Os Dois Mundos de Andy
Joseph Davis, meu amigo americano, adora contar histórias. Até aí, tudo bem. O que acontece, porém, é que as histórias que ele conta são incrivelmente absurdas. No entanto, ele conta de um jeito que elas parecem ser verdade. Mais do que isso, ele acredita nelas e jura que realmente aconteceram. A última narrativa foi sobre um tal de Andy, morador de uma pequena cidade do Tennessee, chamada Tellico Plains. Andy era um bom rapaz que tinha terminado o segundo grau e agora morava sozinho num quarto alugado. Tinha um emprego bom numa loja de autopeças e todos gostavam dele. Nos dias de folga viajava umas vinte milhas para o norte para visitar os pais. Era quase um ritual. Os pais o esperavam com ansiedade e ele também gostava de vê-los, almoçar e jantar com eles, conversar. Era o mês de maio de 1999. Como sempre, naquele dia de folga, Andy andou com sua mochila até a margem da rodovia estadual 68 e esperou por uma carona. Ele sempre conseguia e normalmente demorava pouco para uma alma boa parar e acolhê-lo. Naquele dia a demora foi mais do que o normal, no entanto. Não havia muitos carros na estrada. Além disso, algo um tanto estranho também ocorreu nesse dia. Do nada apareceu um anão, bem vestido e cumprimentou Andy, que levou um susto. Não tinha visto ninguém vindo e por isso assustou-se. Pediu desculpas. O anão poderia pensar que era algum tipo de preconceito ou algo assim. Respondeu ao cumprimento e o anão, sem parar, foi falando com ele, já passando e olhando para trás: “Escolhe bem a carona!” e repetiu a frase com um sorriso. Andy pensou em responder algo mas ficou sem fala. Quando finalmente se deu conta da frase do transeunte, tentou procurá-lo com os olhos na estrada mas ele já havia desaparecido tão rápida e misteriosamente como havia surgido. Imerso nos pensamentos mal percebeu que um carro azul, um chevy, havia parado na beira da estrada. Após as apresentações e informações de praxe, Andy entrou no carro e a conversa fluiu normalmente por uns cinco minutos. O casal estava vindo de Ducktown e estava indo para Oakdale para visitar a filha, Jeanne. Ele era o senhor Mark Lewis e ela a senhora Kathy Lewis. Eram aposentados e deviam ter mais de setenta anos. Eram muito simpáticos e estavam falando de como sentiam saudades da filha casada que morava em Oakdale. Todo mês iam visitá-la. Andy disse que também sentia falta dos pais e estava indo visitá-los. A conversa era bem agradável mas, não se sabe por que, de repente, Andy sentiu um sono profundo e precisava fazer um esforço enorme para ouvir o que o senhor Mark estava falando, até que passou a dormir profundamente. Eram dez horas da manhã.
Algum tempo depois Andy acordou. Lembrou-se das pessoas que lhe haviam dado carona e se envergonhou. Dirigiu-se ao senhor Mark.pedindo desculpas: “Sr. Mark, eu sei que foi uma indelicadeza de minha parte, mas...” O motorista interrompeu-o e ao mesmo tempo virou seu rosto para trás, dizendo: “Não se preocupe, rapaz, eu sei que você teve uma semana pesada.” Andy estremeceu. A pessoa que estava lhe falando não era o Sr. Mark. Aquele homem tinha menos de 40 anos. A passageira, presumivelmente sua esposa, era morena clara e tinha cabelos escuros, ao contrário da Sra. Lewis que tinha cabelos brancos. Não conseguia entender. Vendo sua agitação, o motorista perguntou se estava se sentindo bem. Então, Andy perguntou: “Qual é mesmo o seu nome? “ O estranho lhe respondeu que era Simon. Simon Williams e esta é minha esposa, a senhora Ellen. Eu já me apresentei lá atrás , mas notei mesmo que você estava sonolento...”
Andy não sabia o que pensar. Teria sonhado? Não, impossível. Lembrava-se vividamente do casal, dos nomes, das coisas que eles contaram. “ E o carro? Este aqui é um..Corolla, branco. Aquele era um chevy azul. Meu Deus, o que será que está acontecendo? “ Estava torturado com esses pensamentos, pensando que talvez estivesse ficando louco, quando o carro diminuiu a velocidade. Parou. Aparentemente havia um acidente logo mais a frente. Ao sinal do policial, Simon – o "novo" motorista – começou a dirigir de novo, bem lentamente. O trânsito havia sido desviado para o acostamento. Havia um agrande acidente. Um caminhão e um carro. Este último praticamente perdera toda a parte da frente. Meu Deus! O carro...O carro...Era o carro do sr. Mark Lewis... Tinha certeza. A cor. Um azul pouco comum, um colar com motivos indianos pendendo do retrovisor. Não havia dúvida, era o carro em que estava. Mas como? O que estava acontecendo? Estaria delirando? Ainda aturdido com esses pensamentos, percebeu que o carro estava parando e que Simon lhe dizia. “Este é o local que você falou, certo? Esta escola, perto da casa de seus pais?” Concordou, pegou sua mochila e desceu.
Os pais de Andy estranharam sua atitude e acharam que ele estava doente. Fizeram inúmeras perguntas para ele, que tentou acalmá-los dizendo que tivera uma semana agitada. Seus pais deram-lhe um dos calmantes que sua mãe costumava tomar. Ainda assim passou um dia agitado e uma noite em que teve inúmeros sonhos e pesadelos. No dia seguinte, ainda sem entender o que havia acontecido, Andy foi até o posto de gasolina perto da casa`dos pais e comprou um jornal. A manchete? O acidente horrível que acontecera na estrada. Andy lê avidamente a notícia e...Não podia crer...Três vítimas fatais, O senhor e a senhora Lewis e mais um caronista, sem documentos, que estavam tentando identificar. Aparentemente, alguém que estava vindo desde a Flórida, só pegando carona. Foi aí que Andy se lembrou do anão e da frase misteriosa “Escolhe bem a carona!”...
A vida de Andy continuou normal, embora agora era como se as pessoas que conhecia antes eram as mesmas mas tinham algum detalhe diferente. Em alguns a maneira de sorrir, em outros, o vocabulário. Atés seus pais tinham alguns detalhes que pareciam ter mudado.
Não sei o que você pensa desta história, mas Joseph tem uma explicação que, para ele, é a única. Por algum motivo, Andy tinha sido transportado para um mundo paralelo. Os mundos paralelos existem, me explicou. Acontece que o seu “eu”do outro mundo tem sua própria consciência e não partilha a mesma com os outros “eus”. Nesse caso, talvez por causa do acidente, ou sabe-se lá por quê, Andy tinha desaparecido de um universo e sua “consciência” havia sido transportada para o outro “eu” que no outro mundo paralelo... não havia morrido. Eu até pensei em fazer algumas perguntas para o Joseph...mas provavelmente eu teria de ouvir um monte de explicações complicadas. Deixa assim mesmo. Apenas mais uma história misteriosa, sem explicação...
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