A
motocicleta de meu tio
Não sei se é o tempo
que faz certas coisas parecerem mais do que são ou se a infância é mesmo uma
época especial, cheia de mistérios e fantasias. Há tantas coisas de que me
lembro mas já não tenho mais tanta certeza de que elas realmente aconteceram.
Naquele dia, uma bela
manhã, havia gente em casa. No portão da minha casa meu pai e um dos meus tios
– eu tinha muitos – conversavam. Havia mais alguém, não me lembro quem. Meu tio
estava com uma daquelas motos grandes, bonitas. Eu queria andar na moto com
ele. Alguém me disse que não. Era perigoso, eu era muito pequeno. E eu chorava,
chorava...
Tanto chorei que
ganhei a parada. Os adultos desistiram e resolveram atender meu pedido. Com um
pouco de relutância meu pai me pegou e me colocou em cima da linda máquina.
Antes de sair, os dois conversaram um pouco. Naqueles segundos alguma coisa
aconteceu. Cresceu em mim, não um medo,
mas uma urgência de sair daquela moto. Eu havia chorado tanto para conseguir e,
de repente, uma espécie de pânico cresceu dentro de mim. Senti alguma força lá
dentro de mim, uma urgência, que me fazia querer descer. Chorei de novo, agora
para sair. Os adultos não entenderam nada.
Não sei por quê, mas
acho que tive uma premonição, uma sensação de que algo ruim iria acontecer. Pode
ser outra coisa mas até hoje acho que algo estava me livrando de uma desgraça. Pode
ser bobagem, mas quem garante?
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