O Menino da Rua Principal
Era um dia exuberante
de setembro de 1995. Naquela manhã a Rua Principal da pequena cidade se
preparava para a rotina do dia. Lojas abrindo, cartazes sendo colocados na
vitrine, fornecedores descarregando mercadoria para o comércio. A sra. Hartman,
que tinha um pequeno negócio de roupas, chegara mais cedo e limpava o
balcão. Aguardava Lucy, sua empregada,
para ajudar a trazer algumas caixas com vestidos do depósito. Foi aí que viu
algo estranho. Um garoto, de seus 6 ou 7
anos mirava com um olhar vago as mercadorias da vitrine. Estava usando um daqueles terninhos que as
crianças de antigamente usavam. Não parecia perdido, mas certamente não era
ninguém dali. Nenhuma criança daquela idade costumava andar pela Rua Principal
naquela hora do dia. Estava absorta em seus pensamentos quando Lucy entrou
falando bom-dia e se desculpando pelo atraso. Logo em seguida perguntou:
-Quem é o garoto?
-Também não sei,
respondeu a sra. Hartman.
-Eu nunca vi esse
menino por aqui. Também tenho certeza de que não é filho de nenhum de nossos
fregueses. Estranho...
As duas foram para o
depósito e quando voltaram o garoto já não estava mais lá. Foram até a calçada
e viram que ele estava no próximo bloco olhando para os cartazes de uma
mercearia. Duas horas depois, lá estava o garoto novamente em frente à porta,
porém olhando para o outro lado da rua. Desta vez a Sra. Hartman acho melhor
falar com ele.
-Ei, você, está tudo
bem?
O garoto olhou um
tanto surpreso...
-Sim.
-O que você está
fazendo?
-Meus pais vão me encontrar
por aqui. Eu não me lembro qual a loja.
-Qual o nome de seus
pais?
O menino olhou
surpreso e não disse nada. A Sra. Hartman então insistiu:
- E seu nome, qual é o
seu nome?
Como se estivesse tentando
se lembrar, o menino demorou um pouco e depois falou:
-Gary.
Diante do olhar
interrogativo da Sra. Hartman, ele completou:
-Gary T. Parker.
-Ok, Gary, o que você
está fazendo aqui? Está perdido? Pode falar comigo...
O menino olhou sem
expressão para ela e não respondeu. A Sra. Hartman convidou-o para entrar e
tomar água. Ele fez que não e mencionou qualquer coisa de ter de procurar o
lugar certo. A Sra Hartman entrou novamente pensando em telefonar para a
polícia. No caminho mudou de ideia e chamou o marido. O Sr. Walter disse que
viria para a loja e depois decidiriam o que fazer. Enquanto isso ela procurou os
vizinhos de comércio para perguntar sobre o menino. Alguns tinham notado,
outros não, mas ninguém tinha a menor ideia de quem ele era. A essa altura, ele
tinha desaparecido de novo. Quando o senhor Walter chegou e viu que ele não
estava lá, resolveu guiar seu carro ao longo da rua para procurá-lo.
Passaram-se uns dez minutos quando notou que o garoto estava sentado em um
banco mais para o final. Estacionou, falou com ele. O menino respondeu com
monossílabos e se recusou a entrar no carro. De volta na loja, o casal Hartman
decidiu que, definitivamente, precisavam chamar os policiais, que logo chegaram.
Rapidamente acharam o Gary e o trouxeram para a loja. O policial ponderou que já era muito tarde –
muitas horas haviam se passado - e o
serviço social que poderia cuidar do caso era em outra cidade. Haveria alguém
que poderia cuidar do menino durante a noite? Imediatamente o casal se ofereceu
e lá foi Gary, completamente em silêncio, para a residência dos Hartman. Comeu apenas
metade do lanche que lhe foi oferecido, limpou-se, vestiu o pijama que a Sra
Hartman guardava de seu neto, e dormiu no quarto de hóspedes.
Durante a noite o
casal havia decidido que no dia seguinte dariam atencão total ao caso. Logo de manhã dirigiram-se ao quarto do pequeno
hóspede. Para sua surpresa o garoto não estava mais lá. O pijama estava dobrado na cama e a porta do fundo do
corredor estava aberta. Ele havia saído. Muito preocupados dirigiram o carro
pela vizinhança perguntando pelo desaparecido. Nada. Foram até a Rua Principal
e também lá ele não estava. Desapontados e preocupados ao mesmo tempo, avisaram
novamente a polícia. Após os procedimentos de praxe, o chefe declarou que não
podia fazer nada. Ninguém havia reclamado sobre uma criança desaparecida, não
existia ninguém com esse nome nem lá nem nas cidades vizinhas. Era um mistério
completo. Nem sequer poderiam recorrer a um órgão superior pois não tinham
dados suficientes. Iriam parecer ridículos.
O tempo foi passando e
as pessoas, como sempre acontece, foram se esquecendo do incidente. Menos o Sr.
Walter Hartman, que, desde o início, tinha alguma coisa dentro dele falando que
ali havia lago mais. Ele tinha tempo de sobra e começou a pesquisar: listas
telefônicas, lista de crianças desaparecidas, casos misteriosos. Pesquisou até
sete anos antes, que seria mais ou menos
a época do nascimento de Gary. Nada. Durante a pesquisa entretanto, notou alguns
casos curiosos nos jornais e acabou se interessando pelo assunto. Foi voltando
no tempo nas notícias de jornal. Em 1972 houvera um caso parecido de um garoto
que havia surgido na cidade mas não tinham seu nome e havia apenas uma pequena
nota no canto da página sobre o assunto. Em 1963 houve um caso de um garoto que
apareceu à porta de uma residência procurando por seus pais. Chamaram a polícia
, mas quando voltaram para falar com o menino ele havia sumido. O Sr Walter havia
se tornado pertinaz em explorar o assunto e foi mais fundo. A Sra. Hartman já
estava ficando aborrecida com o marido e essa nova mania que ele adquirira.
Mais uma vez, naquela
manhã, dois meses depois do incidente, o Sr. Hartman sentou-se à escrivaninha e
começou a pesquisar os jornais do ano de 1949.
Ao passar pelo mês de fevereiro teve um calafrio quando viu uma
manchete: “Garoto desaparece depois de discussão dos pais”. De imediato ele sentiu
que ali havia algo sobre o mistério que estava tentando resolver. A história narrada pelo jornalista Stevens,
na época, era de um casal que morava na Rua Principal da cidade e que discutira muito durante a noite. Uma briga
feia, deram murros na mesa da cozinha, atiraram coisas no chão. Só pararam
quando ela, chorando, pediu para o marido parar por causa do menino. Ele
deveria estar assustado depois de tanta confusão. O marido concordou e resolveu
dar uma espiada no garoto para ver se ele estava dormindo. Ele havia sumido. A
janela estava aberta. Imediatamente deduziram que ele ficara assustado com os
gritos e resolvera sair. Esqueceram-se da briga e, desesperados, começaram a
andar pelas ruas procurando pelo pequeno. Assim foi durante toda a noite. No
dia seguinte chamaram a polícia, fizeram cartazes e daí para a frente foram
dois meses de absoluta angústia. O resultado foi zero. O filho do casal não deixou nem uma pequena pista sequer. O
casal Parker consumiu-se em desespero, culpa e remorso. Um dia de manhã, quando
a irmã da Sra. Parker veio ver como ela estava, encontrou os dois mortos no
chão, ao lado da mesa da cozinha. Haviam cometido suicídio em conjunto. Ainda
havia um resto de veneno nos copos segundo o que a polícia apurou depois. Tudo o que aconteceu foi demais para eles.
No final da notícia
hjavia uma foto do menino desaparecido e embaixo o nome do garoto: Gary T. Parker.
O Sr. Walter de certa
forma resolveu o mistério do menino da Rua Principal. No entanto, reabriu outros,
muito maiores, de um passado distante e sombrio...
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