergunta: Só duas? Ele confirma e vem com a surpresa da noite: Uma bíblia versão “James King”, até aí ótimo, o espírito precisa estar forte nessas horas... e depois, pasmem, uma “shotgun”, uma espingarda!
Veja bem, entendo perfeitamente alguém querer uma bíblia, eu também acho que levaria uma. Nada tenho contra a espingarda, embora não levasse uma pois sou contra armas, mas acho normal alguém querer levar. O que me deixou confuso foi a combinação e mais ainda, a ênfase que foi dada à versão da bíblia que ele queria: “James King version”. A inevitável pergunta da apresentadora foi: “A arma é para caça ou para defesa pessoal?” Sem hesitar ele respondeu que era para ambos. Confesso que fiquei perplexo e imagens vieram à minha mente. Um intruso tentando entrar em sua cabana improvisada, no meio da apocalíptica cena pós-catástrofe e levando um tiro. Fatal? Se não foi fatal, ele daria outro, de misericórdia? Daí, então, se sentaria sobre a pedra e abriria a bíblia. Que parte leria? Talvez uma passagem do Velho Testamento, talvez Provérbios, falando do homem precavido! Ou a parte que fala “olho por olho”? Talvez fosse caçar e alvejasse um cervo. Que parte leria nas sagradas escrituras para agradecer o alimento? Como esquartejaria o animal sem uma faca? Lembra-se? Tudo que ele queria levar era a bíblia e a espingarda... Se não houvesse nem caça nem intruso, ele só leria a bíblia. Talvez devesse ler o livro de Jó.
Foi a sociedade que produziu este espécimen? Uma espingarda e uma bíblia?
Se você estiver perguntando, tenho uma resposta, sim. Levaria água, alimentos não perecíveis e a bíblia certamente é uma excelente lembança em tempos dantescos assim. Mas a parte da espingarda... Se tenho a bíblia, tenho que ter fé suficiente para não usar a espingarda... Acho. Revisando, o que não combina mesmo, é ele não levar mais nada. Se não vai levar mais nada, ou vai só com a espingarda e usa a lei de terra sem lei, ou vai na fé e só usa a bíblia. Agora já estou ficando confuso, mas posso garantir, que há alguma coisa de errado com a reposta do cidadão...
<><><><><><><><><><><><><>
Lançamento (contos de ficção científica):
Histórias do futuro ($ 3.99- e book)
Brasil
No comments:
Post a Comment