O DA14 e uma bala perdida
Ele
era obcecado por catástofres: terremotos, tsunamis, furacões. Lia estatísticas,
assistia a documentários, colecionava artigos. Assim era o Rubens. Ultimamente
se ligara muito nas possíveis consequências da queda de um asteroide. Tinha
lido sobre aquele grandão, que despencara sobre a península de Yucatán, no
México, e que destruíra os coitados dos dinossauros. Que coisa horrível. E aquele caso mais recente, 1908, na Sibéria,
onde 80 milhões de árvores foram derrubadas. Isso é coisa séria, coisa para se
preocupar. Por falar nisso, o motivo para a apreensão do Rubens tinha um nome: DA14.
Segundo a sabidona da Nasa, ele estava para passar pertinho da Terra no dia 15.
No entanto, já avisararm que não havia motivo para pânico. Sem chance de
contato direto e imediato com a superfície.
Quem
diz que o Rubens sossegava? Apesar de respeitar a Nasa, ele estava muito
desconfiado. Ficava pensando no tal do DA14 o tempo todo. Estava até
atrapalhando o seu trabalho.
Naquela
manhã, uns dias antes do ameaçador corpo celeste se aproximar da nossa querida,
esplendorosa Terra azul, ele estava mais
preocupado do que o normal. Estava com péssimos pressentimentos. Pensava como
poderia sobreviver, como faria depois da catástrofe, o que faria se a maligna
rocha caísse perto dele, aqui, bem pertinho? Caminhava para o trabalho, absorto
em seus pensamentos. Decidiu que, ao
chegar em casa, à noite, iria pesquisar sobre as chances estatísticas do DA14
chegar muito perto.
Pois
bem, acho que esse foi o último pensamento do Rubens. Sentiu uma agulhada nas
costas. Um fio de sangue escorreu pelo tecido bege de sua camisa e ele foi
caindo, caindo na calçada. Não sei se ainda pensou mais uma vez no asteroide. Só
sei que em alguns instantes o coração parou de bater. As pessoas começaram a se
juntar em volta do corpo inerte. Alguém comentou e outro confirmou: uma bala
perdida. Todos haviam ouvido os tiros.
Afinal
de contas ele estava certo. Se um projétil, imensuravelmente menor e certamente
menos veloz do que os 13 quilômetros por segundo do DA14, era capaz de matá-lo, imagine o “dito
cujo”. Que pena, o Rubens não estaria aqui para ver que nada de mal
aconteceria.
Deus
nos livre dos meteoros esporádicos e, principalmente, das balas perdidas de
cada dia.
No comments:
Post a Comment