Órfã
de filho
No décimo andar do prédio, o coração de um bebê bate suave, seguro. A mãe embala seu sono.
A criança parece sorrir. A mãe, cansada, sorri também. E daí adormece. Um anjo,
agora, cuida dos dois, deles e de seus sonhos.
Na mesma rua, num ponto escuro, um grito, uma discussão, um
palavrão. Depois, um tiro. Som seco, surdo. Um gemido pungente ecoa contra o
concreto duro das paredes das construções. Um coração para, o outro bate
agitado. A cocaína troca de mão. No bairro distante, uma mãe chora, nem sabe
por quê. Outro anjo, distraído, de repente percebe que não há mais o que fazer.
Agora só restam as lágrimas da mãe. É preciso enxugá-las.
No fim da noite, os seres angelicais contabilizam perdas e
danos. Preparam-se então, para a batalha do novo dia. Desta vez, sem distração.
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