Era
bonito ver aquele montão de pássaros, de todas as cores, cantando, cantando. Eu
era muito pequeno e ficava vendo meu pai limpar as gaiolas, colocar alpiste
novo, trocar a água. Havia alguns com penas de um azul claro lindo, misturado
com pontos amarelos. Havia aqueles de cabeça vermelha e peito marrom. Outros,
amarelinhos, amarelinhos. Uma vez meu pai me explicou que aqueles que cantavam
bem bonito, eram machos tentando chamar a atenção das fêmeas. Acho que na época
não entendi direito, mas achei que era uma coisa interessante. Eram todos muito
formosos, um mais formoso do que o outro.
Um
dia perguntei a meu pai porque eles ficavam presos ali, sem poder voar. Eu me
lembro de que ele ficou preocupado com minha pergunta e me explicou. Aqueles
pássaros não estavam acostumados a ficar lá fora. Desde criancinhas eles tinham
se acostumado com gaiolas, Já eram assim quando vieram para casa. E para provar
que não era mentira – não que eu não acreditasse - pegou um e deixou-o na porta
da cozinha. Era um lindo canário. Deu alguns saltinhos para fora, olhou para um
lado, depois para o outro. Chegou a tentar um voo curto mas logo depois foi
voltando para o lugar de onde viera. Fiquei com pena dele. Era lindo, mas não
podia voar por aí como os pardais e as andorinhas.
Certamente
meu pai amava muito aqueles bichinhos. Cuidava deles com um carinho sem igual.
E quando estava com eles, tinha sempre um sorriso nos lábios.
Um
dia, chegou em casa um homem que eu não conhecia. E ele conversou muito com meu
pai. Apontavam para os passarinhos, falavam, falavam. Só mais tarde percebi que
o homem tinha vindo comprar os canários. Levou todos, não sobrou um só. Talvez
meu pai tivesse ficado preocupado com o que eu dissera a respeito de eles não
poderem voar. Talvez estivesse cansado de ficar todo dia, durante três horas
cuidando deles, uma vez que já tinha trabalhado duro na fábrica de cimento
desde manhã. Pode ser até que estivesse precisando de dinheiro, não sei.
O
que eu sei é que nas próximas semanas o “seu” Bonifácio ficou muito triste. Até
eu, embora pequeno, percebi que era por causa dos bichinhos. Voltava da fábrica
de cimento, ficava ali na cadeira, sentado, olhando para o nada. Talvez
estivesse esperando um deles piar novamente.Talvez um deles voltasse, voando,
para seu antigo lar. Mas eles nunca mais piaram, eles nunca mais voltaram. Da
mesma forma como os anos também não voltam mais, passado é passado.
oooOOOooo
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