“Na minha vila tem
uma capela
Muito bela e dentro
dela
Tem um morador
É um anjo de braços
abertos
E esse anjo é Nosso
Senhor”
(Zico e Zeca: Capela)
Acho
que tinha 8 ou 9 anos. Antes de ir para
o “colégio interno”. Adorava passar ao lado do cinema local e examinar a
grande lata redonda onde o dono colocava os pedaços de “fita” que ele tinha de
cortar para emendar o filme. Certamente é diferente agora, mas naquela época os
cinemas tinham aqueles grandes rolos com a “fita" que ia passar. Às vezes dava
algum problema, o filme queimava, a plateia toda soltava aquela exclamação de
desagrado e o coitado do operador tinha de “correr”. Cortava o pedaço queimado
ou quebrado, juntava as duas pontas, colocava o mesmo de volta no carretel e continuava. O pedaço queimado ou
estragado ia para o lixo. Mas sempre sobravam alguns quadradinhos. Era esses
que eu pegava. Levava-os para casa cuidadosamente. Eram cenas de filmes
diversos, filmes que eu nunca tinha visto e provavelmente nunca iria ver.
Alguns eram coloridos, ah esses eram demais.. Cenas, rostos, objetos que eu não
conseguia identificar, pois eram de terras distantes. Eu ia para casa, fechava a
porta da pequena sala onde minha mãe mantinha uma mesa, cadeiras e uma
cristaleira. A janela de madeira que meu pai havia feito tinha duas folhas.
Quando eu as fechava, por algum motivo, na parte de cima escapava um raio de
luz. Eu colocava um pano branco no chão, o pequeno pedaço de fita no caminho do
raio de luz, e assim fazia meu próprio
cinema. Era fascinante. Minha imaginação de criança voava, era
maravilhoso... Depois eu escolhia um dos copos coloridos de minha mãe, ou então
os tampos trabalhados de vidro das doceiras e os punha sob o faixo de luz que,
então, se espalhava pela sala em cores, em formas. Na minha imaginação essa luz
multifacetada era o pano de fundo para os pequenos quadros do filme que eu
“exibia”... Eu era feliz, muito feliz.
Já
no seminário, aos 11 anos, eu não tinha como montar as minhas sessões. No entanto, eu podia
ir até a capela, e depois de fazer a genuflexão e o sinal da cruz, eu me
sentava no banco e olhava para os vitrais coloridos recebendo os raios do sol.
Eram lindos e representavam motivos religiosos. Refletiam-se em múltiplas
formas pelo chão e pelas paredes. Como disse, eram lindos, mas nem de longe se
pareciam com as minhas espetaculares sessões
de “multivision” em casa... Talvez por isso, até hoje, eu considere o cinema a arte das artes...
Lançamento:
Um livro importante para quem está aprendendo Inglês
Minidicionário de expressões e phrasal verbs
da Língua Inglesa
No comments:
Post a Comment