A Maria se foi
A Maria foi embora,
assim, sem mais nem menos. Falou qualquer coisa de vida monótona, tomar novo
rumo, essas coisas. Claro, não acreditei, não podia ser, era só uma ameaça. E
não é que, naquela maldita terça, eu chego em casa e ela tinha ido embora?
Gavetas vazias, a casa limpinha e um bilhetinho curto. Escreveu até que era
para meu próprio bem e que queria que eu fosse feliz. Pode? Ser feliz como? Nos
primeiros dias achei que ia voltar, mas não... Era para valer..
Já faz algum tempo e
estou tentando entrar na rotina. O diabo é que volta e meia me acho fazendo
coisas estranhas. Quando chegava em
casa, à noitinha, batia na porta. Sabe, ao invés de abrir e ir entrando?
Só para ver a carinha dela atendendo, dando um sorriso e mandando entrar:
- Vai entrando,
estranho, que meu marido ainda não chegou.
E daí, nós dois
ríamos, era uma gostosura. E não é que, às vezes, eu me esqueço e ainda bato
antes de entrar? E, pior que isso, ainda fico um tempão, esperando, com aquela
cara de tonto. Daí entristeço porque ela não aparece. E não é que outro dia,
fiz comida para nós dois e, para completar, pus dois pratos na mesa, com
talheres e tudo? Existem outras coisas que faço, que tenho vergonha de
contar. Contei essas coisas para meu
amigo Juvenal. Ele falou que isso passa. É a força do hábito. Não sei, não. Meu
amigo, não sei se isso passa, não...
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