Friday, October 5, 2012

O Menino da Rua Principal


O Menino da  Rua Principal

Era um dia exuberante de setembro de 1995. Naquela manhã a Rua Principal da pequena cidade se preparava para a rotina do dia. Lojas abrindo, cartazes sendo colocados na vitrine, fornecedores descarregando mercadoria para o comércio. A sra. Hartman, que tinha um pequeno negócio de roupas, chegara mais cedo e limpava o balcão.  Aguardava Lucy, sua empregada, para ajudar a trazer algumas caixas com vestidos do depósito. Foi aí que viu algo estranho. Um garoto, de seus  6 ou 7 anos mirava com um olhar vago as mercadorias da vitrine.  Estava usando um daqueles terninhos que as crianças de antigamente usavam. Não parecia perdido, mas certamente não era ninguém dali. Nenhuma criança daquela idade costumava andar pela Rua Principal naquela hora do dia. Estava absorta em seus pensamentos quando Lucy entrou falando bom-dia e se desculpando pelo atraso. Logo em seguida perguntou:
-Quem é o garoto?
-Também não sei, respondeu a sra. Hartman.
-Eu nunca vi esse menino por aqui. Também tenho certeza de que não é filho de nenhum de nossos fregueses. Estranho...

As duas foram para o depósito e quando voltaram o garoto já não estava mais lá. Foram até a calçada e viram que ele estava no próximo bloco olhando para os cartazes de uma mercearia. Duas horas depois, lá estava o garoto novamente em frente à porta, porém olhando para o outro lado da rua. Desta vez a Sra. Hartman acho melhor falar com ele.
-Ei, você, está tudo bem?
O garoto olhou um tanto surpreso...
-Sim.
-O que você está fazendo?
-Meus pais vão me encontrar por aqui. Eu não me lembro qual a loja.
-Qual o nome de seus pais?
O menino olhou surpreso e não disse nada. A Sra. Hartman então insistiu:
- E seu nome, qual é o seu nome?
Como se estivesse tentando se lembrar, o menino demorou um pouco e depois falou:
-Gary.
Diante do olhar interrogativo da Sra. Hartman, ele completou:
-Gary T. Parker.
-Ok, Gary, o que você está fazendo aqui? Está perdido? Pode falar comigo...
O menino olhou sem expressão para ela e não respondeu. A Sra. Hartman convidou-o para entrar e tomar água. Ele fez que não e mencionou qualquer coisa de ter de procurar o lugar certo. A Sra Hartman entrou novamente pensando em telefonar para a polícia. No caminho mudou de ideia e chamou o marido. O Sr. Walter disse que viria para a loja e depois decidiriam o que fazer. Enquanto isso ela procurou os vizinhos de comércio para perguntar sobre o menino. Alguns tinham notado, outros não, mas ninguém tinha a menor ideia de quem ele era. A essa altura, ele tinha desaparecido de novo. Quando o senhor Walter chegou e viu que ele não estava lá, resolveu guiar seu carro ao longo da rua para procurá-lo. Passaram-se uns dez minutos quando notou que o garoto estava sentado em um banco mais para o final. Estacionou, falou com ele. O menino respondeu com monossílabos e se recusou a entrar no carro. De volta na loja, o casal Hartman decidiu que, definitivamente, precisavam chamar os policiais, que logo chegaram. Rapidamente acharam o Gary e o trouxeram para a loja. O  policial ponderou que já era muito tarde – muitas horas haviam se passado -  e o serviço social que poderia cuidar do caso era em outra cidade. Haveria alguém que poderia cuidar do menino durante a noite? Imediatamente o casal se ofereceu e lá foi Gary, completamente em silêncio, para a residência dos Hartman. Comeu apenas metade do lanche que lhe foi oferecido, limpou-se, vestiu o pijama que a Sra Hartman guardava de seu neto, e dormiu no quarto de hóspedes.
Durante a noite o casal havia decidido que no dia seguinte dariam atencão total ao caso.  Logo de manhã dirigiram-se ao quarto do pequeno hóspede. Para sua surpresa o garoto não estava mais lá. O pijama estava  dobrado na cama e a porta do fundo do corredor estava aberta. Ele havia saído. Muito preocupados dirigiram o carro pela vizinhança perguntando pelo desaparecido. Nada. Foram até a Rua Principal e também lá ele não estava. Desapontados e preocupados ao mesmo tempo, avisaram novamente a polícia. Após os procedimentos de praxe, o chefe declarou que não podia fazer nada. Ninguém havia reclamado sobre uma criança desaparecida, não existia ninguém com esse nome nem lá nem nas cidades vizinhas. Era um mistério completo. Nem sequer poderiam recorrer a um órgão superior pois não tinham dados suficientes. Iriam parecer ridículos.
O tempo foi passando e as pessoas, como sempre acontece, foram se esquecendo do incidente. Menos o Sr. Walter Hartman, que, desde o início, tinha alguma coisa dentro dele falando que ali havia lago mais. Ele tinha tempo de sobra e começou a pesquisar: listas telefônicas, lista de crianças desaparecidas, casos misteriosos. Pesquisou até sete anos  antes, que seria mais ou menos a época do nascimento de Gary. Nada. Durante a pesquisa entretanto, notou alguns casos curiosos nos jornais e acabou se interessando pelo assunto. Foi voltando no tempo nas notícias de jornal. Em 1972 houvera um caso parecido de um garoto que havia surgido na cidade mas não tinham seu nome e havia apenas uma pequena nota no canto da página sobre o assunto. Em 1963 houve um caso de um garoto que apareceu à porta de uma residência procurando por seus pais. Chamaram a polícia , mas quando voltaram para falar com o menino ele havia sumido. O Sr Walter havia se tornado pertinaz em explorar o assunto e foi mais fundo. A Sra. Hartman já estava ficando aborrecida com o marido e essa nova mania que ele adquirira.
Mais uma vez, naquela manhã, dois meses depois do incidente, o Sr. Hartman sentou-se à escrivaninha e começou a pesquisar os jornais do ano de 1949.  Ao passar pelo mês de fevereiro teve um calafrio quando viu uma manchete: “Garoto desaparece depois de discussão dos pais”. De imediato ele sentiu que ali havia algo sobre o mistério que estava tentando resolver.  A história narrada pelo jornalista Stevens, na época, era de um casal que morava na Rua Principal da cidade e que  discutira muito durante a noite. Uma briga feia, deram murros na mesa da cozinha, atiraram coisas no chão. Só pararam quando ela, chorando, pediu para o marido parar por causa do menino. Ele deveria estar assustado depois de tanta confusão. O marido concordou e resolveu dar uma espiada no garoto para ver se ele estava dormindo. Ele havia sumido. A janela estava aberta. Imediatamente deduziram que ele ficara assustado com os gritos e resolvera sair. Esqueceram-se da briga e, desesperados, começaram a andar pelas ruas procurando pelo pequeno. Assim foi durante toda a noite. No dia seguinte chamaram a polícia, fizeram cartazes e daí para a frente foram dois meses de absoluta angústia. O resultado foi zero. O  filho do casal  não deixou nem uma pequena pista sequer. O casal Parker consumiu-se em desespero, culpa e remorso. Um dia de manhã, quando a irmã da Sra. Parker veio ver como ela estava, encontrou os dois mortos no chão, ao lado da mesa da cozinha. Haviam cometido suicídio em conjunto. Ainda havia um resto de veneno nos copos segundo o que a polícia apurou depois.  Tudo o que aconteceu foi demais para eles.
No final da notícia hjavia uma foto do menino desaparecido e embaixo o nome do garoto:  Gary T. Parker.
O Sr. Walter de certa forma resolveu o mistério do menino da Rua Principal. No entanto, reabriu outros, muito maiores, de um passado distante e sombrio...

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