A
jornada do Euclides
Um
dia, logo cedo, deu um nó na cabeça do Euclides. Explicação lógica não havia.
Uma dessas coisas que não se espera, não se deseja, mas que, às vezes,
acontece. Colocou sua roupa mais bonita, com gravata e tudo mais, e saiu, não
sem antes dar um lustro bacana nos sapatos. Olhou para os dois lados e escolheu
a esquerda. Só para contrariar. Foi andando de cabeça erguida, acenando para
todos, dos dois lados. Ele, que sempre tinha sido um homem sério, circunspecto.
Alguns, que o conheciam, ficavam chocados. Outros assustados ou admirados. Quem
não conhecia, achava que era um louco, usando aquelas vestimentas elegantes em
plena periferia. As pessoas mais simples achavam “legal” e acenavam de volta.
Tinham certeza de que algo especial estava acontecendo. Talvez fosse um dia de
festa e não avisaram. Talvez tivessem prorrogado o Carnaval. Ele foi andando,
andando. Nunca mais voltou para casa. Foi vivendo de favores, comendo aqui e
ali, tomando banho quando era possível. As roupas foram apodrecendo e ele
ganhou outras, bem mais simples, de pessoas caridosas. O sorriso, ele nunca
perdia, embora o seu corpo, agora, mostrasse cansaço. Meses depois, já tinha
passado por inúmeras cidades.
Um
dia chegou a uma cidade que, ironicamente, se chamava Felicidade. Era tarde da
noite e ele sentou-se num dos bancos da praça principal. Depois, lentamente,
foi se deitando.
De
manhã, um funcionário da prefeitura, que cuidava da limpeza do parque, achou
seu corpo inerte. No rosto, um suave sorriso de alegria. Uma suspeita,
paradoxal, indefinida e estranha alegria.
Euclides, finalmente descansou.
oooOOOooo
À procura de Lucas
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