Os
pássaros
Cheguei em casa e já percebi que havia algo diferente. Um
barulho muito grande, quase um tumulto. Logo depois notei que era apenas um
gorjear de pássaros, só que muito intenso. Vinha de todas as árvores ao redor.
Eram inúmeros, centenas, talvez milhares. Todos negros, todos da mesma cor. Era
a quantidade deles que fazia a situação estranha. Eles estavam espalhados pela grama, no
telhado e nos galhos das árvores. Pareciam estar discutindo algo importante,
pois o som de uns tentava sobrepor-se ao dos outros. Parecia uma revolução. Pareciam
os pássaros de Alfred Hitchcock.
Entrei, fui fazer algumas coisas e eles continuavam lá.
No entanto, não estavam atacando, não estavam tentando entrar, não eram
agressivos. Estavam cuidando das próprias coisas, fazendo o que os pássaros
fazem. Catando comida, conversando, cantando. A impressão que eu tinha de
anormalidade vinha, na verdade, da quantidade. É tudo uma questão de percepção.
Havia muitas hipóteses para o que estava ocorrendo. Na
minha ignorância biológica talvez não soubesse que era época de acasalamento?Talvez
fosse uma questão de temperatura, de tempo? Uma mudança climática, talvez uma
parada de uma rota mais longa?
Ficaram lá por algumas horas e depois, quase em conjunto,
começaram a ir embora. Em alguns minutos não havia mais nenhum e eu quase senti
falta deles. Certamente eles não eram os pássaros de Hitchcock. Tenho quase
certeza de que vieram ali por acharem ser um lugar agradável e cheio de paz,
apesar de simples. Sim, era isso, tive certeza.
Além do mais eles era azuis e não pretos. Um azul escuro,
bonito e de um brilho sem igual. Espero que eles voltem.
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